Organização e Desenvolvimento
Faz já quarenta anos que foi
introduzida a organização entre nós, como um povo. Fiz parte daqueles
que tiveram experiência ao estabelecê-la desde o princípio. Conheço as
dificuldades que tiveram de ser enfrentadas, os males que ela se destina
a corrigir, e tenho notado sua influência em relação com o crescimento
da causa. Na fase inicial da obra, Deus nos deu luz especial sobre este
ponto, e esta luz, juntamente com as lições que a experiência nos
ensinou, deveria ser tida em cuidadosa consideração.
Desde o início, nossa obra
teve caráter empreendedor. Reduzido era o nosso número, e em sua maior
parte procedente das classes pobres. Nossas idéias eram quase
desconhecidas do mundo. Não tínhamos casas de culto, possuíamos poucas
publicações, e reduzidíssimos recursos para levar avante a nossa obra.
As ovelhas estavam esparsas pelas estradas e caminhos, nas cidades,
aldeias e matas. Os mandamentos de Deus e a fé de Jesus eram a nossa
mensagem.
Unidade de Fé e de Doutrina
Meu esposo, juntamente com
os Pastores José Bates, Stephen Pierce, Hiram Edson, e outros que eram
fervorosos, nobres e fiéis, estava entre os que, depois da passagem do
tempo em 1844, buscaram a verdade como a um tesouro escondido.
Reuníamo-nos sentindo
angústia de alma, a fim de orar para que fôssemos um na fé e doutrina;
pois sabíamos que Cristo não está dividido. Cada vez tomávamos um ponto
para assunto de nossa pesquisa. Abriam-se as Escrituras com sentimento
de temor. Jejuávamos freqüentemente, a fim de pôr-nos em melhor
disposição para compreender a verdade.
Se depois de fervorosa
oração, não compreendíamos algum ponto, o discutíamos, e cada qual
exprimia livremente sua opinião. De novo então nos curvávamos em oração,
e ardentes súplicas ascendiam ao Céu para que Deus nos ajudasse a ver
de uma mesma maneira, para que fôssemos um, como Cristo e o Pai são um.
Muitas lágrimas eram derramadas.
Assim passávamos muitas
horas. Algumas vezes passávamos a noite toda em solene busca das
Escrituras, para compreender a verdade para o nosso tempo. Em algumas
ocasiões o Espírito de Deus descia sobre mim, e porções difíceis eram
esclarecidas pelo modo indicado por Deus, e havia então perfeita
harmonia. Éramos todos de um mesmo pensamento e espírito.
Procurávamos muito
ansiosamente que as Escrituras não fossem torcidas para adaptarem-se às
opiniões de qualquer pessoa. Procurávamos fazer com que nossas
divergências de opiniões fossem tão pequenas quanto possível, não
insistindo nós sobre pontos que eram de menos importância, a respeito
dos quais havia opiniões divergentes. A preocupação de toda alma, porém,
era promover entre os irmãos uma condição que correspondesse à oração
de Cristo para que Seus discípulos pudessem ser um, assim como o são Ele
e o Pai.
Algumas vezes um ou dois
irmãos obstinadamente se punham à opinião apresentada, e agiam de acordo
com os sentimentos naturais do coração; quando, porém, essa disposição
aparecia, suspendíamos nossas pesquisas e adiávamos a reunião, para que
cada um tivesse a oportunidade de buscar a Deus em oração, e sem
consulta com outrem estudasse o ponto de divergência, rogando luz do
Céu. Com expressões de amizade nos despedíamos, para de novo
reunirmo-nos tão breve quanto possível, para mais pesquisas. Por vezes o
poder de Deus descia sobre nós de uma maneira assinalada, e, quando a
clara luz revelava os pontos da verdade, chorávamos e
regozijávamo-nos juntamente.
Amávamos a Jesus, e amávamo-nos uns aos outros.
