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segunda-feira, 30 de maio de 2016

Cristão: adjetivo ou substantivo?

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Cristão: adjetivo ou substantivo?

Publicado em 16/08/2014 por Matheus Cardoso como Espiritualidade
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É perigoso rotular determinadas coisas de “cristãs”. A palavra cristão aparece pela primeira vez na Bíblia como substantivo [Atos 11:26; 26:28; 1 Pedro 4:16]. Os primeiros seguidores de Jesus foram chamados de cristãos porque haviam-se dedicado a viver da mesma maneira que o Messias, e que eles criam ser Jesus.
Substantivo. Um indivíduo. Um indivíduo que segue Jesus. Uma pessoa que vive em sintonia com a realidade suprema. Deus. Uma forma de vida que gira em torno de uma pessoa viva.
O problema de transformar o substantivo em adjetivo e em seguida associá-lo a palavras é que podem criar-se categorias que limitem a verdade. Veja o que quero dizer.
Determinada coisa pode ser rotulada de cristã e não ser verdadeira nem boa. Eu estava falando numa conferência de pastores alguns anos atrás e um pastor muito conhecido falaria depois de mim. Pensei em ficar no auditório quando tivesse terminado minha palestra porque eu queria ouvir o que ele diria. Foi chocante. Ele disse a uma sala cheia basicamente de pastores que, se a igreja deles não estava crescendo, se eles não eram felizes o tempo inteiro e se não eram saudáveis nem bem-sucedidos, era porque provavelmente não foram “chamados e escolhidos por Deus” para serem pastores. Não consigo imaginar como essa mensagem chegou ao coração e à mente daqueles pastores ouvintes. Não conseguia entender como ele fez que aqueles versículos dissessem aquilo. E era um pastor cristão falando numa igreja cristã a outros pastores cristãos. Aquilo, porém, não era verdade.
Isso ocorre em todos os campos. É possível uma música ser qualificada de cristã e ser uma música horrível. Podem faltar-lhe criatividade e inspiração. A letra pode não passar de clichês reciclados. Aquele conjunto “cristão” pode na verdade dar má fama a Jesus por não ser uma boa banda. É possível um filme ser um filme “cristão” e ser horrível. Pode, na verdade, profanar aquela arte com o roteiro e a produção. Não é só porque um livro é cristão, de um autor cristão e comprado numa livraria cristã que seja um livro todo verdadeiro e bom ou belo. […]
“Cristão” é um excelente substantivo, mas como adjetivo é muito pobre. […]
Trabalhar “para Deus”
Entendo que ser cristão é fazer seja o que for com muita paixão e dedicação. Nós nos dedicamos a nosso trabalho porque tudo é sagrado. Adoro o jeito de Paulo dizer isso em Colossenses: “Tudo o que fizerem, seja em palavra ou em ação, falam-no em nosso do Senhor Jesus…” (Colossenses 3:17). O apóstolo está ensinando aqueles crentes a viver como cristãos, e assim tudo quanto eles fizerem será trabalho sagrado, santo. A música já é adoração. A música é louvor. A música é sagrada. A música é boa. A criação não precisa de nenhum rótulo para ser sagrada ou aceitável, ou abençoada. Quando Deus fez o mundo, Deus chamou tudo de “bom” [Gênesis 1:31]. Claro, sem dúvida, qualquer coisa pode ser corrompida e profanada e pode ser usada com finalidades diferentes das que Deus pretende, mas fazer música é sagrado. Paulo diz isso assim: “Pois tudo que Deus criou é bom…” (1 Timóteo 4:4). […]
É por isso que é impossível ao cristão ter um trabalho secular. Se seguimos Jesus e fazemos o que fazemos em Seu nome, esse trabalho deixa de ser secular, é sagrado. Estamos nele, Deus está nele. A diferença é nossa consciência. […]
Um dia desses, alguém me perguntou o motivo de nossa igreja não apoiar as artes. Isso porque não temos dramatizações nem peças nos cultos. Eu atinei com a pergunta. Como quase todas as perguntas, ela remete à criação. Não creio que algo tenha de estar num culto da igreja para ser feito “para Deus”. Como se a única manifestação artística feita “para Deus” fosse a que se realiza num culto da igreja.
Igreja é uma comunidade de pessoas que estão aprendendo a ser o tipo de gente que, não importa onde se encontre, pode fazer o que quer que seja “no nome do Senhor Jesus”. O objetivo não é trazer o trabalho de cada um para dentro da igreja; o objetivo é que a igreja seja esse tipo singular de pessoas que transformam o lugar onde vivem, trabalham e se divertem, porque elas sabem que toda a Terra está cheia da kavod [glória] de Deus [Isaías 6:3]. Deus não Se limita a um prédio construído por homens. Fazer coisas para Deus é o que ocorre o tempo todo, em todo lugar. Se você é ator, o objetivo não é que você faça seu trabalho num edifício da igreja, no culto. Por favor, vá a qualquer lugar no mundo onde as pessoas encenem e faça isso bem. Muito bem. Empenhe-se em sua arte e dê tudo a ela.
Como se vê, os rótulos acabam não dando certo, não importa quanto sejam úteis de vez em quando, porque a vida de Jesus é tão somente esta: uma vida vivida por gente que a orientou toda segundo o propósito de ser fiel aos ensinos de Jesus.
– Rob Bell, Repintando a igreja: uma visão contemporânea (São Paulo: Editora Vida, 2008), p. 99-102.

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