LONGANIMIDADE,
BENIGNIDADE, BONDADE
O primeiro
cacho de frutos do Espírito era de relacionamento com Deus que outras pessoas
podem ver. Por isso falamos do amor de Deus, da alegria do Senhor e da paz de
Deus. O segundo cacho
– longanimidade, benignidade e bondade – traz em si a idéia de que tipo
de cristãos somos em nosso relacionamento com outras pessoas. Se nós perdemos
facilmente as estribeiras, somos indelicados ou grosseiros, então nos falta o
segundo cacho do fruto do Espírito. Mas quando o Espírito tem controle sobre
nós, Ele age em nós até que os botões de longanimidade, benignidade e bondade
comecem a florir em nós e depois dar fruto.
O Fruto do Espírito: Longanimidade
A palavra longanimidade (paciência, na Bíblia na
Linguagem de Hoje) vem de uma palavra grega que tem a idéia de
imperturbabilidade diante de provocações. O conceito de paciência sob maus
tratos, sem ficar com raiva nem nutrir pensamentos de vingança ou retribuição,
também é inerente à palavra. Esta parte do fruto do Espírito se evidencia assim
no relacionamento com nossos vizinhos. É a paciência personificada – a
paciência do amor. Se nós somos irritadiças, vingativos, ressentidos ou
maldosos com nossos vizinhos, então temos "curtanimidade", e não
longanimidade. Neste caso não estamos sob o controle do Espírito Santo.
A paciência é o
brilho transcendente de um coração amoroso e meigo que é gentil e delicado
quando trata os que vivem ao seu redor. A paciência julga os erros dos outros
com delicadeza, carinho e compreensão, sem criticismo injusto. Paciência também
é perseverança – a capacidade de suportar fadiga, pressão e perseguição
enquanto faz o trabalho do Senhor.
Paciência faz
parte da imagem de Cristo, que nós admiramos tanta em outros sem exigi-la de
nós mesmos. Paulo nos ensina que nós podemos ser "fortalecidos com todo o
poder, segundo a força da sua glória, em toda a perseverança e longanimidade;
com alegria" (Sal.
1:11). A paciência provém do poder de Deus, baseado na nossa disposição
de aprendê-la. Se nós somos egoístas, se raiva ou má vontade se manifestam, se
a impaciência ou a frustração querem nos dominar, temos de reconhecer que a
causa dos problemas somos nós, e não Deus. Devemos recusar, renunciar e
repudiar a situação imediatamente. Isto vem da nossa natureza pecaminosa.
Paciência e Provas
A paciência
está relacionada na Bíblia bem de perto com provas e tentações, o que é lógico.
Ser paciente na vida normal é fácil, mas e quando vêm as dificuldades? Nestas
horas é que nós mais precisamos do fruto do Espírito – paciência. A Bíblia diz
que esta é uma das vantagens das dificuldades: porque nos fazem mais fortes,
deixando que o Espírito desenvolva a paciência em nós. "Meus irmãos, tende
por motivo de toda a alegria o passardes por várias provações, sabendo que a
provação da vossa fé, uma vez confirmada, produz perseverança" (Tiago 1:2,
3).
Se isto é
verdade, então nós devemos dizer bem-vindo às provações e dificuldades, quando
elas vêm, porque nos obrigam a recorrer cada vez mais à fonte de toda força,
produzindo mais paciência, que é fruto do Espírito. Exercitando paciência e
longanimidade nas pequenas frustrações e irritações diárias, estaremos
preparados para resistir nas grandes batalhas.
A erosão do
coração nos faz vulneráveis aos ataques astutos a muitas vezes disfarçados de
Satanás. Mas o coração que aprendeu a recorrer imediatamente ao Espírito Santo, pela oração, ao primeiro sinal da
tentação não terá razão para temer esta erosão, esta derrota. Em pouco tempo a
oração será tão automática e espontânea que a teremos pronunciado antes de
vermos a necessidade. A Bíblia diz que devemos ser "pacientes na
tribulação, na oração perseverantes" (Rom. 12:12). Na minha opinião, a
melhor hora para orar é no momento em que somos ameaçados por uma situação
tensa ou uma atitude não espiritual. Deus Espírito Santo está sempre presente,
pronto para me ajudar a vencer as batalhas espirituais, grandes ou pequenas.
