Ellen White
O Final e Glorioso Triunfo
GC - Pag. 662
Ao fim dos mil anos,
Cristo volta novamente à Terra. É acompanhado pelo
exército dos remidos, e seguido por um cortejo de anjos.
Descendo com grande
majestade, ordena aos ímpios mortos que ressuscitem para receber a condenação.
Surgem estes como um
grande exército, inumerável como a areia do mar. Que contraste com aqueles que
ressurgiram na primeira ressurreição! Os justos estavam revestidos de imortal
juventude e beleza. Os ímpios trazem os traços da doença e da morte.
Todos os olhares
daquela vasta multidão se voltam para contemplar a glória do Filho de Deus. A
uma voz, as hostes dos ímpios exclamam: "Bendito o que vem em nome do
Senhor!"
Não é o amor para com
Jesus que inspira esta declaração. É a força da verdade que faz brotar
involuntariamente essas palavras de seus lábios.
Os ímpios saem da
sepultura tais quais a ela baixaram, com a mesma inimizade contra Cristo, e com
o mesmo espírito de rebelião.
Não terão um novo tempo de graça no qual remediar os defeitos da vida passada. Para nada aproveitaria isso. Uma vida inteira de pecado não lhes abrandou o coração. Um segundo tempo de graça, se lhes fosse concedido, seria ocupado, como foi o primeiro, em se esquivarem aos preceitos de Deus e contra Ele incitarem rebelião.
Cristo desce sobre o
Monte das Oliveiras, donde, depois de Sua ressurreição, ascendeu, e onde anjos
repetiram a promessa de Sua volta. Diz o profeta: "Virá o Senhor meu Deus,
e todos os santos contigo." "E naquele dia estarão os Seus pés sobre
o Monte das Oliveiras, que está defronte de Jerusalém para o oriente; e o Monte
das Oliveiras será fendido pelo meio, ... e haverá um vale muito grande."
"O Senhor será Rei sobre toda a Terra; naquele dia um será o Senhor, e um
será o Seu nome." Zac. 14:5, 4 e 9.
Descendo do Céu a Nova Jerusalém em seu deslumbrante resplandor, repousa sobre o lugar purificado e preparado para recebê-la, e Cristo, com Seu povo e os anjos, entram na santa cidade.
Agora Satanás se
prepara para a última e grande luta pela supremacia. Enquanto despojado de seu
poder e separado de sua obra de engano, o príncipe do mal se achava infeliz e
abatido; mas, sendo ressuscitados os ímpios mortos, e vendo ele as vastas
multidões a seu lado, revivem-lhe as esperanças, e decide-se a não render-se no
grande conflito.
Arregimentará sob sua
bandeira todos os exércitos dos perdidos, e por meio deles se esforçará por
executar seus planos. Os ímpios são cativos de Satanás. Rejeitando a Cristo,
aceitaram o governo do chefe rebelde. Estão prontos para receber suas sugestões
e executar-lhe as ordens.
Contudo, fiel à sua
astúcia original, ele não se reconhece como Satanás. Pretende ser o príncipe
que é o legítimo dono do mundo, e cuja herança foi dele ilicitamente
extorquida.
Representa-se a si
mesmo, ante seus súditos iludidos, como um redentor, assegurando-lhes que seu
poder os tirou da sepultura, e que ele está prestes a
resgatá-los da mais cruel tirania. Havendo sido removida a presença de Cristo, Satanás
opera maravilhas para apoiar suas pretensões.
Faz do fraco forte, e
a todos inspira com seu próprio espírito e energia.
Propõe-se guiá-los
contra o acampamento dos santos e tomar posse da cidade de Deus. Com diabólica
exultação aponta para os incontáveis milhões que ressuscitaram dos mortos, e
declara que como seu guia é muito capaz de tomar a cidade, reavendo seu trono e
reino.
Naquela vasta multidão
há muitos que pertenceram à raça de grande longevidade que existiu antes do
dilúvio; homens de estatura elevada e gigantesco intelecto, os quais,
entregando-se ao domínio dos anjos caídos, dedicaram toda a sua habilidade e
saber à exaltação própria; homens cujas maravilhosas obras de arte levaram o
mundo a lhe idolatrar o gênio, mas cuja crueldade e invenções más, contaminando
a Terra e desfigurando a imagem de Deus, fizeram-nO exterminá-los da face de
Sua criação.
Há reis e generais que
venceram nações, homens valentes que nunca perderam batalha, guerreiros
orgulhosos, ambiciosos, cuja aproximação fazia tremer os reinos. Na morte não experimentaram mudança alguma. Ao subirem da sepultura,
retomam o fio de seus pensamentos exatamente onde ele cessou. São movidos pelo
mesmo desejo de vencer, que os governava quando tombaram.
