Seguidores

quarta-feira, 29 de junho de 2022

Nossos Talentos

Ellen White                    

                                                       Nossos Talentos

CM - Pag. 114 

A parábola dos talentos devidamente compreendida, excluirá a cobiça, que Deus chama de idolatria. Testemunhos Seletos, vol. 1, pág. 365.

Deus tem concedido talentos aos homens - um intelecto para inventar, um coração para ser o lugar de Seu trono, afeições que extravasem em bênçãos para outros, uma consciência para convencer do pecado. Cada um tem recebido algo do Mestre, e devem todos fazer sua parte em suprir as necessidades da obra de Deus.

Deus deseja que Seus obreiros olhem para Ele como o Doador de tudo que possuem, que se lembrem de que tudo o que têm e são vem daquele que é maravilhoso em conselho e grande em obra. O delicado toque da mão do médico, seu poder sobre os nervos e os músculos, seu conhecimento do delicado organismo do corpo, são a sabedoria do poder divino, para ser usada em prol da humanidade sofredora. A habilidade com que o carpinteiro usa o martelo, a força com que o ferreiro faz retinir a bigorna, vêm de Deus. Ele tem confiado talentos aos homens, e deseja que O procurem em busca de conselho. Poderão assim usar-Lhe os dons com infalível aptidão, testificando que são coobreiros de Deus.

A propriedade é um talento. Deus envia a Seu povo a mensagem: "Vende tudo quanto tens" e dá esmolas. Luc. 18:22. Tudo que temos é, sem dúvida alguma, do Senhor. Ele nos pede que despertemos, para levar uma parte do fardo de Sua causa, a fim de que Sua obra possa prosperar. Todo cristão deve desempenhar sua parte como mordomo fiel. Os métodos de Deus são exatos e certos, e devemos negociar com nossas moedas e notas devolvendo-Lhe nossas ofertas voluntárias, para manter Sua obra, para levar almas a Cristo. Grandes e pequenas somas devem fluir para o tesouro do Senhor. ...

A fala é um talento. De todos os dons concedidos à família humana, nenhum outro deve ser mais apreciado que o dom de falar. Deve ser usado para declarar a sabedoria e o maravilhoso amor de Deus. Assim devem os tesouros da Sua sabedoria e da Sua graça ser comunicados.

Quando o Salvador em nós habita, as palavras O revelam. Mas o Espírito Santo não habita no coração daquele que se impacienta quando os outros não concordam com suas idéias e planos. Dos lábios de tal homem saem palavras fulminantes, que afugentam o Espírito e desenvolvem atributos satânicos, em vez de divinos. O Senhor deseja que os que estão ligados a Sua obra falem, a todo tempo, com a mansidão de Cristo. Se fordes provocados, não vos impacienteis. Manifestai a brandura de que Cristo nos deu o exemplo em Sua vida. ...

A força é um talento, e deve ser usada para glorificar a Deus. Nosso corpo Lhe pertence. Ele pagou o preço da redenção tanto pelo corpo como pela alma. ... Melhor podemos servir a Deus no vigor da saúde do que na apatia da doença; portanto, deveríamos cooperar com Deus no cuidado de nosso corpo. O amor de Deus é indispensável à vida e à saúde. A fé em Deus é necessária para que tenhamos saúde. A fim de que tenhamos saúde perfeita, deve nosso coração estar cheio de amor, esperança e alegria no Senhor. ...

A influência é um talento, e é um poder para o bem quando penetra em nosso trabalho o fogo sagrado aceso por Deus. A influência de uma vida santa tanto é sentida no lar como em toda parte. A beneficência prática, a abnegação e o sacrifício próprio que assinalam a vida de um homem exercem influência para o bem sobre aqueles com quem este se associa. ...

 

Segundo a Capacidade do Recebedor

No plano do Senhor, há diversidade na distribuição dos talentos. A um homem é dado um talento, a outro cinco, a outro dez. Esses talentos não são conferidos caprichosamente, mas segundo a capacidade de quem os recebe.

