Ellen White
Será Desolada a Terra
"Os seus pecados
se acumularam até ao céu, e Deus Se lembrou das iniqüidades dela."
"No cálice em que vos deu de beber dai-lhe a ela em dobro. Quanto ela se
glorificou, e em delícias esteve, dai-lhe outro tanto em tormento e pranto;
porque diz em seu coração: Estou assentada como rainha, e não sou viúva, e não
verei o pranto. Portanto, num dia virão as pragas, a morte, e o pranto e a
fome; e será queimada no fogo; porque é forte o Senhor Deus que a julga. E os
reis da Terra, que se prostituíram com ela, e viveram em delicias, a chorarão,
e sobre ela prantearão, ... dizendo: Ai! ai daquela grande Babilônia, aquela
forte cidade! pois numa hora veio o seu juízo." Apoc. 18:5-10.
"Os mercadores da
Terra" que "se enriqueceram com a abundância de suas delícias",
"estarão de longe, pelo temor do seu tormento, chorando, e lamentando, e
dizendo: Ai, ai, daquela grande cidade! que estava vestida de linho fino, de
púrpura, de escarlata; e adornada com ouro e pedras preciosas e pérolas! Porque
numa hora foram assoladas tantas riquezas." Apoc. 18:3, 15 e 16.
Tais são os juízos que
caem sobre Babilônia, no dia da ira de Deus. Ela encheu a medida de sua
iniqüidade; veio o seu tempo; está madura para a destruição.
Quando a voz de Deus
põe fim ao cativeiro de Seu povo, há um terrível despertar daqueles que tudo
perderam no grande conflito da vida.
Enquanto perdurou o tempo da graça, estiveram
cegos pelos enganos de Satanás, e desculpavam sua conduta de pecado.
Os ricos se orgulhavam de sua
superioridade sobre aqueles que eram menos favorecidos; mas obtiveram suas
riquezas violando a lei de Deus. Negligenciaram alimentar o faminto, vestir o
nu, tratar com justiça e amar a misericórdia. Procuraram exaltar-se, e obter a
homenagem de seus semelhantes. Agora estão despojados de tudo que os fazia
grandes, e se encontram desamparados e indefesos.
Olham com terror para
a destruição dos ídolos que antepuseram ao seu Criador. Venderam a alma em
troca das riquezas e gozos terrestres, e não procuraram enriquecer para com
Deus.
O resultado é que sua
vida foi um fracasso; seus prazeres agora se transformaram em amargura, seus
tesouros em corrupção. Os .ganhos de uma vida inteira foram em um momento
varridos.
Os ricos lastimam a
destruição de suas soberbas casas, a dispersão de seu
ouro e prata. Mas suas lamentações silenciam pelo temor de que eles próprios
devem perecer, juntamente com seus ídolos.
Os ímpios estão cheios de pesar, não por causa de sua pecaminosa negligência para
com Deus e seus semelhantes, mas porque Deus venceu. Lamentam que o resultado
seja o que é; mas não se arrependem de sua impiedade. Se pudessem, não
deixariam de experimentar todo e qualquer meio para vencer.
O mundo vê aqueles dos
quais zombaram e escarneceram, e que desejaram exterminar, passarem ilesos
através das pestilências, tempestades e terremotos.
Aquele que é para os
transgressores de Sua lei um fogo devorador, é para o Seu povo um seguro
pavilhão.
O ministro que
sacrificara a verdade a fim de alcançar o favor dos homens, percebe agora o caráter e influência de seus ensinos.
É evidente que os olhos
oniscientes o estiveram acompanhando enquanto se achava ao púlpito, enquanto
andava pelas ruas, enquanto se confundia com os homens nas várias cenas da
vida.
Toda emoção da alma,
toda linha escrita, cada palavra pronunciada, todo ato que levava os homens a
descansar em um refúgio de falsidade, esteve a espalhar sementes; e agora, nas
infelizes e perdidas almas em redor dele, contempla a colheita.
Diz o Senhor:
"Curam a ferida da filha de Meu povo levianamente, dizendo: Paz, paz,
quando não há paz." "Entristecestes o coração do justo com falsidade,
não o havendo Eu entristecido, e esforçastes as mãos do ímpio, para que não se
desviasse do seu mau caminho, e vivesse." Jer. 8:11; Ezeq. 13:22.
"Ai dos pastores
que destroem e dispersam as ovelhas do Meu pasto. ... Eis que visitarei sobre vós a maldade de vossas ações."
"Uivai,
pastores, e clamai, e rebolai-vos na cinza, principais do rebanho, porque já se
cumpriram os vossos dias para serdes mortos ... E não haverá fugida para os
pastores, nem salvamento para os principais do rebanho." Jer. 23:1 e 2;
25:34 e 35.