Satanás consulta seus
anjos, e depois esses reis, vencedores e guerreiros poderosos.
Olham para a força e
número ao seu lado, e declaram que o exército dentro da cidade é pequeno em
comparação com o seu, podendo ser vencido.
Formulam seus planos
para tomar posse das riquezas e glória da Nova Jerusalém. Todos imediatamente
começam a preparar-se para a batalha. Hábeis artífices constroem petrechos de
guerra. Chefes militares, famosos por seus êxitos, arregimentam em companhias e
secções as multidões de homens aguerridos.
Finalmente é dada a
ordem de avançar, e o inumerável exército se põe em
movimento - exército tal como nunca foi constituído por conquistadores
terrestres, tal como jamais poderiam igualar as forças combinadas de todas as
eras, desde que a guerra existe sobre a Terra.
Satanás, o mais forte dos guerreiros, toma a
dianteira, e seus anjos unem as forças para esta luta final. Reis e
guerreiros estão em seu séquito, e as multidões seguem em vastas companhias,
cada qual sob as ordens de seu designado chefe.
Com precisão militar
as fileiras cerradas avançam pela superfície da Terra, quebrada e desigual, em
direção à cidade de Deus. Por ordem de Jesus são fechadas as portas da Nova
Jerusalém, e os exércitos de Satanás rodeiam a cidade, preparando-se para o assalto.
Agora Cristo de novo
aparece à vista de Seus inimigos. Muito acima da
cidade, sobre um fundamento de ouro polido, está um trono, alto e sublime.
Sobre este trono
assenta-Se o Filho de Deus, e em redor dEle estão os súditos de Seu reino. O
poder e majestade de Cristo nenhuma língua os pode descrever, nem pena alguma
retratar. A glória do Pai eterno envolve Seu Filho. O resplandor de Sua
presença enche a cidade de Deus e estende-se para além das portas, inundando a
Terra inteira com seu fulgor.
Mais próximo do trono
estão os que já foram zelosos na causa de Satanás, mas que, arrancados como
tições do fogo, seguiram seu Salvador com devoção profunda, intensa. Em seguida
estão os que aperfeiçoaram um caráter cristão em meio de falsidade e
incredulidade, os que honraram a lei de Deus quando o mundo cristão a declarava
nula, e os milhões de todos os séculos que se tornaram mártires pela sua fé.
E além está a
"multidão, a qual ninguém podia contar, de todas as nações, e tribos, e
povos, e línguas, ... trajando vestidos brancos e com palmas nas suas mãos". Apoc. 7:9.
Terminou a sua luta, a
vitória está ganha. Correram no estádio e alcançaram o prêmio. O ramo de palmas
em suas mãos é um símbolo de seu triunfo, as vestes brancas, um emblema da
imaculada justiça de Cristo, a qual agora possuem.
Os resgatados entoam um cântico de louvor que ecoa repetidas vezes pelas abóbadas do Céu: "Salvação ao nosso Deus que está assentado no trono, e ao Cordeiro." E anjos e serafins unem sua voz em adoração. Tendo os remidos contemplado o poder e malignidade de Satanás, viram, como nunca dantes, que poder algum, a não ser o de Cristo, poderia tê-los feito vencedores. Em toda aquela resplendente multidão ninguém há que atribua a salvação a si mesmo, como se houvesse prevalecido pelo próprio poder e bondade. Nada se diz do que fizeram ou sofreram; antes, o motivo de cada cântico, a nota fundamental de toda antífona, é - Salvação ao nosso Deus, e ao Cordeiro.
Na presença dos
habitantes da Terra e do Céu, reunidos, é efetuada a coroação final do Filho de
Deus. E agora, investido de majestade
e poder supremos, o Rei dos reis pronuncia a sentença sobre os rebeldes contra
Seu governo, e executa justiça sobre aqueles que transgrediram Sua lei e
oprimiram Seu povo. Diz o profeta de Deus: "Vi um grande trono branco, e O
que estava assentado sobre ele, de cuja presença fugiu a Terra e o céu; e não
se achou lugar para eles. E vi os mortos, grandes e pequenos, que estavam
diante do trono, e abriram-se os livros; e abriu-se outro livro, que é o da
vida; e os mortos foram julgados pelas coisas que estavam escritas nos livros,
segundo as suas obras." Apoc. 20:11 e 12.
