Ellen White
O Livramento
dos Justos
GC - Pag. 635
Quando a proteção das leis humanas for
retirada dos que honram a lei de Deus, haverá, nos diferentes países, um
movimento simultâneo com o fim de destruí-los. Aproximando-se o tempo indicado
no decreto, o povo conspirará para desarraigar a odiada seita. Resolver-se-á
dar em uma noite um golpe decisivo, que faça silenciar por completo a voz de
dissentimento e reprovação.
O povo de Deus - alguns nas celas das
prisões, outros escondidos nos retiros solitários das florestas e montanhas
pleiteia ainda a proteção divina, enquanto por toda parte grupos de homens
armados, instigados pelas hostes de anjos maus, se estão preparando para a obra
de morte. É então, na hora de maior aperto, que o Deus de Israel intervirá para
o livramento de Seus escolhidos. Diz o Senhor: "Um cântico haverá entre
vós, como na noite em que se celebra uma festa; e alegria de coração, como
daquele que sai tocando pífano, para vir ao monte do Senhor, à Rocha de Israel.
E o Senhor fará ouvir a glória da Sua voz, e fará ver o abaixamento do Seu braço,
com indignação de ira, e a labareda do Seu fogo consumidor, e raios e dilúvio e
pedras de saraiva." Isa. 30:29 e 30.
Com brados de triunfo, zombaria e
imprecação, multidões de homens maus estão prestes a cair sobre a presa,
quando, eis, um denso negror, mais intenso do que as trevas da noite, cai sobre
a Terra. Então o arco-íris, resplandecendo com a glória do trono de Deus,
atravessa os céus, e parece cercar cada um dos grupos em oração. As multidões
iradas subitamente se detêm. Silenciam seus gritos de zombaria. É esquecido o
objeto de sua ira sanguinária. Com terríveis pressentimentos contemplam o
símbolo da aliança de Deus, anelando pôr-se ao amparo de seu fulgor
insuperável.
É ouvida pelo povo de Deus uma voz
clara e melodiosa, dizendo: "Olhai para cima"; e, levantando os olhos
para o céu, contemplam o arco da promessa. As nuvens negras, ameaçadoras, que
cobriam o firmamento se fendem e, como Estêvão, olham fixamente para o céu, e
vêem a glória de Deus, e o Filho do homem sentado sobre o Seu trono. Divisam em
Sua forma divina os sinais de Sua humilhação; e de Seus lábios ouvem o pedido,
apresentado ante Seu Pai e os santos anjos: "Aqueles que Me deste quero
que, onde Eu estiver, também eles estejam comigo." João 17:24. Novamente
se ouve uma voz, melodiosa e triunfante, dizendo: "Eles vêm! eles vêm!
santos, inocentes e incontaminados. Guardaram a palavra da Minha paciência;
andarão entre os anjos"; e os pálidos, trêmulos lábios dos que mantiveram
firme a fé, proferem um brado de vitória.
É à meia-noite que Deus manifesta o Seu
poder para o livramento de Seu povo. O Sol aparece resplandecendo em sua força.
Sinais e maravilhas se seguem em rápida sucessão. Os ímpios contemplam a cena
com terror e espanto, enquanto os justos vêem com solene alegria os sinais de
seu livramento. Tudo na Natureza parece desviado de seu curso. As correntes de
água deixam de fluir. Nuvens negras e pesadas sobem e chocam-se umas nas
outras. Em meio dos céus agitados, acha-se um espaço claro de glória
indescritível, donde vem a voz de Deus como o som de muitas águas, dizendo:
"Está feito." Apoc. 16:17.
Essa voz abala os céus e a Terra. Há um
grande terremoto "como nunca tinha havido desde que há homens sobre a
Terra; tal foi este tão grande terremoto". Apoc. 16:18. O firmamento
parece abrir-se e fechar-se. A glória do trono de Deus dir-se-ia atravessar a
atmosfera. As montanhas agitam-se como a cana ao vento, e anfractuosas rochas
são espalhadas por todos os lados. Há um estrondo como de uma tempestade a
sobrevir. O mar é açoitado com fúria. Ouve-se o sibilar do furacão, semelhante
à voz de demônios na missão de destruir. A Terra inteira se levanta,
dilatando-se como as ondas do mar. Sua superfície está a quebrar-se. Seu
próprio fundamento parece ceder. Cadeias de montanhas estão a revolver-se.
Desaparecem ilhas habitadas. Os portos marítimos que, pela iniqüidade, se
tornaram como Sodoma, são tragados pelas águas enfurecidas. A grande Babilônia
veio em lembrança perante Deus, "para lhe dar o cálice do vinho da
indignação da Sua ira". Apoc. 16:19 e 21. Grandes pedras de saraiva, cada
uma "do peso de um talento", estão a fazer sua obra de destruição. As
mais orgulhosas cidades da Terra são derribadas. Os suntuosos palácios em que
os grandes homens do mundo dissiparam suas riquezas com a glorificação própria,
desmoronam-se diante de seus olhos. As paredes das prisões fendem-se, e o povo
de Deus, que estivera retido em cativeiro por causa de sua fé, é libertado.
