Um grupo de
homens estava esperando em uma doca do rio Tâmisa em Londres desde as cinco da
manhã, em uma manhã de inverno terrivelmente fria. Juntos com outros grupos
eles tinham sido escolhidos para descarregar um cargueiro atracado ali. Faziam
isto equilibrando um carrinho da mão sobre tábuas que iam da doca até um barco
menor e dali até o cargueiro. Entre os homens estava um pastor, mas os outras
não sabiam disto. Ele estava muito interessada no pessoal daquela área da
cidade, e chegou à conclusão que a única maneira de fazer contato com eles
seria trabalhar entre eles. Vestido como eles, ele se recusava até a beber uma
xícara de chá quente antes de sair de casa, porque sabia que a maioria dos
homens que estariam na doca aquele dia à procura de trabalho não teriam tido
este conforto, nem estariam adequadamente vestidos. Saiu até sem casaco.
Antes de
conseguir trabalho experimentou o que significa ser tratado como estranho.
Ficou sabendo o que é ficar o dia todo de pé no frio e na neblina, para receber
a informação de que não havia emprego. Aqueles homens voltavam para o que
chamavam de casa sem ter um pedaço de pão a oferecer às suas famílias famintas.
Aquele dia ele
tinha tido sorte e foi contratado. Quando passava pela décima segunda vez pelas
tábuas com seu carrinho de mão carregado, ele escorregou e perdeu o equilíbrio,
caindo no Tâmisa em meio a gargalhadas que vinham de todo lado.
Lutando contra
seu temperamento, conseguiu ficar de pé depois de alguma dificuldade, sorrindo.
Um dos homens (o que tinha balançada a tábua, fazendo-o cair) tinha gritado
"homem ao mar", e estava parado ali, rindo. Vendo o pastor disfarçado
tentando de bom humor se livrar da lama, algum impulso melhor fez com que ele
jogasse algumas caixas vazias no lodo, pulando nelas para ajudar o homem a
sair. A primeira observação sua confirmou a atitude do pastor que o Espírito
Santo tinha causado:
– Você não
levou a mal, não é? – ele disse enquanto ajudava o pastar a subir nas caixas.
Ele não tinha falado no dialeto dos que moram nos bairros pobres de Londres, de
modo que não deveria ser um estivador comum.
– Você não
parece estar muito tempo neste ramo, respondeu o pastor.
– Nem você –
retrucou o que antes o tinha jogado na lama e agora estava ajudando-o a sair. O
pastor concordou, e convidou o outro para ir com ele até a sua pensão.
Durante a
conversa o pastor descobriu surpreso que aquele homem tinha sido um médico de
sucesso, mas que perdeu sua clínica e sua família por beber demais. O fim da
história foi que o pastar pôde levar este homem a Cristo e também vê-lo
novamente junto dos seus amados.
Isto talvez
ilustre o que é o fruto do Espírito. Se a vida fosse sempre um mar de rosas, as
pessoas sempre amáveis e gentis, se nunca tivéssemos dores de cabeça nem
sofrêssemos de cansaço ou sob pressões terríveis talvez o fruto do Espírito nem
aparecesse.
Mas a vida não
é assim. No meio das dificuldades e do sofrimento é que mais precisamos do
fruto do Espírito, e é nestas ocasiões que Deus pode atuar através de nós de
maneira especial para levar outras pessoas a Cristo. Quando temos em nós o
fruto do Espírito outros verão em nós "a imagem de seu Filho" (Rom.
8:29) e serão atraídos para o Salvador.
Não é por acaso
que a Escritura chama a Terceira Pessoa da Trindade de Espírito Santo. Uma das funções principais do
Espírito Santo é repartir conosco a santidade de Deus, o que Ele faz
desenvolvendo em nós um caráter semelhante a Cristo – um caráter marcado pelo
fruto do Espírito. O propósito de Deus é que nós nos tornemos "pessoas
maduras, crescendo até alcançarmos a altura espiritual de Cristo" (Efés.
4:13, BLH).
Fruto: é o que Deus Espera de Nós
Deus Espírito
Santo usa freqüentemente na Escritura a palavra fruto para indicar o que Ele
espera do Seu povo quanto ao caráter. Nos capítulos sobre os dons do Espírito
Santo constatamos que os crentes receberam vários dons. Eu posso ter algum dom
que outras não têm, e eles terão dons que eu não tenho. Mas quando chegamos ao
que a Bíblia ensina sobre o fruto do Espírito vemos que esta é a diferença
entre os dons do Espírito e o fruto do Espírito.
O fruto do Espírito não é dividido entre os
crentes, como os dons do Espírito. Todos os cristãos devem ter todo o fruto do Espírito. Deus espera
isto de nós; podemos ver isto claramente em diversas passagens da Escritura. Em
Mateus 13 encontramos a conhecida parábola do semeador. Seu trabalho parece ser
o de alguém que anuncia a Palavra de Deus – pastor, mestre, evangelista ou
qualquer outro crente. Um pouco da semente cai na beira do caminho, onde os
pássaros a comem; um pouco cai entre pedras e seca ao Sol; alguns grãos crescem
entre os espinhos, e estes os sufocam. O restante cai em terra boa, cresce e
produz em abundância. Da mesma forma você e eu devemos produzir fruto, à medida
que a Palavra de Deus começa a atuar em nós no poder do Espírito.
