Introdução
Escrever a história do início da igreja
em um determinado lugar não é tarefa fácil. Corre-se o risco de omitir fatos,
esquecer pessoas, ou distorcer a própria história - principalmente quando não
se vivenciou cada momento da mesma - apenas sabe de oitiva, ao conversar com
pessoas que ouviram de terceiros.
Recebi a incumbência de escrever, em
resumo, a história da igreja no Estado do Tocantins. Tive a petulância de
aceitar. Agora, cá estou, tentando lembrar fatos, relembrar ditos a mim
passados, há muitos anos, décadas mesmo, e relembrar mais de trinta anos de
vivência por essas plagas.
Que Deus me ajude para que seja bem
sucedido nessa tarefa. E se eu errar (e com certeza errarei) ao narrar os
fatos: omitindo uns, deixando de citar outros e esquecer nomes, de antemão peço
perdão. Nessa narrativa estou me valendo de lembranças por mim vividas e
informações a mim passadas, ao longo de muitos anos, por pessoas que - muitas delas
- nem mesmo lembro mais quem foram.
Início
As primeiras congregações da Igreja
Adventista do Sétimo Dia no Tocantins tiveram início, quando o mesmo ainda era
o norte do Estado de Goiás. Começaram em lugares diferentes, em épocas
diferentes, totalmente desassociadas. Talvez nem soubessem da existência umas
das outras. Os lugares onde surgiram estes primeiros agrupamentos no norte de
Goiás (hoje Tocantins) foram Araguacema, Araguaína e Ponte Alta do Bom Jesus.
Araguacema, com certeza foi a cidade dos
primeiros conversos ao adventismo no Estado. Quanto às outras duas cidades,
tudo leva a crer que Ponte Alta do Bom Jesus registrou a presença de
adventistas antes de Araguaína.
Ponte
Alta do Bom Jesus
A presença da Igreja em Ponte Alta é
resultado da migração de adventistas vindo de Barreiras/BA. Alguns deles
evangelizados pelo grande missionário, Plácido da Rocha Pita, que fez história
na Bahia.
A antiga “Missão Goiano Mineiro”,
abrangia os territórios do Estado de Goiás, Distrito Federal, Tocantins e todo
o Triangulo mineiro. O Pastor Wilson Sarli, na época presidente da mesma, ao
saber desses adventistas em Ponte Alta, viajou até ali com o pastor distrital
(não me consta quem era), fez batismos e organizou o grupo. Não recordo a data
exata, apenas que foi na década de 60. Pioneiros daquela época em Ponte Alta
são: o irmão Ziraías e sua família. Família dedicada à igreja e muito querida
na cidade.
Araguaína
Foi no início da década de 1960 que dois
colportores chegaram à cidade de Araguaína. Ao adentraram em um bar, venderam o
livro Vida de Jesus a dois fregueses, sendo que um deles é o irmão José
Ribamar, que mora em Arapoema, Tocantins. José Ribamar ficou 50 anos, lendo
livros adventistas, defendendo de maneira veemente a igreja e discutindo nossas
doutrinas com pastores pentecostais, porém nunca se batizava. Quando completou
50 anos de “adventista simpatizante”, já em 2013, o pastor Arôvel, teve o
privilégio de batizá-lo.
Apenas em 1968 que se organizou a igreja
em Araguaína com a chegada de duas famílias: Joaquim Martins e esposa, Maria
Martins, e Antônio Gabriel e família. Depois foram chegando outras famílias.
João Hertel, Sebastião Silvério, e Vicência Machado. Todos estes, com seus
respectivos familiares.
João Hertel é o pai do irmão Berlindes
Hertel, que mora em Porto Nacional e, por sua vez, é o sogro do Dr. Jandir, Ancião
da igreja central de Palmas.
As primeiras reuniões da igreja em
Araguaína foram realizadas em um salão alugado, muito precário, na “Rua da
Tripa”, bairro entroncamento. Hoje essa
rua tem o nome de Rua Falcão Coelho.