Mas para a oração se tornar uma reação involuntária ou subconsciente ao
problema eu tenho de praticá-la, voluntária e conscientemente, cada dia, até
que ela se torne uma parte integrante do meu ser.
Um amigo e
conselheiro uma vez me disse que muitas vezes o maior teste que enfrentamos, a
maior provação é quando perguntamos a Deus: "Por quê?"
Charles Hambree
afirmou que "no meio da aflição é difícil ver um sentido nas coisas que
nos acontecem, e ficamos com vontade de questionar a justiça de um Deus fiel. E
exatamente estes momentos rodem ser os mais significativos de nosso vida".1
Paul Little, um dos maiores
servos de Deus, morreu em um acidente automobilístico em 1975. Eu logo
perguntei a Deus: "Por quê?" Paul era um dos melhores homens de Deus
para trabalhar com jovens, e para ensinar a Bíblia. Era professor em faculdade
teológica, um dos líderes da Aliança Bíblica Universitária e ex-membro da nossa
equipe. Tenho certeza que sua esposa, Marie, fez esta mesma pergunta na agonia do seu coração. Mas
quando ela participou alguns meses depois de um retiro espiritual da nossa
equipe, ela evidenciou um espírito maravilhoso, contando sua vitória às
mulheres da nossa equipe. Ao invés de nós a confortarmos, ela é que estava nos
confortando.
Nós sofremos
aflições ou disciplina, mas o salmista diz: "Ao anoitecer pode vir o
choro, mas a alegria vem pela manhã" (Sal. 30:5). Nenhum cristão cheio do
Espírito deixará de ser longânimo e paciente se perseverou fielmente na
"comunhão dos seus sofrimentos"(Filip. 3:10).
Deus permite
que passamos por purificação, disciplina, aflições e até perseguições, para que
o fruto apareça em nossa vida. Se os irmãos de José, que o odiavam, não o
tivessem vendido como escravo, se Potifar não o tivesse acusado injustamente,
colocando-o na prisão, ele não teria desenvolvido o fruto de paciência e
longanimidade que seria sua característica pessoal por toda a vida. Mesmo
depois de dizer ao copeiro do faraó que voltaria à corte real e pedir-lhe que
falasse a faraó da sua prisão injusta, teve de permanecer mais dois anos na
prisão.
Às vezes parece
que Deus demora muito para nos atender, pois nós confiamos nEle, mas Ele nunca
vem tarde demais. Paulo escreveu: "Porque a nossa leve e momentânea
tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima de toda
comparação" (2 Cor. 4:17). Jesus disse a Seus discípulos: "Pela vossa
perseverança ganhareis as vossas almas" (Lucas 21:19, IBB). Esta é a
longanimidade e a paciência que o Espírito Santo usa para abençoar outros.
Falando sobre
longanimidade temos de tomar cuidada em relação a um perigo. Às vezes nós a
usamos como desculpa por não termos tomado uma atitude que se esperava de nós.
Às vezes nos contentamos com um tipo de auto-flagelação neurótica por não
querermos enfrentar a verdade, que erradamente chamamos de longanimidade. Mas
Jesus, com violência, "expulsou todos os que venciam e compravam no
templo; também derrubou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam
pombas" (Mat. 21:12). Também castigou com furor os escribas e fariseus
(Mat. 21:13 ss.). O cristão cheio do Espírito sabe quando arder em "ira
santa" e quando ser paciente, e sabe também quando a longanimidade se
transformou em desculpa da inatividade ou uma muleta para disfarçar um defeito
de caráter.
O Fruto do Espírito: Benignidade
Benignidade, ou
ternura, ou delicadeza, é o segundo gomo do fruto que aparece externamente.