Fato
interessante é que a Bíblia fala do fruto
do Espírito, e não de frutos. Uma
macieira pode produzir muitas maçãs, mas todas vêm da mesma árvore.
Semelhantemente o Espírito Santo é a origem de todo fruto em nossa vida.
Em termos mais
simples podemos dizer assim: a Bíblia ensina que nós precisamos que o Espírito
Santo traga fruto em nosso vida, porque não podemos nos tornar parecidos com
Jesus sem o Espírito. Nós estamos cheios de desejos egocêntricos e egoístas,
opostos à vontade de Deus para nossa vida. Em outras palavras, duas coisas
precisam acontecer em nossa vida: uma, que o pecado tem de ser expulso da nossa
vida; outra, que o Espírito Santo precisa entrar e nos encher, e produzir o
fruto do Espírito. "Fazei, pois,
morrer a vossa natureza terrena: ... revesti-vos, como eleitos de Deus,
santos e amados, de ternos afetos de misericórdia, de bondade, de humildade, de
mansidão, de longanimidade" (Col. 3:5, 12, grifo meu).
Deixe-me usar
uma ilustração. Muitas pessoas têm uma cerca ao redor da sua usa, com um portão
para entrar e sair. O portão tem utilidade dupla: serve para deixar alguém
entrar, ou para manter alguém fora.
A nossa vida é
espiritualmente como este portão. Em nós há todo tipo de coisas erradas e que
desagradam a Deus. Precisamos pôr estas coisas para fora e deixar o Espírito
Santo entrar para controlar o centro da nossa vida. Nós não temos força nem
para abrir o portão. Só o Espírito Santo pode fazê-lo, e quando Ele o faz –
quando nos entregamos a Ele e pedimos que Ele nos encha – Ele não só entra mas
também ajuda a jogar fora todas as coisas más. Ele controla o portão, e à
medida que vai purificando o coração da sua maldade. Ele pode introduzir novas
atitudes, nova motivação, devoção e amor. Ele também reforça o portão, Para que
o mal não possa arrombá-lo. Assim, as obras da carne vão embora e o fruto do
Espírito entra. A Escritura diz que o Espírito Santo quer que demos fruto –
mais fruto, muito fruto até.
Manford George
Gutzke, em seu livro The Fruit of the Spirit (O Fruto do
Espírito) compara o fruto do Espírito à luz: "Em cada raio de luz solar
temos todas as cores do arco-íris. Elas estão sempre presentes, mesmo quando
não as vemos separadamente. Não precisamos imaginar uma por uma quando vemos a
luz. Da mesma forma que as cores do arco-íris estão no raio de luz, estes
traços de conduta pessoal estão na atuação do Espírito Santo."1
Como Cresce o Fruto
Como o Espírito
Santo faz para que nossa vida produza o fruto do Espírito? Duas passagens da
Escritura nos ajudarão a responder a esta pergunta.
A primeira
passagem é o Salmo 1, que compara o homem de Deus com uma árvore
plantada às margens de um rio: "O seu prazer está na lei de Deus, e nesta
lei ele medita dia e noite. Esse homem é como uma árvore que cresce na beira de
um riacho; ela dá frutas no tempo certo, e suas folhas não murcham. E tudo o
que esse homem faz dá certo" (Salmo1:2, 3, BLH). Nesta passagem, dar fruto
está relacionado diretamente à importância que a Palavra de Deus tem para nós
(observe que não está escrito lê, mas
medita). À medida que lemos e
meditamos na Bíblia, o Espírito Santo – que inspirou a Bíblia, como sabemos –
vai nos convencendo de pecados que precisam ser erradicados e nos dirige ao padrão
de vida que Deus quer para nós. Sem a Palavra de Deus não pode haver
crescimento espiritual duradouro nem produção de frutos em nossa vida.
A segunda
passagem encontrarmos em João 15, onde Jesus compara
nosso relacionamento com Ele com os ramos de uma videira. "Permanecei em
mim, e eu permanecerei em vós. Como não pode o ramo produzir fruto de si mesmo,
se não permanecer na videira; assim nem vós o podeis dar, se não permanecerdes
em mim. Eu sou a videira, vós os ramos. Quem permanece em mim, e eu, nele, esse
dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer" (João 15:4, 5).
Esta passagem
abriga muitas verdades maravilhosas, mas há algumas coisas que devemos
destacar. A primeira é uma ordem para cada crente: "Permanecei em
mim." Isto quer dizer que devemos ter o relacionamento mais próximo e
íntimo possível com Cristo, sem nada entre Ele e nós. Por isso oração, estudo
bíblico e comunhão com outros crentes devem ser tão importantes.