De acordo com os talentos concedidos serão os juros exigidos. A obrigação maior recai sobre quem se tornou mordomo de maior aptidão. O homem que tem dez dólares é tido como responsável por tudo o que se poderia fazer com dez dólares, caso fossem eles usados corretamente. O que só tem dez centavos apenas é responsável por essa quantia. ...

É a fidelidade com que se usou o talento que granjeia o louvor do Senhor. Se quisermos ser reconhecidos como servos bons e fiéis, devemos fazer trabalho perfeito e consagrado em prol do Mestre. Ele recompensará o serviço diligente e honesto. Se os homens nEle puserem a sua confiança, se Lhe reconhecerem a compaixão e benevolência, e humildemente andarem diante dEle, Ele com eles cooperará. Aumentar-lhes-á os talentos.

"Negociai até que Eu Venha"

Deus nos deixou encarregados dos Seus bens, na Sua ausência. Cada mordomo tem um trabalho especial a fazer para o avanço do reino de Deus. Ninguém é escusado. O Senhor nos ordena a todos: "Negociai até que Eu venha." Luc. 19:13. Pela sabedoria que Lhe é própria, tem-nos dado orientação quanto ao uso de Seus dons. Os talentos da fala, memória, influência, propriedade, devem ser acumulados para a glória de Deus e o avanço de Seu reino. Ele abençoará o devido uso de Seus dons.

Alegamos ser cristãos, esperarmos a segunda vinda de nosso Senhor nas nuvens do Céu. Que faremos, então, com nosso tempo, compreensão e posses, que não são nossos, mas nos foram confiados para provar nossa fidelidade? Levemo-los a Jesus. Empreguemos nossos tesouros no avanço de Sua causa. Obedecer-Lhe-emos assim a ordem: "Não ajunteis tesouros na Terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam. Mas ajuntai tesouros no Céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam, nem roubam. Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração." Mat. 6:19-21. Review and Herald, 9 de abril de 1901.

A Cada Homem a sua Obra

Chegou-se a entender que os talentos só são dados a uma certa classe privilegiada, com exclusão de outros que, certamente, não são chamados a partilhar das tarefas ou recompensas. Mas não é isso o que a parábola apresenta. Quando o Senhor da casa chamou os servos, deu a cada homem sua obra. Toda a família de Deus é incluída na responsabilidade de usar os bens de Seu Senhor. ...

Num grau maior ou menor, a todos são confiados os talentos de seu Senhor. A capacidade espiritual, mental e física, a influência, condição social, posses, afetos, simpatia, são todos preciosos talentos, que devem ser usados na causa do Mestre, para a salvação das almas por quem Cristo morreu. Review and Herald, 26 de outubro de 1911.

Por que São Concedidos Talentos

Deve o povo de Deus reconhecer o fato de que Deus não lhes deu talentos para que enriqueçam com bens terrenos, mas a fim de que possam pôr de reserva um bom fundamento para o tempo futuro, a saber, para a vida eterna. Review and Herald, 8 de janeiro de 1895.


Liveo Conselho Sobre Mordomia 114 - 117

terça-feira, 7 de junho de 2022

Prevenção contra a imoralidade

 

Prevenção contra a imoralidade

Assim como no passado, a sexualidade humana também é um desafio hoje. Mas a Bíblia mostra o ideal divino.


  • Compartilhar:
  •  
  •  
  •  
  •  
Deus estabeleceu uma conduta moral sobre o tema da sexualidade para potencializar a felicidade do ser humano (Foto: Shutterstock)

Para interpretar corretamente um texto bíblico, o estudante deve receber toda a Bíblia como inspirada Palavra de Deus, orar pela iluminação divina e manifestar sincera disposição de obedecê-la (2Timóteo 3:15-17; Efésios 6:17, 18; João 7:17). É necessário cuidadoso exame do contexto imediato da parte em estudo dentro no capítulo, de sua relação com o resto do livro, e em toda a Escritura.