Abrem-se sepulturas, e "muitos dos
que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para a vida eterna, e outros para
vergonha e desprezo eterno". Dan. 12:2. Todos os que morreram na fé da
mensagem do terceiro anjo saem do túmulo glorificados para ouvirem o concerto
de paz, estabelecido por Deus com os que guardaram a Sua lei. "Os mesmos
que O traspassaram" (Apoc. 1:7), os que zombaram e escarneceram da agonia
de Cristo, e os mais acérrimos inimigos de Sua verdade e povo, ressuscitam para
contemplá-Lo em Sua glória, e ver a honra conferida aos fiéis e obedientes.
Densas nuvens ainda cobrem o céu;
contudo o Sol de quando em quando irrompe, aparecendo como o olhar vingador de Jeová.
Relâmpagos terríveis estalam dos céus, envolvendo a Terra num lençol de chamas.
Por sobre o estrondo medonho do trovão, vozes misteriosas e terríveis declaram
a sorte dos ímpios. As palavras proferidas não são compreendidas por todos;
entendem-nas, porém, distintamente os falsos ensinadores. Os que pouco antes
eram tão descuidados, tão jactanciosos e desafiadores, tão exultantes em sua
crueldade para com o povo de Deus, observador dos mandamentos, acham-se agora
vencidos pela consternação, e a estremecer de medo. Ouve-se o seu pranto acima
do som dos elementos. Demônios reconhecem a divindade de Cristo, e tremem
diante de Seu poder, enquanto homens estão suplicando misericórdia e rastejando
em abjeto terror.
Disseram os profetas da antiguidade, ao
contemplar em santa visão o dia de Deus: "Uivai, porque o dia do Senhor
está perto; vem do Todo-poderoso como assolação." Isaías 13:6. "Entra
nas rochas e esconde-te no pó, da presença espantosa do Senhor e da glória da
Sua majestade. Os olhos altivos dos homens serão abatidos, e a altivez dos
varões será humilhada; e só o Senhor será exaltado naquele dia. Porque o dia do
Senhor dos exércitos será contra todo o soberbo e altivo, e contra todo o que
se exalta, para que seja abatido." "Naquele dia o homem lançará às
toupeiras e aos morcegos os seus ídolos de prata, e os ídolos de ouro, que
fizeram para ante eles se prostrarem, e meter-se-á pelas fendas das rochas,
pelas cavernas das penhas, por causa da presença espantosa do Senhor, e por
causa da glória da Sua majestade, quando Ele Se levantar para assombrar a
Terra." Isa. 2:10, 20 e 21.
Por uma fenda nas nuvens, fulgura uma
estrela cujo brilho aumenta quadruplicadamente em contraste com as trevas. Fala
de esperança e alegria aos fiéis, mas de severidade e ira aos transgressores da
lei de Deus. Os que tudo sacrificaram por Cristo estão agora em segurança, como
que escondidos no lugar secreto do pavilhão do Senhor. Foram provados, e
perante o mundo e os desprezadores da verdade, evidenciaram sua fidelidade
Àquele que por eles morreu. Uma mudança maravilhosa sobreveio aos que
mantiveram firme integridade em face mesmo da morte. Foram subitamente libertos
da negra e terrível tirania de homens transformados em demônios. Seu rosto,
pouco antes tão pálido, ansioso e descomposto, resplandece agora de admiração,
fé e amor. Sua voz ergue-se em cântico triunfal: "Deus é o nosso refúgio e
fortaleza, socorro bem presente na angústia. Pelo que não temeremos, ainda que
a Terra se mude, e ainda que os montes se transportem para o meio dos mares.
Ainda que as águas rujam e se perturbem, ainda que os montes se abalem pela sua
braveza." Sal. 46:1-3.
Enquanto estas palavras de santa
confiança ascendem a Deus, as nuvens recuam, e se vêem os constelados céus,
indescritivelmente gloriosos em contraste com o firmamento negro e carregado de
cada lado. A glória da cidade celestial emana de suas portas entreabertas.
Aparece então de encontro ao céu uma mão segurando duas tábuas de pedra
dobradas uma sobre a outra. Diz o profeta: "Os céus anunciarão a Sua
justiça; pois Deus mesmo é o juiz." Salmo 50:6. Aquela santa lei, a
justiça de Deus, que por entre trovões e chamas foi do Sinai proclamada como
guia da vida, revela-se agora aos homens como a regra do juízo. A mão abre as
tábuas, e vêem-se os preceitos do decálogo, como que traçados com pena de fogo.