O nosso número aumentava
gradualmente. A semente lançada era regada por Deus, que a fazia
crescer. A princípio reuníamo-nos para o culto e apresentávamos a
verdade àqueles que vinham para ouvir, em casas particulares, em
celeiros, bosques e edifícios escolares; não demorou muito tempo, porém,
e pudemos construir humildes casas de oração.
A Adoção da Ordem Eclesiástica
Aumentando o nosso número,
tornou-se evidente que sem alguma forma de organização, haveria grande
confusão, e a obra não seria levada avante com êxito. A organização era
indispensável para prover a manutenção dos pastores, para levar a obra a
novos campos, para proteger dos membros indignos tanto as igrejas como
os pastores, para a conservação das propriedades da igreja, para a
publicação da verdade pela imprensa, e para muitos outros fins.
Havia, no entanto, entre
nosso povo um forte sentimento contrário à organização. Os adventistas
do primeiro dia opunham-se à organização, e a maior parte dos
adventistas do sétimo dia entretinham as mesmas idéias. Buscamos o
Senhor em oração fervorosa para que pudéssemos compreender Sua vontade; e
Seu Espírito nos iluminou, mostrando-nos que deveria haver ordem e
perfeita disciplina na igreja, e era essencial a organização. Método e
ordem manifestam-se em todas as obras de Deus, em todo o Universo. A
ordem é a lei do Céu, e deveria ser a lei do povo de Deus sobre a Terra.
Tivemos uma árdua luta para
estabelecer a organização. Apesar de o Senhor dar testemunho após
testemunho a esse respeito, a oposição era forte, e teve de ser
enfrentada repetidas vezes.
Sabíamos, porém, que o
Senhor Deus de Israel nos estava dirigindo e guiando pela Sua
providência. Empenhamo-nos na obra da organização, e uma evidente
prosperidade acompanhou esse movimento progressista.
Como o desenvolvimento da
obra nos impelisse a novos empreendimentos, dispusemo-nos a começá-los. O
Senhor nos dirigiu o espírito para a importância da obra educativa.
Vimos a necessidade de escolas, para que nossos filhos pudessem receber
instrução isenta dos erros da falsa filosofia, e sua educação estivesse
em harmonia com os princípios da Palavra de Deus. A necessidade de
instituições de saúde fora-nos encarecida, para auxílio e instrução de
nosso próprio povo, e como meio de beneficiar e esclarecer a outros.
Este empreendimento foi também levado avante. Tudo isto era obra
missionária da mais elevada espécie.
Os Resultados do Esforço Conjunto
Nossa obra não era mantida
por grandes donativos ou legados; pois poucos homens abastados tínhamos
entre nós. Qual é o segredo de nossa prosperidade? Temo-nos movido sob
as ordens do Príncipe de nossa salvação. Deus nos tem abençoado os
esforços unidos. A verdade tem-se espalhado e florescido. Têm-se
multiplicado as instituições. A semente de mostarda cresceu até
tornar-se uma grande árvore. O sistema da organização alcançou êxito
grandioso. Foi adotada a contribuição sistemática segundo o plano
bíblico. O corpo foi "ligado pelo auxílio de todas as juntas". Efés.
4:16. Na medida do avanço feito, ficou provado ser eficiente o nosso
sistema de organização.
Ninguém acaricie o
pensamento de que podemos dispensar a organização. A construção dessa
estrutura custou-nos muito estudo e orações, em que rogávamos, sabedoria
e as quais sabemos que Deus ouviu. Foi edificada sob Sua
orientação, por meio de
muito sacrifício e contrariedades. Nenhum de nossos irmãos esteja tão
iludido que tente derribá-la, pois acarretaria assim um estado de coisas
que nem é possível imaginar. Em nome do Senhor declaro-vos que ela há
de ser firmemente estabelecida, robustecida e consolidada.
ocante à
verdade bíblica, sem atender à opinião de seus irmãos, e justifica seu
procedimento alegando que tem o direito de pensar livremente, impondo
suas idéias então aos outros, como poderá cumprir a oração de Cristo? E
se outro e outro ainda se levantam, cada qual afirmando seu direito de
crer e falar o que lhe aprouver, sem atentar para a fé comum, onde
estará aquela concórdia que existia entre Cristo e Seu Pai, e para cuja
existência, entre Seus irmãos, Cristo orou?