Logo que se abrem os livros de registro e o olhar de Jesus incide sobre os ímpios, eles se tornam cônscios de todo pecado cometido. Vêem exatamente onde seus pés se desviaram do caminho da pureza e santidade, precisamente até onde o orgulho e rebelião os levaram na violação da lei de Deus. As sedutoras tentações que incentivaram na condescendência com o pecado, as bênçãos pervertidas, os mensageiros de Deus desprezados, as advertências rejeitadas, as ondas de misericórdia rebatidas pelo coração obstinado, impenitente - tudo aparece como que escrito com letras de fogo.
Por sobre o trono se
revela a cruz; e semelhante a uma vista
panorâmica aparecem as cenas da tentação e queda de Adão, e os passos
sucessivos no grande plano para redimir os homens.
O humilde nascimento
do Salvador;
Sua infância de
simplicidade e obediência;
Seu batismo no Jordão;
o jejum e tentação no deserto;
Seu ministério
público, desvendando aos homens as mais preciosas bênçãos do Céu; os dias
repletos de atos de amor e misericórdia,
Suas noites de oração
e vigília na solidão das montanhas; as tramas de inveja, ódio e maldade, com
que eram retribuídos os Seus benefícios; a agonia terrível e misteriosa no
Getsêmani, sob o peso esmagador dos pecados do mundo inteiro;
Sua traição nas mãos
da turba assassina; os tremendos acontecimentos daquela noite de horror - o
Prisioneiro que não opunha resistência, abandonado por Seus discípulos mais
amados, rudemente empurrado pelas ruas de Jerusalém; o Filho de Deus
exultantemente exibido perante Anás, citado ao palácio do sumo
sacerdote, ao tribunal de Pilatos, perante o covarde e cruel Herodes,
escarnecido, insultado, torturado e condenado à morte - tudo é vividamente
esboçado.
E agora, perante a
multidão agitada, revelam-se as cenas finais - o paciente Sofredor trilhando o
caminho do Calvário, o Príncipe do Céu suspenso na cruz; os altivos sacerdotes
e a plebe zombeteira a escarnecer de Sua agonia mortal, as trevas
sobrenaturais; a Terra a palpitar, as pedras despedaçadas, as sepulturas
abertas, assinalando o momento em que o Redentor do mundo rendeu a vida.
O terrível espetáculo
aparece exatamente como foi. Satanás, seus anjos e súditos não têm poder para
se desviarem do quadro que é a sua própria obra.
Cada ator relembra a parte que desempenhou. Herodes, matando as inocentes crianças de Belém, a fim de que pudesse destruir o Rei de Israel; a vil Herodias, sobre cuja alma criminosa repousa o sangue de João Batista; o fraco Pilatos, subserviente às circunstâncias; os soldados zombadores; os sacerdotes e príncipes, e a multidão furiosa que clamou: "O Seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos!" - todos contemplam a enormidade de seu crime. Em vão procuram ocultar-se da majestade divina de Seu rosto, mais resplandecente que o Sol, enquanto os remidos lançam suas coroas aos pés do Salvador, exclamando: "Ele morreu por mim!"
Entre a multidão
resgatada acham-se os apóstolos de Cristo, o heroico Paulo,
o ardoroso Pedro, o amado e amante João, e seus fiéis irmãos, e
com estes o vasto exército dos mártires,
ao passo que, fora dos muros, com tudo o que é
vil e abominável, estão aqueles pelos quais foram perseguidos, presos e mortos.
Ali está Nero, aquele monstro de crueldade e vício, contemplando a
alegria e exaltação daqueles que torturara, e em cujas aflições extremas
encontrara deleite satânico. Sua mãe ali está para testemunhar o
resultado de sua própria obra; para ver como os maus traços de caráter
transmitidos a seu filho, as paixões incentivadas e desenvolvidas por sua
influência e exemplo, produziram frutos nos crimes que fizeram o mundo
estremecer.
Ali estão sacerdotes e
prelados romanistas, que pretendiam ser embaixadores de Cristo e, no entanto,
empregaram a tortura, a masmorra, a fogueira para dominar a consciência de Seu
povo. Ali estão os orgulhosos pontífices que se exaltaram acima de Deus e
pretenderam mudar a lei do Altíssimo. Aqueles pretensos pais da igreja têm uma
conta a prestar a Deus, da qual muito desejariam livrar-se. Demasiado tarde
chegam a ver que o Onisciente é zeloso de Sua lei, e que de nenhuma maneira
terá por inocente o culpado. Aprendem agora que Cristo identifica Seu interesse
com o de Seu povo sofredor; e sentem a força de Suas palavras: "Quando o
fizestes a um destes Meus pequeninos irmãos, a Mim o fizestes." Mat. 25:40.