Depois de algum tempo, e mudanças por
vários outros salões, compraram um terreno na Rua 13 de Maio, esquina com a Rua
Sadoc Correia, onde fizeram um pequeno salão. O salão era apenas uma meia água,
dividido em duas salas. Na sala dos fundos se reuniam as crianças.
Lembro-me bem desse salão, quando eu passava
por lá, colportando. Ali fazíamos
programas animados e muito inspiradores.
Mais tarde, após ser construído o
templo, esse salão se tornou a primeira Escola Adventista de Araguaína.
Araguacema
O inicio da igreja em Araguacema foi
dramático e comovente.
A senhora Ernestina Leite, casada com o
professor Manoel Ataíde, com quem teve dois filhos, não foi feliz no casamento,
e após alguns desentendimentos, separou-se do esposo e mudou-se para o sul de
Goiás, indo morar em Araguari.
Visitando alguns parentes em Goiânia,
conheceu a mensagem adventista e a aceitou prontamente, tornando-se a primeira pessoa,
do hoje estado do Tocantins, a fazer parte da igreja adventista.
O esposo, que ainda era jovem, com a
separação da esposa, resolveu se tornar padre, para tanto, entrou em um seminário
e foi estudar teologia,
Depois de formado, veio a ser o pároco
da própria cidade de onde saíra. Muito empreendedor, criou um colégio, que
também era um orfanato. Ali estudava alunos oriundos de muitas cidades de
Goiás, inclusive de Goiânia, e o mesmo, era custeado pela igreja e pelo estado.
Havia, porém, um problema com aquele
padre. Ele sonhava em ser ordenado e não podia, pois era casado. Na época não
havia divórcio, e mesmo que houvesse, a igreja católica não aceita o divorcio,
portanto não poderia ser ordenado.
Ele celebrava alguns ritos da igreja,
mas não todos, pois era apenas diácono. Mas ele queria ser padre ordenado, mas
só poderia se fosse solteiro ou viúvo.
Teve uma ideia. Reuniu algumas beatas
para fazer uma novena. Rezariam nove dias pedindo que a esposa morresse. No
último dia, ao terminar a última reza, um raio caiu sobre ele e ele morreu.
Com sua morte, o bispo da diocese veio
para passar os bens dele para a igreja, alguns alqueires de terra, gado, casa e
o colégio. A viúva, irmã Ernestina, ao saber da morte do esposo, veio de Goiânia,
requerer os bens que por direito pertencia a ela e aos seus filhos. O Bispo
dizia que os bens do falecido pertenciam à igreja, pois ele era padre e os bens
dos padres pertencem a igreja
Ela se opôs. Ele tinha esposa e filhos,
ela disse. Aqui estão as certidões de casamento e registro dos filhos,
portanto, tudo que pertenceu a Manoel Ataíde (nome do esposo) pertence a mim, e
aos meus filhos.
O bispo, juntamente com o Juiz da
comarca, resolveu dar “um jeitinho brasileiro” para tomar os bens dela. Fariam
um documento, deserdando ela do marido e dando maioridade ao filho mais velho
dela, que tinha entre 15/16 anos. Ele, o filho, passaria a escritura dos bens
do pai, para a igreja, e em troca, eles, os padres, enviariam o rapaz para a
Europa, para estudar o que quisesse.
No dia da audiência, para fazer esse
documento, reuniram-se no fórum, Juiz, advogado, o bispo, padres, escrivão e
etc. proibiram ela de entrar ali, e puseram dois policiais na porta para
impedi-la.
O promotor estava viajando para Goiânia,
viagem de muitos dias, pois viajava a cavalo.
Porem no meio do caminho desistiu da viagem e resolveu voltar. Chegou no
dia e na hora da audiência. A cidade toda comentava o fato. Uns eram contra,
achavam aquilo uma injustiça, outros eram a favor, afinal, diziam, ela é
protestante, não tem direito de herdar nada de um padre.