As palavras são tão claras que todos as podem ler. Desperta-se a memória,
varrem-se de todas as mentes as trevas da superstição e heresia, e os dez
preceitos divinos, breves, compreensivos e autorizados, apresentam-se à vista
de todos os habitantes da Terra.
É impossível descrever o horror e
desespero dos que pisaram os santos mandamentos de Deus. O Senhor lhes deu Sua
lei; eles poderiam haver aferido seu caráter por ela, e conhecido seus defeitos
enquanto ainda havia oportunidade para arrependimento e correção; mas, a fim de
conseguir o favor do mundo, puseram de parte seus preceitos e ensinaram outros
a transgredir. Esforçaram-se por compelir o povo de Deus a profanar o Seu
sábado. Agora são condenados por aquela lei que desprezaram. Com terrível
clareza vêem que se acham sem desculpas. Escolheram a quem servir e adorar.
"Então vereis outra vez a diferença entre o justo e o ímpio; entre o que
serve a Deus, e o que O não serve." Mal. 3:18.
Os inimigos da lei de Deus, desde o
ministro até ao menor dentre eles, têm nova concepção da verdade e do dever.
Demasiado tarde vêem que o sábado do quarto mandamento é o selo do Deus vivo.
Tarde demais vêem a verdadeira natureza de seu sábado espúrio, e o fundamento
arenoso sobre o qual estiveram a construir. Acham que estiveram a combater
contra Deus. Ensinadores religiosos conduziram almas à perdição, ao mesmo tempo
que professavam guiá-las às portas do Paraíso. Antes do dia do ajuste final de
contas, não se conhecerá quão grande é a responsabilidade dos homens no mister
sagrado, e quão terríveis são os resultados de sua infidelidade. Somente na
eternidade poderemos com acerto avaliar a perda de uma única alma. Terrível
será a condenação daquele a quem Deus disser: Retira-te, mau servo.
A voz de Deus é ouvida no Céu,
declarando o dia e a hora da vinda de Jesus e estabelecendo concerto eterno com
Seu povo. Semelhantes a estrondos do mais forte trovão, Suas palavras ecoam
pela Terra inteira. O Israel de Deus fica a ouvir, com o olhar fixo no alto.
Têm o semblante iluminado com a Sua glória, brilhante como o rosto de Moisés
quando desceu do Sinai. Os ímpios não podem olhar para eles. E, quando se
pronuncia a bênção sobre os que honraram a Deus, santificando o Seu sábado, há
uma grande aclamação de vitória.
Surge logo no Oriente uma pequena nuvem
negra, aproximadamente da metade do tamanho da mão de um homem. É a nuvem que
rodeia o Salvador, e que, a distância, parece estar envolta em trevas. O povo
de Deus sabe ser esse o sinal do Filho do homem. Em solene silêncio fitam-na
enquanto se aproxima da Terra, mais e mais brilhante e gloriosa, até se tornar
grande nuvem branca, mostrando na base uma glória semelhante ao fogo consumidor
e encimada pelo arco-íris do concerto. Jesus, na nuvem, avança como poderoso
vencedor. Agora, não como "Homem de dores", para sorver o amargo
cálice da ignomínia e miséria, vem Ele vitorioso no Céu e na Terra para julgar
os vivos e os mortos. "Fiel e verdadeiro", Ele "julga e peleja
em justiça." E "seguiram-nO os exércitos no Céu". Apoc. 19:11 e
14. Com antífonas de melodia celestial, os santos anjos, em vasta e inumerável
multidão, acompanham-nO em Seu avanço. O firmamento parece repleto de formas
radiantes - milhares de milhares, milhões de milhões. Nenhuma pena humana pode
descrever esta cena, mente alguma mortal é apta para conceber seu esplendor.
"A Sua glória cobriu os céus" e a Terra encheu-se do Seu louvor. E o
Seu resplendor era como a luz." Hab. 3:3 e 4. Aproximando-se ainda mais a
nuvem viva, todos os olhos contemplam o Príncipe da vida. Nenhuma coroa de
espinhos agora desfigura a sagrada cabeça, mas um diadema de glória repousa
sobre a santa fronte. O semblante divino irradia o fulgor deslumbrante do Sol
meridiano. "E no vestido e na Sua coxa tem escrito este nome: Rei dos reis
e Senhor dos senhores." Apoc. 19:16.
À Sua presença "se têm tornado
macilentos todos os rostos"; sobre os que rejeitaram a misericórdia de
Deus cai o terror do desespero eterno. "Derrete-se o coração, e tremem os
joelhos", "e os rostos de todos eles empalidecem." Jer. 30:6; Naum
2:10. Os justos clamam, a tremer: "Quem poderá subsistir?" Silencia o
cântico dos anjos, e há um tempo de terrível silêncio. Ouve-se, então, a voz de
Jesus, dizendo: "A Minha graça te basta." Ilumina-se a face dos
justos, e a alegria enche todos os corações. E os anjos entoam uma melodia mais
forte, e de novo cantam ao aproximar-se ainda mais da Terra.