A propósito, qual é o sentido das palavras do apóstolo Paulo em 1Coríntios 7:3, 4?“O marido conceda à esposa o que lhe é devido, e também, semelhantemente, a esposa, ao seu marido. A mulher não tem poder sobre o seu próprio corpo, e sim o marido; e também, semelhantemente, o marido não tem poder sobre o seu próprio corpo, e sim a mulher”.[1]

Leia também:

O ambiente da cidade portuária grega de Corinto era famoso por sua prostituição. “Corinto era afetada pela licenciosidade a tal ponto que o nome da cidade se tornou sinônimo de sensualidade. A expressão “corintianizar” significava praticar luxúria desenfreada”.[2] A prostituição fazia parte da própria religião pagã dos habitantes de Corinto. “Sua divindade principal era Afrodite, a deusa do amor em sua forma mais degradada da paixão licenciosa... Mil lindas jovens oficiavam como cortesãs, ou prostitutas públicas diante do altar da deusa do amor. Elas eram mantidas principalmente por estrangeiros, e de sua imoralidade a cidade obtinha lucro constante”.[3] Com tal ambiente religioso depravado, as conversões ocorridas naquela cidade demonstram o grande poder do Evangelho (Atos 18:9-11; 1Coríntios 6:9-11).

Diante de tal contexto, e da impureza manifestada dentro da igreja, o apóstolo Paulo dedicou os capítulos 5, 6 e 7 da sua primeira carta como repreensão e prevenção contra a imoralidade. Paulo usa várias vezes a palavra grega porneia para condenar toda imoralidade, como por exemplo, alguém descaradamente “possuir a mulher de seu próprio pai” (1Coríntios 5:1, ARA). Neste texto, a versão Almeida Revista e Corrigida (ARC) traduziu porneia por fornicação.[4] A seguir, no mesmo capítulo, porneia também foi traduzida na Almeira Revista e Atualizada (ARA) por impuros, e impuro (1Coríntios 5:10, 11).

Já no capítulo seis da mesma carta, porneia aparece quatro vezes, sendo traduzida na ARA por impuros, prostituta, impureza e imoralidade. (1)“Ou não sabeis que os injustos não herdarão o reino de Deus? Não vos enganeis: nem impuros, nem idólatras, nem adúlteros, nem efeminados, nem sodomitas” (1Coríntios 6:9). Neste verso, a ARC traduziu porneia por devassos. (2) “Ou não sabeis que o homem que se une à prostituta forma um só corpo com ela? Porque, como se diz, serão os dois uma só carne” (vs. 16, ARA). (3 e 4) “Fugi da impureza. Qualquer outro pecado que uma pessoa cometer é fora do corpo; mas aquele que pratica a imoralidade peca contra o próprio corpo” (vs. 18, ARA). A ARC traduziu porneia neste verso 18 por prostituição. Portanto, é evidente que porneia tem a ver com prostituição, imoralidade, fornicação, impureza e devassidão. Por outro lado, a expressão “uma só carne” usada pelo apóstolo no verso 16, ecoa a instituição do casamento em Gênesis 2:24.

Instituição sagrada

Mas o plano de Deus para o solteiro ou o casado jamais deve ser confundido e misturado com qualquer tipo de porneia. Em defesa da pureza, recomendou o apóstolo: “mas por causa da impureza (porneia); cada um tenha a sua própria esposa, e cada uma o seu próprio marido” (1Coríntios 7:2). Em outra ocasião, ele foi igualmente enfático: “esposo de uma só mulher” (1Timóteo 3:2; Efésios 5:29, 31). Jesus já havia apontado à Criação confirmando a validade e perpetuidade do santo matrimônio monogâmico, heterossexual, ensinado no Gênesis (Mateus 19:4-6).

O plano divino para o solteiro ou o casado jamais inclui impureza, imoralidade, fornicação, devassidão, prostituição ou qualquer outro tipo de porneia. As Escrituras apresentam o casamento como instituição divina protetora contra todo tipo de porneia. Embora o apóstolo Paulo preferisse que todos fossem como ele, que tinha o dom de viver solteiro e com autocontrole (1Coríntios 7:7, 8), ele recomendou: “caso não se dominem, que se casem; porque é melhor casar do que viver abrasado” (1Coríntios 7:9). O casamento deve ser santo, puro e isento de toda porneia, mesmo quando aceita pela sociedade, como foi na cidade de Corinto.

