Ellen White
O objetivo do grande rebelde foi sempre justificar-se, e provar ser o governo divino responsável pela rebelião. A esse fim aplicou todo o poder de seu pujante intelecto. Trabalhou deliberada e sistematicamente, e com maravilhoso êxito, levando vastas multidões a aceitar seu modo de ver quanto ao grande conflito que há tanto tempo se vem desenvolvendo. Durante milhares de anos esse chefe conspirador tem apresentado a falsidade em lugar da verdade. Mas agora chegado é o tempo em que a rebelião deve ser finalmente derrotada, e descobertos a história e caráter de Satanás. Em seu último e grande esforço para destronar a Cristo, destruir Seu povo e tomar posse da cidade de Deus, o arquienganador foi completamente desmascarado. Os que a ele se uniram, vêem o fracasso completo de sua causa. Os seguidores de Cristo e os anjos leais contemplam a extensão total de suas maquinações contra o governo de Deus. É ele objeto de aversão universal.
Satanás vê que sua rebelião voluntária o inabilitou para o Céu. Adestrou suas faculdades para guerrear contra Deus; a pureza, paz e harmonia do Céu ser-lhe-iam suprema tortura. Suas acusações contra a misericórdia e justiça de Deus silenciaram agora. A exprobração que se esforçou por lançar sobre Jeová repousa inteiramente sobre ele. E agora Satanás se curva e confessa a justiça de sua sentença."Quem Te não temerá, ó Senhor, e não magnificará o Teu nome? Porque só Tu és santo; por isso todas as nações virão, e se prostrarão diante de Ti, porque os Teus juízos são manifestos." Apoc. 15:4. Todas as questões sobre a verdade e o erro no prolongado conflito foram agora esclarecidas. Os resultados da rebelião, os frutos de se porem de parte os estatutos divinos, foram patenteados à vista de todos os seres criados. Os resultados do governo de Satanás em contraste com o de Deus, foram apresentados a todo o Universo. As próprias obras de Satanás o condenaram. A sabedoria de Deus, Sua justiça e bondade, acham-se plenamente reivindicadas. Vê-se que toda a Sua ação no grande conflito foi orientada com respeito ao bem eterno de Seu povo, e ao bem de todos os mundos que criou. "Todas as Tuas obras Te louvarão, ó Senhor, e os Teus santos Te bendirão." Sal. 145:10. A história do pecado permanecerá por toda a eternidade como testemunha de que à existência da lei de Deus se acha ligada a felicidade de todos os seres por Ele criados. À vista de todos os fatos do grande conflito, o Universo inteiro, tanto os que são fiéis como os rebeldes, de comum acordo declara: "Justos e verdadeiros são os Teus caminhos, ó Rei dos santos."
Perante o Universo foi apresentado claramente o grande sacrifício feito pelo Pai e o Filho em prol do homem. É chegada a hora em que Cristo ocupa a Sua devida posição, sendo glorificado acima dos principados e potestades, e sobre todo o nome que se nomeia. Foi pela alegria que Lhe estava proposta - a fim de poder trazer muitos filhos à glória - que Ele suportou a cruz e desprezou a ignomínia. E por inconcebivelmente grande que tivessem sido a tristeza e a ignomínia, todavia maiores são a alegria e a glória. Ele olha para os remidos, renovados em Sua própria imagem, trazendo cada coração a impressão perfeita do divino, refletindo cada rosto a semelhança de seu Rei. Contempla neles o resultado das fadigas de Sua alma, e fica satisfeito. Então, com voz que atinge as multidões congregadas dos justos e ímpios, declara: "Eis a aquisição de Meu sangue! Por estes sofri, por estes morri, a fim de que pudessem morar em Minha presença pelas eras eternas." E sobe o cântico de louvor dos que estão vestidos de branco em redor do trono: "Digno é o Cordeiro, que foi morto, de receber o poder, e riquezas, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e ações de graças." Apoc. 5:12.
Apesar de ter sido Satanás constrangido a reconhecer a justiça de Deus e a curvar-se à supremacia de Cristo, seu caráter permanece sem mudança. O espírito de rebelião, qual poderosa torrente, explode de novo. Cheio de frenesi, decide-se a não capitular no grande conflito. Chegado é o tempo para uma última e desesperada luta conta o Rei do Céu. Arremessa-se para o meio de seus súditos e esforça-se por inspirá-los com sua fúria, incitando-os a uma batalha imediata. Mas dentre todos os incontáveis milhões que seduziu à rebelião, ninguém há agora que lhe reconheça a supremacia. Seu poder chegou ao fim. Os ímpios estão cheios do mesmo ódio a Deus, o qual inspira Satanás; mas vêem que seu caso é sem esperança, que não podem prevalecer contra Jeová. Sua ira se acende contra Satanás e os que foram seus agentes no engano, e com furor de demônios voltam-se contra eles.
