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domingo, 25 de outubro de 2015

A idolatria do sermão

A idolatria do sermão

Por Gutierres Fernandes Siqueira

Se o pregador estimar mais a mensagem que prega do que a Pessoa de Cristo, tal pregador é idólatra. Se a pregação for feita com o propósito de mostrar a capacidade do orador, ninguém negará que no coração há idolatria ligada ao sermão. [...] Pregar para ser admirado é fundir bezerros de ouro que os ouvintes, mais cedo ou mais tarde, adorarão. Pregar a Palavra é sacrifício que leva até ao holocausto, mas que impede chegar-se à idolatria. [Emílio Conde]
Frequentemente, leio sermões modernos com espanto. Como é que os pregadores esperam produzir qualquer coisa na vida das pessoas com tais discursos? [...] Eles produzem ensaios, o que significa que estão principalmente preocupados com a elucidação de um tema. Se eles estivessem produzindo mesmo sermões, estariam essencialmente preocupados com a transformação de pessoas. [Harry Emerson Fosdick]


Emílio Conde (1901-1971) foi um importante pensador no início das Assembleias de Deus no Brasil. Ao mesmo tempo, e paradoxalmente, era um ávido anti-intelectual, ou melhor, um antiacadêmico. Ele era um crítico ferrenho de qualquer institucionalização do ensino teológico pelos pentecostais brasileiros. Não era contra o ensino em si, mas tinha um pavor da formalização. Todavia, nutria esse sentimento enquanto exercia o ofício de jornalista e de escritor, além de tradutor, compositor e membro da Sociedade Bíblica do Brasil. Portanto, eis aí o paradoxo: enquanto intelectual ele militava contra a academia.

Embora o anti-intelectualismo do Conde seja rejeitável, é particularmente interessante uma expressão que ele costumava usar: a “idolatria do sermão”. A sentença é fruto de um ótimo artigo escrito por ele e publicado no livro Igrejas Sem Brilho. O radicalismo deve ser cobalido, é claro, mas há uma verdade nessa expressão. Qual verdade? Ora, até o sermão pode ser um potencial ídolo, uma vaca sagrada.

Por que escrevo isso? É comum no evangelicalismo brasileiro, especialmente na ala calvinista, uma preocupação que julgo excessiva sobre com o sermão. Alguns dizem que são necessários longos dias e até semanas para preparar uma mensagem. Será mesmo? Ou você acha que todo sermão depende de um longo trabalho de crítica literária? Absolutamente que não. O sermão, por acaso, é uma nova monografia a cada semana? Ou seja, a fim de combater o relaxo do neopentecostalismo com a pregação se toma um caminho do exagero no lado oposto.

Alguns, infelizmente afetados pelo analfabetismo funcional, lerão o parágrafo acima e dirão que estou em defesa do sermão relapso. Não, nada disso. Eu quando prego, a título de exemplo, costumo me alongar em muitos comentários bíblicos, bíblias de estudo, dicionários, léxicos, textos originais etc. Acho o preparo indispensável para qualquer pregador. E isso leva naturalmente um tempo, horas e horas. O meu alerta é outro, ou seja, é fazer do preparo um fim em si.

Segue algumas lições que aprendi nessa curta caminhada como expositor das Escrituras:

1.       O preparo, embora indispensável, é apenas o lado humano do sermão. Nunca, em hipótese alguma, deixe o seu coração ressecado sem oração e propenso ao orgulho intelectual. Sem a dependência do Espírito Santo o nosso sermão é um vale de ossos secos.
2.      Há sermões que mais parecem trabalhos de revisão da versão Almeida. É mesmo necessário todo esse tecnicismo? O preparo deve ser feito, mas não precisa ser exposto. O que quero dizer? Você não precisa despejar sobre o púlpito todos os detalhes técnicos do seu aprendizado com o texto e a exegese do mesmo.
3.     Sermão não é aula, palestra ou workshop. Sermão precisa transmitir vida, crença e paixão; não o sono da alma, a incredulidade e o cinismo. O sermão, como expressão da voz de Deus, deve nos levar ao temor e tremor. É uma experiência cúltica. 
4. O bom pregador é um bom ouvinte. E, também, é participante do culto. Ou seja, ele canta enquanto a igreja canta, ele ora enquanto a igreja ora, ele prega ou de debruça sobre o texto apenas no momento da Palavra. Há tempo para todo propósito debaixo do sol, não é mesmo? 
5. Explique os termos difíceis. Cite os originais só quando for realmente necessário. 
6.  Respeite a sua personalidade. Não queira imitar pregadores e seus estilos. Só existe um Paul Washer, assim como existe apenas um John Piper. Antigamente a mania imitadora era apenas um problema de neopentecostais, mas agora afeta até jovens calvinistas. 
7. E a autoridade do sermão não está no grito, na histeria e nem no barulho do auditório. “Keep Calm” e se concentre na glorificação do Nosso Senhor Jesus Cristo.

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