Um missionário
inglês morreu na Índia no começo deste século. Assim que ele estava morto, seus
vizinhos arrombaram sua casa e começaram a levar tudo que era dele. O cônsul
inglês foi comunicado, e como não havia fechadura na porta da casa do
missionário, ele colou sobre ela uma grande falha de papel, que carimbou com a
selo, o lacre da Inglaterra. Os saqueadores não se arriscaram a quebrar o
lacre, porque a nação mais poderosa do mundo o garantia.
O selo do
Espírito Santo é um de uma série de acontecimentos simultâneos ao nosso
arrependimento e recebimento do Senhor como Salvador, sem nós o percebermos. Em
primeiro lugar, é claro, Deus nos regenerou e justificou. Em segundo lugar, o
Espírito nos batizou no corpo de Cristo. Em terceiro lugar, o Espírito
imediatamente se instalou nos nossos corações. Neste e nos próximos capítulos
enfocaremos outras coisas que acompanham nossa salvação, além da Sua atuação
contínua em nós.
O Selo
O quarto acontecimento
a Bíblia chama de "Selo". Esta palavra traduz um termo grego que quer
dizer confirmar ou imprimir. Três vezes a palavra é usada no Novo Testamento em
relação aos crentes. É também mencionada na vida de Jesus. João diz:
"Neste (Jesus), Deus, o Pai, imprimiu o seu selo" (João 6:27, IBB).
Aqui vemos que o Pai selou o Filho.
No momento da
conversão os crentes são selados com o Espírito para o dia da redenção:
"Tendo nele (no evangelho) também crido, fostes selados com o santo
Espírito da promessa" (Efés. 1:13; cf. 4:30).
Parece-me que
Paulo tinha duas idéias em mente quando fala de nós sermos Selados com o
Espírito Santo. Uma é segurança, a outra propriedade. Ser Selado, no sentido de
segurança, é ilustrado no Antigo Testamento, quando o rei Dario colocou Daniel
na cova dos leões, pôs uma pedra sobre a entrada e a lacrou com seu selo (Dan.
6:17) para que Daniel não saísse. Nos tempos antigos, como por exemplo no tempo
da rainha Ester (Ester 8:8), os reis também costumavam colocar com um anel sua
marca ou selo em cartas e documentos escritos em seu nome. Depois de feito
isto, ninguém podia reverter o que estava escrito ou dar ordens em contrário.
Pilatos fez a
mesma coisa quando deu ordens aos soldados para guardarem o túmulo de Jesus.
Ele disse aos sacerdotes: "Aí tendes uma escolta; ide e guardai o sepulcro
como bem vos parecer. Indo eles, montaram guarda ao sepulcro, selando a pedra e
deixando ali a escolta" (Mat. 27:65, 66). A palavra "selo" usada
nesta passagem é a mesma, no grego, usada em passagens que falam do selo do
Espírito Santo.
A. T. Robertson diz que o selo na
pedra do sepulcro era "provavelmente uma corda presa sobre a pedra e
lacrada em cada ponta à rocha da caverna, como em Daniel 6:17. Isto foi feito
na presença da guarda romana, encarregada de proteger esta marca de autoridade
e poder de Roma".1
Quando o Espírito Santo nos sela ou põe em nós Sua marca, nós estamos seguros
em Cristo de uma maneira muito mais significativa.
Um dos
pensamentos mais eletrizantes que já passou por minha mente foi a consciência
de que o Espírito Santo me selou. E ele selou você também – se você for um
crente.
Nada pode tocar
em você. "Porque estou bem certo de que nem morte, nem vida, nem anjos,
nem principados, nem coisas do presente, nem do porvir, nem poderes, nem
altura, nem profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do
amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor" (Rom. 8:38, 39).
Mas este selo
do Espírito significa mais que segurança, Significa também propriedade. Lemos
no Antigo Testamento que Jeremias comprou uma propriedade, pagou por ela diante
de testemunhas e selou o documento de acordo com a Lei e os costumes (Jer.
