O ESTRANHO
ENVOLVIMENTO DA TORRE DE VIGIA COM O ESPIRITISMO
Azenilto G. Brito
A Sociedade Torre de
Vigia, organização sediada em Brooklyn, Nova York, que dirige a obra mundial
das chamadas testemunhas de Jeová, sempre busca obter respaldo de eruditos para
sua teologia peculiar e costuma citar autoridades que dêem apoio a suas teses ou
assim pareçam fazê-lo. É uma forma de causar uma impressão de erudição ou
autoridade quanto a muitos de seus ensinos, deixando os leitores convencidos do
elevado gabarito e profundidade de pesquisa dos que redigem suas publicações.
Contudo, muitas vezes isso ocorre distorcendo as palavras e intenções de tais
pesquisadores.
Que citações tomando
palavras de uma pessoa para dar sentido distorcido e até inteiramente contrário
à intenção do autor é prática extremamente condenável eu próprio deixei
claro no meu livro O Desafio da Torre de Vigia quando, tendo descoberto
uma citação na revista Despertai! de certa autoridade em história e
arqueologia cuja obra conhecia (Dr. Edwin R. Thiele), e que parecia chocar-se
com as posições conhecidas de tal autor, busquei consultá-lo a respeito, e o
que obtive em resposta foi seu protesto contra tal distorção. Eis a transcrição
do trecho:
“B) ATENÇÃO: Tendo
escrito ao Prof. E. R. Thiele solicitando esclarecimentos ante a forma abusiva
pela qual Despertai! valeu-se de suas palavras, recebemos do ilustre
mestre (já falecido) carta e artigo em que reafirma sua posição, conforme
registrada em The Mysterious Numbers of the Hebrew Kings. Em sua
correspondência, E. R. Thiele protesta pela distorção que as 'testemunhas de
Jeová' praticaram com o seu escrito de modo aético. Ele até declara que tais
pessoas lhe devem desculpas pela desonestidade de seu ato!
“Obs.: O artigo do Prof. Thiele com
tal protesto apareceu, em português, na revista O Atalaia [atualmente
fora de circulação] de agosto de 1975. Op.
Cit., pág. 63”.
Algo assim também se deu
com o Dr. Julius R. Mantey, um dos autores do Manual Grammar of the Greek
New Testament. Mantey em várias
ocasiões pediu que a Torre de Vigia removesse declarações de sua obra, como
apareciam com sentido distorcido, fora de contexto, em publicações da seita.
Embora os autores TTJ se utilizassem de trechos da gramática grega de sua
autoria na busca de pretextos para negar a divindade de Cristo, esse autor
sempre foi um dedicado crente num Deus Triúno.
O que se deu, porém, com a
prática de citar eruditos, envolvendo o tradutor de Bíblia Johannes Greber, é
um caso à parte. Certamente Greber seria hoje um autor favorito entre as TTJ
pois tem uma postura idêntica em muitos de seus ensinos. Por exemplo, num de
seus escritos Greber declarou:
Não existe qualquer união de três
pessoas em nenhuma Trindade no sentido em que os cristãos em geral
ensinam. . . . Somente o Pai é Deus. O próprio Cristo não foi Deus, mas
somente o primeiro dentre os filhos de Deus.
Devido à necessidade de
apoiar suas doutrinas heréticas, Greber igualmente publicou sua própria
tradução do Novo Testamento. Tendo inclinações espiritualistas, alegava ter-lhe
sido comunicado pelo “mundo dos espíritos” haver lugares no Novo Testamento,
das Bíblias modernas, em que uma palavra havia sido mudada a ponto de alterar o
sentido do texto. Quando lhe foi solicitado referir algum texto ele citou João
20:28. Um “espírito” teria anunciado a Greber que Tomé não proclamou Jesus como
seu Senhor e Deus, mas que teria se referido a Ele como seu Senhor e Mestre.
Greber dedicou-se, então,
à tradução completa do Novo Testamento, sempre com o auxílio dos “espíritos” e
sem ligação “com dogmas de qualquer igreja”. É digno de nota que a própria
Torre de Vigia, em The Watchtower [A Sentinela] de 15/02/1956, condenou
Greber denunciando-o como espírita, contudo cita de suas obras como autoridade
confiável em publicações lançadas em 1962, 1975, 1976 e 1981!
