Billy Grahan
Freqüentemente
pessoas me perguntam: "Como posso ficar cheio do Espírito?" Nós
recebemos a ordem de ficar cheios, mas como vamos obedecer? Como a presença e o
poder do Espírito Santo podem se tornar reais em nossa vida? Este é o
ponto-chave do problema. Tudo que eu disse até aqui sobre ficar cheio do
Espírito será somente um artigo interessante, sem relação direta com nossa
vida, se não fizermos nós mesmos a experiência: ficar cheio do Espírito.
É interessante
que em nenhum lugar a Bíblia nos dá uma fórmula clara e concisa de como ficar
cheio do Espírito. Eu creio que isto é assim porque a maioria dos crentes do
primeiro século não precisavam que alguém lhes dissesse isto. Eles sabem que a
vida normal do cristão é uma vida cheia do Espírito. O fato de nós estarmos tão
confusos sobre este assunto hoje em dia é uma prova triste do baixo nível
espiritual da nossa vida.
Apesar de a
Bíblia não dizer muita coisa sobre este assunto, quando tomamos o Novo
Testamento como um todo sobrarão poucas dúvidas em nossa mente sobre o que
significa ter uma vida cheia do Espírito, ou como ela pode se tornar real em
nós. Eu creio que o ensino do Novo
Testamento sobre como ficar cheio do Espírito Santo pode ser resumido em três
expressões: compreensão, submissão e andar pela fé.
Compreensão
O primeiro
passo para ficar cheio do Espírito é compreensão;
há certas coisas que nós precisamos saber e compreender – verdades que Deus
revelou em Sua Palavra, a Bíblia. Algumas destas verdades já foram mencionadas,
mas vamos recapitulá-las para ter certeza de que as sabemos bem. Quais são
elas?
A primeira
verdade que precisamos compreender é que Deus nos deu o Seu Espírito Santo, e que Ele mora em nós.
Se eu aceitei a Cristo como meu Salvador, o Espírito de Deus habita em mim.
Lembre-se – eu não preciso necessariamente sentir
Sua presença, mas isto não quer dizer que Ele esteja ausente. Precisamos
compreender que Sua presença é um fato.
Deus prometeu que o Espírito viveria em todos os que pertencem a Cristo, e Deus
não pode mentir. Nós aceitamos este fato
pela fé.
Também devemos
compreender que Deus ordena que nós fiquemos cheios do Espírito. Isto significa
que é Sua vontade que você fique cheio – e recusar-se a ser cheio é agir contra
a vontade de Deus. É uma ordem Sua, e por isso é Sua vontade. Talvez assim
fique ainda mais claro: Deus quer nos encher com Seu Espírito. Isto é algo
maravilhoso para mim. Deus não nos dá uma medida cheia do Espírito resmungando
ou de má vontade. Não, Ele quer que nossas vidas sejam controladas e guiadas
pelo Espírito Santo. "Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar boas dádivas
aos vossos filhos, quanto mais o Pai celestial dará o Espírito Santo aos que
lho pedirem" (Lucas11:13). Se você não está cheio do Espírito, tenha
certeza de que não é porque Deus não quer. A culpa é totalmente sua.
Isto nos leva a
outro ponto que devemos compreender, que é a presença do pecado em nossa vida.
O que é que bloqueia a atuação do Espírito em nossa vida? É o pecado. Antes de podermos ficar cheios do Espírito
Santo, temos de resolver honesta e completamente todos os pecados conhecidos em
nossa vida. Isto pode ser doloroso, quando nos dispomos a encarar coisas
que temas escondido ou nem mesmo reconhecido em nossa vida. Mas sem uma purificação
dos pecados não podemos ficar cheios do Espírito, e o primeiro passo para a
limpeza é reconhecer a presença do pecado.
A maioria de
nós deve, uma vez ou outra, ter feito a experiência de ter canos entupidos em
casa, de modo que a água só saía a conta-gotas, ou cessava de todo. Onde eu
moro, no norte da Califórnia, raramente fica bem frio, mas eu me lembro de uma
vez em que a temperatura desceu abaixo de zero. Apesar de os anos que trazem a
água da fonte na montanha estarem bem fundo abaixo da terra, eles congelaram
totalmente. Tivemos de cavar a terra dura e esquentar uma junta do cano com um
maçarico, para derreter o gelo. O pecado em nossa vida é como este gelo – nossa
vida espiritual foi "congelada" por um mundo hostil. Só há uma solução:
arrepender-se, para abrir o bloqueio e restaurar a fluência do Espírito.