Por isso, o apóstolo ordenou: “O marido conceda à esposa o que lhe é devido, e também, semelhantemente, a esposa, ao seu marido. A mulher não tem poder sobre o seu próprio corpo, e sim o marido; e também, semelhantemente, o marido não tem poder sobre o seu próprio corpo, e sim a mulher” (1Coríntios 7:3, 4, ARA).

O casamento é uma santa aliança com direitos e deveres santos. Evidentemente, a expressão paulina “o que lhe é devido” é regulada pela santa Lei de Deus e as Escrituras Sagradas, que proíbem todo tipo de impureza. “Digno de honra entre todos seja o casamento, bem como o leito sem mácula; porque Deus julgará os impuros (porneia) e adúlteros” (Hebreus 13:4). Em 1Coríntios 10:8, o apóstolo Paulo ainda adverte fortemente os coríntios a não imitar o exemplo dos israelitas no deserto, pois por causa da porneia “imoralidade”, “caíram, num só dia, vinte e três mil”.

Como já mencionado, Paulo repreendeu a Igreja de Corinto por tolerar um membro daquela congregação na prática da porneia (1Coríntios 5:11, 12). Suas repreensões e recomendações são igualmente válidas para nós. “Os cristãos são chamados a exercitar pensamentos puros e viver vida pura, pois estão se preparando para viver em uma sociedade pura ao longo de toda a eternidade”.[5] A propósito, o mandamento “não adulterarás” em Êxodo 20:14 é mais abrangente. “Esta proibição abrange não apenas o adultério, mas a fornicação e a impureza de todo e qualquer tipo, em atitude, palavra e pensamento”.[6] Logo: “Nem o marido nem a esposa devem pensar em exercer governo arbitrário um sobre o outro. Não intentem impor um ao outro os seus desejos. Não é possível fazer isso e ao mesmo tempo reter o amor mútuo”. [7]

Autocontrole, responsabilidades e bênçãos

Há relação entre porneia no Novo Testamento e o Antigo Testamento. “O sentido de porneia no Novo Testamento é esclarecido pela relação intertextual de Atos 15:29, que proíbe as “relações sexuais ilícitas” (porneia), e Levítico 18, onde essas relações incluem incesto, adultério, práticas homossexuais e bestialidade”.[8] Logo, porneia refere-se à relação sexual ilícita, que na lei mosaica exigia que o transgressor fosse “eliminado” do povo de Deus (Levítico 18:29).

Portanto, em 1Coríntios 7:3, 4 o apóstolo Paulo está falando de direitos e deveres santos no casamento, enquanto condena toda porneia. A propósito, por duas vezes nesta carta, o apóstolo Paulo menciona o corpo humano como templo sagrado para habitação do Espírito Santo (1Coríntios 3:17; 6:19). Alguém poderia perguntar: “Porque somos templos do Espírito Santo, e qual a implicação disto?” Paulo responde: “Porque fostes comprados por preço. Agora, pois, glorificai a Deus no vosso corpo” (1Coríntios 6:20).

Sabemos que Deus odeia o divórcio, e Seu plano original não o incluía (Malaquias 2:16; Mateus 19:8). Entretanto, o Senhor tolera o divórcio com base em porneia (Mateus 19:9). Conforme o Manual da Igreja Adventista do Sétimo Dia: “A infidelidade ao voto matrimonial geralmente tem sido considerada alusão ao adultério ou fornicação. No entanto, a palavra do Novo Testamento usada para fornicação inclui algumas outras irregularidades sexuais (1Coríntios 6:9; 1Timoteo 1:9, 10; Romanos 1:24-27). Portanto, perversões sexuais, incluindo incesto, abuso sexual de criança e práticas homossexuais, são também reconhecidas como um abuso das faculdades sexuais e uma violação do plano divino no casamento. Como tais, essas práticas são uma causa justa para separação e divórcio”.[9]