A tradução de Greber de
João 1:1 ajusta-se como uma luva às interpretações jeovaístas: “No princípio
era o Verbo, e o Verbo estava com Deus; e o Verbo era um deus”. Os livros Aid
to Bible Understanding [atualmente Insight on the Scriptures, em
português Estudo Perspicaz das Escrituras], Certificai-vos de Todas
as Coisas, O Verbo, Quem é Ele? fazem todos uso da tradução de
Greber de João 1:1. Greber é citado como um exemplo de uma tradução moderna que
emprega “um deus” concordando, assim, com a Tradução do Novo Mundo.
Greber foi um sacerdote
católico que morou na Alemanha no princípio do século XX. Em 1923 uma série de
experiências o levou a interessar-se pelo espiritismo, ou comunicação com os
seres espirituais. Ele recorda essas experiências numa seção autobiográfica de
seu livro Comunicação com o Mundo dos Espíritos de Deus. Os seres desse
mundo lhe teriam comunicado que muito do que se crê na cristandade é falso
porque as traduções bíblicas estavam cheias de imprecisões e traduções falhas.
Assim, inspirado por tais espíritos, Greber lançou-se à empresa de preparar sua
própria tradução bíblica. Eis como a Fundação Memorial Johannes Greber, que
ainda vende seus livros, expõe sua fantástica experiência:
O Novo Testamento, como interpretado
pelo erudito Pr. Johannes Greber, tem como fonte os mais antigos manuscritos no
mundo, postos em disponibilidade ao Pr. Greber para estudo e tradução mediante
a cortesia e cooperação de especialistas teológicos e museus por todo o mundo.
Esta é uma tradução absolutamente independente, sem restrição a dogmas de
qualquer igreja.
Às vezes ele obtinha as respostas corretas através de
grandes letras e palavras
iluminadas que passavam perante
os seus olhos. Outras vezes, obtinha as respostas corretas durante seções de
oração. Sua esposa, uma médium do Mundo do Espírito de Deus, era freqüentemente
a instrumentalidade para transmitir as respostas corretas dos Mensageiros de
Deus ao Pr. Greber.
A Bíblia proíbe todo contato com seres do mundo
espiritual, e as próprias TTJ aprendem isso. Na obra de 1995, O Conhecimento
Que Conduz à Vida Eterna, todo o
capítulo 12 é dedicado a expor tal proibição. Um livro de instrução doutrinária
anterior, A Verdade Que Conduz à Vida Eterna, pág. 61, traz o
subtítulo “Mantenha-se Livre
de Toda Forma de Espiritismo”. Assim, é paradoxal que para a defesa de
sua teoria antibíblica de ser Jesus um ser criado busquem os instrutores da
Torre de Vigia respaldo de um autor que tem tais alegações de práticas
espíritas.
Por falar nisso, é interessante acentuar que
há algumas coisas um tanto misteriosas em certas publicações jeovaístas,
exatamente sobre a questão de consulta aos mortos. No livro de exposição das
profecias do Apocalipse intitulado Revelação, Seu Grandioso Clímax Está
Próximo, pág. 125, há esta declaração:
Desde o tempo do apóstolo João, e até o dia do Senhor,
cristãos ungidos ficaram curiosos quanto à identidade da grande multidão.
Portanto, é apropriado que um dos 24 anciãos, representando os ungidos já no
céu, estimule o raciocínio de João por fazer uma pergunta pertinente: “E, em
resposta, um dos anciãos me disse: ‘Quem são estes que trajam compridas vestes
brancas e donde vieram?’ Eu lhe disse assim imediatamente: ‘Meu Senhor, és tu
quem sabes’” (Revelação 7:13, 14a) Sim, este ancião podia achar a resposta e
dá-la a João. Isto sugere que os ressuscitados do grupo dos 24 anciãos talvez
estejam envolvidos em transmitir verdades divinas hoje em dia.
Logo, a Torre de Vigia
está alegando que as “testemunhas de Jeová” ungidas, que morreram e agora estão
ressuscitadas como espíritos, habitando no Céu, podem estar “envolvidas em
transmitir verdades divinas hoje em dia”!
