Acho que a razão de essa questão ser importante para muitos pais é precisamente porque mesmo nós, adultos, não conseguimos explicar adequadamente essa doutrina. Podemos ensinar às crianças sobre a inerrância da Escritura simplesmente dizendo: “A Bíblia é verdadeira”. Podemos explicar alguma coisa sobre expiação dizendo: “Jesus pagou por nossos pecados e está vivo para sempre”. A Trindade, porém, é outra questão.
Acho que muito do nosso medo e hesitação aqui vem de uma incompreensão sobre o que o evangelho Cristão é. Sim, o cristianismo é lógico e inteligível (Carl Henry continua certo).
No entanto, Cristianismo não é meramente sobre razão e inteligência. O evangelho aponta para um diferente tipo de sabedoria, que silencia bocas humanas (Is 55.8; Jr 8.9; 1 Co. 1.19-20).
Deus é um Deus, e Deus é três pessoas em um relacionamento eterno entre si, um relacionamento ao qual somos convidados. Isso não é contraditório. Deus não é um do mesmo jeito que ele é três, ou vice-versa. Mas quem pode reduzir isso para um tipo de fórmula ou analogia fácil?
Às vezes, buscamos uma rápida analogia para as crianças porque queremos colocar nossas crianças de fora do mistério. Se ficar fácil explicar a Trindade (é como um trevo; é como água, gelo e vapor), poderemos “seguir em frente”. Temos medo de que se dissermos que a Trindade está, de certa forma, além da compreensão, nossos filhos não acreditem em nós ao ensiná-los fielmente sobre a verdade do evangelho.
Mas Jesus nos diz que há algo sobre a maneira de acreditar de uma criança que deveria ser verdadeiro para todos nós. Devemos, ele nos diz, ser como elas se vamos entrar no reino de Deus. Em um sentido, é verdade, crianças são geralmente hiperliterais. Lembro que, quando criança, eu pensava que a “alma” era uma pequena versão de mim localizada em uma das câmaras do meu coração (vestindo um uniforme de soldado, por alguma razão).
Porém, em aspectos mais importantes, as crianças estão abertas para o mistério e o paradoxo de maneiras que os adultos geralmente não estão. Crianças exploram o mundo em volta delas com olhos arregalados de admiração. Elas não compreendem tudo, e elas sabem que não compreendem tudo.
Esse é o tipo de ignorância abençoada, acredito, que Jesus recomenda. Para crer, você deve confiar em tudo que Deus disse para você, mas você também deve vê-lo, não seu próprio entendimento, como Senhor. Para enxergar, afinal, devemos saber que “vemos como em espelho, obscuramente” (1 Co 13.12).
Neste caso, deveríamos dizer corajosamente para nossos filhos: “Deus é Um e Deus é três. Não posso explicar completamente porque é assim que Deus e seus caminhos são, grandes e misteriosos. Isso não é maravilhoso?” Quando seu filho disser: “Isso confunde minha mente”, não responda com um lamento assustado, mas com um brilho em seus olhos. “Eu sei!”, você dirá, “a minha também! Isso não é algo fantástico, e grande?”.
Isso não termina a conversa, claro. Apenas inicia. Mas temos vários trilhões de anos e além para explorar a profundidade da realidade trinitariana. Um começo é o que precisamos.
E aprender sobre a unidade e a trindade de Deus em termos de maravilha e temor é um bom jeito, creio, de começar a vacinar nossos filhos contra o tipo estéril de racionalismo – cristão ou ateísta – que pode levar a um chato, desesperador e trágico tipo normal de vida.
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