Todos nós
sabemos que o "endurecimento das artérias" (arteriosclerose) é uma
das doenças perigosas que matam grande parte das pessoas. As artérias vão
ficando entupidas com substâncias que ainda confundem os especialistas. Eles
ainda não sabem como desentupir estas artérias, de maneira que o sangue possa
fluir livremente de novo. A solução mais comum é "fazer um desvio",
mas as opiniões dos médicos divergem sobre este método. Em muitos países são
gastas grandes somas todo ano em pesquisa médica, para descobrir uma substância
química que desobstrua as artérias e livre da morte milhões de pessoas.
Nossa vida, da
mesma forma, precisa da substância que é o sangue de Cristo para desentupir
canos ou artérias em nó, para que a seiva vital possa fluir por eles. O pecado
é o grande obstáculo, e o sangue de Cristo é o potente agente de limpeza,
quando aplicado em arrependimento e fé.
Às vezes novos
crentes ficam confundidos ao descobrir que ainda são pecadores e que não só
continuam sendo tentados, mas até cedem à tentação. Na verdade isto não deveria
nos surpreender, porque a velha natureza de pecado ainda está em nós. Antes de
alguém vir a Cristo, só uma força está atuando dentro dele, a velha natureza
carnal. Quando aceitamos a Cristo, o Espírito Santo vem morar em nossa vida, e
agora há duas naturezas atuando em nós: a natureza pecaminosa que quer que nós
vivamos para o "eu", e a nova natureza espiritual que quer que nós
vivamos para Deus. A questão é: Qual destas naturezas decidirá nossas ações? É
por isto que é tão importante ser cheio do Espírito. Se o Espírito não
controlar nossa vida, a velha natureza pecaminosa nos dominará. A atuação do
Espírito estará bloqueada enquanto permitirmos ao pecado que fique.
Portanto, temos
de acabar com o pecado em nossa vida para saber como é ser cheio do Espírito.
Isto não é fácil, por diversas razões. Uma, que pode ser muito penoso encarar o
pendo. Geralmente a raiz dos nossos pecados é o orgulho, e nosso orgulho fica
profundamente ferido quando admitimos honestamente, diante de Deus e diante dos
homens, que não somos tão bons como pensávamos que fôssemos.
Também é
difícil acabar com o pecado porque (como veremos adiante) não é suficiente
conhecer o pecado, mas temos de nos arrepender dele. Alguns de nós
possivelmente estão escondendo pecados, tolerando-os, não querendo deixar
deles. Como o jovem rico legalista, em Marcos 10, nós queremos o que Jesus nos
oferece, mas queremos ainda mais nos apegar a nosso pecado.
Ainda há outra
razão que dificulta a extirpação do pecado do nosso coração, que é muito
simples: o pecado nos cega espiritualmente, e ficamos cegos principalmente
quanto ao horror do pecado. Não vemos o quanto ele penetrou em cada área do
nosso ser, e como infeccionou tudo que dizemos, fazemos e pensamos. É muito
fácil confessar os pecados que podemos ver claramente, mas pode haver muitos
outros pecados, que não estamos veado, e que nos impedem até mais diretamente
de andar com o Senhor.
Esta é a razão
de a Bíblia ser tão inflexível neste assunto. Não devemos nos contentar com um
exame superficial, achando que só os pecados que mais nos incomodam devem ser
confessados. O Espírito Santo nos convencerá de outras áreas de pecado que
precisamos confessar a Deus, à medida que estudamos a Palavra de Deus em oração
– lembre-se que Ele é o Autor da Bíblia. Temos de confessar não só o que nós
acharmos que é pecado, mas também o que o Espírito Santo indica ser pecado,
quando de fato ouvirmos Sua voz pela Palavra de Deus. "Toda Escritura é
inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção,
para a educação na justiça" (2 Tim. 3:16).
