O fenômeno dos Dez Mandamentos
“Tá na hora da novela”. Esta expressão marcou a vida de muitas pessoas. O produto da TV brasileira marcou gerações, reunindo as famílias em frente ao aparelho e fazendo com que este se tornasse um ícone da cultura do nosso país, conhecido e reconhecido internacionalmente.
Com algumas exceções, recentemente as novelas brasileiras estão perdendo os índices de audiência assustadoramente. Saímos de quase 100% de famílias ligadas em momentos importantes das tramas (caso da mítica “Roque Santeiro”) para os comemorados 20 e poucos pontos de audiência média. Especialistas tentam apontar motivos: falta de interesse pela televisão, concorrência da internet, falta de criatividade, histórias sem brilho. Nada parece explicar o ocaso do formato, que fez com que a TV Globo, grande produtora de novelas, repensasse os tradicionais horários de transmissão. Outra saída: o forte apelo sexual e de tragédias trazido nas histórias, que agora mostram a imagem denegrida da humanidade em alta definição. Nada levanta de forma sustentável os índices.
Mas um fenômeno veio forte, trazendo as pessoas novamente para a frente do televisor para assistir uma trama novelística. O nome? Os Dez Mandamentos. A Rede Record de Televisão já vinha apostando em histórias bíblicas na sua produção de teledramaturgia, mas foi a primeira vez que encarou manter uma novela inteira dentro do tema.
O programa “bombou”, sendo líder de audiência e fazendo com que surgisse algumas perguntas: como uma história bíblica pode fazer sucesso numa novela? Ou ainda: uma história bíblica tem apelo para este público moderno, aparentemente tão arredio a temas religiosos tradicionais?
Esta última questão, que demonstra uma possível falta de vontade do indivíduo contemporâneo com religião, não é feita à toa. Assim como as novelas, religiões tradicionais parecem perder fôlego. Tanto que, quando aparecem visões aparentemente “progressistas” como a do Papa Francisco com a Igreja Católica, falando sobre uma espécie de atualização da religião, há uma aclamação enorme por parte da opinião pública. Muitos estudiosos e pensadores críticos da sociedade moderna atestaram inúmeras vezes a morte da religião ou declaram abertamente a posição ateísta/teísta e de desdém para com o tema da religião e de Deus, como Richard Dawkins, Jonathan Miller e Edward Wilson, só pra citar alguns.
Será mesmo o ser humano moderno (ocidentalizado, vivendo numa era cibercultural) um antirreligioso?
Seres da religião
Recentemente, nos meus estudos de doutorado, tive acesso a uma obra que considero brilhante, que é a Sociologia da Tradução. Seu principal nome, o sociólogo francês Bruno Latour. Latour, professor do Institut d’Etudes Politiques de Paris, vem conduzindo uma pesquisa de mais de 20 anos que ele chama de “Antropologia dos Modernos”. Nela, tenta entender o indivíduo contemporâneo e todas as suas facetas. No seu mais recente livro, “Enquête sur les Modes d’Existence”(não publicado no Brasil), ele apresenta um capítulo chamado Congratulando-se com os seres sensíveis à Palavra. Neste, o autor fala que, ao contrário do que a sociologia tradicional vem demonstrando, os modernos, sim, são “seres da religião”. Há uma propensão do moderno a ver com bons olhos a religião, e com ela a manutenção de algumas disfunções da religião, como o fanatismo e o dogmatismo por exemplo.
Embora o contundente estudo de Latour indique a posição positiva da modernidade ante a religião, não sei se podemos dizer que o sucesso de Os Dez Mandamentos se explica por este fenômeno. De uma maneira simples, deve-se considerar que a história apresentada na Rede Record contém variáveis importantes, como atores famosos, um roteiro bem montado, cenários bem feitos e uma produção com qualidade técnica cinematográfica. E, claro, o principal: uma história tremendamente cativante, um sucesso desde a premiadíssima e homônima produção de Cecil deMille, com Charlton Heston, Anne Baxter e Yul Brynner nos papéis principais, um ícone cult do cinema que fez recentemente 59 anos desde seu lançamento.
O grande ponto que deve ser ponderado é: a novela “Os Dez Mandamentos” tem acendido a luz da Bíblia em muita gente. Isso é muito positivo. Dados iniciais mostravam que a audiência era pesada no meio evangélico, mas é fato que a produção bem feita viralizou a história pra outros públicos e ganhou espaços importantes nos corações para a mensagem bíblica. Icônico mesmo é que a novela tem ganhado a preferência da população numa época em que a Globo, muito forte com esse tipo de programa, tenha tido que praticamente cancelar o seu último folhetim de horário nobre que possuía um nome bem sugestivo: Babilônia.
O que nos diz estas coisas? Mais do que nunca é hora de comunicar a Bíblia. Esta é uma oportunidade ímpar e não pode-se deixar passar. Independente de a sociedade moderna estar ou não propensa a abrir as portas para a religião e mesmo se a trama da novela é fiel ao texto bíblico, se milhões de brasileiros estão acompanhando e gostando de uma história bíblica, deve-se apresentar ainda mais a Bíblia de maneira real e completa. E principalmente, apresentar os Dez Mandamentos, aqueles que “permanecem firmes para todo o sempre” (Salmos 117:8).
Aproveitemos a boa oportunidade para, com a luz da mensagem bíblica, dissipar as trevas da “Babilônia” e levar o Deus dos Dez Mandamentos ao mundo!
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