O mundo ímpio todo
acha-se em julgamento perante o tribunal de Deus, acusado de alta traição
contra o governo do Céu. Ninguém há para pleitear sua causa; estão sem
desculpa; e a sentença de morte eterna é pronunciada contra eles.
É agora evidente a
todos que o salário do pecado não é nobre independência e vida eterna, mas
escravidão, ruína e morte. Os ímpios vêem o que perderam em virtude de sua vida
de rebeldia. O peso eterno de glória mui excelente foi desprezado quando lhes
foi oferecido; mas quão desejável agora se mostra! "Tudo isto",
exclama a alma perdida, "eu poderia ter tido; mas preferi conservar estas
coisas longe de mim. Oh! estranha presunção! Troquei a paz, a felicidade e a
honra pela miséria, infâmia e desespero." Todos vêem que sua exclusão do
Céu é justa. Por sua vida declararam: "Não queremos que este Jesus reine
sobre nós."
Como que extasiados,
os ímpios contemplam a coroação do Filho de Deus. Vêem em Suas mãos as tábuas da lei divina, os estatutos que
desprezaram e transgrediram. Testemunham o irromper de admiração, transportes e
adoração por parte dos salvos, e, ao propagar-se a onda de melodia sobre as
multidões fora da cidade, todos, a uma, exclamam: "Grandes e maravilhosas
são as Tuas obras, Senhor Deus todo-poderoso! Justos e verdadeiros são os Teus
caminhos, ó Rei dos santos" (Apoc. 15:3); e, prostrando-se, adoram o
Príncipe da vida.
Satanás parece
paralisado ao contemplar a glória e majestade de Cristo. Aquele que fora um
querubim cobridor lembra-se donde caiu. Ele, um serafim resplandecente,
"filho da alva" quão mudado, quão degradado! Do conselho onde tantas
honras recebera, está para sempre excluído. Vê que agora um outro se
encontra perto do Pai, velando Sua glória. Viu ser colocada a coroa sobre a
cabeça de Cristo por um anjo de elevada estatura e presença majestosa, e sabe
que a exaltada posição deste anjo poderia ter sido sua.
A memória recorda o
lar de sua inocência e pureza, a paz e contentamento que eram seus até haver
condescendido em murmurar contra Deus e ter inveja de Cristo. Suas acusações,
sua rebelião, seus enganos para ganhar a simpatia e apoio dos anjos, sua
obstinada persistência em não fazer esforços a fim de reabilitar-se quando Deus
lhe teria concedido o perdão - tudo se lhe apresenta ao vivo. Revê sua obra
entre os homens e seus resultados - a inimizade do homem para com seu
semelhante, a terrível destruição de vidas, o surgimento e queda de reinos, a
ruína de tronos, a longa sucessão de tumultos, conflitos e revoluções.
Recorda-se de seus constantes esforços para se opor à obra de Cristo, e para
rebaixar cada vez mais o homem. Vê que suas tramas infernais foram impotentes
para destruir os que depositaram confiança em Jesus. Olhando Satanás para o seu
reino, o fruto de sua luta, vê apenas fracasso e ruína. Levara as multidões a
crer que a cidade de Deus seria fácil presa; mas sabe que isto é falso.
Reiteradas vezes, no transcurso do grande conflito, foi ele derrotado e
obrigado a capitular. Conhece muito bem o poder e majestade do Eterno.
O objetivo do grande
rebelde foi sempre justificar-se, e provar ser o governo divino responsável
pela rebelião. A esse fim aplicou todo o poder de seu pujante intelecto.
Trabalhou deliberada e sistematicamente, e com maravilhoso êxito, levando
vastas multidões a aceitar seu modo de ver quanto ao grande conflito que há
tanto tempo se vem desenvolvendo. Durante milhares de anos esse chefe
conspirador tem apresentado a falsidade em lugar da verdade. Mas agora chegado
é o tempo em que a rebelião deve ser finalmente derrotada, e descobertos a
história e caráter de Satanás. Em seu último e grande esforço para destronar a
Cristo, destruir Seu povo e tomar posse da cidade de Deus, o arquienganador foi
completamente desmascarado. Os que a ele se uniram, vêem o fracasso completo de
sua causa. Os seguidores de Cristo e os anjos leais contemplam a extensão total
de suas maquinações contra o governo de Deus. É ele objeto de aversão
universal.
Satanás vê que sua
rebelião voluntária o inabilitou para o Céu. Adestrou suas faculdades para
guerrear contra Deus; a pureza, paz e harmonia do Céu ser-lhe-iam suprema
tortura. Suas acusações contra a misericórdia e justiça de Deus silenciaram
agora. A exprobração que se esforçou por lançar sobre Jeová repousa
inteiramente sobre ele. E agora Satanás se curva e confessa a justiça de sua
sentença.