Este termo vem de uma palavra grega que entende toda a nossa natureza permeada
de gentileza. Delicadeza acaba tudo que é rude e grosseiro. Podemos até
chamá-la de amor que permanece.
Jesus era uma
pessoa gentil. Quando Ele nasceu havia poucas instituições de caridade no
mundo. Havia poucos hospitais ou clínicas psiquiátricas, poucos albergues para
os pobres, poucos orfanatos e poucos abrigos para os desamparados. Comparando
com a nossa, aquela era uma época cruel. Cristo mudou isto. E a todos os
lugares onde o cristianismo chegou seus seguidores praticaram ações de
benignidade e delicadeza.
A palavra
aparece poucas vezes em nosso Bíblia em português, mas há versículos que a
creditam às três pessoas da Trindade. Salmo 18:35 fala da clemência ou benignidade
de Deus; 2 Coríntios 10:1 da benignidade de Cristo; e Gálatas 5:22 da
benignidade do Espírito Santo.
Charles Allen
faz a seguinte observação: "No nosso desprezo pelo pecado podemos nos
tornar rudes e grosseiros com o pecador. ... Algumas pessoas parecem ser tão
apaixonadas pela justiça que não têm mais lugar para a compaixão pelos que
caíram".2
Como é fácil
ser impaciente ou indelicado com os que falharam na vida! Quando começou o
movimento hippie nos
EUA, muitas pessoas reagiram com uma atitude crítica e sem amor diante dos hippies em si. A Bíblia nos
ensina outra coisa. Jesus os teria tratado com "benignidade"
carinhosa. As únicas pessoas que Ele tratou com rudeza foram os líderes
religiosos hipócritas, mas com todas os outros Ele era maravilhosamente gentil.
Muitos pecadores à beira do arrependimento foram desiludidos por um
cristianismo farisaico e friamente rígido, preso a um código religioso
legalista que não inclui a compaixão. Jesus agia com ternura, gentileza e
carinho. Mesmo crianças pequenas experimentaram isto, e se aproximavam dEle
ansiosas e sem medo.
Paulo disse a
seu jovem amigo Timóteo: "O servo do senhor não deve brigar. Mas deve ser
delicado para com todos" (2 Tim. 2:24, BLH). Tiago disse: "A
sabedoria que vem do alto é antes de tudo pura; e é também pacífica, bondosa e
amigável" (Tiago 3:17, BLH).
Alguns dizem
que delicadeza é um sinal de fraqueza, mas eles estão errados! Abraham Lincoln era famoso
por sua humildade e delicadeza, e nunca poderemos dizer que ele era fraco. Pelo
contrário, o grande homem que ele foi resultou da combinação da sua grande
força de caráter com seu espírito gentil e compassivo.
Em Fruits of the Spirit (Frutos do Espírito) Hembree
diz assim: "Nesta época de mísseis teleguiadas e pessoas mal-guiadas precisamos
desesperadamente aprender a sermos gentis. Parece estranho que em uma era em
que alcançamos a lua, enviamos sinais a planetas distantes e recebemos
fotografias tiradas de satélites em órbita seja tão difícil comunicar ternura
com os que estão ao nosso redor."3
O lugar mais óbvio para
buscar orientação e instrução para estes usos do Espírito é o ministro no
púlpito, e a grande necessidade desta geração tem de ser tratada em sermões com
autoridade. Mas não importa quão eloqüente, bem preparado e dotado um pastor
seja; se não tiver carinho e delicadeza em sua maneira de tratar as pessoas ele
será incapaz de levar muitas pessoas a Cristo. Um coração gentil é um coração
contrito – um coração que chora pelos pecados dos maus e pelos sacrifícios dos
bons.