O Rei dos reis desce sobre a nuvem,
envolto em fogo chamejante. Os céus enrolam-se como um pergaminho, e a Terra
treme diante dEle, e todas as montanhas e ilhas se movem de seu lugar.
"Virá o nosso Deus, e não Se calará; adiante dEle um fogo irá consumindo,
e haverá grande tormenta ao redor dEle. Chamará os céus, do alto, e a Terra
para julgar o Seu povo." Sal. 50:3 e 4.
"E os reis da Terra e os grandes,
e os ricos, e os tribunos, e os poderosos, e todo o servo, e todo o livre, se
esconderam nas cavernas e nas rochas das montanhas; e diziam aos montes e aos
rochedos: Caí sobre nós, e escondei-nos do rosto dAquele que está assentado
sobre o trono, e da ira do Cordeiro; porque é vindo o grande dia da Sua ira; e
quem poderá subsistir?" Apoc. 6:15-17.
Cessaram os gracejos escarnecedores.
Cerraram-se os lábios mentirosos. O choque das armas, o tumulto da batalha
"com ruído, e os vestidos que rolavam no sangue" (Isa. 9:5),
silenciaram. Nada se ouve agora senão a voz de orações e o som do choro e
lamentação. Dos lábios que tão recentemente zombavam irrompe o clamor: "É
vindo o grande dia da Sua ira; e quem poderá subsistir?" Os ímpios
suplicam para que sejam sepultados sob as rochas das montanhas, em vez de ver o
rosto dAquele que desprezaram e rejeitaram.
Aquela voz que penetra no ouvido dos
mortos, eles a conhecem. Quantas vezes seus ternos e suplicantes acentos os
chamaram ao arrependimento! Quantas vezes foi ela ouvida nos rogos tocantes de
um amigo, um irmão, um Redentor! Para os que rejeitaram Sua graça, nenhuma
outra voz poderia ser tão cheia de censura, tão carregada de denúncias, como
aquela que durante tanto tempo assim pleiteou: "Convertei-vos dos vossos
maus caminhos; pois por que razão morrereis?" Ezeq. 33:11. Quem dera para
eles fosse a voz de um estranho! Diz Jesus: "Clamei, e vós recusastes;
porque estendi a Minha mão, e não houve quem desse atenção; antes rejeitastes
todo o Meu conselho, e não quisestes a Minha repreensão." Prov. 1:24 e 25.
Aquela voz desperta memórias que eles desejariam ardentemente se desvanecessem
- advertências desprezadas, convites recusados, privilégios tidos em pouca
conta.
Ali estão os que zombaram de Cristo à
Sua humilhação. Com uma força penetrante lhes ocorrem as palavras do Sofredor,
quando, conjurado pelo sumo sacerdote, declarou solenemente: "Vereis em
breve o Filho do homem assentado à direita do poder, e vindo sobre as nuvens do
céu." Mat. 26:64. Agora O contemplam em Sua glória, e ainda O devem ver
assentado à direita do poder.
Os que escarneceram de Sua declaração
de ser Ele o Filho de Deus, estão agora mudos. Ali está o altivo Herodes, que
zombou de Seu título real, mandando os soldados zombadores coroá-Lo rei. Estão
ali os mesmos homens que com mãos ímpias Lhe colocaram sobre o corpo o manto de
púrpura, e sobre a fronte sagrada a coroa de espinhos, e na mão, que não opunha
resistência, um simulacro de cetro, e diante dEle se curvavam em zombaria
blasfema. Os homens que bateram e cuspiram no Príncipe da vida, agora se
desviam de Seu penetrante olhar, procurando fugir da subjugante glória de Sua
presença. Aqueles que introduziram os cravos através de Suas mãos e pés, o
soldado que Lhe feriu o lado, contemplam esses sinais com terror e remorso.
Com terrível precisão sacerdotes e
príncipes recordam-se dos acontecimentos do Calvário. Estremecendo de horror,
lembram-se de como, movendo a cabeça em satânica alegria, exclamaram:
"Salvou os outros e a Si mesmo não pode salvar-Se. Se é o Rei de Israel,
desça agora da cruz, e creremos nEle; confiou em Deus; livre-O agora, se O
ama." Mat. 27:42 e 43.
