Calvário e Pentecostes
Quando Jesus
morreu na cruz, levou sobre Si nossos pecados: "Deus condenou o pecado na
natureza humana, enviando seu próprio Filho, que veio na forma da nossa
natureza pecaminosa para acabar com o pecado" (Rom, 8:3, BLH).
Isaías
profetizou: "O Senhor fez cair sobre ele a iniqüidade de todos nós"
(Isa. 53:6). Paulo disse: "Aquele que não conheceu pecado, ele o fez
pecado por nós" (2 Cor. 5:21). Isto fez com que no santo Jesus estivesse o
pecado de todo o mundo.
Jesus disse com
muita clareza que Sua morte na cruz não seria o fim do Seu ministério. Na noite
antes da Sua morte Ele disse repetidamente aos discípulos que enviaria o Espírito
Santo.
Naquela noite
Jesus disse aos Seus discípulos: "Convém-vos que eu vá, porque se eu não
for, o Consolador não virá para vós outros; se, porém, eu for, eu vo-lo
enviarei" (João16:7). Antes de poder enviar o Espírito, que é o
Confortador, Jesus teve de ir: primeiro, para a morte na cruz; depois, para a
ressurreição; por último, para a direita do Pai. Só então pôde mandar o
Espírito Santo, no dia de Pentecostes. Depois da Sua morte e ressurreição, Ele
lhes ordenou que ficassem em Jerusalém, esperando o dom do Espirito:
"Permanecei, pois, na cidade. . . até que do alto sejais revestidos de
poder" (Lucas 24:49). Antes de subir aos céus Ele lhes disse que ficassem
em Jerusalém até que fossem "batizados com o Espírito Santo, não muito depois
destas dias" (Atos 1:5).
Por esta razão
é que João Batista tinha proclamado a missão dupla de Cristo: proclamou
primeiro o ministério de Cristo como "o Cordeiro de Deus, que tira o
pecado do mundo" (João 1:29); depois predisse que o ministério de Cristo
no Calvário seria seguida do seu ministério batizando com o Espírito Santo
(João 1:33).
Quando Jesus
ressuscitou dos mortos, este batismo com o Espírito, que indicaria a nova
época, ainda estava por vir; acorreu cinqüenta dias depois da ressurreição. Dez
dias depois da ascensão veio Pentecostes. A promessa foi cumprida. O Espírito
Santo veio sobre 120 discípulos. Pouco depois, falando a uma multidão bem
maior, Pedro referiu-se ao "dom do Espírito Santo". Ele insistiu com
seus ouvintes: "Arrependei-vos, e cada um seja batizado. . . e recebereis
o dom do Espírito Santo" (Atos 2:38).
John Stott destaca que
"não parece que os 3.000 experimentaram o mesmo fenômeno milagroso (o
vento impetuoso, as línguas de fogo, o falar em línguas estranhas). Nada é dito
sobre estas coisas. Mas pela promessa de Deus, feita através de Pedro, eles
devem ter herdado a mesma promessa e recebido o mesmo dom (versículos 33 e 39).
Mesmo assim, havia a diferença: os 120 já estavam regenerados, recebendo o
Espírito Santo depois de esperarem em Deus por dez dias. Os 3.000, incrédulos,
receberam o perdão dos seus pecados e o dom do Espírito ao mesmo tempo – e isto
aconteceu no mesmo instante em que se arrependeram e creram, sem necessidade de
esperar.
"É de
grande importância esta distinção entre os dois grupos, de 120 e 3.000 pessoas,
porque a regra para hoje com certeza deve ser o segundo grupo, de 3.000
pessoas, e não o primeiro (como muitos pensam). O fato de a experiência dos 120
se dar em duas etapas distintas deve-se simplesmente a circunstâncias
históricas. Eles não poderiam ter recebido o dom de Pentecostes antes de
Pentecostes. Mas estas circunstâncias históricas deixaram de existir há muito.
Nós vivemos depois de Pentecostes, como estes 3.000. Assim como eles, nós
recebemos o perdão dos pecados e o "dom" ou "batismo" do
Espírito ao mesmo tempo."1
Daquele dia em
diante o Espírito Santo esteve habitando no coração de todos os verdadeiros
crentes, a começar com os 120 discípulos que O receberam no dia de Pentecostes.
Quando eles receberam o Espírito Santo, Ele os uniu em um corpo com Sua
presença – o corpo místico de Cristo, que é a Igreja. É por isto que eu, quando
ouço termos como "ecumenismo" ou "movimento ecumênico",
digo comigo mesmo: Se nós nascemos de novo, o ecumenismo já existe. Estamos
todos unidos pelo Espírito Santo, que mora em nossos corações, sejamos
presbiterianos, metodistas, batistas, pentecostais, luteranos ou anglicanos.