Ao mando de Deus: "Ide",
avançamos, quando as dificuldades a serem superadas faziam com que o
avanço parecesse impossível. Sabemos quanto custou no passado executar
os planos de Deus, que fizeram de nós o povo que somos. Portanto, cada
um tenha o máximo cuidado para não conturbar a mente no tocante a estas
coisas que Deus ordenou para a nossa prosperidade e êxito no progresso
de Sua causa.
Os anjos trabalham
harmoniosamente. Perfeita ordem caracteriza todos os seus movimentos.
Quanto mais aproximadamente imitarmos a harmonia e ordem dos anjos,
tanto maior êxito terão os esforços desses agentes celestiais em nosso
favor. Se não virmos necessidade de ação harmônica, e formos
desordenados, indisciplinados e desorganizados em nossa maneira de agir,
os anjos que são perfeitamente organizados e se movem em perfeita
ordem, não poderão com êxito trabalhar por nós. Afastar-se-ão pesarosos,
pois não estão autorizados a abençoar a confusão, distração e
desorganização. Todos os que desejarem a cooperação dos mensageiros
celestiais, devem trabalhar em harmonia com eles. Os que receberam a
unção do Céu, em todos os seus esforços incentivarão a ordem, a
disciplina e unidade de ação, e então os anjos de Deus poderão cooperar
com eles. Mas nunca, jamais esses mensageiros celestes sancionarão a
irregularidade, a desorganização e a desordem. Todos estes males são o
resultado dos esforços de Satanás para enfraquecer-nos as forças,
destruir-nos a coragem e evitar a ação bem-sucedida.
Satanás bem sabe que o
sucesso apenas pode acompanhar a ação ordenada e harmoniosa. Bem sabe
que tudo que se relaciona com o Céu se acha em perfeita ordem, e
sujeição e disciplina perfeita caracterizam os movimentos dos anjos. Ele
estuda e faz esforços para levar os cristãos professos o mais longe
possível da disposição ordenada por Deus; portanto, engana até o povo
professo de Deus, e faz-lhes crer que a ordem e a disciplina são
inimigas da espiritualidade; que a única segurança para eles consiste em
seguir cada qual seu rumo e de maneira especial permanecer separado das
corporações de cristãos que andam unidos, e trabalham para estabelecer a
disciplina e harmonia de ação. Todos os esforços feitos para se
estabelecer a ordem são considerados perigosos, tidos como uma restrição
da legítima liberdade e, por isso, são temidos como se fossem um
arremedo do papado. Estas dedicadas almas consideram virtude o jactar-se
de sua liberdade de pensar e agir independentemente. Não atendem a
nenhum parecer de outrem. Não se deixam ensinar por quem quer que seja.
Foi-me mostrado que a obra especial de Satanás é introduzir os homens a
crer que Deus lhes ordena agirem por si mesmos, e escolherem seu
caminho, independentemente de seus irmãos.
Responsabilidade Individual e Unidade Cristã
Deus está guiando um povo do
mundo para a exaltada plataforma da verdade eterna - os mandamentos de
Deus e a fé de Jesus. Disciplinará e habilitará Seu povo. Eles não
estarão em divergência, um crendo uma coisa e outro tendo fé e opiniões
inteiramente opostas, e movendo-se cada qual independentemente do
conjunto. Pela diversidade dos dons e governos que Ele pôs em Sua
igreja, todos alcançarão a unidade da fé.