Diz-nos também
que só podemos produzir fruto se permanecermos em Cristo: "Sem mim nada
podeis fazer". Pode ser que usemos os dons do Espírito mesmo sem estar em
comunhão com o Senhor. Mas não podemos dispor do fruto do Espírito quando nossa
união com Cristo foi interrompida pelo pecado. Vemos daí como é crucial ser
cheio do Espírito, e nós estamos cheios quando permanecemos em Cristo, a
videira. O segredo para permanecer é obediência. Se nós permanecemos em Cristo,
vivendo de maneira obediente, a vida de Cristo flui para dentro de nós (como a
seiva da árvore, que dá vida aos ramos), produzindo fruto para a glória do Pai,
e para alimentar e abençoar outros.
Eu creio que há
algo neste relacionamento que não podemos entender de todo. Se nós
perguntássemos a um ramo de uva branca:
– Como você faz
para ter frutos tão deliciosos? – provavelmente o ramo responderia:
– Eu não sei.
Eu não fiz crescer nenhum deles. Eu só os carrego. Se você me cortar do pé de
uvas eu secarei e não terei mais utilidade.
Sem a videira o
ramo não pode fazer nada. Assim também acontece conosco. Enquanto eu me
esforçar e trabalhar para conseguir produzir o fruto do Espírito, ficarei
frustrado e sem fruto. Mas se eu permaneço em Cristo mantendo um relacionamento
íntimo, obediente e dependente com Ele Deus Espírito Santo atua em minha vida,
produzindo em mim o fruto do Espírito. Isto não quer dizer que vamos ficar maduros
instantaneamente, imediatamente cheios do fruto do Espírito. Qualquer
fruto precisa de tempo para amadurecer, talvez até alguma poda se faça
necessária, antes de aparecerem frutos em quantidade.
Minha esposa e
eu gostamos muito das árvores bonitas que há ao redor da nossa casa na Carolina
do Norte. No outono quase todas as folhas caem e são levadas pela vento, mas
milhares das velhas folhas ficam presas nos galhos durante todo o inverno. Quando
a seiva começa novamente a correr novas folhas surgem – e vida e poder pulsam
em cada galho. E ninguém percebe que todas as folhas velhas caem. Este é o
quadro do cristão! "As coisas antigas já passaram; eis que se fizeram
novas" (2 Cor. 5:17).
Além disto a
cada verão nós cortamos algumas árvores que impedem a visão ou bloqueiam a luz
do Sol. Outras foram muito prejudicadas pelas tempestades de inverno. Em nossa
vida também temos árvores que precisam do machado – que estão apodrecendo ou
estragando o panorama. Jesus disse: "Toda planta que meu Pai celestial não
plantou, será arrancada" (Mat. 15:13). Em nosso terreno temos poucas
árvores frutíferas. Das que trazem os melhores frutos nós cuidamos mais –
podando-as, adubando-as, pulverizando-as com inseticida no tempo certo. Uma
árvore boa continua dando bons frutos, e deve ser mantida. Mas cortar ou não
uma árvore depende da distinção que Jesus fez. Ele disse: "Pelos seus
frutos os conhecereis" (Mat. 7:20).
Temos também
alguns pés de uva. Em alguns anos colhemos somente algumas uvas pequenas, para
nas. Mas nem por isto cortamos as videiras. Pelo contrário, cuidamos bem delas.
E no próximo ano elas trarão mais e melhores frutos. De maneira semelhante, à
medida que o Espírito Santo vai podando o que não presta em nassa vida, os
ramos da videira, espiritualmente falando, vão ficando mais úteis na produção
de mais fruto espiritual.
Na figura de
João 15 o Senhor Jesus é a videira, nós os ramos e Deus o agricultor, ou
jardineiro.
No versículo
três lemos: "Vós já estais limpos, pela palavra que vos tenho
falado", ou, como J. B. Phillips
traduz: "Agora vocês já foram podados pelas minhas palavras". Não há
melhor maneira de o filho de Deus ser podado que pelo estudo e pela aplicação
da Bíblia em sua própria vida e sua situação. Deus pode nos corrigir, nos dizer
onde nós nos enganamos e nos perdemos, sem nos desencorajar.
Em Atos lemos
de Apolo, que cativou o coração de Áquila e Priscila com seu zelo, seu amor e
seu dom de oratória, Mas ele era imaturo e despreparado para levar outros a uma
vida cristã mais profunda. Seu progresso não tinha passado dos ensinos de João
Batista. E este casal, ao invés de rir da sua ignorância e desprezar sua falta
de compreensão da verdadeira ortodoxia bíblica, levou-o para casa e, com amor,
lhe expuseram melhor o caminho do Senhor (Atos 18:26). Depois ele começou a
usar seus dons para a glória de Deus, ganhando almas. Deixou uma impressão
indelével na Igreja Primitiva, e ajudou a espalhar o reino de Deus no primeira
século.
Billy Graham
O fruto do Espírito pags,
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