"Quem Te não
temerá, ó Senhor, e não magnificará o Teu nome? Porque só Tu és santo; por isso
todas as nações virão, e se prostrarão diante de Ti, porque os Teus juízos são
manifestos." Apoc. 15:4. Todas as questões sobre a verdade e o erro no
prolongado conflito foram agora esclarecidas. Os resultados da rebelião, os
frutos de se porem de parte os estatutos divinos, foram patenteados à vista de
todos os seres criados. Os resultados do governo de Satanás em contraste com o
de Deus, foram apresentados a todo o Universo. As próprias obras de Satanás o
condenaram. A sabedoria de Deus, Sua justiça e bondade, acham-se plenamente
reivindicadas. Vê-se que toda a Sua ação no grande conflito foi orientada com
respeito ao bem eterno de Seu povo, e ao bem de todos os mundos que criou.
"Todas as Tuas obras Te louvarão, ó Senhor, e os Teus santos Te
bendirão." Sal. 145:10. A história do pecado permanecerá por toda a
eternidade como testemunha de que à existência da lei de Deus se acha ligada a
felicidade de todos os seres por Ele criados. À vista de todos os fatos do
grande conflito, o Universo inteiro, tanto os que são fiéis como os rebeldes,
de comum acordo declara: "Justos e verdadeiros são os Teus caminhos, ó Rei
dos santos."
Perante o Universo foi
apresentado claramente o grande sacrifício feito pelo Pai e o Filho em prol do
homem. É chegada a hora em que Cristo ocupa a Sua devida posição, sendo
glorificado acima dos principados e potestades, e sobre todo o nome que se
nomeia.
Foi pela alegria que
Lhe estava proposta - a fim de poder trazer muitos filhos à glória - que Ele
suportou a cruz e desprezou a ignomínia. E por inconcebivelmente grande que
tivessem sido a tristeza e a ignomínia, todavia maiores são a alegria e a
glória. Ele olha para os remidos, renovados em Sua própria imagem, trazendo
cada coração a impressão perfeita do divino, refletindo cada rosto a semelhança
de seu Rei. Contempla neles o resultado das fadigas de Sua alma, e fica
satisfeito. Então, com voz que atinge as multidões congregadas dos justos e
ímpios, declara: "Eis a aquisição de Meu sangue! Por estes sofri, por
estes morri, a fim de que pudessem morar em Minha presença pelas eras
eternas." E sobe o cântico de louvor dos que estão vestidos de branco em redor
do trono: "Digno é o Cordeiro, que foi morto, de receber o poder, e
riquezas, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e ações de graças."
Apoc. 5:12.
Apesar de ter sido
Satanás constrangido a reconhecer a justiça de Deus e a curvar-se à supremacia
de Cristo, seu caráter permanece sem mudança. O espírito de rebelião, qual
poderosa torrente, explode de novo. Cheio de frenesi, decide-se a não capitular
no grande conflito. Chegado é o tempo para uma última e desesperada luta conta
o Rei do Céu.
Arremessa-se para o
meio de seus súditos e esforça-se por inspirá-los com sua fúria, incitando-os a
uma batalha imediata. Mas dentre todos os incontáveis
milhões que seduziu à rebelião, ninguém há agora que lhe reconheça a
supremacia. Seu poder chegou ao fim.
Os ímpios estão cheios
do mesmo ódio a Deus, o qual inspira Satanás; mas vêem que seu caso é sem
esperança, que não podem prevalecer contra Jeová. Sua ira se acende contra
Satanás e os que foram seus agentes no engano, e com furor de demônios
voltam-se contra eles.
Diz o Senhor:
"Pois que estimas o teu coração, como se fora o coração de Deus, eis que
Eu trarei sobre ti estranhos, os mais formidáveis dentre as nações, os quais
desembainharão as suas espadas contra a formosura da tua sabedoria, e mancharão
o teu resplandor. À cova te farão descer." "E te farei perecer, ó
querubim protetor, entre pedras afogueadas. ... Por terra te lancei, diante dos
reis te pus, para que olhem para ti. ... E te tornei em cinza sobre a Terra,
aos olhos de todos os que te vêem. ... Em grande espanto te tornaste, e nunca
mais serás para sempre." Ezeq. 28:6-8, 16-19.