Vividamente relembram a parábola dos
lavradores que se recusaram a entregar a seu senhor o fruto da vinha,
maltrataram seus servos, e lhe mataram o filho. Lembram-se também da sentença
que eles próprios pronunciaram: O senhor da vinha "dará afrontosa morte
aos maus". No pecado e castigo daqueles homens infiéis, vêem os sacerdotes
e anciãos seu próprio procedimento e sua própria justa condenação. E, agora,
ergue-se um clamor de agonia mortal. Mais alto do que o grito -
"Crucifica-O, crucifica-O", que repercutiu pelas ruas de Jerusalém,
reboa o pranto terrível, desesperado: "Ele é o Filho de Deus! Ele é o
verdadeiro Messias!" Procuram fugir da presença do Rei dos reis. Nas
profundas cavernas da Terra, fendida pela luta dos elementos, tentam em vão
esconder-se.
Na vida de todos os que rejeitam a
verdade, há momentos em que a consciência desperta, em que a memória apresenta
a recordação torturante de uma vida de hipocrisia, e a alma é acossada de vãos
pesares. Mas que é isto ao ser comparado com o remorso daquele dia em que o
temor vem como assolação, em que a perdição vem como tormenta! (Prov. 1:27.) Os
que desejariam destruir a Cristo e Seu povo fiel, testemunham agora a glória
que sobre eles repousa. No meio de seu terror, ouvem a voz dos santos em
alegres acordes, exclamando: "Eis que este é o nosso Deus, a quem
aguardávamos, e Ele nos salvará." Isa. 25:9.
Por entre as vacilações da Terra, o
clarão do relâmpago e o ribombo do trovão, a voz do Filho de Deus chama os
santos que dormem. Ele olha para a sepultura dos justos e, levantando as mãos
para o céu, brada: "Despertai, despertai, despertai, vós que dormis no pó,
e surgi!" Por todo o comprimento e largura da Terra, os mortos ouvirão
aquela voz, e os que ouvirem viverão. E a Terra inteira ressoará com o passar
do exército extraordinariamente grande de toda nação, tribo, língua e povo. Do
cárcere da morte vêm eles, revestidos de glória imortal, clamando: "Onde
está, ó morte, o teu aguilhão? Onde está, ó inferno, a tua vitória?" I
Cor. 15:55. E os vivos justos e os santos ressuscitados unem as vozes em
prolongada e jubilosa aclamação de vitória.
Todos saem do túmulo com a mesma
estatura que tinham quando ali entraram. Adão, que está em pé entre a multidão
dos ressuscitados, é de grande altura e formas majestosas, de estatura pouco
menor que o Filho de Deus. Apresenta assinalado contraste com o povo das
gerações posteriores; sob este único ponto de vista se revela a grande
degeneração da raça. Todos, porém, surgem com a louçania e vigor de eterna
mocidade. No princípio o homem foi criado à semelhança de Deus, não somente no
caráter, mas na forma e aspecto. O pecado desfigurou e quase obliterou a imagem
divina; mas Cristo veio para restaurar aquilo que se havia perdido. Ele mudará
nosso corpo vil, modelando-o conforme Seu corpo glorioso. As formas mortais,
corruptíveis, destituídas de garbo, poluídas pelo pecado, tornam-se perfeitas,
belas e imortais. Todos os defeitos e deformidades são deixados no túmulo.
Restabelecidos à árvore da vida, no Éden há tanto tempo perdido, os remidos
crescerão até à estatura completa da raça em sua glória primitiva. Os últimos
traços da maldição do pecado serão removidos, e os fiéis de Cristo aparecerão
"na beleza do Senhor nosso Deus", refletindo no espírito, alma e
corpo, a imagem perfeita de seu Senhor. Oh! maravilhosa redenção! Há tanto
tempo objeto das cogitações, há tanto tempo esperada, contemplada com ávida
expectativa, mas nunca entendida completamente!
Os justos vivos são transformados
"num momento, num abrir e fechar de olhos". À voz de Deus foram eles
glorificados; agora tornam-se imortais, e com os santos ressuscitados, são
arrebatados para encontrar seu Senhor nos ares. Os anjos "ajuntarão os
Seus escolhidos desde os quatro ventos, de uma à outra extremidade dos
céus." Criancinhas são levadas pelos santos anjos aos braços de suas mães.
Amigos há muito separados pela morte, reúnem-se, para nunca mais se separarem,
e com cânticos de alegria ascendem juntamente para a cidade de Deus.
De cada lado do carro de nuvens existem
asas, e debaixo dele se acham rodas vivas; e, ao volver o carro para cima, as
rodas clamam: "Santo", e as asas, movendo-se, clamam:
"Santo", e o cortejo de anjos clama: "Santo, santo, santo,
Senhor Deus todo-poderoso." E os remidos bradam: "Aleluia!" -
enquanto o carro prossegue em direção à Nova Jerusalém.
Antes de entrar na cidade de Deus, o
Salvador concede a Seus seguidores os emblemas da vitória, conferindo-lhes as
insígnias de sua condição real. As fileiras esplendentes são dispostas em forma
de um quadrado aberto ao centro, em redor de seu Rei, que Se ergue
majestosamente muito acima dos santos e anjos e de cujo rosto irradia benigno
amor a todos.