O casamento em si não é prova de santidade, pois: “Pode-se encontrar no casamento paixão de tão baixa qualidade como fora dele”.[10] “Mulher alguma deve ajudar o marido nesta obra de autodestruição. Ela não o fará caso esteja esclarecida, e tenha por ele verdadeiro amor”.[11] Mas, a responsabilidade é também do homem. Por isso, o melhor é uma decisão conjunta entre marido e esposa, de com a ajuda de Deus conceder um ao outro somente “o que lhe é devido”, e fugirem de toda porneia. A imoralidade destrói o amor e a felicidade, mas Deus é poderoso para nos guardar, e libertar de todo pecado! “Pela graça de Deus podeis ter êxito em vos fazerdes mutuamente felizes como prometestes no voto matrimonial”.[12] 


Referências:

[1]Bíblia AndrewsAlmeida Revista e Atualizada, 2ª ed. Tatuí, São Paulo: Casa Publicadora Brasileira, 2015. A seguir: ARA.

[2]NICHOL, Francis D. ed. Comentário bíblico adventista do sétimo dia, 1ª ed. Tatuí, São Paulo: Casa Publicadora Brasileira, 2014, v. 6, p. 723. A seguir: Comentário bíblico adventista do sétimo dia.

[3]Ibidem, p. 724.

[4]Bíblia Sagrada Almeida Revista e Corrigida. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2009. A seguir: ARC.

[5]Nisto cremos, 10ª ed. Tatuí, São Paulo: Casa Publicadora Brasileira, 2020, p. 379.

[6]Comentário bíblico adventista do sétimo dia, v. 1, p. 651.

[7]WHITE, Ellen G. O lar adventista, Tatuí, São Paulo: Casa Publicadora Brasileira, 2013, p. 124. A seguir: WHITE, O lar adventista.

[8]ROCK, Calvin B. “Casamento e Família”, em Tratado de teologia adventista do sétimo dia, editado por Raoul Dederen, 1ª ed. Tatuí, São Paulo: Casa Publicadora Brasileira, 2011, p. 817.

[9]Manual da igreja, 22ª ed. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2016, p. 162, 163.

[10]WHITE, O lar adventista, p. 124.

[11]Ibidem, p. 118.

[12]Ibidem, p. 124.

Wilson Borba

Wilson Borba

Sola Scriptura

As doutrinas bíblicas explicadas de uma forma simples e prática para o viver cristão.

Bacharel em Teologia pelo Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp), campus São Paulo. Possui mestrado e doutorado na mesma área pelo Unasp, campus Engenheiro Coelho, e pela Universidade Peruana Unión (UPeU). Ao longo de seu ministério foi pastor distrital, diretor de departamentos, professor e diretor de seminários de Teologia da Igreja Adventista na América do Sul. Atualmente serve como pastor distrital no interior de São Paulo.


O mistério do amor que redime

 

O mistério do amor que redime

A Bíblia mostra que não há graça sem justiça e que ambas coexistem no caráter de Deus


  • Compartilhar:
  •  
  •  
  •  
  •  
Satanás tentou separar a graça e a justiça de Deus para descaracterizar sua identidade (Foto: Shutterstock)

Intercedendo a Deus por si mesmo e o povo, o salmista em adoração e fé antecipou a resposta: “A misericórdia e a verdade se encontraram; a justiça e a paz se beijaram” (Salmos 85:10, Almeida Revista e Corrigida).[i] O objetivo deste artigo é apresentar essa perfeita união da graça com a verdade, e o beijo da justiça e a paz no caráter de Deus. As Escrituras revelam que “o Senhor é justo; Ele ama a justiça” (Salmos 11:7). E que Ele “tem prazer na misericórdia” (Miquéias 7:18). Em toda a Bíblia, Deus é apresentado como um Ser de “misericórdia e benignidade”, e de “rigorosa e imparcial justiça”.[ii]