A confissão
deve abranger todos os pecados. Os Cantares de Salomão nos advertem das
"raposinhas, que devastam os vinhedos" (2:15). Isto é um exemplo de
como "pecadinhos" porem destruir nosso fruto para o Senhor. Pode
haver orgulho, inveja ou amargura em nós. Pode ser fofoca, impaciência,
indelicadeza ou um temperamento não controlado – tudo que faça a vida dos que vivem
ao nosso redor mais difícil. Talvez você deva trazer pensamentos impuros ao
Senhor, para que Ele o limpe deles. Glutonaria ou preguiça devem ser
enfrentadas.
Talvez o
Espírito Santo esteja nos chamando à atenção pelo uso do nosso tempo, ou do
nosso dinheiro, ou sobre o nosso estilo de vida, ou sobre o uso (ou abuso) de
algum dom que Ele nos deu. Pode ser que estejamos tratando com frieza e
indiferença uma pessoa chegada a nós. Em outras palavras, devemos trazer a Deus
qualquer pecado que consigamos identificar, para que seja confessado. O pecado
existe sob qualquer forma, e o Espírito deve nos guiar quando examinamos nossa
vida em oração.
Recentemente um
jovem veio falar comigo, dizendo que tinha perdido o Espírito Santo. Eu lhe
respondi que ele não tinha perdido o Espírito Santo, mas talvez O tenha
entristecido com algum pecado específico. Ele disse que não Se lembrava de
nenhuma coisinha que pudesse estar entre ele e Deus. Eu lhe perguntei:
"Como está seu relacionamento com seus pais?" "Bem, não é dos
melhores", foi sua resposta. Eu cavei mais fundo e perguntei: "Você
honra seu pai?" Ele concordou que tinha pecado nesta área. Eu disse a ele:
"Por que você não vai e tem uma conversa franca e direta com ele,
confessando seu pecado, caso você esteja errado?" Ele fez isto, e alguns
dias depois voltou com um grande sorriso, dizendo: "Relacionamento
restabelecido".
Há ainda outra
afirmação a ser feita sobre confissão de pecados. Temos de ser honestas quanto
aos vários pecados que cometemos, mas o maior de todas é – que não deixamos
Cristo governar nossa vida. A pergunta
mais básica que um cristão pode fazer é esta: Quem está dirigindo minha vida,
eu ou Cristo?
Enquanto
tentarmos manter o "eu" no centro das nossas vidas, o pecado será
sempre um problema sem solução, e nossa vida será marcada por derrotas e
desânimo. É impressionante quantos cristãos não querem se submeter ao senhorio
de Cristo, e o Novo Testamento está cheio de afirmações de Cristo exigindo
nossa entrega total. "Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue,
dia a dia tome a sua cruz, e siga-me" (Lucas 9:23). Como é fácil para nós
fixar nossos próprios objetivos, agir conforme nossos próprios objetivos, agir
conforme nossos próprios motivos, satisfazer nassas próprios desejos, sem sequer
perguntar a Deus qual é Sua vontade. Ele nos diz que devemos renunciar a nossos
planos e hábitos, e seguir a Ele. Ele nos diz que devemos abdicar do governo da
nossa vida, e deixá-Lo governar tudo que somos e fazemos. "Ele morreu por
todos, para que os que vivem não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que
por eles morreu e ressuscitou" (2 Cor. 5:15). Você reconheceu a maneira
completa – e trágica – com que o pecado dominou sua vida, e está disposto a
submeter tudo à autoridade e à direção de Cristo?
Temos de
compreender também que o Espírito Santo está em nós, e que Deus quer que nossa
vida seja controlada por Ele. Antes temos de compreender nosso pecado em toda
sua dimensão. E o que mais precisamos é responder à pergunta crucial: Quem está
controlando nossa vida – nós ou Cristo? Só quando compreendermos tudo isto
poderemos passar para o segundo passo.
Submissão
O segundo passo
para ser cheio do Espírito Santo é o que nós podemos chamar de submissão. O que eu quero dizer com
isto? Com submissão eu me refiro à renúncia aos nossos métodos, procurando
acima de tudo submeter-nos a Cristo como Senhor, ser governados por Ele em
todas as áreas da nossa vida.