Por toda a hoste inumerável dos
resgatados, todos os olhares se acham fixos nEle, todos os olhos contemplam a
glória dAquele cujo "parecer estava tão desfigurado, mais do que o de
outro qualquer, e a Sua figura mais do que a dos filhos dos homens". Sobre
a cabeça dos vencedores, Jesus com Sua própria destra põe a coroa de glória.
Para cada um há uma coroa que traz o seu "novo nome" (Apoc. 2:17), e
a inscrição: "Santidade ao Senhor." Em cada mão são colocadas a palma
do vencedor e a harpa resplandecente. Então, ao desferirem as notas os anjos
dirigentes, todas as mãos deslizam com maestria sobre as cordas da harpa,
tirando-lhes suave música em ricos e melodiosos acordes. Indizível
arrebatamento faz fremir todo coração, e toda voz se ergue em grato louvor:
"Àquele que nos ama, e em Seu sangue nos lavou dos nossos pecados, e nos
fez reis e sacerdotes para Deus e Seu Pai; a Ele glória e poder para todo o
sempre." Apoc. 1:5 e 6.
Diante da multidão de resgatados está a
santa cidade. Jesus abre amplamente as portas de pérolas, e as nações que
observaram a verdade, entram. Ali contemplam o Paraíso de Deus, o lar de Adão
em sua inocência. Então aquela voz, mais harmoniosa do que qualquer música que
tenha soado já aos ouvidos mortais, é ouvida a dizer: "Vosso conflito está
terminado." "Vinde, benditos de Meu Pai, possuí por herança o reino
que vos está preparado desde a fundação do mundo." Cumpre-se então a
oração do Salvador por Seus discípulos:
"Aqueles que Me deste quero que,
onde Eu estiver, também eles estejam comigo." "Irrepreensíveis, com
alegria, perante a Sua glória" (Jud. 24), Cristo os apresenta a Seu Pai
como a aquisição de Seu sangue, declarando: "Eis-Me aqui, com os fiIhos
que Me deste." "Guardei aqueles que Me deste." Oh! maravilhas do
amor que redime! transportes daquela hora em que o infinito Pai, olhando para
os resgatados, contemplar Sua imagem, banida a discórdia do pecado, removida
sua maldição, e o humano de novo em harmonia com o divino!
Com indizível amor Jesus dá as
boas-vindas a Seus fiéis, para "o gozo do teu Senhor". O gozo do
Salvador consiste em ver, no reino de glória, as almas que foram salvas por Sua
agonia e humilhação. E os remidos serão participantes de Sua alegria, vendo
eles, entre os bem-aventurados, os que foram ganhos para Cristo por meio de
suas orações, trabalhos e sacrifícios de amor. Reunindo-se eles em redor do
grande trono branco, indizível júbilo lhes encherá o coração ao contemplarem os
que ganharam para Cristo, e verem que um ganhou a outros, e estes ainda outros,
todos trazidos para o porto de descanso, para ali deporem sua coroa aos pés de
Jesus e louvá-Lo pelos séculos intérminos da eternidade.
Ao serem os resgatados recebidos na
cidade de Deus, ecoa nos ares um exultante clamor de adoração. Os dois Adões
estão prestes a encontrar-se. O Filho de Deus Se acha em pé, com os braços
estendidos para receber o pai de nossa raça - o ser que Ele criou e que pecou
contra o seu Criador, e por cujo pecado os sinais da crucifixão aparecem no
corpo do Salvador. Ao divisar Adão os sinais dos cruéis cravos, ele não cai ao
peito de seu Senhor, mas lança-se em humilhação a Seus pés, exclamando:
"Digno, digno é o Cordeiro que foi morto!" Com ternura o Salvador o
levanta, convidando-o a contemplar de novo o lar edênico do qual, havia tanto,
fora exilado.
Depois de sua expulsão do Éden, a vida
de Adão na Terra foi cheia de tristeza. Cada folha a murchar, cada vítima do
sacrifício, cada mancha na bela face da Natureza, cada mácula na pureza do
homem, era uma nova lembrança de seu pecado. Terrível foi a aflição do remorso,
ao contemplar a iniqüidade que abundava, e, em resposta às suas advertências,
deparar com a exprobração que lhe faziam como causa do pecado. Com paciente
humildade, suportou durante quase mil anos a pena da transgressão. Sinceramente
se arrependeu de seu pecado, confiando nos méritos do Salvador prometido, e
morreu na esperança de uma ressurreição. O Filho de Deus redimiu a falta e a queda
do homem; e agora, pela obra da expiação, Adão é reintegrado em seu primeiro
domínio.
