Fonte - http://megaphoneadv.blogspot.com.br/
Religião e política não se misturam?
Religião e política se misturam sim. Mas com limites.
O evangelho tem implicações sociais. E suas interpretações também. O
capitalismo, por exemplo, descende de uma visão religiosa de mundo,
especificamente o puritanismo protestante. Religião não pode ser
engavetada como um detalhe periférico sem importância. A menos que todos
engavetem igualmente suas ideologias, inclusive aquelas diretamente
ligadas à política, pois a vida "política" lida com questões morais e
religiosas.
A candidata Luciana Genro criticou o pastor Everaldo por misturar
política e religião, e na sequência quis saber a opinião dele sobre o
preconceito e a discriminação aos gays. Uma questão moral. Eduardo Jorge
pediu a opinião de Aécio sobre o aborto, outra questão moral. Todos
eles possuem uma posição pautada numa visão de mundo, numa “ideologia”.
As decisões políticas sobre questões morais estão pautadas em códigos
morais, e não existe neutralidade nesse campo. A “moralidade no vácuo” é
mito.
O liberal, progressista, socialista etc. decidem baseados na sua
plataforma de pressuposições, na sua visão de mundo. O religioso está
proibido de fazê-lo. Mas quem disse que uma cosmovisão religiosa deve
ser considerada inferior a cosmovisões filosóficas/ideológicas?
O cristianismo, por exemplo, é uma cosmovisão ampla, que afetou e moldou
tudo, inclusive a política, a democracia e o conceito de Estado e
sociedade. A nossa democracia não é grega; é liberal, tem o dedo
religioso desde o início.
Os religiosos votam, usam serviços públicos, pagam impostos, vivem em
uma democracia que existe no mundo, não fora dele. É errado misturar
política com cristianismo? Só se for errado misturar política com
marxismo/humanismo/positivismo/materialismo. Se declarar "evangélico" ou
"pastor" é impróprio, mas se declarar socialista, marxista, liberal é
legal? Por quê?
Religiosos não podem influenciar o Estado, mas ateus materialistas,
comunistas, abortistas etc. podem? Por quê? Todas essas visões têm
implicações morais e religiosas. Portanto, esse choro aí é apenas um eco
equivocado do iluminismo e da sofisticada revolução humanista sem
religião que criou um paraíso na terra (ironic).
A meu ver, o erro da mistura "religião + política" está na imposição, no
Estado religioso (como o Estado Islâmico), no desrespeito às liberdades
garantidas por um Estado laico, em tomar decisões privilegiando os
interesses de um grupo religioso em detrimento do interesse comum. Ou
tomar decisões coletivas sem atentar para as reais necessidades das
minorias.
Como adventista, descendente do ramo radical da Reforma Protestante,
defendo a separação da igreja e do Estado. Mas religião e política se
misturam sim. Sempre se misturaram. O que precisamos discutir é como
essa mistura deve acontecer. Na hora do voto, o meu cristianismo vai
junto comigo.
Nota: A
matéria de capa da Revista Adventista de setembro reflete sobre o papel
político do cristão. Quem assina o texto é o doutor em educação John
Wesley Taylor V, que atua como diretor associado do departamento de
educação da sede mundial da Igreja Adventista. Taylor apresenta as
principais posturas cristãs sobre a relação entre fé e política e um
panorama das histórias bíblicas que oferecem orientações sobre o tema.
No fim, ele sugere uma participação muito mais ativa dos cristãos na
vida pública, por meio da preservação do meio ambiente e promoção da
justiça, moralidade e paz. A edição deste mês estará disponível em breve
no site: http://www.revistaadventista.com.br/
Um comentário:
Como adventista, descendente do ramo radical da Reforma Protestante, defendo a separação da igreja e do Estado. Mas religião e política se misturam sim. Sempre se misturaram. O que precisamos discutir é como essa mistura deve acontecer. Na hora do voto, o meu cristianismo vai junto comigo.
Me quedo con este párrafo que es el Amén! del Artículo que Escribió.
Gracias Pastor Manoel.
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