Vemos a
importância disto no que foi dito antes sobre a maneira com que o pecado
bloqueia o controle do Espírito Santo. A essência do pecado é a vontade própria
– egocentrismo, ao invés de Cristocentrismo. Para sermos cheios do Espírito,
controlados e dominados por Ele, temos de colocar a Cristo no centro da nossa
vida, e tirar de lá o "eu", ou seja, submeter-nos a Ele – permitir
que Ele Se torne Senhor em nossa vida.
Como concretizar isto? Há
duas etapas para conseguir isto, a meu ver.
Em primeiro
lugar, arrepender-se
e confessar. Acabamos de constatar que uma das coisas que temos de
compreender é a profundeza do nosso pecado. Mas só compreender não é
suficiente. Temos de confessar o pecado a Deus, e nos arrepender dele. Muitas
pessoas sabem que são pecadoras, podem até fazer uma lista dos pecados que são
um problema para elas. Às vezes ficam
tristes com a situação e gostariam que as coisas fossem diferentes, mas nunca
mudam. Por quê? Porque nunca confessaram os pecados a Deus, arrependendo-se
deles.
Há uma
diferença entre confessar e se arrepender, embora a Bíblia veja as duas coisas
muito próximas uma da outra, como dois lados de uma moeda. Confessar é
reconhecer o pecado. É admitir diante de Deus que eu sei que sou pendor, porque
há certos pecados que eu sei que cometi. O maravilhoso da questão é que Deus
prometeu nos perdoar quando formos a Ele em humilde confissão. Uma das grandes
promessas da Bíblia está em 1 João 1:9: "Se confessarmos os nossos
pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda
a injustiça".
Arrepender quer
dizer renunciar ao pecado. No grego
(a língua em que o original do Novo Testamento foi escrito) a palavra
"arrepender-se" implica em uma mudança completa e radical de atitude.
É mais do que ficar sentido com o que fez, mais que confessar: arrepender-me
dos meus pecados é voltar as costas a eles e olhar para Cristo e Sua vontade.
Se eu estou
culpado de pensamentos maus, eu renuncio a eles quando me arrependo deles, e
decido, pela graça de Deus, encher minha mente com coisas que O honrem. Se eu
maltratei alguém ou o tratei de maneira pouco amorosa, eu decido fazer tudo o
que for necessário para substituir minha indelicadeza por atitudes amáveis. Se
meu estilo de vida não está agradando o Deus, eu vou mudá-lo para encaixá-lo
mais na vontade de Deus. Arrependimento é conscientemente voltar as costas para
os pecados. "Lembra-te, pois, de onde caíste, e arrepende-te" (Apoc.
2:5).
Depois de
confessar cada pecado conhecido e se arrepender dele, a segunda etapa da submissão é sujeitar-se a Deus e à Sua vontade. A
confissão e o arrependimento podem ser chamados de o lado negativo da
submissão; implicam em livrar-se de tudo que impede que Deus controle a nossa
vida. Sujeitar-se a Deus podemos chamar de o lado positivo: envolve
colocarmo-nos total e completamente (da melhor maneira que podemos) nas mãos de
Deus, em completa submissão à Sua vontade para nossa vida.
No capítulo 6
de Romanos esta etapa de sujeição é apresentada com clareza. Paulo fala
primeiro de como o pecado nos governou no passado. Mas agora nós pertencemos a
Cristo – não vivemos mais para nosso antigo dono, o pecado – vivemos agora para
Cristo, nosso novo Dono. Por isso não devemos ceder ao pecado, mas nos sujeitar
a Deus. "Nem ofereçais cada um os membros do seu corpo ao pecado como
instrumentos de iniqüidade; mas oferecei-vos a Deus como ressurretos dentre os
mortos, e os vossos membros como instrumentos de justiça" (Rom. 6:13).
Paulo continua, dizendo-nos que nós fomos libertados da escravidão ao pecado –
não pertencemos mais ao pecado. Mudamos de dono. No primeiro século um escravo
podia sem comprado a qualquer momento e assim ser propriedade de outro; da
mesma maneira nós fomos comprados pelo sangue de Cristo, e agora pertencemos a
Deus. "Uma vez libertados do pendo, fostes feitos servos da justiça"
(Rom. 6:18).
