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PERIGO: SOJA À VISTA [1]
Despretenciosamente, a soja se infiltrou
na dieta como se fosse a fonte mais perfeita de proteína. Mas talvez
exista um lado negro escondido, um que tem o poder de minar as
características que fazem de você um homem.
James Price, um oficial aposentado do
exército americano, virou objeto de um estudo sobre algo que jamais
imaginou viver. Durante meses teve sua masculinidade minada por peitos
inchados, perda de pelos e redução da libido para depois descobrir que
todo esse calvário estava ligado ao consumo excessivo de soja. Ao ler os
detalhes, você vai entender por que Price aceitou ser protagonista de
um artigo científico após enfrentar um problema tão constrangedor. Para
ele era mais que um problemas: era a chance de evitar que outros homens
passassem por isso também.
Notar mamas inchadas seria difícil para
qualquer homem. No caso dele foi ainda pior devido ao contraste com o
resto do corpo magro e definido. Mas não foi o único sintomas. “Meu
pênis ficou tão flácido que parecia ter encolhido. Até minhas emoções
mudaram.”
Os três primeiros médicos consultados
por Price o diagnosticaram com ginecomastia, um aumento anormal das
glândulas mamárias masculinas. Exames mais tarde mostraram que os níveis
de estrógeno no sangue dele eram oito vezes mais altos do que o limite
aceitável para homens, alto demais até para mulheres. Os médicos ficaram
perdidos diante desse quadro. Deprimido e com dor, Price procurou outro
especialista. Marcou uma consulta com o tenente-coronel Jack E. Lewi,
chefe de endocrinologia do Centro Médico Militar de Santo Antônio (EUA).
No primeiro encontro nem médico nem paciente tiveram a menor de quão
complexo o mistério seria.
Lewi inicialmente procurou por fatores
que pudessem desencadear a ginecomastia, como alcoolismo. Até suspeitou
de um tumor que produz estrógeno. Após vários exames, o médico ainda não
sabia o que deixava os hormônios do paciente fora de controle.
Embora Lewi tivesse perguntado a Price
sobre seus hábitos e estilo de vida, decidiu detalhar cada refeição. E
logo viu que leite de soja estava sempre presente. Como Price
desenvolveu intolerância à lactose anos antes, tomava um suplemento
alimentar, que fornecia uma dose grande de minerais, vitaminas, entre
outros nutrientes. O mais surpreendente foi quando revelou que consumia 3
litros de leite por dia. Foi aí que tudo mudou.
OS SINTOMAS
Price sempre teve uma vida ativa e uma
alimentação saudável. Sua forma física era destaque até mesmo na
corporação. Com a morte da mulher, o cenário mudou. Ele ficou muito mais
emotivo e apresentou oscilações de humor e redução da libido. Quando
começou a namorar novamente, era como se o aspecto sexual tivesse
evaporado. Interesse zero!
A ginecomastia em si se tornou algo
bastante humilhante para Price. Ele parou de usar camisetas, temendo que
as pessoas notassem a saliência similar aos seios de uma menina na
puberdade. Mas durante o ano seguinte, em que se submeteu a vários
exames para tentar desvendar o mistério, nunca ocorreu a Price que o
leite de soja pudesse ser a causa.
Quando Lewi recomendou suspender a
bebida, ele obedeceu. E, durante os meses seguintes, exames de sangue
revelaram que os níveis de estrógeno em Price estavam voltando ao
normal. Melhor ainda, a sensibilidade dos mamilos estava cedendo. Seu
médico, que pesquisou a literatura científica enquanto tentava
solucionar o caso, não encontrou nenhuma evidência relacionando soja à
ginecomastia.
Veja algumas descobertas recentes sobre os estágios de vida dos homens.
Bebês: Alimentados com grão
No Brasil, a onda da soja também chegou a
crianças e bebês. Por considerar o grão um alimento saudável, muitas
mães acabam oferecendo-o aos filhos. No entanto, os pediatras não
recomendam o consumo indiscriminadamente.
Paul Cooke, biólogo reprodutivo da
Universidade de lIIinois (EUA), estudou ratos criados com uma quantidade
de genisteína suficiente para deixar os níveis sanguíneos comparáveis
aos de bebês humanos que tomam leite de soja. Ele observou um
encolhimento no timo, glândula importante para o sistema imunológico. É
difícil afirmar se o mesmo efeito ocorre nos bebês humanos, mas um
estudo publicado no Jaurnal of the American Medical Assaciatian (EUA),
em 2001, pesquisou mais de 800 adultos, entre 20 e 34 anos, que
receberam leite de soja ou de vaca na infância. Uma das diferenças que
surgiram foi que o grupo alimentado com leite de soja usou mais remédios
para asma e alergia na vida adulta. Será que isso é apenas uma
coincidência ou será que pode indicar uma deficiência na função
imunológica?
