Ao tentarmos compreender o papel de Deus nas calamidades naturais,
devemos nos precaver contra a armadilha forjada por Satanás, no sentido
de que os desastres dos últimos dias provêm de um Deus insultado e
irado. É exatamente assim que Satanás tem pintado a Deus desde o Éden, e
antes mesmo. Milhões de pessoas hoje, em nosso planeta, assim o creem.
Entretanto, de acordo com a Bíblia, estamos nas últimas horas do
Conflito Cósmico, o Grande Conflito, que contaminou o Universo desde que
“houve peleja no céu” (Apocalipse 12:7).
Olhando a profecia bíblica
Lemos em Apocalipse que
nos tempos finais da história, Deus estará, mediante Seus anjos,
“retendo os quatro ventos da Terra para que nenhum vento soprasse sobre a
Terra, nem sobre o mar, nem sobre árvore alguma” (Apocalipse 7:1). Isso
soa mui ameaçador. Antes do fim dos tempos, nosso planeta será palco de
todo o tipo de calamidade em terra, no mar e na vegetação. Mas ainda
não vimos nada semelhante ao que acontecerá quando os ventos da
destruição forem libertos das forças retentivas dos quatro anjos, que
recebem ordens do próprio Senhor! (1).
Por que os ventos ainda estão
sendo retidos? O povo de Deus, como um todo, ainda não recebeu o “selo”
da aprovação de Deus “escrito em sua fronte” (Apocalipse 14:1).
O
selo aprobatório de Deus será posto naqueles que possam representá-Lo
corretamente perante o mundo; naqueles que dizem a verdade a Seu
respeito e testemunham de Seu poder – exatamente em oposição ao secular
desafio de Satanás. Essas são as pessoas que estão prontas a permanecer
firmes através das conturbações dos últimos dias, conforme descrito nos
versos finais de Apocalipse 6.
E
o que dizer desses ventos? Eles representam as obras de Satanás,
prestes a serem liberadas da mão restritiva de Deus. Tudo isso pode ser
melhor entendido à luz do Conflito Cósmico. É uma repetição do exposto
no livro de Jó,
porém em escala mais colossal: fogo do céu queimando o gado e os servos
de Jó; assaltantes perambulando e matando a esmo; um forte vento
destruindo a casa e matando seus filhos (Ver Jó 1 e 2). A maldade
satânica é inacreditável! E é ainda hoje a mesma que nos dias de Jó.
O papel de Satanás
A
premeditada estratégia de Satanás sempre tem sido confundir, enganar e
destruir a paz deste mundo. Ele é “homicida desde o princípio” (João
8:44). Por quê? Para abalar a fé e a esperança de bilhões de pessoas na
verdade de que um Ser mais poderoso, fiel e veraz dirige o Universo!
Mas
onde está Deus? Deus, no âmbito dos propósitos do Grande Conflito,
permite essa multiplicação do engano e do sofrimento abrangendo não
apenas um homem chamado Jó, mas todo o planeta hoje. Tudo o que
finalmente Jó soube que jazia por trás das catástrofes que ele e sua
família sofreram – incluindo fogo do céu e ventos devastadores – foi-lhe
contado depois pelo próprio Deus. Mas antes as coisas não estavam
claras. Só depois Jó soube que Deus estava sendo desafiado por Satanás, o
qual estava furioso por Jó ter sido tão abençoado com uma grande
família e notável prosperidade. Ele acusou a Deus de discriminar as
pessoas. A razão pela qual Jó era tão reto e obediente em sua adoração
era o fato de Deus ter construído “uma cerca” em torno dele, para
suborná-lo à obediência (Jó 1:8-12, 2:3-7). Surgem, então, teólogos
amadores para explicar a Jó porque ele tinha sido vítima dessas
horríveis calamidades (Jó 2:11-13). Lemos nos capítulos seguintes do
livro as várias razões que muitos hoje ainda usam para explicar as
inesperadas calamidades. Ou Jó estava escondendo, no fundo, o segredo de
seus procedimentos e Deus o estava punindo, ou Deus responde apenas ao
justo e ignora aqueles que sofrem calamidades, porque Ele é um Deus
justo, ou ainda, Deus é tão justo que somente pode derramar Sua ira
sobre o pecado, e finalmente que Jó estava recebendo um castigo menor do
que ele merecia.