32:10). Agora ele era o proprietário.
A alusão ao
selo como prova de compra deve ter sido especialmente significativa para os
efésios. Éfeso era um porto marítimo, e havia intenso comércio de madeira com
os portos vizinhas. O método usado na compra era este: o mercador, depois de
escolher a madeira, carimbava-a com seu anel, seu sinete – uma prova
reconhecida de propriedade. No tempo devido, o mercador enviava um encarregado
de confiança, com o sinete; este localizava todos os troncos que tinham a mesma
marca e os levava.
Matthew Henry resume a idéia
assim: "Os crentes são selados por Ele (o Espírito Santo), ou seja,
separados para Deus, colocados à parte, distinguidos com a Sua marca, pois
pertencem a Ele."2
Você e eu somos
propriedade de Deus para Sempre!
O Penhor
Quando
confiamos em Cristo, Deus não nos dá o Espírito somente como selo. Ele é também
o penhor (algumas traduções trazem "garantia") de acordo com
passagens como 2 Cor. 1:22 e Efésios 1:14.
"Porque é
o Próprio Deus que nos dá a certeza, com vocês, de nossa vida em Cristo. E foi
Deus quem nos separou para si mesmo. Como dono, pôs sua marca (selo) em nós, e
colocou o Espírito Santo em nossos corações como garantia de tudo o que ele tem
para nós" (2 Cor. 1:21, 22).
Nos tempos do
apóstolo Paulo os comerciantes usavam penhores com três finalidades: como
pagamento adiantado, "entrada" que fechava um negócio; representava
um compromisso de pagamento, e era uma amostra do que haveria de vir.
Imagine que
você esteja querendo comprar um carro. O penhor seria a entrada que você paga,
fechando o negócio. Representaria também o compromisso de pagar o carro. E
seria urna amostra do que seguiria – as parcelas restantes do dinheiro. De
maneira semelhante o Espírito Santo é o penhor de que Deus nos comprou, a
garantia. Sua presença mostra o compromisso que Deus assumiu de nos redimir
completamente. Talvez o melhor de tudo, a presença do Espírito Santo, vivendo
em união conosco, nos dá um gosto antecipado, uma amostra de nossa herança, da
nossa vida futura na presença de Deus.
Em Números 13,
quando os espias de Israel partiram para olhar a terra de Canaã, era a época
das primeiras uvas maduras. "Vieram até ao vale de Escol, e dali cortaram
um ramo de vide com um cacho de uvas" (Núm. 13:23). Este eles levaram
consigo para mostrar ao povo de Israel. O cacho de uvas era o penhor da sua
herança. Era um pequeno antegosto do que os esperava na Terra Prometida. Era a
garantia de Deus de que se eles marchassem adiante em fé, receberiam
completamente o que agora tinham só em parte.
Recentemente
uma das maiores lojas de mantimentos de Nova Iorque expôs um cesto de belíssimas
uvas na vitrine. Sobre o cesto havia um cartaz: "Esperamos para os
próximos dias um caminhão de uvas como estas." As uvas eram um
"penhor" do que haveria de vir. As primícias, comparadas com a
colheita toda, são somente um punhado; assim, concluindo do conhecido para o
desconhecido, perguntamos com o poeta :
"O que Tua presença há de ser,
Seja na terra
um tal prazer
Coroa a vida
em Ti?"
O Novo
Testamento fala três vezes do penhor do Espírito:
1) "(Deus)
também nos selou e nos deu o penhor do Espírito em nossos corações" (2
Cor. 1:22). A presença do Espírito em nossa vida é a garantia de que Deus vai
cumprir Sua promessa.
2) "Ora,
foi o próprio Deus quem nos preparou para isto, outorgando-nos o penhor do
Espírito" (2 Cor. 5:5). Aqui o contexto dá a idéia de que o Espírito em
nós é a garantia de que Deus nos dará corpos espirituais quando Jesus vier.
