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O PT e Charlie Hebdo
BLOG DO NOBLAT
POR Ruy Fabiano
O que ocorreu em Paris fere a conquista mais preciosa da humanidade, que é o direito de se manifestar. Alega-se que o cristianismo teve seu tempo de trevas na Idade Média. Pois é: quantos séculos faz? Estamos em pleno século 21
10/01/2015 - 01h00
Terrorismo e coerência não combinam. Caso contrário, os energúmenos que enxergam agressão numa piada, por mais abjeta, veriam que é incomparável, sob todos os aspectos, com o que eles mesmos promovem em terras muçulmanas contra cristãos.
Mais de cem mil cristãos – incluídas aí crianças - são assassinados por ano no mundo muçulmano pelo simples fato de que são cristãos. Não fazem proselitismo, não hostilizam, não fazem piada, nem muito menos constroem templos. Apenas têm outra crença. É o bastante.
Somente em Paris, há mais de cem mesquitas – grande parte construída nesta Era em que o Ocidente é alvo de atentados e hostilidades, sob pretexto religioso -, sem que se impeça ou constranja alguém de frequentá-las (a partir de agora, e em decorrência do que aconteceu na quarta-feira, já não se sabe).
O atentado tem força simbólica maior que os inúmeros que o precederam nos últimos anos em todo o Ocidente. O alvo foi a liberdade, personificada numa revista de humor. Nesses termos, é ainda mais chocante que o das Torres Gêmeas de Nova York, que atingiu o coração financeiro do capitalismo.
O que ocorreu em Paris fere a conquista mais preciosa da humanidade, que é o direito de se manifestar. Alega-se que o cristianismo teve seu tempo de trevas na Idade Média. Pois é: quantos séculos faz? Estamos em pleno século 21. De lá para cá, muito sangue correu para que jornais pudessem circular livremente.
O Charles Hebdo já ridicularizou padres, pastores e rabinos, e nenhum apontou nem sequer um estilingue contra a revista.
Comentou-se a pouca ênfase com que o governo brasileiro repudiou o episódio, sem falar no silêncio de entidades diretamente ligadas às vítimas – Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), por exemplo.
Outras, como PT e CUT, por meio de alguns de seus militantes, procuraram atribuir, nas redes sociais, a responsabilidade às próprias vítimas. É compreensível.
É para essa gente – os que representam os algozes – que a diplomacia brasileira (e bolivariana) tem direcionado seus interesses na Era PT. Foi Lula quem trouxe para cá, e o recebeu com tapete vermelho, o sanguinário ditador iraniano Mahmoud Ahmadinejad, que proclamava seu propósito de banir Israel da face da terra.
Foi ele também que comparou atos repressivos homicidas no Irã, em retaliação a protestos contra fraudes eleitorais, a uma briga de torcida entre Flamengo e Vasco.
Dispôs-se a mediar, num lance cômico – que o Charlie Hebdo, se lhe desse importância, teria ridicularizado -, os conflitos do Oriente Médio. Lula, como se recorda, invocou seus dons de sindicalista para resolver um conflito imemorial, que transcende a capacidade de compreensão (e solução) da humanidade.
Pior: pretendeu resolvê-lo em favor de uma das partes, o que desfaz o sentido d o verbo mediar. Em Israel, recusou-se a visitar o monumento ao fundador do sionismo, Theodor Herzi, gesto diplomático que nenhum chefe de Estado, em visita ao país, recusa fazê-lo. Já Dilma, no final do ano passado, num igualmente ridículo discurso na assembleia da ONU, condenou as retaliações militares aos degoladores do Exército Islâmico, propondo diálogo.
Sua proposta, quem sabe, poderia agora ser recolocada à polícia francesa e às famílias das vítimas.
O tom da diplomacia petista, que transformou o Itamaraty de órgão de Estado numa célula partidária, é de hostilidade aos Estados Unidos e à União Europeia. Ao Ocidente. E de franca simpatia a governos que promovem e acobertam atos como os que estarreceram o mundo na quarta-feira.
A diplomacia do PT definitivamente não pode repetir com o mundo civilizado: “Je suis Charlie”.
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