Em arrebatamento de alegria, contempla
as árvores que já foram o seu deleite - as mesmas árvores cujo fruto ele
próprio colhera nos dias de sua inocência e alegria. Vê as videiras que sua
própria mão tratara, as mesmas flores que com tanto prazer cuidara. Seu
espírito apreende a realidade daquela cena; ele compreende que isso é na
verdade o Éden restaurado, mais lindo agora do que quando fora dele banido. O
Salvador o leva à árvore da vida, apanha o fruto glorioso e manda-o comer. Olha
em redor de si e contempla uma multidão de sua família resgatada, no Paraíso de
Deus. Lança então sua brilhante coroa aos pés de Jesus e, caindo a Seu peito,
abraça o Redentor. Dedilha a harpa de ouro, e pelas abóbadas do céu ecoa o
cântico triunfante: "Digno, digno, digno, é o Cordeiro que foi morto, e
reviveu!" A família de Adão associa-se ao cântico e lança as suas coroas
aos pés do Salvador, inclinando-se perante Ele em adoração.
Esta reunião é testemunhada pelos anjos
que choraram quando da queda de Adão e rejubilaram ao ascender Jesus ao Céu,
depois de ressurgido, tendo aberto a sepultura a todos os que cressem em Seu
nome. Contemplam agora a obra da redenção completa e unem as vozes no cântico
de louvor.
No mar cristalino diante do trono,
naquele mar como que de vidro misturado com fogo - tão resplendente é ele pela
glória de Deus - está reunida a multidão dos que "saíram vitoriosos da
besta, e da sua imagem, e do seu sinal, e do número do seu nome". Apoc.
15:2. Com o Cordeiro, sobre o Monte Sião, "tendo harpas de Deus", estão
os cento e quarenta e quatro mil que foram remidos dentre os homens; e ouve-se,
como o som de muitas águas, e de grande trovão, "uma voz de harpistas, que
tocavam com as suas harpas". E cantavam um "cântico novo diante do
trono - cântico que ninguém podia aprender senão os cento e quarenta e quatro
mil. É o hino de Moisés e do Cordeiro - hino de livramento. Ninguém, a não ser
os cento e quarenta e quatro mil, pode aprender aquele canto, pois é o de sua
experiência - e nunca ninguém teve experiência semelhante. "Estes são os
que seguem o Cordeiro para onde quer que vai." "Estes, tendo sido
trasladados da Terra, dentre os vivos, são tidos como as primícias para Deus e
para o Cordeiro." Apoc. 14:1-5; 15:3. "Estes são os que vieram de
grande tribulação" (Apoc. 7:14); passaram pelo tempo de angústia tal como
nunca houve desde que houve nação; suportaram a aflição do tempo da angústia de
Jacó; permaneceram sem intercessor durante o derramamento final dos juízos de
Deus. Mas foram livres, pois "lavaram os seus vestidos, e os branquearam
no sangue do Cordeiro". "Na sua boca não se achou engano; porque são
irrepreensíveis" diante de Deus. "Por isso estão diante do trono de
Deus, e O servem de dia e de noite no Seu templo; e Aquele que está assentado
sobre o trono os cobrirá com a Sua sombra." Apoc. 7:15. Viram a Terra
devastada pela fome e pestilência, o Sol com poder para abrasar os homens com
grandes calores, e eles próprios suportaram o sofrimento, a fome e a sede. Mas
"nunca mais terão fome, nunca mais terão sede; nem Sol nem calma alguma
cairá sobre eles. Porque o Cordeiro que está no meio do trono os apascentará, e
lhes servirá de guia para as fontes das águas da vida; e Deus limpará de seus
olhos toda a lágrima". Apoc. 7:16 e 17.
Em todos os tempos os escolhidos do
Salvador foram educados e disciplinados na escola da provação. Seguiram na
Terra por veredas estreitas; foram purificados na fornalha da aflição. Por amor
de Jesus suportaram a oposição, o ódio, a calúnia. Acompanharam-nO através de
dolorosos conflitos; suportaram a negação própria - e experimentaram amargas decepções.
Pela sua própria experiência dolorosa compreenderam a malignidade do pecado,
seu poder, sua culpa, suas desgraças; e para ele olham com aversão. Uma
intuição do sacrifício infinito feito para reabilitá-los, humilha-os à sua
própria vista, enchendo-lhes o coração de gratidão e louvor, que os que nunca
decaíram não poderão apreciar. Muito amam, porque muito foram perdoados. Havendo
participado dos sofrimentos de Cristo, estão aptos para serem co-participantes
de Sua glória.
Os herdeiros de Deus vieram das
águas-furtadas, das choças, dos calabouços, dos cadafalsos, das montanhas, dos
desertos, das covas da Terra, das cavernas do mar. Na Terra eram
"desamparados, aflitos e maltratados". Milhões desceram ao túmulo
carregados de infâmia, porque firmemente se recusavam a render-se às enganosas
pretensões de Satanás. Pelos tribunais humanos foram julgados como os mais vis
dos criminosos. Mas agora "Deus mesmo é o Juiz". Sal. 50:6.