Ministros e povo vêem
que não mantiveram a devida relação para com Deus.
Vêem que se rebelaram contra o Autor de toda
lei reta e justa. A rejeição dos preceitos divinos deu origem a milhares de
fontes para males, discórdias, ódio, iniqüidade, até que a Terra se tornou um
vasto campo de contenda, um poço de corrupção. Este é o quadro que ora se
apresenta aos que rejeitaram a verdade e preferiram acalentar o erro.
Nenhuma linguagem pode
exprimir o anelo que o desobediente, o desleal experimenta por aquilo que para
sempre perdeu: a vida eterna.
Homens que o mundo
adorou pelos talentos e eloqüência vêem agora estas
coisas sob a sua verdadeira luz. Compenetram-se do que perderam pela
transgressão, e caem aos pés daqueles de cuja fidelidade zombaram, com
menosprezo, confessando que Deus os amou.
O povo vê que foi
iludido. Um acusa ao outro de o ter
levado à destruição; todos, porém, se unem em acumular suas mais amargas
condenações contra os ministros. Pastores infiéis profetizaram coisas
agradáveis, levaram os ouvintes a anular a lei de Deus e a perseguir os que a
queriam santificar. Agora, em seu desespero, esses ensinadores confessam
perante o mundo sua obra de engano.
As multidões estão
cheias de furor. "Estamos perdidos!" exclamam; "e vós sois a
causa de nossa ruína"; e voltam-se contra os falsos
pastores. Aqueles mesmos que mais os admiravam, pronunciarão as mais terríveis
maldições sobre eles. As mesmas mãos que os coroavam de lauréis, levantar-se-ão
para destruí-los.
As espadas que
deveriam matar o povo de Deus, são agora empregadas para exterminar os seus
inimigos. Por toda parte há contenda e morticínio.
"Chegará o
estrondo até à extremidade da Terra, porque o Senhor tem contenda com as
nações, entrará em juízo com toda a carne; os ímpios entregará à espada."
Jer. 25:31. Seis mil anos esteve em andamento o grande conflito; o Filho de
Deus e Seus mensageiros celestiais estavam em conflito com o poder do maligno,
a fim de advertir, esclarecer e salvar os filhos dos homens.
Agora todos fizeram
sua decisão; os ímpios uniram-se completamente a Satanás em sua luta contra
Deus. Chegado é o tempo para Deus reivindicar a autoridade de Sua lei que fora
desprezada. Agora a controvérsia não é somente com Satanás, mas também com os homens.
"O Senhor tem contenda com as nações"; "os ímpios entregará à
espada".
O sinal de livramento
foi posto sobre aqueles "que suspiram e que gemem por causa de todas as
abominações que se cometem". Agora sai o anjo da morte,
representado na visão de Ezequiel pelos homens com as armas destruidoras, aos
quais é dada a ordem: "Matai velhos, mancebos, e virgens, e meninos, e
mulheres, até exterminá-los; mas a todo homem que tiver o sinal não vos
chegueis; e começai pelo Meu santuário." Diz o profeta: "E começaram
pelos homens mais velhos que estavam diante da casa." Ezeq. 9:1-6.
A obra de destruição
se inicia entre os que professaram ser os guardas espirituais do povo. Os
falsos vigias são os primeiros a cair. Ninguém há de quem
se compadecer ou a quem poupar. Homens, mulheres, donzelas e criancinhas
perecem juntamente.
"O Senhor sairá
do Seu lugar, para castigar os moradores da Terra, por causa da sua iniqüidade,
e a Terra descobrirá o seu sangue, e não encobrirá mais aqueles que foram
mortos." Isa. 26:21.
"E esta será a
praga com que o Senhor ferirá a todos os povos que guerrearem contra Jerusalém:
a sua carne será consumida, estando eles de pé, e lhes apodrecerão os olhos
nas suas órbitas, e lhes apodrecerá a língua na sua boca.
Naquele dia também
acontecerá que haverá uma grande perturbação do Senhor entre eles; porque
pegará cada um na mão do seu companheiro, e alçar-se-á a mão de cada um contra
a mão de seu companheiro." Zac. 14:12 e 13.
Na desvairada contenda
de suas próprias e violentas paixões, e pelo derramamento terrível da ira de
Deus sem mistura, sucumbem os ímpios habitantes da Terra - sacerdotes,
governadores e povo, ricos e pobres, elevados e baixos. "E serão os mortos
do Senhor, naquele dia, desde uma extremidade da Terra até à outra extremidade
da Terra; não serão pranteados nem recolhidos, nem sepultados." Jer.