Ninguém sabe responder à questão. Nos
Estados Unidos, há mais de 20 milhões de pessoas que consumiram leite de
soja na infância. E há inúmeros centros de pesquisa no país estudando
grandes parcelas da população. No resto do mundo, o assunto também
levanta polêmica. Em 2005, o ministério da saúde de Israel recomendou
reduzir o consumo de produtos à base de soja por crianças e, se
possível, evitar completamente por recém-nascidos. Ao fazer tal alerta,
Israel se juntou à França, à Nova Zelândia e à Austrália para
oficialmente adotar uma postura preventiva.
DA ADOLESCÊNCIA À JUVENTUDE: ALIMENTO FALSO PARA OS MÚSCULOS
A maioria das pessoas reconhece a
importância da proteína no desenvolvimento e na recuperação muscular. E
pesquisas já mostraram que a hora que você ingere a proteína é tão
importante quanto a qualidade do alimento – fato que criou um mercado de
suplementos de proteína fáceis de consumir. “É difícil comer um bife na
academia”, afirma William Kraemer, pesquisador de treino de força da
Universidade de Connecticut (EUA).
Suplementos de proteína permitem que um
atleta misture 1 colher de pó no suco e beba a mistura a qualquer hora.
Cada marca alardeia suas melhores qualidades em relação ao
desenvolvimento muscular. As fontes de proteína mais usadas em todos
eles são soja, whey e caseína. A questão é: será que o preço mais
acessível da soja gera algum custo para o desenvolvimento muscular?
Em um estudo de 2005 publicado no Journal of Nutrition (EUA),
pesquisadores que compararam a soja à caseína concluíram que “o valor
biológico da proteína da soja deve ser considerado inferior ao da
proteína da caseína”. Entre outras desvantagens, os cientistas
descobriram que uma porção significativamente maior de soja é reduzida
ao produto residual uréia. Mais, ela leva a uma menor síntese de
proteína no organismo.
“A proteína como a whey é muito mais
saudável que a soja”, afirma Kraemer. Há também preocupações de que a
soja possa reduzir a produção de testosterona nos homens e aumentar a
produção de estradiol, normalmente associado à produção de hormônio
feminino. Em relação aos benefícios de força, no entanto, mais pesquisas
são necessárias antes de definir diretrizes.
Em um estudo publicado no periódico Human Reproduction, Jorge
E. Chavarro e seus colegas descobriram uma forte associação entre o
consumo de alimentos de soja e a redução na contagem de espermatozóides
nos homens, especialmente os obesos e acima do peso. Noventa e nove
homens relataram ingerir 15 tipos diferentes de alimentos à base de
soja, em seguida fizeram o exame para contar os espermatozóides. Aqueles
que consumiam mais soja por dia tiveram, em média, 32% menos
espermatozóides por mililitro de sêmen em comparação aos homens que não
tinham soja na dieta.
Chavarro alerta que isso não prova causa
e efeito e que ainda é muito cedo para aconselhar aos homens a evitar
alimentos à base de soja na esperança de aumentar a fertilidade.
“Claramente, essa história está apenas começando”, diz. “Mais estudos
ainda precisam ser realizados.” De qualquer forma, o sinal de alerta
deve ficar ligado desde já. Segundo o urologista Mauro Bibancos,
especialista em reprodução assistida do Grupo Huntington, se ficar
provado que a soja faz mal para os espermatózoides, ela também será
maléfica para o corpo em geral.
Se a fertilidade já causa preocupações,
imagina a impotência? Dois outros trabalhos recentes revelaram que pelo
menos um componente da soja prejudica a função erétil em animais e
pode fazer o mesmo nos homens.
Os estudos, publicados nos periódicos Journal of Andrology (EUA) e Urology respectivamente,
analisaram o efeito da daidzeína na função sexual de ratos machos.
Doses moderadas do fitoestrógeno consumidas na juventude ou na vida
adulta afetaram bastante a qualidade de suas ereções. Entre outras
mudanças, os homens que foram expostos à daidzeína produziram menos
testosterona, tinham ereções menos poderosas e passaram por mudanças
bioquímicas no tecido peniano que deixaram esse tecido menos elástico e
menos capaz de se encher de sangue.
Embora saibam que os resultados nos
ratos nem sempre equivalem diretamente aos resultados em humanos, os
autores do primeiro estudo sugerem que há razão para acreditar que isso
vá acontecer. Eles citam uma incidência 10% maior de disfunção erétil em
chineses, que consumiam grandes quantidades de soja, em comparação a
americanos, que evitavam o alimento.
Yufeng Huang, um dos coautores dos dois
trabalhos, diz que a dose “moderada” usada nos estudos com animais leva a
aproximadamente o mesmo nível de daidzeína no sangue dos homens que
comem soja todos os dias, hábito comum na Ásia. Ele acredita que a soja
representa um fator de risco novo e previamente desprezado para
disfunção erétil.
No ano passado, Eef Hogervorst, da
Universidade Loughborough (Inglaterra), e outros pesquisadores
publicaram um estudo sobre produtos de soja e o risco de demência. Os
pesquisadores focaram em pessoas mais velhas da Indonésia, membros de
uma cultura na qual o tofu é um alimento importante na dieta há tempos.