As palavras
traduzidas por "oferecei-vos a Deus" têm um significado muito bonito
na língua grega original. Outras versões as traduziram de diversas maneiras:
"Ponham-se nas mãos de Deus" (Phillips); "Entreguem-se a Deus" (BLH);
"Apresentai-vos a Deus" (IBB). O significado mais exato da palavra
"oferecer-se" é "colocar-se à disposição de alguém". Em
outras palavras, quando nós nos entregamos a Cristo não simplesmente nos
sentamos e esperamos que Deus faça alguma coisa através de nós. Não, nós nos
colocamos à Sua disposição – dizemos, com efeito: "Senhor, eu sou Teu,
para ser usado da maneira que Tu quiseres. Estou à Tua disposição, Tu podes
fazer comigo o que Te aprouver. Eu quero a Tua vontade para minha vida, não a
minha vontade." "Ponham-se à disposição de Deus!" (Rom. 6:13 em
outra versão).
O mesmo termo é
usado em Romanos 12:1:
"Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus que apresenteis os
vossos corpos por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus." Isto inclui
todas as áreas do nosso ser. Nossas capacidades, nossos dons, nossos bens,
nossa família – mente, vontade, emoções. Nada está excluída, não podemos reter
nada. Por princípio Ele deve dominar sobre nós no todo e em parte. Este
versículo nos recorda os sacrifícios do Antigo Testamento, aqueles que o
israelita apresentava totalmente a Deus. Ele não podia ficar com nenhuma parte,
tudo era consumido no altar. Nossa submissão deve ser exatamente assim –
sujeição, entrega total. É uma rendição incondicional.
Eu estou
reconhecendo cada vez mais que esta sujeição
é uma ação nossa definida e consciente, em obediência à Palavra de Deus. Na
verdade isto deveria acontecer na hora da nossa conversão, quando nos
arrependemos e recebemos a Cristo não somente como Salvador, mas como Senhor.
Mas para muitas pessoas a sujeição só vem num momento de crise, depois da
conversão.
No começo
talvez não compreendamos inteiramente o que significa seguir a Cristo como
Senhor. Mas mais tarde começamos a ver que o chamado de Jesus Cristo não é
simplesmente para crer nEle, mas para segui-Lo sem reservas, como Seus
discípulos. Quando estamos confusos quanto ao senhorio de Cristo, devemos
partir imediatamente à ação. Nossa intenção deve ser de submissão completa e
definitiva, em princípio, mesmo se o Espírito Santo, nos meses seguintes, nos
mostrar outras áreas em nossa vida que devem ser entregues. Na verdade esta é
uma das provas de que nos submetemos – colocando-nos à disposição de Deus, Ele
nos dirige a novas áreas que devem Ser entregues.
O Espírito
Santo vai nos testar muitas vezes, para ver se estamos mesmo falando sério. Ele
pode até nos pedir que entreguemos algo em princípio, que realmente Ele não
quer que entreguemos, mas que estejamos dispostos a entregar. Nós devemos Lhe
dar liberdade para fazer o que quiser em e através de nossa vida.