25:33.
Por ocasião da vinda
de Cristo os ímpios são eliminados da face de toda a Terra: consumidos pelo
espírito de Sua boca, e destruídos pelo resplendor de Sua glória. Cristo leva o
Seu povo para a cidade de Deus, e a Terra é esvaziada de seus moradores.
"Eis que o Senhor esvazia a Terra, e a desola, e transtorna a sua
superfície, e dispersa os seus moradores." "De todo se esvaziará a
Terra, e de todo será saqueada, porque o Senhor pronunciou esta palavra."
"Porquanto transgridem as leis, mudam os estatutos, e quebram a aliança
eterna. Por isso a maldição consome a Terra, e os que habitam nela serão
desolados; por isso serão queimados os moradores da Terra." Isa. 24:1, 3,
4 e 6.
A Terra inteira se
parece com um deserto assolado.
As ruínas das cidades
e vilas destruídas pelo terremoto, árvores desarraigadas, pedras escabrosas
arrojadas pelo mar ou arrancadas da própria Terra, espalham-se pela sua
superfície, enquanto vastas cavernas assinalam o lugar em que as montanhas
foram separadas da sua base.
Ocorre agora o
acontecimento prefigurado na última e solene cerimônia do dia da expiação.
Quando se completava o ministério no lugar santíssimo, e os pecados de Israel
eram removidos do santuário em virtude do sangue da oferta pelo pecado, o bode
emissário era então apresentado vivo perante o Senhor; e na presença da
congregação o sumo sacerdote confessava sobre ele "todas as iniqüidades
dos filhos de Israel, e todas as suas transgressões, segundo todos os seus
pecados", pondo-os sobre a cabeça do bode. Lev. 16:21. Semelhantemente, ao
completar-se a obra de expiação no santuário celestial, na presença de Deus e
dos anjos do Céu e do exército dos remidos, serão então postos sobre Satanás os
pecados do povo de Deus; declarar-se-á ser ele o culpado de todo o mal que os
fez cometer. E assim como o bode emissário era enviado para uma terra não
habitada, Satanás será banido para a Terra desolada, que se encontrará como um
deserto despovoado e horrendo.
O escritor do
Apocalipse prediz o banimento de Satanás, e a condição de caos e desolação a
que a Terra deve ser reduzida; e declara que tal condição existirá durante mil
anos. Depois de apresentar as cenas da segunda vinda do Senhor e da destruição
dos ímpios, continua a profecia:
"Vi descer do céu
um anjo que tinha a chave do abismo, e uma grande cadeia na sua mão. Ele
prendeu o dragão, a antiga serpente, que é o diabo e Satanás, e amarrou-o por
mil anos. E lançou-o no abismo, e ali o encerrou, e pôs selo sobre ele, para
que não mais engane as nações, até que os mil anos se acabem. E depois importa
que seja solto por um pouco de tempo." Apoc. 20:1-3.
Que a expressão
"abismo" representa a Terra em estado de confusão e trevas, é
evidente de outras passagens. Relativamente à condição da Terra "no
princípio", o relato bíblico diz que "era sem forma e vazia; e havia
trevas sobre a face do abismo". Gên. 1:2. A profecia ensina que ela
voltará, em parte ao menos, a esta condição. Olhando ao futuro para o grande
dia de Deus, declara o profeta Jeremias: "Observei a Terra, e eis que
estava assolada e vazia; e os céus, e não tinham a sua luz. Observei os montes,
e eis que estavam tremendo; e todos os outeiros estremeciam. Observei e vi que
homem nenhum havia e que todas as aves do céu tinham fugido. Vi também que a
terra fértil era um deserto, e que todas as suas cidades estavam
derribadas." Jer. 4:23-26.
Aqui deverá ser a
morada de Satanás com seus anjos maus durante mil anos. Restrito à
Terra, não terá acesso a outros mundos, para tentar e molestar os que jamais
caíram. É neste sentido que ele está amarrado: ninguém ficou de resto, sobre
quem ele possa exercer seu poder. Está inteiramente separado da obra de engano
e ruína que durante tantos séculos foi seu único deleite.
O profeta Isaías,
vendo antecipadamente o tempo da queda de Satanás, exclama: "Como caíste
do Céu, ó estrela da manhã, filha da alva! como foste lançado por terra, tu que
debilitavas as nações! E tu dizias no teu coração: Eu subirei ao Céu, acima das
estrelas de Deus exaltarei o meu trono. ... Serei semelhante ao Altíssimo.
E contudo levado serás
ao inferno, ao mais profundo do abismo. Os que te virem te contemplarão,
considerar-te-ão, e dirão: É este o varão que fazia estremecer a Terra, e que
fazia tremer os reinos? Que punha o mundo como um deserto, e assolava as suas
cidades? que a seus cativos não deixava ir soltos para suas casas?" Isa.