Quantos ecos das vozes desses três “amigos” de Jó
ouvimos hoje na Internet, em artigos de jornais e revistas, e em muitos
púlpitos.
O apóstolo Paulo afirmou claramente que Satanás é “o
príncipe das potestades do ar, do espírito que agora atua nos filhos da
desobediência” (Efésios 2:2) (2). Ele é mais do que um mito! Ele é o
grande opositor de Deus, fazendo tudo o que pode para aviltar,
desmoralizar e destruir homens e mulheres. E por razões que só Deus
conhece, Ele gradualmente retirará o poder restritivo que tem exercido
sobre os planos assassinos de Satanás (3).
A visão de Cristo sobre o futuro
Sem
dúvida, nosso planeta sempre teve terremotos, tornados, enchentes,
furacões, tufões e fomes. Alguns desses piores eventos registraram-se há
muitos anos, com consequências muito mais danosas do que as que
experimentamos em anos mais recentes, muito embora nessas mesmas áreas
tenhamos hoje uma população bem maior.
Nos últimos dias do ministério
de Jesus, Seus discípulos Lhe indagaram a respeito dos sinais do fim e
de Seu prometido retorno. Dentre outros sinais, Jesus lhes falou:
“Ouvireis falar de guerras e rumores de guerra; vede, não vos assusteis,
porque é necessário assim acontecer, mas ainda não é o fim. Porquanto
se levantará nação contra nação, reino contra reino, e haverá fomes e
terremotos em vários lugares; porém tudo isso é o princípio das dores”
(Mateus 24:6-8).
Em outras palavras, o mundo sempre terá guerras,
terremotos, pestes e calamidades. Há, entretanto, sinais específicos que
Cristo delineou em Mateus 24 e 25, como a pregação do Evangelho a todo o
mundo, e então Ele voltará (Mateus 24:14). Cristo comparou os últimos
dias de nosso planeta aos últimos dias antes de Noé entrar na arca
(Mateus 24:37-39). E comparou a demora em Sua vinda à demora do
aparecimento da noiva nas bodas (Mateus 25:5).
Detectando a diferença
Ao
refletirmos sobre as calamidades dos últimos anos, notamos uma
diferença com as do passado. Graficamente teríamos uma curva exponencial
crescente indicando um aumento da frequência e das intensidades, em
destacado contraste com a previsão que resultaria de um crescimento
linear.
Poderia alguém negar que furacões, enchentes, fomes, pestes,
falências, degradação moral, esgotamento dos mananciais, escalada do
consumo de energia e outros eventos reais também estejam aumentando com
impressionante velocidade? (4). A maioria das pessoas convive com o
sentimento de que tudo está “fora dos eixos”, em comparação com a vida
que tínhamos há poucas décadas. Parece não haver como retrocedermos no
tempo. É como uma escada rolante que parece acelerar-se a cada dia. E
todos sentem que não têm como saltar fora dela. Esse sentimento aumenta
quando ouvimos a notícia da última catástrofe sendo divulgada pelos
meios de comunicação globais, e chegando até nós (5).
Uma perspectiva adventista
Durante
mais de 150 anos, os adventistas do sétimo dia têm estado a proclamar
ao mundo que a história da humanidade está inexoravelmente caminhando
para o seu clímax, como predito pelo próprio Deus nas Escrituras.
Ficamos contentes ao observar que milhões de cristãos também começaram a
fixar sua atenção e esperança na breve volta de Jesus. Além disso,
existem hoje dezenas de sites na Internet dedicados aos acontecimentos
finais. A série de best-sellers “Deixados Para Trás” e os filmes
correspondentes, ampliam em muito o senso de que algo surpreendente está
para acontecer.
Entretanto, com base em nossa compreensão da
profecia bíblica, não cremos que os cristãos serão arrebatados
secretamente, ou que Israel é uma peça-chave nos acontecimentos dos
últimos dias. Nem divisamos o Armagedon como uma batalha a ser travada
pelos exércitos modernos na Planície de Esdraelon.
Os otimistas estão
certos. O mundo não terminará em lamúrias ou numa estrepitosa explosão.
As potências nucleares mundiais não incendiarão a Terra. Não seremos
afogados ou asfixiados em nosso próprio lixo, nem envolvidos numa
mortandade em massa.