"Toda a armadura daqueles que pelejam com ruído, e os vestidos que rolavam no sangue serão queimados, servirão de pasto ao fogo." "A indignação do Senhor está sobre todas as nações, e o Seu furor sobre todo o exército delas: Ele as destruiu totalmente, entregou-as à matança." "Sobre os ímpios fará chover laços, fogo, enxofre, e vento tempestuoso; eis a porção do seu copo." Isa. 9:5; 34:2; Sal. 11:6.
De Deus desce fogo do céu.
A terra se fende.
São retiradas as armas
escondidas em suas profundezas.
Chamas devoradoras
irrompem de cada abismo hiante.
As próprias rochas
estão ardendo. Vindo é o dia que arderá como um
forno.
Os elementos fundem-se
pelo vivo calor, e também a Terra e as obras que
nela há são queimadas (Mal. 4:1; II Ped. 3:10). A superfície da Terra parece
uma massa fundida - um vasto e fervente lago de fogo. É o tempo do juízo e
perdição dos homens maus - "dia da vingança do Senhor, ano de retribuições
pela luta de Sião". Isa. 34:8.
Os ímpios recebem sua
recompensa na Terra (Prov. 11:31). "Serão como a palha; e o dia que está
para vir os abrasará, diz o Senhor dos exércitos." Mal. 4:1. Alguns são
destruídos em um momento, enquanto outros sofrem muitos dias. Todos são punidos
segundo as suas ações.
Tendo sido os pecados
dos justos transferidos para Satanás, tem ele de sofrer não somente pela sua
própria rebelião, mas por todos os pecados que fez o povo de Deus cometer.
Seu castigo deve ser
muito maior do que o daqueles a quem enganou. Depois que perecerem os que pelos
seus enganos caíram, deve ele ainda viver e sofrer.
Nas chamas purificadoras os ímpios são finalmente destruídos, raiz e ramos - Satanás a raiz, seus seguidores os ramos. A penalidade completa da lei foi aplicada; satisfeitas as exigências da justiça; e o Céu e a Terra, contemplando-o, declaram a justiça de Jeová.
Está para sempre
terminada a obra de ruína de Satanás. Durante seis mil anos efetuou a sua vontade, enchendo a Terra de miséria e causando pesar por
todo o Universo. A criação inteira tem igualmente gemido e estado em dores de
parto. Agora as criaturas de Deus estão para sempre livres de sua presença e
tentações. "Já descansa, já está sossegada toda a Terra! exclamam [os
justos] com júbilo." Isa. 14:7. E uma aclamação de louvor e triunfo sobe
de todo o Universo fiel. "A voz de uma grande multidão", "como a
voz de muitas águas, e a voz de fortes trovões", é ouvida, dizendo:
"Aleluia! pois o Senhor Deus onipotente reina." Apoc. 19:6.
Enquanto a Terra está
envolta nos fogos da destruição, os justos habitam em segurança na Santa Cidade. Sobre os que tiveram parte na primeira ressurreição, a segunda morte
não tem poder. Ao mesmo tempo em que Deus é para os ímpios um fogo consumidor,
é para o Seu povo tanto Sol como Escudo (Apoc. 20:6; Sal. 84:11).
"Vi um novo céu,
e uma nova Terra. Porque já o primeiro céu e a primeira Terra passaram."
Apoc. 21:1. O fogo que consome os ímpios, purifica a Terra.
Todo vestígio de
maldição é removido. Nenhum inferno a arder eternamente conservará perante os
resgatados as terríveis conseqüências do pecado.
Apenas uma lembrança
permanece: nosso Redentor sempre levará os sinais de Sua crucifixão.
Em Sua fronte ferida,
em Seu lado, em Suas mãos e pés, estão os únicos vestígios da obra cruel que o
pecado efetuou.
Diz o profeta,
contemplando Cristo em Sua glória: "Raios brilhantes saíam da Sua mão, e
ali estava o esconderijo da Sua força." Hab. 3:4.
Suas mãos, Seu lado
ferido donde fluiu a corrente carmesim, que reconciliou o homem com Deus - ali
está a glória do Salvador, ali está "o esconderijo da Sua força".
"Poderoso para salvar" mediante o sacrifício da
redenção, foi Ele, portanto, forte para executar justiça sobre aqueles que
desprezaram a misericórdia de Deus. E os sinais de Sua humilhação são a Sua
mais elevada honra; através das eras intérminas os ferimentos do Calvário Lhe
proclamarão o louvor e declararão o poder.
"E a ti, ó torre
do rebanho, monte da filha de Sião, a ti virá; sim, a ti virá o primeiro
domínio." Miq. 4:8. Chegado é o tempo, para o qual santos homens têm
olhado com anseio desde que a espada inflamada vedou o Éden ao primeiro par -
tempo "para a redenção da possessão de Deus". Efés. 1:14.