14:12-17.
Durante seis mil anos a obra de rebelião de Satanás tem
feito "estremecer a Terra". Ele tornou "o mundo como um
deserto", e destruiu "as suas cidades". E "a seus cativos
não deixava ir soltos".
Durante seis mil anos o seu cárcere (o sepulcro) recebeu o povo de Deus, e ele os queria
conservar cativos para sempre; mas Cristo quebrou os seus laços, pondo em
liberdade os prisioneiros.
Mesmo os ímpios agora
se acham colocados fora do poder de Satanás, e sozinho, com seus anjos maus,
permanecerá ele a compenetrar-se dos efeitos da maldição que o pecado
acarretou. Todos os reis das nações, todos eles jazem com honra cada um na sua
casa [sepultura]. Mas tu és lançado da tua sepultura, como um renovo
abominável. ....Com eles não te reunirás na sepultura; porque destruíste a tua
terra e mataste o teu povo." Isa. 14:18-20.
Durante mil anos
Satanás vagueará de um lugar para outro na Terra desolada, para contemplar os
resultados de sua rebelião contra a lei de Deus. Durante este tempo os seus sofrimentos serão intensos. Desde a sua
queda, a sua vida de incessante atividade baniu a reflexão; agora, porém, está
ele despojado de seu poder e entregue a si mesmo para contemplar a parte que
desempenhou desde que a princípio se rebelou contra o governo do Céu, e para
aguardar, com temor e tremor, o futuro terrível em que deverá sofrer por todo o
mal que praticou, e ser punido pelos pecados que fez com que fossem cometidos.
Ao povo de Deus o
cativeiro de Satanás trará alegria e júbilo. Diz o profeta: "Acontecerá
que no dia em que Deus vier a dar-te descanso do teu trabalho, e do teu tremor,
e da dura servidão com que te fizeram servir, então proferirás este dito contra
o rei de Babilônia [representando aqui Satanás], e dirás: Como cessou o
opressor! ... Já quebrantou o Senhor o bastão dos ímpios e o cetro dos
dominadores. Aquele que feria os povos com furor, com praga incessante, o que
com ira dominava as nações, agora é perseguido, sem que alguém o possa
impedir." Isa. 14:3-6.
Durante os mil anos
entre a primeira e a segunda ressurreições, ocorre o julgamento dos ímpios. O apóstolo Paulo indica este juízo como um acontecimento a seguir-se ao
segundo advento. "Nada julgueis antes de tempo, até que o Senhor venha, o
qual também trará à luz as coisas ocultas das trevas, e manifestará os
desígnios dos corações." I Cor. 4:5.
Daniel declara que
quando veio o Ancião de Dias, "foi dado o juízo aos santos do
Altíssimo". Dan. 7:22. Nesse tempo os justos reinam como reis e sacerdotes
de Deus. João, no Apocalipse, diz: "Vi tronos; e assentaram-se sobre eles,
e foi-lhes dado o poder de julgar." "Serão sacerdotes de Deus e de
Cristo, e reinarão com Ele mil anos." Apoc. 20:4 e 6. É nesse tempo que,
conforme foi predito por Paulo, "os santos hão de julgar o mundo". I
Cor. 6:2. Em união com Cristo julgam os ímpios, comparando seus atos com o
código - a Escritura Sagrada, e decidindo cada caso segundo as ações praticadas
no corpo. Então é determinada a parte que os ímpios devem sofrer, segundo suas
obras; e registrada em frente ao seu nome, no livro da morte.
Igualmente Satanás e
os anjos maus são julgados por Cristo e Seu povo. Diz Paulo: "Não sabeis
vós que havemos de julgar os anjos?" I Cor. 6:3. E Judas declara que aos
anjos que não guardaram o seu principado, mas deixaram a sua própria habitação,
reservou na escuridão, e em prisões eternas até ao juízo daquele grande
dia". Jud. 6.
Ao fim dos mil anos
ocorrerá a segunda ressurreição. Então os ímpios ressuscitarão dos mortos,
comparecendo perante Deus para a execução do "juízo escrito". Assim,
o escritor do Apocalipse, depois de descrever o ressurgir dos justos, diz:
"Mas os outros mortos
não reviveram, até que os mil anos se acabaram." Apoc. 20:5.
A respeito dos ímpios
Isaías declara: "Serão amontoados como presos numa masmorra, e serão
encerrados num cárcere, e serão visitados depois de muitos dias." Isa.
24:22.
Do Livro O Grande Conflito - Penultimo Capítulo
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