Quando não percebemos a sintonia perfeita entre estes atributos no caráter de Deus, interpretaremos Seus atos na história de forma unilateral, seja à luz de Sua justiça ou da Sua misericórdia (Deuteronômio 7:1-11; Jonas 4:2, 3; Lucas 7:39). Ver o Senhor como um Deus de misericórdia, sem levar em conta Sua justiça, nos levará a responsabiliza-Lo como causador do caos universal. E ao considerarmos Deus promovendo apenas Sua “rigorosa e imparcial justiça” alienada da paz e misericórdia, o veremos como um Ser frio, insensível e causador de mágoas.[iii]

Leia também:

Sua Revelação escrita, as Santas Escrituras (2 Timóteo 3:16, 17; 2 Pedro 1:19-21), integra maravilhosa e perfeitamente a misericórdia e justiça no Seu caráter, e em tudo o que faz (Êxodo 20:5, 6; João 8:11). Ele “é a fonte de justiça, misericórdia e verdade”.[iv]

NEle “a misericórdia e a verdade se encontraram; a justiça e a paz se beijaram” (Salmos 85:10, Almeida Revista e Corrigida). Este mistério é compreendido no contexto do evangelho eterno, “coisas essas que anjos anelam perscrutar” (Apocalipse 14:6; Romanos 16:25; 1 Pedro 1:12). Como Ellen White considerou este tema? “O maravilhoso desígnio de graça do Senhor, o mistério do amor que redime, é o tema para que "os anjos desejam bem atentar", e será seu estudo através dos séculos sem fim”.[v]

O “mistério do amor que redime”, no arco-íris e no trono de Deus

Admiramos a beleza do arco-íris, mas a maior maravilha é o que ele representa: o beijo da justiça e a misericórdia no trono de Deus, e em Seu governo (Ezequiel 1:26-28; Apocalipse 4:1-3), pois “justiça e misericórdia são os atributos de Seu trono. Ele é um Deus de amor, de piedade e de terna compaixão”.[vi] Lúcifer tentou perverter o trono de Deus (Isaías 14:13, 14).Como “querubim da guarda ungido” conheceu o caráter divino de justiça e bondade, e Seu refulgente trono circundado pelo arco-íris da Sua glória (Ezequiel 28:14; Êxodo 25:18-20). Desde sua criação era “perfeito em seus caminhos”, até se achar nele “iniquidade” (verso 15), “orgulho” e “corrupção” (Ezequiel 28:17).

Lúcifer estabeleceu um trono rival (Isaías 14:13), pois, por meio de mentiras pretendia administrar o Universo melhor que Seu Criador (Ezequiel 28:18). Foi o primeiro antinomianista a rebelar-se contra a Lei de Deus, pois “vive pecando desde o princípio” (1 João 3:4, 8).  Finalmente expulso do Céu (João 18:44; Ezequiel 28:16; Apocalipse 12:7-9), com ódio e engano consumados, levou nossos pais ao pecado estabelecendo pretenso domínio sobre a Terra (Gênesis 3:1-8; Lucas 4:6, 7). Sua estratégia era “divorciar a misericórdia da verdade e da justiça”.[vii] Como acusador, e presumida vítima, atacou a essência do caráter de Deus, a união de Sua justiça e misericórdia (João 8:44; Apocalipse 12:10). “Mas no plano divino, elas estão indissoluvelmente unidas; uma não pode existir sem a outra. "A misericórdia e a verdade se encontraram; a justiça e a paz se beijaram" (Salmos 85:10).[viii] Estrategicamente, “levantava extremamente o prato da justiça divina” para pisar abaixo em outra extremidade, o “prato da misericórdia”.

