10 erros que um compositor cristão deve evitar
Veja a lista elaborada pelo colunista Joêzer Mendonça, doutor em Música
Tem compositor que acorda e vai compor, enquanto outros preferem o silêncio da madrugada. Há aqueles que se sentam ao piano com a música quase pronta na cabeça. Outros tocam e cantarolam qualquer linha melódica até que encontram a música. Há ainda aquele que pega o violão e espera uma voz lhe soprar a primeira frase. Sinto dizer, mas esse último caso não é o procedimento adequado. Na verdade, entre os erros que um compositor pode cometer, esse é o primeiro.
Essa não é uma lista das 10 Mais, e sim das 10 Menos. A seguir, saiba quais os dez erros que os compositores cristãos devem evitar:
- Esperar a inspiração chegar. Quase sempre é preciso ir atrás da música, porque às vezes ela nos procura subitamente e vai embora sem termos memorizado a melodia. Inspiração é trabalho, é transpiração, é sentar e começar a compor, e não ficar esperando um sinal.
- Rimar amor com flor. O primeiro que rimou amor com flor foi um gênio, e o segundo foi um preguiçoso. Procure aumentar seu léxico. Se você não sabe o que é léxico, então realmente é preciso aprender novas palavras e expressões a fim de enriquecer os versos e rimas de suas canções.
- Desprezar a segunda estrofe. Pessoas acostumadas a cantar hinos com três estrofes, e cada estrofe com versos diferentes, não valorizam a repetição contínua de estrofes com a mesma letra. Em caso de cânticos congregacionais, pelo menos duas estrofes, cada uma com versos diferentes, ajudarão a não deixar um sabor de repetição. Nada contra as letras curtas, mas se a maioria das canções de um compositor sempre repete três vezes os mesmos versos da única estrofe, o que está curta é a criatividade.
- Usar um ritmo que não valoriza o conteúdo da letra. Assim como a congregação percebe quando um cantor se equivoca ao apresentar uma música inadequada para certos momentos dos cultos, as pessoas também costumam observar quando uma letra não é valorizada pelo ritmo. Pode parecer clichê, mas funciona: letras rebuscadas e teologicamente profundas estão mais bem servidas por andamentos mais lentos, e letras mais leves ficam bem nos ritmos de andamento acelerado.
- Compor para a mesma formação vocal. Não há demérito algum em compositores que se especializam, seja em músicas infantis, para quartetos, para corais ou para solistas. Mas um compositor também pode fazer canções para várias formações vocais e utilizar gêneros musicais diferentes. Vale a pena experimentar compor em outros estilos, aprender diversas técnicas e progressões harmônicas, ler partituras de grandes arranjadores vocais e buscar sua própria identidade musical. A variedade de composição é benéfica, e as pessoas não ficarão com a impressão de estar ouvindo sempre a mesma música com letras levemente diferentes.
- Abusar das figuras de linguagem. O “evangeliquês” tem sido a língua de muito compositor gospel. São os mesmos temas cantados com os mesmos chavões desgastados [unção, derrama, espírito, chuva, fogo, glória] e frases de gosto duvidoso [andar com Jesus de mãos dadas no campo; mergulhar no coração de Deus]. Cautela com hipérboles, analogias e metáforas. Use as figuras de linguagem com moderação.
- Subestimar o estudo da música. O conhecimento sobre música é inesgotável: as progressões da harmonia, a história de músicos e estilos musicais, as expressões musicais de diferentes povos e etnias, o estudo dos instrumentos, a música no contexto religioso, etc. Deixar de se aprimorar no seu ofício é uma infração grave cometida pelos compositores.
- Esquecer a prosódia. O acento forte das notas de um compasso deve encaixar-se na sílaba forte de uma palavra. Mas isso não é uma regra inviolável, principalmente quando a melodia já está pronta e uma mudança para acomodar a acentuação correta de uma palavra acaba descaracterizando a frase melódica. Contudo, como costuma sugerir o compositor Daniel Salles, sempre que possível façamos melodias que não prejudiquem o acento tônico da palavra, senão vamos continuar ouvindo músicas em que “Ele virá” soa como “Eli virá”.
- Gostar mais de música do que do serviço à igreja. Músicos que se apegam às tradições ou às inovações sem se preocuparem com o que suas igrejas realmente precisam estão prestando um desserviço à missão. Como posso edificar a igreja e como minha música pode contribuir para anunciar o evangelho eterno? São perguntas que um compositor cristão deve fazer a si mesmo a fim de situar sua música no contexto e nas necessidades do serviço e da missão da igreja.
- Não estudar a Bíblia. Se os músicos se queixam de que os teólogos não conhecem música, o que diriam os teólogos sobre o conhecimento dos músicos sobre a Bíblia? Estar atento a sermões [muita música boa nasceu inspirada por uma frase pastoral], conhecer a teologia da igreja por meio de bons livros e sites, e estudar a Bíblia habitualmente: se sua fé é o tema principal de suas canções, desconheço outra maneira melhor de compor sobre o que se crê.
JOÊZER MENDONÇA, doutor em Musicologia (Unesp) com ênfase na relação entre teologia e música na história do adventismo. É professor na PUC-PR e autor do livro Música e Religião na Era do Pop
Fonte - http://www.revistaadventista.com.br/blog/2016/10/27
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