3) "(O
Espírito Santo) é o penhor da nossa herança até ao resgate da Sua propriedade,
em louvor da Sua glória" (Efés. 1:14). Nesta passagem o Espírito é a prova
de que Deus garante a nossa herança até que o futuro traga a redenção total dos
que são propriedade de Deus.
Em resumo,
podemos dizer que quando somos batizados no corpo de Cristo, o Espírito entra
em nossas vidas e nos sela através da Sua presença. Ele é a garantia de Deus,
dando-nos certeza de que nossa herança virá.
A conclusão
sobre este assunto nos é fornecida por Matthew Henry: "A garantia (esta é a palavra usada pelo Novo
Testamento na Linguagem de Hoje para penhor) é parte de pagamento, que assegura
o pagamento integral. A mesma coisa acontece com o dom do Espírito Santo; toda
a sua influência e atuação, santificando e confortando, tem sua origem no céu e
é glória em semente e botão. A iluminação do Espírito é garantia (penhor) de
luz eterna; a santificação é garantia de santidade perfeita; Seu conforto é
garantia de alegrias eternas. Ele é a garantia até a redenção da propriedade que foi comprada. Já podemos falar de
propriedade, porque a garantia dá tanta certeza aos herdeiros como se já a tivessem;
foi comprada para eles pelo sangue de Cristo. Fala-se de redenção, de resgate,
porque ela foi confiscada e hipotecada pelo pecado; Cristo a devolve a nós. É
resgate em alusão à lei da redenção."3
O Testemunho do Espírito
O Espírito
Santo não é somente nosso selo e penhor, mas também é o testemunho dentro de
nós, dando-nos certeza da realidade da nossa salvação em Jesus Cristo. Jesus
falava pessoalmente com Seus discípulos e lhes transmitia segurança enquanto
estava com eles. De maneira semelhante o Espírito Santo testemunha aos e nos
corações de todos os crentes verdadeiros. Diversas passagens do Novo Testamento
tocam neste assunto.
Em 1º lugar a
Escritura ensina que o Espírito Santo é
testemunha do caráter decisivo e da suficiência da expiação de Jesus Cristo.
Lemos isto em Hebreus 10:15-17, onde o autor bíblico contrasta a ineficácia dos
sacrifícios levíticos que sempre se repetiam com o sacrifício de Cristo, que
foi oferecido um por todos e de uma vez por todas. Nunca a nossa
consciência receberia alívio completo do peso do pecado por sacrifícios de
animais, Por outro lado, "com uma única oferta (Jesus Cristo) aperfeiçoou
para sempre quantos estão sendo santificados. E disto nos dá testemunho também
o Espírito Santo" (Heb. 10:14,15). Este testemunho está ligada a Jeremias
31: "Perdoarei as suas iniqüidades e dos Seus pecados jamais me
lembrarei" (v. 34). Já que este testemunho está impresso na Palavra
escrita de Deus que nunca muda, o conforto que ele nos dá nos liberta do medo
através de cada mudança dos tempos.
Em segundo
lugar a Escritura ensina que o Espírito Santo
nos dá testemunho de que nós nos tornamos filhos de Deus, pela
fé em Jesus Cristo e no que Ele fez na cruz. "O próprio Espírito testifica
com o nosso Espírito que somos filhos de Deus" (Rom. 8:16). Nós não só
fomos salvos e batizados no corpo de Cristo, mas também fomos adotados na
família de Deus. "E, porque vós sois filhos, enviou Deus aos nossos
corações o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai. De sorte que já não és
escravo, porém filho; e, sendo filho, também herdeiro por Deus" (Gál. 4:6,
7). Nós podemos exclamar: Aba, Pai, porque o Espírito testifica que nós somos
filhos de Deus. Esta é a Carta Magna da libertação do cristão do poder do
pecado para os privilégios e a riqueza de Cristo. A declaração de que nós somos
filhos é repetida muitas vezes. Você e eu deveríamos untar todo dia : "Eu
sou filho do Rei".