E os pessimistas também estão certos. Este mundo
poderá conseguir logo todas as vacinas necessárias para atender a todos
os desafios sanitários que enfrentamos hoje, mas não haverá vacina
contra a avassaladora tsunami do lixo moral que permeia a vida moderna,
especialmente no “esclarecido” mundo ocidental. Todos os dispositivos de
posicionamento global (GPS) e veículos modernos não conseguirão atingir
e eliminar o crescente ódio que grassa entre as comunidades e entre as
nações.
Conclusão
Está
além da capacidade do homem compreender a interação exata dos fatores
humanos naturais e sobrenaturais, causadores das crescentes calamidades
experimentadas pelo nosso planeta. Para o que crê na Bíblia, entretanto,
algumas coisas são certas: Satanás procura destruir tantas pessoas
quantas puder, por qualquer meio que possa utilizar. No final, a verdade
triunfará; Deus e Seus fiéis serão vindicados e Ele fará novas todas as
coisas. Vivemos nos últimos dias da história da terra. Cada dia é
precioso e não se repetirá. “Não retarda o Senhor a sua promessa, como
alguns a julgam demorada; pelo contrário, Ele é longânimo para convosco,
não querendo que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao
arrependimento. Virá, entretanto, como ladrão, o Dia do Senhor, no qual
os céus passarão com estrepitoso estrondo, e os elementos se desfarão
abrasados; também a terra e as obras que nela existem serão atingidas.
Visto que todas essas coisas hão de ser assim desfeitas, deveis ser tais
como os que vivem em santo procedimento e piedade, esperando e
apressando a vinda do dia de Deus, por causa do qual os céus,
incendiados, serão desfeitos, e os elementos abrasados se derreterão”
(2Pedro 3:9-12).
Estamos nós prontos?
Referências:
1. O comentário de Ellen G. White é significativo: “Anjos
estão circundando o mundo, rebatendo as alegações de Satanás quanto à
sua supremacia, feitas por causa da imensa multidão de seus adeptos. Não
ouvimos as vozes, nem vemos com a visão humana a obra desses anjos,
porém suas mãos se entrelaçam ao redor do mundo, e em vigília constante
retêm os exércitos de Satanás até que se cumpra o selamento do povo de
Deus” (Comentário Bíblico Adventista, vol. 7, pág 967).
2. “Satanás
está trabalhando na atmosfera; envenena-a, e aí dependemos de Deus
quanto à vida – nossa vida presente e eterna. E estando na posição em
que nos encontramos, importa estarmos inteiramente alerta, totalmente
devotados, de todo convertidos e consagrados a Deus. Mas parece que nos
achamos como paralisados. Deus do Céu, desperta-nos!” (Ellen G. White,Mensagens Escolhidas, vol.2, pág. 51).
3. “Satanás
também opera por meio dos elementos a fim de enceleirar sua messe de
almas desprevenidas. Estudou os segredos dos laboratórios da Natureza, e
emprega todo o seu poder para dirigir os elementos tanto quanto o
permite Deus…[Satanás] trará moléstias e desgraças até que cidades
populosas se reduzam à ruína e desolação. Mesmo agora está ele em
atividade. Nos acidentes e calamidades no mar e em terra, nos grandes
incêndios, nos violentos furacões e terríveis saraivadas, nas
tempestades, inundações, ciclones, ressacas e terremotos, em toda parte e
sob milhares de formas, Satanás está exercendo o seu poder. Destrói a
seara que está a amadurar, e seguem-se fome, angústia. Comunica ao ar
infecção mortal, e milhares perecem pela pestilência. Estas visitações
devem tornar-se mais e mais frequentes e desastrosas. A destruição será
tanto sobre o homem como sobre os animais” (Ellen G. White, O Grande Conflito, págs. 589-590).
4. “Foi-me
mostrado que o Espírito do Senhor está-Se retirando da Terra. O poder
mantenedor de Deus logo será recusado a todos os que continuam
desrespeitando os Seus mandamentos… A iniquidade está-se tornando uma
coisa tão comum que não ofende mais as suscetibilidades como em tempos
passados” (Ellen G. White, Eventos Finais, pág. 25).
5. “Quando a mão protetora de Deus for retirada, o destruidor começará o seu trabalho”. (ibid., pág. 111).
Retidado de Herbert E. Douglass, “Sermões, Palestras e Cartas”, em seu site herbdouglass.50megs.com/sermons.htm
Luís Carlos Fonseca