A Terra, dada
originariamente ao homem como seu reino, traída por ele às mãos de Satanás, e
tanto tempo retida pelo poderoso adversário, foi recuperada pelo grande plano
da redenção. Tudo que se perdera pelo pecado foi restaurado. "Assim diz o
Senhor ... que formou a Terra, e a fez; Ele a estabeleceu, não a criou vazia, mas
a formou para que fosse habitada." Isa. 45:18.
O propósito original
de Deus na criação da Terra cumpre-se, ao fazer-se ela a eterna morada dos
remidos. "Os justos herdarão a Terra e habitarão nela para sempre."
Sal. 37:29.
Um receio de fazer com que a herança futura pareça demasiado material tem levado muitos a espiritualizar as mesmas verdades que nos levam a considerá-la nosso lar. Cristo afirmou a Seus discípulos haver ido preparar moradas para eles na casa de Seu Pai. Os que aceitam os ensinos da Palavra de Deus não serão totalmente ignorantes com respeito à morada celestial. E, contudo, "as coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem, são as que Deus preparou para os que O amam". I Cor. 2:9. A linguagem humana não é adequada para descrever a recompensa dos justos. Será conhecida apenas dos que a contemplarem. Nenhum espírito finito pode compreender a glória do Paraíso de Deus.
Na Bíblia a herança
dos salvos é chamada um país (Heb. 11:14-16).
Ali o Pastor celestial
conduz Seu rebanho às fontes de águas vivas.
A árvore da vida
produz seu fruto de mês em mês, e as folhas da árvore são para a saúde das
nações.
Existem torrentes
sempre a fluir, claras como cristal, e ao lado delas, árvores ondeantes
projetam sua sombra sobre as veredas preparadas para os resgatados do Senhor.
Ali as extensas
planícies avultam em colinas de beleza, e as montanhas de Deus erguem seus
altivos píncaros.
Nessas pacíficas
planícies, ao lado daquelas correntes vivas, o povo de Deus, durante tanto
tempo peregrino e errante, encontrará um lar.
"O meu povo
habitará em morada de paz, e em moradas bem seguras, e em lugares quietos de
descanso." "Nunca mais se ouvirá de violência na tua Terra, de
desolação ou destruição nos teus termos; mas aos teus muros chamarás salvação,
e às tuas portas louvor."
"Edificarão
casas, e as habitarão; e plantarão vinhas, e comerão o seu fruto. Não
edificarão para que outros habitem; não plantarão para que outros comam; ... os
Meus eleitos gozarão das obras das suas mãos." Isa. 32:18; 60:18; 65:21 e
22.
Ali, "o deserto e
os lugares secos se alegrarão disto; e o ermo exultará e florescerá como a
rosa". "Em lugar do espinheiro crescerá a faia, e em lugar da sarça
crescerá a murta." Isa. 35:1; 55:13. "E morará o lobo com o cordeiro,
e o leopardo com o cabrito se deitará, ... e um menino pequeno os guiará."
"Não se fará mal nem dano algum em todo o monte da Minha santidade",
diz o Senhor. Isa. 11:6 e 9.
A dor não pode existir
na atmosfera do Céu. Ali não mais haverá lágrimas, cortejos fúnebres,
manifestações de pesar. "Não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor,
... porque já as primeiras coisas são passadas." Apoc. 21:4. "E
morador nenhum dirá: Enfermo estou; porque o povo que habitar nela será
absorvido da sua iniqüidade." Isa. 33:24.
Ali está a Nova
Jerusalém, a metrópole da nova Terra glorificada, como "uma coroa de
glória na mão do Senhor e um diadema real na mão de teu Deus". Isa. 62:3.
"Sua luz era semelhante a uma pedra preciosíssima, como a pedra de jaspe,
como cristal resplandecente." "As nações andarão à sua luz; e os reis
da Terra trarão para ela a sua glória e honra." Apoc. 21:11 e 24. Diz o
Senhor: "Folgarei em Jerusalém, e exultarei no Meu povo." Isa. 65:19.
"Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens, pois com eles habitará, e
eles serão o Seu povo, e o mesmo Deus estará com eles e será o seu Deus."
Apoc. 21:3.
Na cidade de Deus
"não haverá noite". Ninguém necessitará ou desejará repouso. Não
haverá cansaço em fazer a vontade de Deus e oferecer louvor a Seu nome. Sempre
sentiremos a frescura da manhã, e sempre estaremos longe de seu termo.