Revogam-se agora as decisões da Terra. "Tirará o opróbrio do Seu
povo." Isa. 25:8. "Chamar-lhes-ão: Povo santo, remidos do
Senhor." Ele determinou "que se lhes dê ornamento por cinza, óleo de
gozo por tristeza, vestido de louvor por espírito angustiado". Isa. 62:12;
61:3. Não mais são fracos, aflitos, dispersos e opressos. Doravante devem estar
sempre com o Senhor. Acham-se diante do trono com vestes mais ricas do que já
usaram os mais honrados da Terra. Estão coroados com diademas mais gloriosos do
que os que já foram colocados na fronte dos monarcas terrestres. Os dias de
dores e prantos acabaram-se para sempre. O Rei da glória enxugou as lágrimas de
todos os rostos; removeu-se toda a causa de pesar. Por entre o agitar dos ramos
de palmeiras, derramam um cântico de louvor, claro, suave e melodioso; todas as
vozes apreendem a harmonia até que reboa pelas abóbadas do céu a antífona:
"Salvação ao nosso Deus que está assentado no trono, e ao Cordeiro. E todos
os habitantes do Céu assim respondem: "Amém. Louvor, e glória, e
sabedoria, e ação de graças, e
honra, e poder, e força ao nosso Deus, para todo o
sempre." Apoc. 7:10 e 12.
Nesta vida podemos apenas começar a
compreender o maravilhoso tema da redenção. Com nossa compreensão finita
podemos considerar muito encarecidamente a ignomínia e a glória, a vida e a
morte, a justiça e a misericórdia, que se encontraram na cruz; todavia, com o
máximo esforço de nossa faculdade mental, deixamos de apreender seu completo
significado. O comprimento e a largura, a profundidade e a altura do amor que redime
não são senão palidamente compreendidos. O plano da redenção não será
amplamente penetrado, mesmo quando os resgatados virem assim como eles são
vistos, e conhecerem como são conhecidos; antes, através das eras eternas,
novas verdades desdobrar-se-ão de contínuo à mente cheia de admiração e
deleite. Posto que os pesares, dores e tentações da Terra estejam terminados, e
removidas suas causas, sempre terá o povo de Deus um conhecimento distinto,
inteligente, do que custou a sua salvação.
A cruz de Cristo será a ciência e
cântico dos remidos por toda a eternidade. No Cristo glorificado eles
contemplarão o Cristo crucificado. Jamais se olvidará que Aquele cujo poder
criou e manteve os inumeráveis mundos através dos vastos domínios do espaço, o
Amado de Deus, a Majestade do Céu, Aquele a quem querubins e resplendentes
serafins se deleitavam em adorar - humilhou-Se para levantar o homem decaído;
que Ele arrostou a culpa e a ignomínia do pecado e a ocultação da face de Seu
Pai, até que as misérias de um mundo perdido Lhe quebrantaram o coração e
aniquilaram a vida na cruz do Calvário. O fato de o Criador de todos os mundos,
o Árbitro de todos os destinos, deixar Sua glória e humilhar-Se por amor do
homem, despertará eternamente a admiração e a adoração do Universo. Ao olharem
as nações dos salvos para o seu Redentor e contemplarem a glória eterna do Pai
resplandecendo em Seu semblante; ao verem o Seu trono que é de eternidade em
eternidade, e saberem que Seu reino não terá fim, irrompem num hino
arrebatador: "Digno, digno é o Cordeiro que foi morto, e nos remiu para
Deus com Seu mui precioso sangue!"
O mistério da cruz explica todos os
outros mistérios. À luz que emana do Calvário, os atributos de Deus que nos
encheram de temor e pavor, aparecem belos e atraentes. Misericórdia, ternura e
amor paternal são vistos a confundir-se com santidade, justiça e poder.
Enquanto contemplamos a majestade de Seu trono, alto e sublime, vemos Seu
caráter em suas manifestações de misericórdia, e compreendemos, como nunca
dantes, a significação daquele título enternecedor: "Pai nosso."
Ver-se-á que Aquele que é infinito em
sabedoria não poderia idear plano algum para nos redimir, a não ser o
sacrifício de Seu Filho. A compensação desse sacrifício é a alegria de povoar a
Terra com seres resgatados, santos, felizes e imortais. O resultado do conflito
do Salvador com os poderes das trevas, é alegria para os remidos, redundando
para a glória de Deus por toda a eternidade. E tal é o valor de cada alma que o
Pai está satisfeito com o preço pago; e o próprio Cristo, contemplando os
frutos de Seu grande sacrifício, exulta, também.
Do Livro O Grande Conflito, Pags 635 - 652
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