“Satanás levou o homem a imaginar Deus como um Ser cujo principal atributo fosse a justiça severa - um rigoroso juiz, e credor exigente e cruel”.[ix] Assim, atacava tanto a justiça como a misericórdia de Deus, expondo-O de modo distorcido e perverso. O resultado foi “rebelião, trevas e miséria”.[x] Multidões passaram a odiar a Deus, amar o pecado, e desprezar Seus apelos para arrependimento e salvação, até que Ele fez um “ato estranho” (Isaías 28:21) destruindo-os pelo Dilúvio (Gênesis 6:1-5; 11-13; Mateus 24:39; 2 Pedro 3:6). Mas o arco-íris que circunda o trono de Deus, cujo símbolo aparece nas nuvens é “um sinal da divina misericórdia e bondade para com o homem; que, embora Deus tenha sido provocado a destruir a Terra pelo dilúvio, ainda Sua misericórdia circunda a Terra”.[xi] Seu trono circundado pelo arco-íris é “o penhor do cumprimento de Sua Palavra”.[xii]

Mais que isso, “o arco-íris da promessa, circundando o trono de Deus no alto, é um perpétuo testemunho de que "Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito, para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna" (João 3:16).[xiii] Somente pela graça de Deus, Noé e sua família foram salvos da destruição (Gênesis 6:8; 1 Pedro 3:18-21; 2 Pedro 2:5), porque Deus é amor (1 João 4:8). “O amor de Deus tem-se expressado tanto em Sua justiça como em Sua misericórdia. A justiça é o fundamento de Seu trono, e o fruto de Seu amor”.[xiv] Ao olharmos o arco-íris nas nuvens, lembremos que: “Assim como o arco nas nuvens é formado pela união da luz solar e da chuva, assim o arco-íris que circunda o trono representa o poder conjunto da misericórdia e justiça”.[xv] “A misericórdia e a verdade se encontraram; a justiça e a paz se beijaram” (Salmos 85:10, Almeida Revista e Corrigida).

O “mistério do amor que redime” no propiciatório cobrindo a arca do concerto

Ao Moisés construir o tabernáculo, sob a ordem de Deus preparou a arca do concerto. E nela colocou as tábuas da santa Lei dos Dez Mandamentos, a Sua aliança, escrita pelo próprio Deus (Êxodo 25:10-16; 31:18; Deuteronômio 4:13; 5:22; 10:2-5). Foi ordenado a Moisés também preparar o propiciatório, e colocá-lo como cobertura em cima da arca (Êxodo 25:17-19, 21; Hebreus 9:4,5). “Assim se representa a união da justiça com a misericórdia no plano da redenção humana. Somente a sabedoria infinita poderia conceber esta união, e o poder infinito realizá-la; é uma união que enche o Céu todo de admiração e adoração”.[xvi] E Deus também ordenou a Moisés preparar dois anjos querubins de ouro. Estes deveriam ser colocados nas duas extremidades do propiciatório, com as asas estendidas “por cima, cobrindo com elas o propiciatório” de “faces voltadas uma para a outra, olhando para o propiciatório” (Êxodo 25:18- 20; Hebreus 9:5).

“Os querubins do santuário terrestre, olhando reverentemente para o propiciatório, representam o interesse com que a hoste celestial contempla a obra da redenção. Este é o mistério da misericórdia a que os anjos desejam atentar”[xvii]. A abertura do santíssimo do santuário celestial, na visão da arca do concerto em Apocalipse 11:19, implica essencialmente na centralidade do “mistério do amor que redime” no grande conflito entre Cristo e Satanás. E singularmente, revela o grande interesse dos anjos de Deus não apenas para estudar, mas proclamar o “evangelho eterno” a todos os habitantes da Terra, para conhecerem e aceitarem “o precioso amor que redime” (Apocalipse 14:6-12). “A misericórdia e a verdade se encontraram; a justiça e a paz se beijaram” (Salmos 85:10, Almeida Revista e Corrigida).