Diz o Senhor: "Pois que estimas o teu coração, como se fora o coração de Deus, eis que Eu trarei sobre ti estranhos, os mais formidáveis dentre as nações, os quais desembainharão as suas espadas contra a formosura da tua sabedoria, e mancharão o teu resplandor. À cova te farão descer." "E te farei perecer, ó querubim protetor, entre pedras afogueadas. ... Por terra te lancei, diante dos reis te pus, para que olhem para ti. ... E te tornei em cinza sobre a Terra, aos olhos de todos os que te vêem. ... Em grande espanto te tornaste, e nunca mais serás para sempre." Ezeq. 28:6-8, 16-19.
"Toda a armadura daqueles que pelejam com ruído, e os vestidos que rolavam no sangue serão queimados, servirão de pasto ao fogo." "A indignação do Senhor está sobre todas as nações, e o Seu furor sobre todo o exército delas: Ele as destruiu totalmente, entregou-as à matança." "Sobre os ímpios fará chover laços, fogo, enxofre, e vento tempestuoso; eis a porção do seu copo." Isa. 9:5; 34:2; Sal. 11:6. De Deus desce fogo do céu. A terra se fende. São retiradas as armas escondidas em suas profundezas. Chamas devoradoras irrompem de cada abismo hiante. As próprias rochas estão ardendo. Vindo é o dia que arderá como um forno. Os elementos fundem-se pelo vivo calor, e também a Terra e as obras que nela há são queimadas (Mal. 4:1; II Ped. 3:10). A superfície da Terra parece uma massa fundida - um vasto e fervente lago de fogo. É o tempo do juízo e perdição dos homens maus - "dia da vingança do Senhor, ano de retribuições pela luta de Sião". Isa. 34:8.
Os ímpios recebem sua recompensa na Terra (Prov. 11:31). "Serão como a palha; e o dia que está para vir os abrasará, diz o Senhor dos exércitos." Mal. 4:1.
Está para sempre terminada a obra de ruína de Satanás. Durante seis mil anos efetuou a sua vontade, enchendo a Terra de miséria e causando pesar por todo o Universo. A criação inteira tem igualmente gemido e estado em dores de parto. Agora as criaturas de Deus estão para sempre livres de sua presença e tentações. "Já descansa, já está sossegada toda a Terra! exclamam [os justos] com júbilo." Isa. 14:7. E uma aclamação de louvor e triunfo sobe de todo o Universo fiel. "A voz de uma grande multidão", "como a voz de muitas águas, e a voz de fortes trovões", é ouvida, dizendo: "Aleluia! pois o Senhor Deus onipotente reina." Apoc. 19:6.
Enquanto a Terra está envolta nos fogos da destruição, os justos habitam em segurança na Santa Cidade. Sobre os que tiveram parte na primeira ressurreição, a segunda morte não tem poder. Ao mesmo tempo em que Deus é para os ímpios um fogo consumidor, é para o Seu povo tanto Sol como Escudo (Apoc. 20:6; Sal. 84:11). "Vi um novo céu, e uma nova Terra. Porque já o primeiro céu e a primeira Terra passaram." Apoc. 21:1. O fogo que consome os ímpios, purifica a Terra. Todo vestígio de maldição é removido. Nenhum inferno a arder eternamente conservará perante os resgatados as terríveis conseqüências do pecado.
Apenas uma lembrança permanece: nosso Redentor sempre levará os sinais de Sua crucifixão. Em Sua fronte ferida, em Seu lado, em Suas mãos e pés, estão os únicos vestígios da obra cruel que o pecado efetuou. Diz o profeta, contemplando Cristo em Sua glória: "Raios brilhantes saíam da Sua mão, e ali estava o esconderijo da Sua força." Hab. 3:4. Suas mãos, Seu lado ferido donde fluiu a corrente carmesim, que reconciliou o homem com Deus - ali está a glória do Salvador, ali está "o esconderijo da Sua força". "Poderoso para salvar" mediante o sacrifício da redenção, foi Ele, portanto, forte para executar justiça sobre aqueles que desprezaram a misericórdia de Deus. E os sinais de Sua humilhação são a Sua mais elevada honra; através das eras intérminas os ferimentos do Calvário Lhe proclamarão o louvor e declararão o poder.
