Santo Sansão
por David Murray
Seguindo a minha tentativa de
ressuscitar a reputação de Jefté, eu dirijo a minha atenção agora para
Sansão. De certa forma, Sansão é ainda mais difícil de ser reabilitado
por causa da sua popularidade ( Ou devo dizer, “infâmia”?) nas Bíblias
de histórias infantis. Estamos todos familiarizados com a narrativa e a
moral: “Não seja como Sansão que cometeu adultério, assassinato, e suicídio.”
A caricatura popular é também sustentada por vários comentaristas, como esta seleção de citações demonstra:
“Sansão era dominado por lascívia, orgulho, e uma paixão por vingança.”
“Sua vida parece que foi cercada de relacionamentos ilícitos com prostitutas e mulheres de vida fácil.”
“Suas façanhas demonstram as ações de um jovem delinquente incontrolável.”
“Seu último ato involveu uma recusa de deixar Deus
operar sua própria vindicação por meios legais, o qual sua oração de
morte permanece em triste contraste à oração de morte do nosso bendito
Salvador…”
Até mesmo o geralmente confiável Don Carson sucumbe:
“Mas ele nunca foi totalmente capaz de aceitar a sua vida de separação. Ele sempre quis secretamente ser como outros homens para desfrutar dos prazeres que eles gozavam (uma tentação que é sem dúvida comum aos cristãos hoje). Em Dalila, ele viu a chance, talvez, sua última chance, para a felicidade que ele sempre quis. Ao ceder ao pedido dela, Sansão praticamente convidou Dalila à libertá-lo do seu voto nazireu; para fazê-lo o homem normal que ele sempre quis ser.”
Uma causa perdida?
Ressussitar Sansão é uma causa perdida? Eu não creio que seja, pelas seguintes razões.
Primeiro, Sansão teve o chamado divino mais claro de todos os juízes, um chamado que ele também cumpriu (Juízes 13.5).
Segundo, ele julgou Israel fielmente por 20 anos (Juízes
15.20; 16.31). Somos informados disto duas vezes para ressaltar o
significado deste longo, solitário, fiel, e heróico serviço — derrotando
os inimigos de Israel e os libertando dos seus opressores.
Terceiro, apesar da maior parte do relato bíblico cobrir
somente o verão antes dos vinte anos de Sansão liderar Israel (Juízes
13-15) e o último ano da sua vida (Juízes 16), ainda assim, é um tempo
relativamente curto comparado aos seus 20 anos de fidelidade. Ao
contrário desta valente tentativa de dar uma explicação para o
comportamento de Sansão no capítulo 16, eu não subestimo a gravidade do
pecado de Sansão no último ano da sua vida. Mas ainda não anula o tom
predominante da sua vida como uma de coragem e leal serviço à Deus e ao
país.
Quarto, a Bíblia relata o Espírito do Senhor descendo
sobre Sansão mais do que sobre qualquer outro juíz (Juízes 13.25; 14.6;
15.14).
Quinto, e mais importante, Deus o coloca na Galeria da Fé,
na mesma ala de Davi, Samuel, e os profetas (Hebreus 11.32). Isto nos
dá o prisma mais importante com o qual vemos Sansão. De fato, quando
lemos os seguintes versículos, nos admiramos se o Apóstolo tinha Sansão,
e específicamente Juízes 16, em mente:
Os quais, pela fé, venceram reinos, praticaram a justiça, alcançaram promessas, fecharam as bocas dos leões, apagaram a força do fogo, escaparam do fio da espada, da fraqueza tiraram forças, na batalha se esforçaram, puseram em fugida os exércitos dos estranhos… Uns foram torturados, não aceitando o seu livramento, para alcançarem uma melhor ressurreição; E outros experimentaram escárnios e açoites, e até cadeias e prisões.
Em seguida, escute as palavras centrais do Apóstolo na sua
revisão de todos os Heróis da Fé. Ele diz que o mundo não era digno
deles (v. 38), e que “todos estes obtiveram um bom testemunho pela fé”
(v. 39). Ainda, não vejo razão alguma para não aplicar à Sansão as
palavras que descrevem heróis anteriores da fé em Hebreus 11: “Todos
estes morreram na fé” (v. 13).
Morte Desorientadora
O qual nos traz à sua morte desorientadora. Como todos
sabemos, Sansão acabou numa prisão dos filisteus tendo-se desviado nos
braços e na cama de Dalila. Mas, lá, o seu cabelo começou a crescer
novamente, indicando um retorno ao voto nazireu de total compromisso com
Deus. Então, quando exibido em desfile e zombado diante dos filisteus
blasfemadores, ele clamou à Deus em oração, usando o Seu nome de pacto,
SENHOR. Ele não mais está confiando na sua própria força, mas está
buscando Deus para ajudá-lo a julgar uma última vez.
Aqui é importante lembrar que Sansão não é somente um
indivíduo particular, mas um juíz, apontado por Deus para julgar em Seu
nome. Como diz o comentarista, Luke Wiseman:
Nesta oração, não encontramos referência a si mesmo como um indivíduo particular, mas somente como o reconhecido servo de Jeová. Se isso não for lavado me conta, a oração é pouco inteligível… Isso não foi uma expressão motivada por vingança pessoal, pois libertar Israel dos filisteus era a missão de Sansão desde o início… Na qualidade cde servo e representante de Jeová, ele ora para que ele seja vingado neles.
C J Goslinga coloca da seguinte forma: “Ele morreu
pela honra do seu Deus e pelo benefício do seu povo sendo assim, um tipo
de Cristo, cuja morte igualmente significou a derrota dos inimigos de
Deus e a salvação do Seu povo.”
Aquilo não foi suicídio, mas um ato de auto-sacrifício no
campo de batalha para o benefício de Israel e a glória de Deus. Como
explica Matthew Henry, “Não foi um auto-assassino por se dizer; pois
não foi a sua própria vida que ele visou… mas a vida dos inimigos de
Israel, pelos quais ele bravamente renunciou a sua própria vida, não a
considerando preciosa a si, para que ele pudesse terminar o seu percurso
com honra.”
Santo e Salvador
O qual tudo indica que Sansão foi não somente salvo por
Cristo, como também salvou como Cristo, o Juíz final. Como aqueles
escritores mais Cristocêntricos do Antigo Testamento, Robert Gordon,
escreve:
E aqui, novamente, quem deixa de lembrar o propósito e modo da morte de Cristo? Foi pela vindicação da honra do Seu pai como o Legislador e o Juiz, que ele se submeteu a insulto, ignonímia e morte; e quando, em aparente fraqueza, e cheio com provocações e insultos de homens ímpios, ele abaixou sua cabeça e entregou o seu espírito, ele, naquele momento alcançou uma vitória mais que gloriosa, tanto em sua natureza como em suas consequências, na medida em que ele deteriorou principados e potestades, e fez deles espetáculo aberto, triunfando sobre eles na Sua cruz.
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