O promotor ao tomar conhecimento do
fato, dirigiu-se ao fórum e a encontrou chorando na rua, e perguntou: “Por que
a senhora esta aí fora?” ela respondeu: “aqueles guardas não me deixam entrar”.
“Pois vamos comigo”, disse ele. Ela entrou acompanhada, do promotor.
Ao chegar à sala da audiência, o
promotor se dirigiu ao Juiz e perguntou: “O senhor não se envergonha de querer
tomar os bens de uma viúva, para entregar a um estrangeiro?” (o bispo não era
brasileiro). Aqui está a constituição do Brasil, o senhor vai rasgar a
constituição? O juiz ficou calado. O promotor pegou a pasta com os documentos e
as escrituras, entregou a ela e disse: Toma. Vá cuidar dos seus bens.
Entre os bens, estava o orfanato. Ela
assumiu a direção do mesmo, porem o bispo proibiu, sob pena de excomunhão,
qualquer pessoa de ajuda-la. Como alimentar cerca de 60 alunos e pagar
funcionários e professores, sem a ajuda do estado, da igreja e da comunidade?
O presidente da Missão Goiano Mineiro, Pastor
Wilson Sarli, ao saber da situação, passou a ajuda-la, com alimentos, e
dinheiro, e passou a levar os alunos que concluíam o ensino primário, para o
instituto adventista em campinas. IASP.
Dezenas de alunos estudaram naquele internato e muitos se tornaram
obreiros. Entre eles, Edimar Martins, que foi tesoureiro
no IASP e outros campos, inclusive na Associação Brasil Central. Dr.
Manoel, diretor clinico do hospital adventista de Manaus, vários
obreiros na Casa Publicadora Brasileira, Pastor Diomar Cruz, sobrinho de
Ernestina, e Dioi Cruz, filho do
Diomar, que hoje é o Reitor do Instituto de cursos avançados e pós-doutorado
nas Filipinas. Dioi não chegou a ser aluno de Ernestina, mas é neto espiritual
na fé, daquela grande mulher além desses citados há dezenas servindo a obra, ou
como obreiros, ou como voluntários. Entre eles, o Jonas Ribeiro, esposa da irmã Terezinha, membros da
igreja central de Palmas, Luiz, que mora em porto Nacional, Zequinha, da igreja 305 Norte,
Professora Josefa, em Araguacema e tantos outros.
Tive o prazer de ter conhecido Ernestina
Leite, eu ainda jovem, 20 anos, e ela com mais de 70. Foi uma inspiração.
No primeiro batismo em Araguacema
ocorreu em 1954. Cerca de dez pessoas estavam doutrinadas, todas pela irmã
Ernestina, que foi uma grande missionária. Este foi o primeiro batismo no norte
de Goiás. Entre os batizandos estava a Irmã Rute, membro até hoje da Igreja de
Araguacema, que na hora de entrar nas águas, pediu para ser a primeira, e
entrou antes de todos. Mas tarde, Rute se tornou nora de Ernestina. Portanto, a
primeira pessoa batizada no Tocantins se encontra em nosso meio.
Pastores
O primeiro pastor a visitar o norte de
Goiás, hoje Tocantins, que se tem notícia, foi o pastor José Dias Campos, que
era o pastor do distrito de Anápolis. O distrito dele começava em Anápolis e se
estendia até o Bico do Papagaio.
Depois o distrito foi dividido, e Uruaçu
tornou-se sede, o distrito abrangia de Uruaçu, até o bico do papagaio.
Porém o primeiro distrito no território
do Tocantins foi Araguaína, com a divisão do distrito de Uruaçu, Araguaína
tornou-se sede e o primeiro pastor, foi Emerson Sousa Costa, e Elita
a esposa, que tocava sanfona. Como era agradável, ouvi-la tocar.
O distrito de Araguaína começava em
Gurupi e ia até Esperantina. Os primeiros batismos em Araguatins foram feitos
pelo pastor Emerson Costa.
