É sempre saudável ler e conhecer pensamentos e práticas diversas. Não significa que se tenha que concordar com tudo, porém devem estar abertos ao conhecimento diversificado. Aprender de tudo e reter o que é bom, é um dos princípios bíblicos.
Veja essa matéria sobre vestimentas litúrgicas, muito esclarecedora. Eu mesmo acho desnecessário roupões de batismo, principalmente a batina do pastor, mas por ser uma tradição da igreja, eu a uso
Leia a matéria você mesmo
Sobre hábitos e monges: Desafazendo tabus sobre vestes litúrgicas.
Fonte Genizah
Pr. Francisco Belvedere Neto
É verdade que o hábito não faz o monge. Pessoas de Deus não são
reconhecidas pela sua aparência exterior, mas pelos frutos de sua vida.
Mas...
Quando iniciei meu ministério pastoral, sendo nomeado pastor acadêmico
no ultimo ano de Teologia, lembro-me que uma irmã na igreja onde eu
servia, veio me dizer que eu não deveria mais usar camisa clerical, pois
aquilo era “roupa de padre” e ela não queria que visitantes viessem à
igreja e pensassem que tinha um “padre” no altar. Meus esforços para
explicar àquela irmã que a camisa clerical era uma veste de origem
protestante e que fazia parte da nossa tradição denominacional, mesmo
não sendo de uso obrigatório foi em vão! O preconceito falava mais alto.
O curioso, é que na mesma igreja, tinha um irmão que de vez em quando
ia ministrar louvor fazendo uso de um kipá! E ninguém, absolutamente
ninguém achava ruim. Eu era olhado torto por fazer uso de uma veste
identificada com a tradição cristã, e aquele irmão amado que fazia uso
de algo identificado com a religião judaica não sofria qualquer censura.
"padre" Charlito, além de "padre", é co-editor do Genizah. |
Há no meio evangélico brasileiro um preconceito fortíssimo contra tudo
que possa lembrar a igreja católica romana, em especial, na questão das
vestes e outros símbolos litúrgicos. O mesmo não ocorre com vestes,
símbolos e objetos ligados ao judaísmo. Isso é fruto da idolatria a
Israel que tem sido estimulada nos arraiais gospel tupiniquins. Já ouvi
gente dizer que em Israel se sente a presença de Deus de uma forma
diferenciada do que ocorre em outros lugares.
É muita incoerência e falta de senso critico dos crentes brasileiros.
Nem mesmo no Genizah se está livre desta tolice. A minha motivação para escrever este artigo foi, justamente, em função de um post publicado neste site, com um vídeo onde se via o Rev. Carlos Moreira, pregando na Igreja Episcopal Carismática. Nos comentários, algumas pessoas demostraram nítido preconceito e agressividade ao verem as vestes do ministro, que logo julgaram ser um “padre”. Vamos então a alguns fatos desconhecidos de grande parte dos evangélicos brasileiros.
Nem mesmo no Genizah se está livre desta tolice. A minha motivação para escrever este artigo foi, justamente, em função de um post publicado neste site, com um vídeo onde se via o Rev. Carlos Moreira, pregando na Igreja Episcopal Carismática. Nos comentários, algumas pessoas demostraram nítido preconceito e agressividade ao verem as vestes do ministro, que logo julgaram ser um “padre”. Vamos então a alguns fatos desconhecidos de grande parte dos evangélicos brasileiros.
Um pouco de história
Segunda Igreja Presbiteriana de Chicago |
Muita gente pensa que ser protestante significa ser anti-católico. Ou
seja, “tudo que o católico faz, eu tenho que fazer diferente!” Mas
acontece, que a reforma protestante tinha como alvo a doutrina e não a
liturgia da igreja, exceto naquilo que fosse considerado anti-bíblico.