Algumas
ilustrações nos ajudarão a compreender melhor esta questão de entrega à vontade
de Deus. Em Romanos 6 (como vimos acima), Paulo usa a ilustração de um escravo
que agora pertence a um novo dono. O prof. William Barclay nos traz á mente o significado real da analogia
de Paulo:
"Quando
nós ouvimos a palavra servo, ou empregado, logo imaginamos um homem que dá uma
parte do seu tempo a um empregador, contra uma remuneração combinada. Durante
este tempo ele está à disposição e sob as ordens do seu empregador. Passado o
tempo, ele pode fazer o que quiser. No tempo de Paulo, um "servo"
tinha um status bem diferente. Ele não tinha, literalmente, nenhum tempo para
si. Ele não era livre por nenhum momento. Cada minuto de sua vida pertencia ao
seu dono. Ele era propriedade exclusiva de seu dono, não tinha nenhuma
oportunidade em toda sua vida para fazer o que quisesse, No tempo de Paulo um
escravo nunca poderia fazer o que quisesse; era-lhe impossível servir a dois
senhores, porque era propriedade exclusiva de um só. Este é o quadro que Paulo
tem em meme."1
O paralelo
entre o escravo do tempo de Paulo e o cristão não é bem exato, como o próprio
Paulo diz, porque em um sentido o cristão é a pessoa mais livre do mundo, desde
que conheça a liberdade espiritual que Cristo traz. Por outro lado, você e eu
somos convocados para pertencer a Deus e a Seu povo. Somos chamados para estar
à Sua disposição, prontos e dispostos para fazer Sua vontade. Paulo disse a
Tito que Cristo "deu a si mesmo por nós, para nos livrar de toda maldade e
fazer de nós um povo puro, que pertence somente a ele, e que Se dedica a fazer
o bem" (Tito 2:14, BLH).
Uma outra
ilustração talvez nos ajude a compreender completamente o que estou querendo
dizer. O princípio da entrega a Cristo é como o compromisso que noivo e noiva
assumem quando se unem no casamento. É criada uma situação nova, que se torna
realidade duradoura. Em princípio é uma ação completa e definitiva, a partir do
momento em que repetiram os votos e consumaram o casamento. Estão casados, de
fato e em princípio, mas – e isto é crucial – na prática marido e esposa
descobrem que têm de entregar constantemente suas vidas um ao outro, além do
compromisso inicial que assumiram ao casar.
Duas pessoas
não deixam de estar casadas só porque suas vidas não são perfeitas e aparecem
problemas no dia-a-dia. Ambos vão ficando mais maduros, aprendendo sempre mais
o que significa amar e ajustar-se um ao outro, em conseqüência deste amor. De
maneira semelhante, em nossa peregrinação terrestre descobrimos pecados que
minam o nosso relacionamento com Deus, mas existe um compromisso de alcançar um
padrão mais elevado, baseado em uma entrega a Deus de todo o coração.
Você já
submeteu Sua vida a Deus? Já confessou alguma vez seu pecado a Ele,
arrependendo-se dele da melhor maneira que você sabe? Você está ciente de
pecados específicos que são obstáculo para uma entrega completa? Será que em
Sua vida há outros pecados que você ainda nem admitiu que o sejam? E, mais
importante que tudo, você já disse uma vez a Deus – da maneira mais simples e
completa que você sabe – que você deseja Sua vontade para sua vida, qualquer
que seja?
Existem pessoas
que sugerem que nós devemos orar a Deus para que Ele nos encha com Seu Santo
Espírito. Isto pode ser válido, mas eu vejo pouco ou nada disto no Novo
Testamento. Eu acho que, ao invés disto, nós devemos orar que Deus tome total e
completamente conta da nossa vida. Devemos orar que o "eu" seja
tirado do nosso coração – amor próprio, vontade própria, auto-ambição – e que
nós estejamos completamente à Sua disposição.
Se você nunca
deu este passo de submissão a Deus e à Sua vontade, eu acho indispensável que
você se ponha de joelhos antes de passar para a próxima página, e entregue sem
reservas sua vida a seu Senhor e Dono. "Sê, pois, zeloso (abandona a tua
indiferença, NTV), e arrepende-te." Eis que estou à porta, e bato; se
alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e cearei com
ele e ele comigo" (Apoc. 3:19, 20).
Fé
Chegamos agora
à última etapa do ficar cheio do Espírito Santo, que eu gosto de chamar
"andar pela fé". Primeiro temos de compreender certas coisas, depois temos de nos submeter e entregar a Deus – e então temos de aprender o segredo de
andar pela fé.
O ponto central
é este: quando estamos entregues a Deus e à Sua vontade, nós estamos cheias do
Espírito Santo. O Espírito Santo nos controla e domina. Agora, a partir desta
verdade, temos de agir, e andar ou viver na certeza plena de que Deus já nos
encheu e que estarmos sob Seu controle.
