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sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Jesus visita o templo no dia das eleições

 

Jesus visita o templo no dia das eleições



Por Hermes C. Fernandes

Era um domingo como outro qualquer. O Nazareno se dirigia ao templo em Jerusalém montado num jumentinho tomado emprestado por seus discípulos. Apesar do clima festivo, havia uma tensão no ar. Incólume, Jesus adentrava os portões da cidade sem chamar atenção. Em vez de um tapete improvisado de mantos para recebê-lo, um tapete de ‘santinhos’ de candidatos forravam a estrada. Em vez de palmas para saudá-lo, bandeiras e cartazes exibindo sorrisos falsos de quem disputava os votos da sofrida população da Judeia. Uns gritavam: Herodes! Este é o homem que reconstruiu o templo e vai nos restituir a glória roubada! Outros bradavam: Pilatos!  Pilatos! O homem das mãos limpas!

Indiferente ao que acontecia, Jesus seguia em Sua marcha rumo ao templo. Afinal, aquilo era apenas uma demonstração de democracia. Mas ao chegar lá, tem uma desagradável surpresa. O pátio do templo estava tomado de cabos eleitorais de ambos os candidatos. Até os sacerdotes se prestavam a gritar o nome de seu candidato, ameaçando seus fiéis, caso não votassem naquele que seria o escolhido por Deus para defender os valores da família.

Um deles, ligado ao partido dos saduceus, dizia exaltado:

- Como vocês poderiam votar em alguém como Herodes? Vocês se esqueceram da matança dos inocentes patrocinada por seu pai? Tal pai, tal filho. Não é porque reformou o templo que deve merecer nosso voto. É melhor confiar num romano de mãos limpas, alguém que esteja 100% em sintonia com César e vai destinar mais recursos para Jerusalém. Herodes não passa de um rei postiço. Além de ser um adúltero que tomou a esposa do próprio irmão, ele vai legalizar o aborto, tirar os soldados romanos das ruas, facilitando a ação de ladrões e assaltantes. Nossa cidade vai se transformar num caos.

Outro ligado aos fariseus vociferava:

- Pilatos, aquele enrustido, não merece nosso voto. Ele vai trazer os bacanais romanos para Jerusalém. Vai encher nossa cidade de eunucos. Antes dele, não havia tanta prostituição em nossas ruas. Herodes vai defender a família. Não deem ouvidos às calúnias que espalham por aí. Olhem ao redor! Reparem na suntuosidade deste templo. Nem no tempo de Salomão, ele foi tão luxuoso. Uma das sete maravilhas do mundo! Devemos isso a Herodes! Além do mais, Pilatos vai aumentar os impostos e coibir qualquer manifestação popular.

Descendo do jumentinho, Jesus muniu-se de um chicote e saiu em direção ao pátio, derrubando mesas, dispersando os cabos eleitorais e bradando:

- A minha casa é casa de oração. Como se atrevem a transformá-la num curral eleitoral? Estendam suas bandeiras lá fora. Discursem nas praças e mercados, mas não usem minha casa como palanque.


Herodes que já se dirigia ao templo para discursar, vendo a confusão, deu meia-volta e retornou para o palácio. Pilatos, ao tomar conhecimento do ocorrido, nutriu grande respeito pelo rabino da Galileia. Já os sacerdotes começaram a tramar uma maneira de calar aquela voz incômoda que denunciava sua ganância e interesses mesquinhos. Diziam entre si: - Quem aquele defensorzinho de prostitutas pensa que é? Ele vai se arrepender de ter atravessado o nosso caminho. 

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