Depois do pastor Emerson, os distritais
em Araguaína, foi: João Maximino Lelis, Carlos Enoc Polheim, Josemi Azevedo, e
outros.
Tempos depois, foi criado o segundo
distrito, com sede em Paraíso, e o primeiro pastor distrital foi Moisés
Ribeiro, nos tornamos bons amigos.
Logo em seguida, foi criado o distrito
de Gurupi, e o distrital foi o pastor João Batista Macedo.
Com a criação do Estado do Tocantins, a
Associação Brasil Central, abriu mais um distrito, com sede em Miracema, que
era a capital provisória do estado. O pastor enviado para esse novo distrito,
tinha uma dupla função: pastorear oito igrejas e plantar igrejas na nova
capital, Palmas.
Recebeu essa honrosa missão, o
signatário dessas linhas, o pastor Manoel Barbosa da Silva.
Aquele pastor ficou dois anos em
Miracema, pois não tinha como morar em Palmas, pois a cidade de Palmas, não havia,
era só matas e cerrados. Ele viu Palmas nascer. Viu as primeiras ruas serem
abertas. Plantou as primeiras igrejas da nova capital. Palmas.
Palmas
A
primeira igreja em Palmas foi Taquaralto. Começou no primeiro sábado de abril
de 1990, em uma construção descoberta, pertencente ao irmão João Sabino. Nesse
mesmo dia o grupo foi organizado com 16 pessoas.
Quinze
dias depois, aconteceu a primeira escola sabatina no centro de Palmas.
Aconteceu
assim. O irmão Lourival e esposa, recém-chegados da cidade de Fátima, não
sabendo que havia um grupo de irmãos em Taquaralto, resolveu fazer a escola
sabatina em casa.
Colocaram
as cadeiras em forma de auditório, ele sentou ali com os filhos, que eram três,
e ela foi a frente dirigir a escola sabatina com toda a formalidade da mesma,
inclusive com o informativo mundial e lição geral
Depois
foi a vez de ele pregar, e ela ficou com as crianças ouvindo o sermão.
Na
semana seguinte, ele encontrou alguns irmãos recém-chegados em Palmas. Antônio
Carneiro, Almir Maciel, Irmão Brito, e irmã Ivani. Todos com suas famílias, portanto, a segunda
escola sabatina central, foi bastante animada.
No
segundo sábado de maio, o pastor organizou o grupo central de Palmas.
Depois
foram surgindo outras igrejas. Cada quadra nova que surgia, fazia-se um
requerimento ao poder público, conseguia-se um terreno e começavam uma nova
igreja.
As
primeiras igrejas de palmas foram. Pela ordem: Taquaralto, Aureny 2, Aureny 4
Aureny 3
Em
Palmas: Central, 1108 Sul, 305 norte, 604 Norte.
Isso
no seu primeiro período de pastorado em palmas. Ele foi pastor da igreja
central oito anos. Nos primeiros quatro anos, fundou estas oito igrejas
citadas. Em seguida foi transferido para Brasília, quatro anos depois retornou
e no segundo período fundou mais sete igrejas na cidade.
Hoje
Palmas têm mais de trinta igrejas e cerca de dois mil membros
Escola
Adventista
Seu
primeiro sonho para a nova capital era construir uma escola, e o primeiro
terreno que ele solicitou ao governo, foi para construir a Escola Adventista. Recebeu
aquele terreno, onde é o Colégio Adventista, ainda no meio da mata. Não havia
as ruas ainda, apenas picadas onde seriam as ruas, e pequenas estacas entre as
árvores, demarcando o terreno.
No
mesmo ano começou a construção da igreja, e no ano seguinte começou a escola.
Quando foi transferido para Brasília, deixou o primeiro bloco da escola,
pronto, e mais de 60 alunos matriculados.
Hoje,
quando ele vê o desenvolvimento das igrejas adventistas em Palmas e a pujança
do colégio Adventista, sente-se realizado, e diz em alto e bom som: Louvado
Seja Deus.