O apóstolo
Paulo põe isto nestes termos: "Assim também vós considerai-vos mortos para
o pecado, mas vivos para Deus em Cristo Jesus" (Rom. 6:11). O termo grego
traduzido por "considerar" era às vezes usado no comércio e na
matemática. Depois de uma transação comercial, por exemplo, a soma em dinheiro
era registrada nos livros contábeis. Este ato era evidência de que o negócio
estava concluído e que o pagamento havia sido feito. Quando nós nos entregamos
a Cristo e O seguimos como Senhor de nossa vida, nós sabemos que alguma coisa
aconteceu. O Espírito Santo tomou conta de nós para nos guiar e dar poder.
Vivemos agora pela fé, considerando-nos mortos para o pecado e vivos para Deus.
Nós estamos cheios do Espírito Santo; agora devemos
viver à luz desta verdade. Não é fazer de conta; é agir com base na
promessa de Deus.
O Dr. John Stott explica isto
assim: "Considerar não é fazer crer. Não é forçar nossa fé a crer em algo
que nós não cremos. Não devemos fazer de conta que nossa velha natureza está
morta, quando sabemos perfeitamente que ela não está. ... Nós só devemos
"considerá-la" assim – não fazer de conta, mas compreender isto,
porque é um fato. Temos de nos agarrar a isto. Temos de pensar e meditar nisto
até que esta realidade se fixe em nossa mente."
Dr. Stott
continua: "Uma mulher casada pode viver como se ainda fosse menina? Bem,
pode ser que sim. Não é impossível. Mas deixe-a sentir aquele anel no quarto
dedo de sua mão esquerda, o símbolo da sua vida nova, o símbolo da sua
identificação com seu marido, deixe-a lembrar o que ela é, e viver de acordo...
Da mesma forma a nossa mente deve compreender o fato e o significado da nossa
morte e ressurreição com Cristo, e que uma volta à vida antiga é impensável. Um
cristão renascido deve ter tanta vontade de voltar à vida amiga quanto uma
pessoa adulta tem de voltar à infância, um homem casado à vida de solteiro ou
um prisioneiro libertado à sua cela na prisão."2
Se você
preencheu os requisitos bíblicos para ficar cheio do Espírito – especialmente
arrependimento e confissão, de que nós falamos – então você pode dizer para si
mesmo: "Pela fé eu sei que eu estou cheio do Espírito Santo." Eu
nunca vi alguém que eu considerava cheio do Espírito Santo fazer alarde disto,
tentando chamar a atenção para si. As outras pessoas logo notarão se nós
estamos cheios do Espírito, porque quem está cheio do Espírito produz o fruto
do Espírito. Nós talvez nem nos demos conta disto. Alguns dos maiores homens de
Deus confidenciaram que quanta mais perto de Cristo estavam, mais pecadores se sentiam.
Roy Gustafson, meu amigo e
sócio, disse uma vez: "O Espírito Santo não veio para nos fazer
conscientes do Espírito Santo, mas conscientes de Cristo." Assim, quando
dizemos a nós mesmos que estarmos cheios do Espírito, isto significa que coda pecado
e obstáculo conhecido está fora do caminho; depois podemos dizer, pela fé, que
estarmos cheios.
A esta altura
há diversas coisas que devemos relembrar, a meu ver.
Em primeiro
lugar temos de nos lembrar que a plenitude do Espírito não é questão de sentimento, mas de
fé. Podemos ou não sentir fortemente a presença de Deus quando
estamos cheios do Espírito. Não devemos confiar em nossos sentidos, mas nas
promessas de Deus. Temos de nos considerar cheios do Seu Espírito.
James McConkey põe isto
nestes termos: "Nada é mais doloroso do que inspecionar constantemente
nosso interior para verificar se Deus está cumprindo Sua promessa, ou se nós a
estamos experimentando. É como aquela criança que todo dia cava no canteiro
para ver se a semente já está brotando. A questão de experimentar a plenitude
do Espírito compete a Deus."3
Temos de nos
lembrar também que a plenitude do Espírito não garante que sejamos perfeitos e
sem pecado. Significa que estarmos sendo controlados pelo Espírito, mas o
pecado continua sendo real, espiando atrás da esquina para dar o bote na
primeira oportunidade. Podemos ser irrepreensíveis em nosso desejo de servir a
Cristo, mas isto não faz com que não erremos.