C. S. Lewis escreveu
sobre o relacionamento pessoal entre o cristão e Deus nestes termos:
"Colocar-nos num nível pessoal com Deus, sem autorização, é em si nada
mais que presunção e ilusão. Mas a Bíblia nos ensina que é Deus que nos coloca
nesta posição. Porque é pelo Espírito Santo que nós clamamos 'Pai'. Descobrindo
e confessando nossos pecados e 'fazendo conhecidos' os nossos pedidos, nós
assumimos a alta posição de pessoas diante dEle. E Ele, descendo, Se torna
Pessoa para nós."4
Assim, o
cristão tem no Espírito Santo uma testemunha dentro dele. "Aquele que crê
no Filho de Deus tem em si o testemunho" (1 João 5:10). Ninguém mais se
lembrará dos nossos pecados. A família celestial nos adotou, O Espírito dá
testemunho de que como crentes no Senhor Jesus Cristo nós temos vida eterna.
Por último, a
Escritura ensina que o Espírito Santo dá
testemunho da verdade de cada promessa que Deus nos faz em Sua Palavra.
O Espírito, que
inspirou a Palavra escrita de Deus, também atua em nossos corações para nos dar
a certeza de que as promessas são verdadeiras e que valem para nós. Nós sabemos
que Cristo é nosso Salvador porque a Bíblia o diz e o Espírito o confirma. Nós
sabemos que nos tornarmos filhos de Deus porque a Bíblia o diz e o Espírito
novamente é quem nos dá a certeza disto. "Quando vier, porém, o Espírito
da verdade, ele vos guiará a toda a verdade" (João 16:13). "A tua palavra
é a verdade" (João 17:17).
Às vezes converso com
pessoas que me dizem não ter certeza da sua salvação, Quando lhes faço mais
perguntas, geralmente eu descubro que não estiveram dando tempo à Palavra de
Deus. "E o testemunho é este, que Deus nos deu a vida eterna; e esta vida
está no Seu Filho. Aquele que tem o Filho tem a vida; aquele que não tem o
Filho de Deus não tem a vida. Estas coisas vos escrevi a fim de saberdes que tendes a vida eterna, a vós outros
que credes em o nome do Filho de Deus" (1 João 5:11-13, grifo meu).
O Espírito dá
testemunho a nossos corações, convencendo-nos da verdade da presença e
segurança de Deus. Isto é muitas vezes difícil de explicar a um descrente, mas
crentes sem conta sabem da certeza que o Espírito dá a Seus corações.
John Wesley, o fundador da
Igreja Metodista, certa vez fez esta observação: "É difícil achar palavras
na língua humana para explicar as profundas coisas de Deus. Na verdade não há
ninguém que possa expressar adequadamente o que o Espírito de Deus opera em
seus filhos. Mas... pelo testemunho do Espírito, quero dizer, por uma impressão
interior, o Espírito de Deus fala ao meu espírito imediata e diretamente que eu
sou filho de Deus; que Jesus Cristo me amou e deu a Si mesmo por mim; que todos
os meus pecados foram apagados e eu, até mesmo eu, estou reconciliado com
Deus."5
Podemos ver,
então, que Deus nos lacra com Seu selo quando nós recebemos a Cristo. Este selo
é uma Pessoa – o Espírito Santo. Pela presença do Espírito Deus nos dá
segurança e nos marca como Sua propriedade. Além disto o Espírito é o penhor
divino. Além de selar o contrato, ele representa o compromisso voluntário de
Deus de não nos iludir. E união com o Espírito é uma amostra do que podemos
esperar quando recebermos nossa herança no céu.
E o Espírito
nos dá testemunho, através da Sua Palavra e dentro dos nossos corações, que
Cristo morreu por nós e que pela fé nEle nós nos tornamos filhos de Deus. Que
coisa maravilhosa saber que nós temos o Espírito como selo – penhor – e
testemunho! Que cada um destes três nos dê nova certeza do amor de Deus por
nós, e confiança na tentativa de viver por Cristo. E que digamos com o apóstolo
Paulo: "Graças a Deus pelo seu dom incomparável" (2 Cor. 9:15, BLH).
Billy Graham
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