Se alguém forma seu
Posto que tenhamos uma obra
individual, e individual responsabilidade perante Deus, não devemos
seguir nosso próprio critério independentemente, sem tomar em
consideração as opiniões e sentimentos de nossos irmãos; pois tal
proceder acarretaria a desordem na igreja. É dever dos pastores
respeitarem o discernimento de seus irmãos; mas suas relações mútuas,
assim como as doutrinas que ensinam, deveriam ser submetidas à prova da
lei e do testemunho; se, então, os corações forem dóceis, não haverá
divisão entre nós. Alguns se inclinam a ser desordenados, e apartam-se
dos grandes marcos da fé; mas Deus está atuando em Seus pastores para
que sejam um na doutrina e no espírito.
É necessário que nossa
unidade hoje seja de caráter tal que resista à prova. ... Temos muitas
lições para aprender e muitíssimas para desaprender. Tão-somente Deus e o
Céu são infalíveis. Quem acha que nunca terá de abandonar uma opinião
formada, e nunca terá ocasião de mudar de critério, será decepcionado.
Enquanto nos apegarmos obstinadamente às nossas próprias idéias e
opiniões, não poderemos ter a unidade pela qual Cristo orou.
Quando um irmão recebe nova
luz sobre as Escrituras, deve expor francamente sua maneira de entender,
e todo pastor
deve pesquisar as Escrituras
com espírito de singeleza, a fim de ver se os pontos apresentados podem
ser confirmados pela palavra inspirada. "E ao servo do Senhor não
convém contender, mas, sim, ser manso para com todos, apto para ensinar,
sofredor; instruindo com mansidão os que resistem, a ver se,
porventura, Deus lhes dará arrependimento para conhecerem a verdade." II
Tim. 2:24 e 25.
Que Coisas Deus Tem Feito!
Passando em revista a nossa
história, percorrendo todos os passos de nosso progresso até ao estado
atual, posso dizer: "Louvado seja Deus!" Quando vejo o que Deus tem
executado, encho-me de admiração por Cristo, e de confiança nEle como
dirigente. Nada temos a recear no futuro, a não ser que nos esqueçamos
do caminho pelo qual Deus nos tem conduzido.
Somos agora um povo forte,
se pomos nossa confiança no Senhor, pois estamos a tratar com as
poderosas verdades da Palavra de Deus. Tudo temos que agradecer. Se
andamos na luz, como resplandece ela sobre nós, procedente dos vivos
oráculos divinos, teremos grandes responsabilidades, correspondentes à
grande luz a nós conferida por Deus. Temos muitos deveres a cumprir,
porque fomos feitos depositários da verdade sagrada, a ser dada ao mundo
em toda a sua beleza e glória. Somos devedores a Deus por todas as
regalias que Ele nos confiou para embelezarmos a verdade com a santidade
de nosso caráter, e comunicarmos a mensagem de exortação, consolo,
esperança e amor, àqueles que estão nas trevas do erro e pecado.
Graças a Deus pelo que já
tem sido feito no sentido de prover aos nossos jovens recursos para a
educação religiosa e intelectual. Muitos têm sido instruídos para
desempenhar uma parte nos vários ramos da obra, não somente
na América do Norte mas nos
campos estrangeiros. O prelo tem fornecido a literatura que difunde
extensamente o conhecimento da verdade. Todos os donativos que, quais
regatos, têm avolumado ao afluxo das contribuições, devem ser para nós
justo motivo de gratidão a Deus.
Temos hoje um exército de
jovens que, se for convenientemente dirigido e animado, muito poderá
fazer. Necessitamos de que nossos filhos creiam a verdade. Desejamos que
sejam abençoados por Deus. Queremos que desempenhem uma parte em bem
organizados planos para auxiliarem outros jovens. Sejam eles de tal
maneira preparados que possam corretamente representar a verdade, dando a
razão da esperança que neles há, e honrando a Deus em qualquer ramo da
obra para que estiverem habilitados! ...
Como discípulos de Cristo,
temos o dever de difundir a luz que sabemos faltar ao mundo. Que o povo
de Deus "enriqueça em boas obras, reparta de boa mente, e seja
comunicável; que entesoure para si mesmo um bom fundamento para o
futuro, para que possa alcançar a vida eterna". I Tim. 6:18 e 19.
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