Hogervorst afirma que sua equipe começou o trabalho confiante de que
encontraria um benefício nos fitoestrógenos do tofu. “Quase tudo que nós
aprendemos sobre cultura animal e celular indicava que substâncias
similares ao estrógeno protegeriam o cérebro”, diz.
Eles, no entanto, descobriram exatamente
o oposto: os participantes com mais de 68 anos que comiam grandes
quantidades de tofu regularmente tiveram o risco de demência e problemas
de memória dobrado em comparação àqueles que comiam moderadamente.
“Estamos formando um novo consenso agora: hormônios e derivados não são muito bons para pessoas acima de 65”, diz o pesquisador.
“Agora acho que a tendência é termos cada vez mais pesquisas sobre esse assunto. E, no final, vamos
encontrar um equilíbrio”, acredita o urologista Renato Fraietta, da
Unifesp (SP). “A soja faz bem? Faz, quando sem exagero. É a mesma
história do vinho. Uma taça de vinho tinto faz bem para o coração. Mas
uma garrafa, não.”
O relatório feito por Jack E. Lewi sobre o caso de James Price foi publicado na edição de maio e junho de 2008 do Endocrine Practice (EUA),
um periódico lido pelos mais influentes endocrinologistas. Graças a
isso, os médicos agora contam com mais um documento na hora de avaliar a
ginecomastia.
Mesmo assim, Lewi acredita que produtos
de soja consumidos com moderação ainda podem ser uma parte saudável da
dieta de um homem. “O problema”, diz, “é quando uma coisa como a soja é
tida como essa maravilhosa panacéia para a saúde, e as pessoas acabam
exagerando na dose”.
Uma questão final no caso de Price, no
entanto, mostra a dificuldade de evitar a soja. Alguns meses depois que
os níveis de estrógeno voltaram à normalidade, eles subiram novamente. E
os efeitos colaterais ressurgiram: dor e inchaço nas mamas, falta de
libido, ereções pobres. Ao pesquisar o que estaria acontecendo, Price
descobriu que estava tomando um leite que não era de soja, mas que
continha soja na fórmula. Ele jogou tudo no lixo e a vida voltou ao
normal. Infelizmente, as mamas continuam inchadas, uma consequência das
mudanças no tecido fibriótico que ocorrem com a ginecomastia de longo
prazo. Price ainda se incomoda com a situação, mas não está disposto a
remover esse desconforto cirurgicamente. Há muitos riscos, diz –
sangramento, infecção, problemas com anestesia – para justificar entrar
na faca a essa altura da vida.
Embora Price reconheça que seu corpo
talvez tenha uma sensibilidade acima da média para os fitoestrógenos da
soja, ele sugere a outros homens procurar o médico diante do primeiro
sinal de dor ou inchaço. Sintomas descobertos – e tratados – no início
são mais facilmente revertidos. Mais: sempre leia os rótulos dos
alimentos que for consumir. As experiências mostraram que eles nem
sempre são o que imaginamos. A proteína de soja hoje é um ingrediente
rentável, presente em todos os lugares e muitas vezes escondido sob
rótulos um tanto confusos.
Nos últimos anos, alimentos saudáveis e à
base de soja se tornaram inextricavelmente associados. Muitos homens,
sem saber exatamente a razão, confirmaram em pesquisas que o grão é
benéfico à saúde e, portanto, deve ser incluído na dieta.
A soja também ganhou destaque na dieta
vegetariana, pois fornece proteína e não provoca a indigestão moral da
carne. Mais: na última década, vários trabalhos sugeriram que comer soja
pode aumentar a expectativa de vida. Em 1999, a proteína de soja
recebeu uma declaração poderosa do FDA, órgão governamental americano
que controla os alimentos: Dietas com 25 gramas da proteína do grão – um
litro de leite de soja – por dia podem reduzir o risco de doenças do
coração. Adicione a isso o número de estudos que sugere que a proteína
de soja protege contra o câncer de próstata e, de repente, o grão parece
um remédio poderoso.
Como todos os remédios, infelizmente há
efeitos colaterais. E, quando você consome muita proteína de soja, você
entra em uma zona de risco, pois ingere duas drogas naturais: genisteína
e daidzeína. Ambas agem de forma tão parecida com o estrógeno que são
conhecidas como fitoestrógenos (substâncias semelhantes aos estrógenos
produzidas por plantas). Quando homens consomem essas substâncias em
grandes quantidades, eles podem viver pesadelos como aqueles vividos por
James Price. “Os fitoestrógenos têm o efeito do hormônio feminino e
podem provocar alterações hormonais e até aumento de mama nos homens”,
confirma o urologista Renato Fraietta, diretor do Departamento de
Andrologia da Sociedade Brasileira de Urologia e médico do Setor de
Reprodução Humana da Unifesp (SP).
Fonte - http://drpaulomaciel.com.br/perigo-soja-a-vista/
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