O Fruto do Espírito: Bondade
O terceiro
elemento deste trio é bondade. Esta palavra é derivada de um termo grego que se
refere à qualidade das pessoas que são dirigidas e desejam o que é bom, que
representa os mais elevados valores éticos e morais. Paulo escreve:
"Porque o fruto da luz consiste em toda a bondade, e justiça, e
verdade" (Efés. 5:9). Diz também: "Por isso também não cessamos de
orar por vós, para que o nosso Deus vos torne dignos da sua vocação, e cumpra
com poder todo propósito de bondade e obra de fé; a fim de que o nome de nosso
Senhor Jesus seja glorificado em vós" (2 Tess. 1:11,12). Paulo diz ainda,
elogiando a igreja em Roma: "Certo estou, meus irmãos, sim, eu mesmo, a
vosso respeito, de que estais possuídos de bondade, cheios de todo o
conhecimento, aptos para vos admoestardes uns aos outros" ( Rom. 15:14).
Eu já disse em
outro capítulo que no terreno atrás da nossa casa nós temos algumas fontes de
água. De uma delas jarra a água que supre o nosso reservatório, pura e que
nunca cessa de correr. O homem que analisou a água elogiou-a, dizendo que era a
água mais pura que já tinha achado. Assim como a boa fonte, um bom coração
nunca cessa de jorrar bondade.
A palavra "bom" no
entender da Escritura significa literalmente "ser como Deus", porque
Ele é o único que é perfeitamente bom. Uma coisa é ter padrões éticos elevados,
outra coisa é a bondade que o Espírito Santo produz, que tem suas raízes em
Deus. O significado deste fruto é mais amplo do que simplesmente "fazer o
bem". Bondade é mais que isto. Bondade é amor em ação. Não somente traz em
si a idéia de justiça, mas demonstra esta justiça, este "fazer o que é
certo" vivendo diariamente no Espírito Santo. É fazer o bem a partir de um
coração bom, é agradar a Deus sem esperar medalhas ou recompensas. Cristo quer
que este tipo de bondade seja o normal em cada cristão. Os homens não podem
achar substituto para a bondade, e nenhum artista em retoques espirituais pode
imitá-la.
Thoreau
escreveu o seguinte: "Se alguém não mantém o passo com seus companheiros,
é talvez porque ele esteja ouvindo um outro tambor. Deixe-o andar de acordo com
a música que ele ouve, mas comedido, ou longe dos outros."4 Como cristãos nós não
temos outra alternativa a não ser marchar no ritmo dos tambores do Espírito
Santo, nos passos comedidos da bondade, o que agrada a Deus.
Nós podemos
fazer boas obras e dar testemunho aos que vivem ao nosso redor de que temos
algo "diferente" em nosso vida, praticando os princípios da bondade –
algo diferente que talvez eles mesmos também queiram ter. Talvez até sejamos
capazes de mostrar a outros como praticar os princípios da bondade. Mas a
Bíblia diz: "O vosso amor é como a nuvem da manhã, e como o orvalho da
madrugada, que cedo passa" (Oséias 6:4). A verdadeira bondade é "fruto
do Espírito", e nunca teremos sucesso tentando consegui-la com força e
esforço próprios.
Devemos tomar
cuidado: qualquer traço de bondade que o mundo vê em nós deve ser genuíno fruto
do Espírito, e não um substituto falsificado, para que não levemos ninguém
inconscientemente para um caminho errado.
Nunca devemos
esquecer que Satanás pode se aproveitar de qualquer esforço humano e torcê-lo
para que sirva para seus propósitos; mas ele não pode nem tocar o espírito que
está coberto do sangue de Cristo, e firmado profundamente no Espírito Santo.
Somente o Espírito pode produzir a bondade que é a toda prova.
A bondade nunca
se manifesta sozinha neste grupo de facetas externas do fruto do Espírito, mas
é sempre acompanhada por paciência e delicadeza. Estes três andam juntos e
estavam maravilhosamente visíveis nAquele que é o exemplo perfeito do que você
e eu devemos ser. Pelo poder do Espírito Santo estes traços de caráter se
tornam parte da nossa vida, para que possamos lembrar outros dEle.
Billy Graham
Do Livro, O Espirito Santo
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