É verdade que houve diversas
outras ocasiões, mencionadas pelo livro de Atos, semelhantes a Pentecostes: o
assim chamado "Pentecostes Samaritano" (Atos 8:14-17) e a conversão
de Cornélio (Atos 10:44-48). No entanto, os dois acontecimentos marcaram o
início de um novo estágio na expansão da Igreja. Os samaritanos eram urna raça
mista, desprezada por muitos como indigna do amor de Deus. O batismo deles com
o Espírito foi um sinal claro de que também eles podiam ser do povo de Deus,
pela fé em Jesus Cristo. Cornélio era gentio, e sua conversão foi outro passo
de destaque na divulgação do Evangelho. O batismo do Espírito que ele e seus
familiares receberam mostra que o amor de Deus era também para os gentios.
Tendo em vista tudo isso,
nenhum cristão precisa esforçar-se, esperar ou "orar até receber o
Espírito". Ele já O recebeu, não com trabalho e lutas, sofrimento e
oração, mas como presente da graça, imerecido e não conquistado.
W. Graham Scroggie certa vez
falou em Keswick algo assim: "No dia de Pentecostes foi formado o corpo de
Cristo, pelo batismo do Espírito, e desde então cada crente individual, cada
pessoa que aceita a Cristo pela fé simples, no mesmo momento e por este mesmo
ato se torna participante da bênção do batismo. Por isso, esta bênção não
precisa ser procurada para ser recebida depois da hora da conversão."
Eu dei agora a
impressão que todos os crentes têm o Espírito santo, que na hora da conversão e
regeneração vem morar neles. No entanto, alguns têm insistido que o livro de
Atos nos dá diversos exemplos de pessoas que não receberam o Espírito santo
quando creram pela primeira vez. Em vez disto, dizem, estes incidentes indicam
que o batismo com o Espírito acorre depois de sermos incorporados no corpo de
Cristo. Três passagens nos interessam principalmente, quanto a este assumo. Eu
pessoalmente, quando crente jovem, achei difícil entender estas passagens (até
certo ponto ainda acho), e sei que muitas pessoas têm esta mesma impressão. Não
quero afirmar Ter todas as respostas para as perguntas levantadas por estas
passagens, mas meu estudo do assunto me fez observar certos fatos que podem ser
de boa ajuda.
A primeira
passagem achamos em Atos 8, onde é
relatada a viagem de Filipe a Samaria. Ele pregou a Cristo e fez diversos
milagres. Os samaritanos foram emocionalmente estimulados, muitos fizeram
profissão de fé e foram balizados. Os apóstolos, em Jerusalém, estavam tão
preocupados com o que estava acontecendo em Samaria, que enviaram para lá dois
de seus líderes, Pedro e João, para investigar. Eles se depararam com uma
grande agitação, com muitas pessoas prontas para receberem o Espírito.
"Então lhes impunham as mãos, e recebiam estes o Espírito Santo"
(Atos 8:17).
Comparando
versículo com versículo, logo descobriremos um aspecto extraordinário desta
passagem: quando Filipe foi pregar em Samaria, era a primeira vez que o
evangelho era pregado fora de Jerusalém, evidentemente porque judeus e
samaritanos sempre tinham sido ferrenhos inimigos. Isto nos fornece a chave do
mistério por que o Espírito foi retido até que chegassem Pedro e João: para que
eles virem pessoalmente que Deus recebia até samaritanos odiados que cressem em
Cristo. Depois disto não poderiam mais duvidar.
Observe também
o que aconteceu quando o Espírito do Senhor subitamente tomou Filipe e o
transportou até a estrada de Gaza, onde ele falou de Cristo ao eunuco etíope.
Quando o etíope creu e recebeu a Cristo, ele foi batizado com água. Mas Filipe
não fez nenhuma menção de impor-lhe as mãos e orar para que ele recebesse o
Espírito Santo, e nada foi dito sobre um segundo batismo. De forma que a situação
de Samaria, relatada em Atos 8, foi única, e não combina com outras passagens
da Escritura, comparando versículo com versículo.
Outra passagem
que traz para alguns certa dificuldade é a que trata da conversão de Saulo na
estrada de Damasco, como está registrada em Atos 9. Algumas Pessoas dizem que quando ele foi enchido com o
Espírito Santo na presença de Ananias, mais tarde (v. 17), ele experimentou um
segunda batismo do Espírito.