Quando Andreas Karlstadt, na ausência de Lutero incentivou a destruição
de imagens em Wittenberg, Lutero censurou essa atitude a qual considerou
vandalismo contra obras de arte. Ou seja, mesmo Lutero teologicamente
destruindo o alicerce do culto às imagens e relíquias, ele não deixou de
reconhecer que algo de valor poderia se encontrado ali. Eram obras de
arte e embelezavam os templos. Até hoje muitas igreja protestantes na
Europa e EUA possuem imagens, vitrais ou ícones retratando pessoas ou
passagens bíblicas, mas apenas com função estética.
No século XVII, calvinistas ingleses desejavam purificar a Igreja da
Inglaterra de todo resquício de catolicismo romano, assim como, de toda e
qualquer prática litúrgica que não fosse claramente ensinada ou
ordenada nas Escrituras. Práticas como, por exemplo, o sinal da cruz no
batismo e o ajoelhar-se para receber a Ceia do Senhor. Esses
calvinistas ficaram conhecidos como puritanos. Um fato marcante desse
período, foi a chamada controvérsia das vestimentas. Os puritanos
rejeitaram que os ministros fizessem uso de paramentos elaborados, em
vez disso deveriam trajar a toga preta, que era a veste dos docentes e
magistrados. Assim o pastor em vez de ser identificado com a figura do
sacerdote, estaria identificado com a figura de um docente, por este ser
o responsável pelo ensino das Escrituras na igreja.
Puritanos |
Nos primeiros séculos do protestantismo, com exceção dos partidários da
reforma radical ou dos puritanos, nunca houve um movimento para abolir
tradições que não fossem consideradas explicitamente anti-bíblicas,
mesmo que fossem extra-bíblicas. Com o passar dos anos, em algumas
regiões e mais especificamente algumas denominações, permaneceram muitas
práticas que se assemelham ou são idênticas às praticas
católico-romanas.
Em meados do século XVIII os primeiros missionários protestantes
começaram a chegar ao Brasil. Porém pelo fato do Catolicismo Romano ser a
religião oficial do império, inúmeras restrições foram impostas aos
protestantes. As igrejas, por exemplo, não poderiam ter forma de templo.
Esse ambiente hostil aos protestantes, fez nascer um protestantismo
fortemente anti-católico e avesso a qualquer tradição ou prática que
lembre o catolicismo romano.
Vestes clericais: O que são e quais são?
Não vou enumerar todas as vestes litúrgicas da tradição cristã, mas
apenas as mais utilizadas no meio evangélico, inclusive no Brasil. As
vestes litúrgicas, mais do que cumprir uma função estética no culto, tem
a função de destacar a função exercida pelo ministro. Simbolicamente
quando o pastor está trajando tais vestes, o homem desaparece e a sua
função é ressaltada.
Colarinho Clerical
Simboliza o ministério da Palavra, já que a garganta é o local de onde
provém a voz, instrumento de proclamação da Palavra de Deus. O modelo
mais conhecido é uma tira branca removível, que se encaixa na parte
frontal do colarinho de uma camisa ou colete. Existem ainda outros
modelos, como por exemplo, o colarinho inteiriço que dá a volta no
pescoço dando a impressão de uma coleira branca sobre uma camisa preta
ou de outra cor. Esse modelo atribui-se também o significado do ministro
como escravo de Cristo, pois o escravo comumente utilizava uma cadeia
no pescoço.
O que para muita gente é marca registrada dos sacerdotes
católico-romanos, na verdade foi uma criação protestante. O Rev. Donald
McLeod, ministro da Igreja da Escócia (presbiteriana) criou no século
XIX a camisa clerical (que primeiramente era um colete) para ser mais
prático que a sotaina (batina) no uso do dia a dia do ministro. A Igreja
Católica só passou a adotar esse traje no Concílio Vaticano II.