"E a ti, ó torre do rebanho, monte da filha de Sião, a ti virá; sim, a ti virá o primeiro domínio." Miq. 4:8. Chegado é o tempo, para o qual santos homens têm olhado com anseio desde que a espada inflamada vedou o Éden ao primeiro par - tempo "para a redenção da possessão de Deus". Efés. 1:14. A Terra, dada originariamente ao homem como seu reino, traída por ele às mãos de Satanás, e tanto tempo retida pelo poderoso adversário, foi recuperada pelo grande plano da redenção. Tudo que se perdera pelo pecado foi restaurado. "Assim diz o Senhor ... que formou a Terra, e a fez; Ele a estabeleceu, não a criou vazia, mas a formou para que fosse habitada." Isa. 45:18. O propósito original de Deus na criação da Terra cumpre-se, ao fazer-se ela a eterna morada dos remidos. "Os justos herdarão a Terra e habitarão nela para sempre." Sal. 37:29.
Um receio de fazer com que a herança futura pareça demasiado material tem levado muitos a espiritualizar as mesmas verdades que nos levam a considerá-la nosso lar. Cristo afirmou a Seus discípulos haver ido preparar moradas para eles na casa de Seu Pai. Os que aceitam os ensinos da Palavra de Deus não serão totalmente ignorantes com respeito à morada celestial. E, contudo, "as coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem, são as que Deus preparou para os que O amam". I Cor. 2:9. A linguagem humana não é adequada para descrever a recompensa dos justos. Será conhecida apenas dos que a contemplarem. Nenhum espírito finito pode compreender a glória do Paraíso de Deus.
Na Bíblia a herança dos salvos é chamada um país (Heb. 11:14-16). Ali o Pastor celestial conduz Seu rebanho às fontes de águas vivas. A árvore da vida produz seu fruto de mês em mês, e as folhas da árvore são para a saúde das nações. Existem torrentes sempre a fluir, claras como cristal, e ao lado delas, árvores ondeantes projetam sua sombra sobre as veredas preparadas para os resgatados do Senhor. Ali as extensas planícies avultam em colinas de beleza, e as montanhas de Deus erguem seus altivos píncaros. Nessas pacíficas planícies, ao lado daquelas correntes vivas, o povo de Deus, durante tanto tempo peregrino e errante, encontrará um lar.
"O meu povo habitará em morada de paz, e em moradas bem seguras, e em lugares quietos de descanso." "Nunca mais se ouvirá de violência na tua Terra, de desolação ou destruição nos teus termos; mas aos teus muros chamarás salvação, e às tuas portas louvor." "Edificarão casas, e as habitarão; e plantarão vinhas, e comerão o seu fruto. Não edificarão para que outros habitem; não plantarão para que outros comam; ... os Meus eleitos gozarão das obras das suas mãos." Isa. 32:18; 60:18; 65:21 e 22.
Ali, "o deserto e os lugares secos se alegrarão disto; e o ermo exultará e florescerá como a rosa". "Em lugar do espinheiro crescerá a faia, e em lugar da sarça crescerá a murta." Isa. 35:1; 55:13. "E morará o lobo com o cordeiro, e o leopardo com o cabrito se deitará, ... e um menino pequeno os guiará." "Não se fará mal nem dano algum em todo o monte da Minha santidade", diz o Senhor. Isa. 11:6 e 9.
A dor não pode existir na atmosfera do Céu. Ali não mais haverá lágrimas, cortejos fúnebres, manifestações de pesar. "Não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, ... porque já as primeiras coisas são passadas." Apoc. 21:4. "E morador nenhum dirá: Enfermo estou; porque o povo que habitar nela será absorvido da sua iniqüidade." Isa. 33:24.
Ali está a Nova Jerusalém, a metrópole da nova Terra glorificada, como "uma coroa de glória na mão do Senhor e um diadema real na mão de teu Deus". Isa. 62:3. "Sua luz era semelhante a uma pedra preciosíssima, como a pedra de jaspe, como cristal resplandecente." "As nações andarão à sua luz; e os reis da Terra trarão para ela a sua glória e honra." Apoc. 21:11 e 24. Diz o Senhor: "Folgarei em Jerusalém, e exultarei no Meu povo." Isa. 65:19. "Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens, pois com eles habitará, e eles serão o Seu povo, e o mesmo Deus estará com eles e será o seu Deus." Apoc. 21:3.