O “mistério do amor que redime” na cruz do Calvário

Foi na cruz que “o príncipe deste mundo foi expulso, e todos atraídos ao Salvador”, porque Jesus veio para “destruir as obras do Diabo” (João 12:31-32; Apocalipse 12:10-11; 1 João 3:8). “Por Sua vida e morte, provou Cristo que a justiça divina não destrói a misericórdia, mas que o pecado pode ser perdoado, e que a lei é justa, sendo possível obedecer-lhe perfeitamente. As acusações de Satanás foram refutadas”[xviii]. Pela morte de Cristo na cruz, Deus pode “ser justo e justificador daquele que tem fé em Jesus” (Romanos 3:26; Isaías 53:5). “Os seres remidos e os não caídos encontrarão na cruz de Cristo sua ciência e seu cântico.[xix] “Quando estudamos o caráter divino sob o aspecto da cruz, vemos misericórdia, ternura e perdão mesclados com equidade e justiça. Exclamamos na linguagem de João: "Vede que grande amor nos tem concedido o Pai, a ponto de sermos chamados filhos de Deus" (1 João 3:1).[xx]

Portanto, “Cristo na cruz foi o meio pelo qual a misericórdia e a verdade se encontraram, a justiça e a paz se beijaram. Este é o meio de mover o mundo”[xxi]. A propósito, “os seres remidos e os não caídos encontrarão na cruz de Cristo sua ciência e seu cântico[xxii]. Logo, “aqui deve começar o estudo que será a ciência e o cântico dos remidos através da eternidade”[xxiii]. “Como escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande salvação?” (Hebreus 2:3), pois “a misericórdia e a verdade se encontraram; a justiça e a paz se beijaram” (Salmos 85:10, Almeida Revista e Corrigida).


Referências:

[i]Bíblia Sagrada Almeida Revista e Corrigida. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2009. A seguir, ARC.

[ii]WHITE, Ellen G. The Signs of the Times, 24 de março de 1881.

[iii]Bíblia de Estudo Andrews. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2015, p. 762.

[iv]WHITE, Ellen G. Atos dos apóstolos. 9ª ed., Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2013, p. 507.

[v]_______. O Desejado de Todas as Nações. 22ª ed., Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2013, p. 19. A seguir: O Desejado de Todas as Nações.

[vi]_______. Testemunhos para a igreja. 1ª ed. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2013, v. 5, p. 174.

[vii]_______. O Desejado de Todas as Nações, p. 762.

[viii]Ibidem.

[ix]_______. Caminho a Cristo. 1ª ed., Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2015, p. 10.

[x]_______. O Desejado de Todas as Nações, p. 22.

[xi]_______. História da redenção. 11ª ed. 2013, p. 71.

[xii]_______. Parábolas de Jesus. 15ª ed., Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2013, p. 148.

[xiii]_______. A Ciência do bom viver, 10ª ed. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2013, p. 94.

[xiv]_______. O Desejado de Todas as Nações, p. 762.

[xv]_______. Review and Herald, 13 de dezembro de 1892.

[xvi]_______. Cristo em seu santuário, p. 90.

[xvii]Ibidem.

[xviii]WHITE, Ellen G. O Desejado de Todas as Nações. p. 762.

[xix]Ibidem, p. 20.

[xx]WHITE, Ellen G. Exaltai-O. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, MM 1992, p. 250.

[xxi]_______. Filhos e filhas de Deus. Santo André, SP: Casa Publicadora Brasileira, MM 1956, p. 243.

[xxii]_______. O Desejado de Todas as Nações, p. 20.

[xxiii]_______. Pauloo apóstolo da fé e da coragem. Campinas, SP: Certeza Editorial, 2004, p. 128.

Wilson Borba

Wilson Borba

Sola Scriptura

As doutrinas bíblicas explicadas de uma forma simples e prática para o viver cristão.

Bacharel em Teologia pelo Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp), campus São Paulo. Possui mestrado e doutorado na mesma área pelo Unasp, campus Engenheiro Coelho, e pela Universidade Peruana Unión (UPeU). Ao longo de seu ministério foi pastor distrital, diretor de departamentos, professor e diretor de seminários de Teologia da Igreja Adventista na América do Sul. Atualmente serve como pastor distrital no interior de São Paulo.


Do site

NOTÍCIAS ADVENTISTAS

NOTÍCIAS ADVENTISTAS

Coluna | Wilson Borba


Postagens de Destaque