"Não necessitarão de lâmpada nem de luz do Sol, porque o Senhor Deus os
alumia." Apoc. 22:5. A luz do Sol será sobrepujada por um brilho que não é
ofuscante e, contudo, suplanta incomensuravelmente o fulgor de nosso Sol ao
meio-dia. A glória de Deus e do Cordeiro inunda a santa cidade, com luz
imperecível. Os remidos andam na glória de um dia perpétuo, independentemente
do Sol.
"Nela não vi
templo, porque o seu templo é o Senhor Deus todo-poderoso, e o Cordeiro."
Apoc. 21:22. O povo de Deus tem o privilégio de entreter franca comunhão com o
Pai e o Filho. "Agora vemos por espelho em enigma." I Cor.13:12. Contemplamos
a imagem de Deus refletida como que em espelho, nas obras da Natureza e em Seu
trato com os homens; mas então O conheceremos face a face, sem um véu
obscurecedor de permeio. Estaremos em Sua presença, e contemplaremos a glória
de Seu rosto.
Ali os remidos
conhecerão como são conhecidos. O amor e simpatias
que o próprio Deus plantou na alma, encontrarão ali o mais verdadeiro e suave
exercício. A comunhão pura com os seres santos, a vida social harmoniosa com os
bem-aventurados anjos e com os fiéis de todos os tempos, que lavaram suas
vestes e as branquearam no sangue do Cordeiro, os sagrados laços que reúnem
"toda a família nos Céus e na Terra" (Efés. 3:15) - tudo isto
concorre para constituir a felicidade dos remidos.
Ali, mentes imortais
contemplarão, com deleite que jamais se fatigará, as maravilhas do poder
criador, os mistérios do amor que redime. Ali não haverá nenhum adversário
cruel, enganador, para nos tentar ao esquecimento de Deus. Todas as faculdades
se desenvolverão, ampliar-se-ão todas as capacidades. A aquisição de
conhecimentos não cansará o espírito nem esgotará as energias. Ali os mais
grandiosos empreendimentos poderão ser levados avante, alcançadas as mais
elevadas aspirações, as mais altas ambições realizadas; e surgirão ainda novas
alturas a atingir, novas maravilhas a admirar, novas verdades a compreender,
novos objetivos a aguçar as faculdades do espírito, da alma e do corpo.
Todos os tesouros do
Universo estarão abertos ao estudo dos remidos de Deus. Livres da mortalidade,
alçarão vôo incansável para os mundos distantes - mundos que fremiram de
tristeza ante o espetáculo da desgraça humana, e ressoaram com cânticos de
alegria ao ouvir as novas de uma alma resgatada. Com indizível deleite os
filhos da Terra entram de posse da alegria e sabedoria dos seres não-caídos.
Participam dos tesouros do saber e entendimento adquiridos durante séculos e
séculos, na contemplação da obra de Deus. Com visão desanuviada olham para a
glória da criação, achando-se sóis, estrelas e sistemas planetários, todos na
sua indicada ordem, a circular em redor do trono da Divindade. Em todas as
coisas, desde a mínima até à maior, está escrito o nome do Criador, e em todas
se manifestam as riquezas de Seu poder.
E ao transcorrerem os
anos da eternidade, trarão mais e mais abundantes e gloriosas revelações de
Deus e de Cristo. Assim como o conhecimento é
progressivo, também o amor, a reverência e a felicidade aumentarão. Quanto mais
aprendem os homens acerca de Deus, mais Lhe admiram o caráter. Ao revelar-lhes
Jesus as riquezas da redenção e os estupendos feitos do grande conflito com
Satanás, a alma dos resgatados fremirá com mais fervorosa devoção, e com mais
arrebatadora alegria dedilharão as harpas de ouro; e milhares de milhares, e
milhões de milhões de vozes se unem para avolumar o potente coro de louvor.
"E ouvi a toda a criatura que está no Céu, e na Terra, e debaixo da terra, e que está no mar, e a todas as coisas que neles há, dizer: Ao que está assentado sobre o trono, e ao Cordeiro, sejam dadas ações de graças, e honra, e glória, e poder para todo o sempre." Apoc. 5:13.
O grande conflito
terminou. Pecado e pecadores não mais existem. O Universo inteiro está
purificado. Uma única palpitação de harmonioso júbilo vibra por toda a vasta
criação. DAquele que tudo criou emanam vida, luz e alegria por todos os
domínios do espaço infinito. Desde o minúsculo átomo até ao maior dos
mundos, todas as coisas, animadas e inanimadas, em sua serena beleza e perfeito
gozo, declaram que Deus é amor.
Do Livro O Grande Conflito - último Capítulo
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