Mas tal conceito não é tão
moderno. O livro O Mistério Consumado, publicado pela Torre de Vigia em
1917, pág. 144, já sugeria que o falecido Russell controlava a obra das TTJ
mesmo a partir do Céu, para onde teria partido ao ser ressuscitado
espiritualmente. Ao comentar Apo. 8:3, consta do livro (não mais disponível) esta
estranha declaração, certamente desconhecida da grande massa de “testemunhas”
atuais:
Este verso mostra que, conquanto o Pr. Russell tenha
passado para além do véu [N.A.: o além-túmulo], ele ainda está dirigindo cada
aspecto da obra da Ceifa.
É difícil imaginar como
Russell estaria dirigindo a obra das “testemunhas de Jeová” a partir do Céu,
enquanto o seu sucessor, Joseph F. Rutherford, alterava sobre a Terra muitos
dos ensinos que o primeiro estabelecera, como a teoria da pirâmide de Gizé como
base de entendimento profético, as mudanças de datas, como a da ressurreição
dos ungidos, de 1878 para 1918, a do início da parusia, de 1874 para 1914, a do
início do milênio, de 1915 para 1925, além de várias outras práticas e ensinos
do tempo daquele.
Confirmando a noção de
controle da Obra por Russell após sua morte (que se deu em 1916), é dito na
revista Watchtower [A Sentinela] de 1º/11/1917:
Portanto, nosso querido Pr. Russell, sem dúvida, está
manifestando um profundo interesse na obra da ceifa, e tem permissão do Senhor
para exercer uma forte influência sobre ela.
Rutherford parece ter
temido que tal idéia sugerisse uma prática espírita, e décadas depois declara
preventivamente no livro Luz, vol. 1, pág. 64:
O Senhor empregou a Torre de Vigia
para anunciar essas verdades. Sem dúvida ele empregou seus representantes
invisíveis para realizar muito disso. De modo algum isso se trataria do que
alguns poderiam considerar espiritismo.
Cria-se então que a ressurreição invisível dos salvos
começara em 1878, mas “em 1927 concluiu-se que somente tivera lugar desde 1918”
[Cf. as obras da Torre de Vigia Do Paraíso Perdido ao Paraíso Recuperado,
pág. 192 e Los Testigos de Jehová en el Propósito Divino, págs. 63 e
64]. Assim, no ano de 1917, Russell estaria se comunicando com seus irmãos que
deixara sobre a Terra para conduzir a “obra da Ceifa”, levando-os a alterar
ensinos que ele mesmo defendia. Será que lá nos céus ele teve maior luz a
respeito? Mas se for assim, por que os próprios líderes da Torre de Vigia mais
tarde alteraram esses mesmos ensinos que o sucessor imediatamente de Russell
estabeleceu? Não deixa de ser esse um grande mistério.
[Transcrito e adaptado de pesquisas de M. Kurt
Goedelman e David Reed].
Referências à tradução de Greber em obras da Torre de Vigia:
* Aid to
Bible Understanding [Atual Insight on the Scriptures, em português: Estudo
Perspicaz das Escrituras], pág. 1669,
vb. “The Word”
[O Verbo], em conexão com João 1:1
* Idem, pág. 1134, vb. “Memorial Tomb” [Túmulo
Memorial], em conexão com Mateus 27:52, 53.
* Certificai-vos de Todas as Coisas (edição de
1965, em inglês), pág. 489, em conexão com João 1:1.
* The Watchtower [A Sentinela], 1º de setembro de 1962, pág. 554, em
conexão com João 1:1.
* The Watchtower [A Sentinela], 15 de outubro
de 1975, pág. 640, em conexão com Mateus 27:52, 53.
* The Watchtower [A Sentinela], 15 de abril de
1976, pág. 231, em conexão com Mateus 27:52, 53.
* The Word-Who Is He, According to John? [O
Verbo-Quem é Ele, Segundo João?], em conexão com João 1:1.
* The Watchtower [A Sentinela], 15 de fevereiro
de 1956: expõe e condena Greber como um médium espírita!
Fonte - O desafio da torre de vigia pags
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