Toga modelo calvinista |
No Brasil, as denominações que mais fazem uso desse traje são as
Igrejas: Anglicana, Luterana, Metodista, Presbiteriana, Quadrangular,
Projeto Vida Nova, Cristã Nova Vida, e em menor grau alguns pastores
batistas, nazarenos, congregacionais e raramente alguns pastores da
Assembleia de Deus. Já vi até mesmo pastores da Igreja Adventista do
Sétimo dia usando colarinho clerical.
Nos EUA e Europa o uso é muito mais amplo. O traje clergyman, como é
conhecido o conjunto terno e camisa clerical, não é propriamente uma
veste com função litúrgica, mas uma espécie de “uniforme de trabalho”,
já que foi idealizado para o uso no dia a dia do pastor facilitando sua
identificação no meio do povo.
Toga (Talar)
Originalmente uma veste acadêmica que foi introduzida no protestantismo
pelos calvinistas identificando a função do pastor com a função de um
professor das Escrituras e sinalizando seu preparo teológico para tal.
Originalmente as togas eram sempre pretas. Hoje, já encontramos togas
brancas, azuis, cinzas, etc. A toga perdeu bastante seu simbolismo e
ganhou uma conotação mais estética e litúrgica. Nos EUA os mais afeitos
ao uso da toga são as igrejas de comunidades afro-americanas. Mas, é
largamente utilizada por diversas denominações históricas e
pentecostais. No Brasil algumas igrejas presbiterianas e boa parte das
luteranas fazem uso frequente. Em outras denominações históricas, os
pastores preferem reservar seu uso para solenidades como casamentos,
formaturas, ordenações, etc.
Alba ou Alva |
Alba (ou alva)
A alba é uma túnica branca. Esta é a veste litúrgica mais comum da
tradição cristã. É na verdade a roupa de todos os batizados. Pois
tradicionalmente os cristãos quando eram batizados trajavam túnicas
brancas. Qualquer cristão que esteja atuando na liturgia pode
utiliza-la. É comum o uso de um cordão amarrado na cintura chamado
cíngulo. A alba é mais utilizada por anglicanos e luteranos. Católicos
também a usam, naturalmente.
Estola
A estola uma faixa colocada sobre os ombros simbolizando a ordenação.
Sua origem remonta ao império romano. Os governadores romanos a
utilizavam como símbolo de seu serviço prestado à sociedade. A estola
simboliza o ministério ordenado, simboliza que o pastor está a serviço
de Cristo e de sua igreja e que sua autoridade vem de Cristo. As cores
variam de acordo com ocasião e o tempo litúrgico. No Brasil de vez em
quando vemos alguns pastores de igrejas históricas e até mesmo uns
poucos pentecostais fazendo uso da estola, geralmente em eventos
especiais, mas não é tão comum.
Estola. Cores diferenciam odenação. |
Conclusão
Provavelmente muitos dos que estão lendo esse artigo estão questionando
onde está o embasamento bíblico para o uso de vestes litúrgicas por
parte dos ministros cristãos. Bem, o Antigo Testamento prescrevia o uso
de vestes sagradas para os sacerdotes (Ex.28.4). Até mesmo Davi não
sendo sacerdote usou uma “estola sacerdotal” (a estola dos levitas era
diferente da estola romana a qual o cristianismo adotou como vestimenta
litúrgica) e dançou perante o Senhor (2. Sm.6.14).
Alguns argumentarão que isso se tratava do Antigo Testamento e que não
encontramos no Novo Testamento qualquer ordenança quanto isso. E de
fato, não encontramos mesmo. Isso é apenas uma questão de opção de cada
igreja e de cada pastor. Da mesma forma que não temos uma ordem nas
Escrituras para fazer uso desse tipo de vestimentas, não temos uma
proibição. Meu objetivo com esse artigo não é fazer uma apologia ao uso
de paramentos, mas fornecer um pouco mais de informação aos evangélicos
brasileiros que em sua grande maioria desconhece algumas de nossas
tradições.
Leia Mais em: http://www.genizahvirtual.com/#ixzz34oXVCDeH
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