Na cidade de Deus "não haverá noite". Ninguém necessitará ou desejará repouso. Não haverá cansaço em fazer a vontade de Deus e oferecer louvor a Seu nome. Sempre sentiremos a frescura da manhã, e sempre estaremos longe de seu termo. "Não necessitarão de lâmpada nem de luz do Sol, porque o Senhor Deus os alumia." Apoc. 22:5. A luz do Sol será sobrepujada por um brilho que não é ofuscante e, contudo, suplanta incomensuravelmente o fulgor de nosso Sol ao meio-dia. A glória de Deus e do Cordeiro inunda a santa cidade, com luz imperecível. Os remidos andam na glória de um dia perpétuo, independentemente do Sol.
"Nela não vi templo, porque o seu templo é o Senhor Deus todo-poderoso, e o Cordeiro." Apoc. 21:22. O povo de Deus tem o privilégio de entreter franca comunhão com o Pai e o Filho. "Agora vemos por espelho em enigma." I Cor. 13:12. Contemplamos a imagem de Deus refletida como que em espelho, nas obras da Natureza e em Seu trato com os homens; mas então O conheceremos face a face, sem um véu obscurecedor de permeio. Estaremos em Sua presença, e contemplaremos a glória de Seu rosto.
Ali os remidos conhecerão como são conhecidos. O amor e simpatias que o próprio Deus plantou na alma, encontrarão ali o mais verdadeiro e suave exercício. A comunhão pura com os seres santos, a vida social harmoniosa com os bem-aventurados anjos e com os fiéis de todos os tempos, que lavaram suas vestes e as branquearam no sangue do Cordeiro, os sagrados laços que reúnem "toda a família nos Céus e na Terra" (Efés. 3:15) - tudo isto concorre para constituir a felicidade dos remidos.
Ali, mentes imortais contemplarão, com deleite que jamais se fatigará, as maravilhas do poder criador, os mistérios do amor que redime. Ali não haverá nenhum adversário cruel, enganador, para nos tentar ao esquecimento de Deus. Todas as faculdades se desenvolverão, ampliar-se-ão todas as capacidades. A aquisição de conhecimentos não cansará o espírito nem esgotará as energias. Ali os mais grandiosos empreendimentos poderão ser levados avante, alcançadas as mais elevadas aspirações, as mais altas ambições realizadas; e surgirão ainda novas alturas a atingir, novas maravilhas a admirar, novas verdades a compreender, novos objetivos a aguçar as faculdades do espírito, da alma e do corpo.
Todos os tesouros do Universo estarão abertos ao estudo dos remidos de Deus. Livres da mortalidade, alçarão vôo incansável para os mundos distantes - mundos que fremiram de tristeza ante o espetáculo da desgraça humana, e ressoaram com cânticos de alegria ao ouvir as novas de uma alma resgatada. Com indizível deleite os filhos da Terra entram de posse da alegria e sabedoria dos seres não-caídos. Participam dos tesouros do saber e entendimento adquiridos durante séculos e séculos, na contemplação da obra de Deus. Com visão desanuviada olham para a glória da criação, achando-se sóis, estrelas e sistemas planetários, todos na sua indicada ordem, a circular em redor do trono da Divindade. Em todas as coisas, desde a mínima até à maior, está escrito o nome do Criador, e em todas se manifestam as riquezas de Seu poder.
E ao transcorrerem os anos da eternidade, trarão mais e mais abundantes e gloriosas revelações de Deus e de Cristo. Assim como o conhecimento é progressivo, também o amor, a reverência e a felicidade aumentarão. Quanto mais aprendem os homens acerca de Deus, mais Lhe admiram o caráter. Ao revelar-lhes Jesus as riquezas da redenção e os estupendos feitos do grande conflito com Satanás, a alma dos resgatados fremirá com mais fervorosa devoção, e com mais arrebatadora alegria dedilharão as harpas de ouro; e milhares de milhares, e milhões de milhões de vozes se unem para avolumar o potente coro de louvor.
"E ouvi a toda a criatura que está no Céu, e na Terra, e debaixo da terra, e que está no mar, e a todas as coisas que neles há, dizer: Ao que está assentado sobre o trono, e ao Cordeiro, sejam dadas ações de graças, e honra, e glória, e poder para todo o sempre." Apoc. 5:13.
O grande conflito terminou. Pecado e pecadores não mais existem. O Universo inteiro está purificado. Uma única palpitação de harmonioso júbilo vibra por toda a vasta criação. DAquele que tudo criou emanam vida, luz e alegria por todos os domínios do espaço infinito. Desde o minúsculo átomo até ao maior dos mundos, todas as coisas, animadas e inanimadas, em sua serena beleza e perfeito gozo, declaram que Deus é amor.
Ellen White