Novamente temos
urna situação única, em que Deus escolheu este perseguidor dos cristãos
"para levar o meu nome perante os gentios e reis, bem como perante os
filhos de Israel" (v. 15). Quando Saulo chamou Jesus de
"Senhor", ele usou um termo que pode significar "meu próprio
Senhor", demonstrando que se convertera, ou simplesmente
"senhor", um título de respeito e não uma profissão de fé. Sabemos
que mais tarde Ananias chamou Paulo de "irmão" (v. 17), mas muitos
judeus daquele tempo chamavam-se de "irmãos". Ele pode ter chamado
Saulo de irmão no sentido mais amplo, como em muitas regiões do nosso país as
pessoas chamam umas às outras de "irmão".
Em outras
palavras, quando ocorreu a regeneração de Saulo? Na estrada de Damasco, ou
durante aqueles três dias em que Ananias falou com ele (pode ter sido durante
toda a cegueira de Saulo)? Eu tenho certeza que muitas vezes o novo nascimento
é como o nascimento físico: a concepção, nove meses de gestação, e depois o
nascimento. Às vezes o Espírito Santo leva semanas para convencer uma pessoa.
Eu vi pessoas virem mais de uma vez à frente em nossas cruzadas, e só experimentarem a
certeza da sua salvação na terceira ou quarta vez. Quando estes foram
regenerados? Só Deus Espírito Santo sabe; pode ter sido quando foram batizados
ou confirmados, e eles vieram à frente para terem certeza. Pode ser que alguns
venham (como eu costumo dizer) para "reconfirmar sua confirmação".
Atos 9:17 diz
ainda que Paulo ficou cheio do Espírito Santo. A palavra batismo não aparece no
versículo, e não é dito que falou em outras línguas quando ficou cheio. A minha
opinião é que mesmo se Paulo foi regenerado na estrada de Damasco, quando mais
tarde ficou cheio de Espírito isto não foi um segundo batismo. Possivelmente
Sua regeneração só ocorreu quando Ananias o visitou. De forma que esta passagem
não ensina que Paulo foi duas vezes batizado com o Espírito.
O terceiro
texto que deu motivos para alguma controvérsia encontramos em Atos 19:1-7. Paulo passou por Éfeso e
encontrou doze discípulos que não tinham recebido o Espírito Santo. Lendo esta
passagem, imediatamente surge a pergunta: estes doze eram cristãos verdadeiros
antes de se encontrarem com Paulo? Pareciam não saber nada sobre o Espírito
Santo e sobre Jesus. Também falavam do batismo de João. Sem dúvida Paulo não
viu no seu primeiro batismo argumento suficiente para chamá-los de crentes.
Submeteu-os a novo batismo na água, no nome de Cristo.
Milhares de
pessoas tinham ouvido João ou Jesus durante os primeiros anos. Elas ficaram
profundamente impressionadas com o batismo de João, mas provavelmente perderam
todo o contato com os ensinos de João e Jesus nos anos intermediários. Assim,
novamente temos uma situação única. Só o fato de o apóstolo ter feito perguntas
tão precisas indica que ele duvidava que a conversão deles tenha sido uma
experiência genuína.
Mesmo assim
temos de analisar Atos 19:6 mais de perto: "E, impondo-lhes Paulo as mãos,
veio sobre eles o Espírito Santo; e tanto falavam em línguas como
profetizavam".
O Dr. Merrill Tenney os chama de
"crentes retardatários". O interessante é que todas estas coisas
aconteceram ao mesmo tempo. Não sabemos se estas línguas são do tipo que Paulo
aborda em 1 Coríntios 14 ou Lucas em Atos 2. A palavra "profetizavam"
inclui a idéia de testemunho e proclamação. Ao que parece, eles saíram para
dizer aos seus amigos de que forma tinham chegado a crer em Cristo. Na minha
maneira de pensar, isto não é prova de um segundo batismo com o Espírito,
posterior ao batismo com o Espírito na hora da regeneração. Parece-me antes que
eles foram regenerados e batizados com o Espírito ao mesmo tempo.
Em resumo, eu
creio que o dia de Pentecostes deu início à Igreja. Tudo o que restava por
fazer era integrar com destaque na Igreja samaritanos, gentios e "crentes
retardatários". Isto aconteceu em Atos 8 com os samaritanos, em Atos 10
com os gentios (de acordo com Atos 11:15), e em Atos 19 com crentes que
sobraram do batismo de João. Uma vez ocorrido este batismo representativo com o
Espírito, aplica-se o padrão normal – batismo com o Espírito cada vez que uma
pessoa crê em Cristo (sejam quais forem seus antecedentes).
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