Um pregador
escocês, tempos atrás, explicou isto assim: "Aqui ao meu lado, sobre a
mesa, está uma carta que ilustrara o que quero dizer. Eu a recebi quando estava
em viagem missionária à Nova Zelândia, em 1891, da minha filha mais velha, que
então tinha cinco anos de idade. Diz assim: 'Querido pai, eu mesma escrevi tudo
isto. Elsinha manda um beijo'. Na verdade isto não é escrever, mas uma
tentativa, com grandes letras de imprensa, todas desproporcionais; em toda a
página não há uma linha reta. ... Bem, esta carta que eu gosto tanto não é algo
"sem defeito"; tem tantos defeitos como tem letras. Mas ela é, sem
dúvida, 'irrepreensível'. Eu não repreendi minha filha por seus riscos tortos,
nem ralhei com ela, porque julguei seu trabalho pelos motivos. Sabia que ela
tinha feito o melhor que podia, com todo o amor de seu pequeno coração. Queria
fazer algo que me agradasse, e conseguiu. Pela graça do Cristo que esta em nós
... assim é que nossa vida diária com seus afazeres deve ser:
irrepreensivel."4
Isto nos leva á
última verdade sobre a plenitude do Espirito: ficar cheio do Espírito não deve ser um acontecimento único, uma vez,
mas um fato real e contínuo, cada dia da nossa vida. É um processo. Temos
de nos entregar a Ele todo dia, diariamente temos de decidir ficar submissos.
Em cada situação de conflito entre o "eu" e a vontade de Deus temos
de tomar nossas decisões com base na nossa submissão contínua a Cristo.
Como já disse,
o verbo grego que Paulo usa em seu mandamento de Efésios 5:18 -
"enchei-vos do Espírito" – traz em si a idéia de que devemos
continuar nos enchendo do Espírito. Já somos o templo de Deus, o Espírito Santo
já habita em nós, mas Ele quer nos encher dEle. Isto só é possível naqueles que
se esvaziam do "eu" e se entregam a Ele. Esta é a razão de a entrega
ter de ser diária, tanto das coisas pequenas como das mais importantes. Quando
pecamos, temos de nos arrepender para que Ele possa nos encher novamente.
Quando estivermos expostos ocasionalmente a uma pressão incomum, temos de orar
pedindo sua ajuda adicional.
Concluindo, as quatro etapas abordadas até
aqui não são só o começo, mas são um processo. Cada dia devemos nos
empenhar para compreender mais da Palavra de Deus. Devemos orar a Deus que nos
ajude a reconhecer nosso pecado. Devermos confessar e nos arrepender todo dia.
Submeter nossa vontade à Sua todo dia. Andar pela fé de uma maneira que Ele
esteja nos enchendo continuamente, à medida que nos submetemos a Ele. E devemos
passar cada dia na obediência à Sua Palavra.
Eu pessoalmente
acho que ajuda muito começar cada dia entregando-o silenciosamente nas mãos de Deus.
Eu Lhe agradeço que sou Seu, e por Ele saber o que o dia trará para mim. Eu Lhe
peço que tome minha vida neste dia nas Suas mãos e a use para Sua glória.
Peço-Lhe que me limpe de qualquer coisa que impeça a Sua atuação em mim neste
dia. E depois inicio as atividades do dia pela fé, sabendo que Seu Santo
Espírito me está enchendo continuamente, enquanto eu confiar nEle e obedecer à
Sua Palavra. Durante o dia às vezes eu não estou consciente da Sua presença;
outras vezes estou. Mas no fim do dia eu posso olhar para trás e Lhe agradecer,
porque vejo Sua mão atuando. Ele prometera estar comigo neste dá – e esteve!
Você pode
experimentar a mesma coisa, submetendo-se diariamente ao senhorio de Jesus
Cristo. Entreguem cada dia a Ele! E que você possa no fim de cada dia olhar
para trás e reconhecer que Seu Santo Espírito tem sido seu guia e Sua força,
estando você sujeito a Ele.
Do livro, Como ficar cheios do Espirito pags 1-16
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