2. Tessalonicenses 2: 2,3
O catolicismo é hoje olhado pelos protestantes com
muito maior favor do que anos atrás. Nos países em que o catolicismo não está
na ascendência, e os romanistas adotam uma política conciliatória a fim de a
conseguir, há crescente indiferença com
relação às doutrinas que separam as igrejas reformadas da hierarquia papal;
ganha terreno a opinião de que, em última análise, não diferimos tão
grandemente em pontos vitais como se supunha, e de que pequenas concessões de
nossa parte nos levarão a melhor entendimento com Roma.
Houve tempo em que os protestantes davam alto valor à liberdade de consciência
a tão elevado preço comprada. Ensinavam os filhos a aborrecer o papado, e
sustentavam que buscar harmonia com Roma seria deslealdade para com Deus. Mas
quão diferentes são os sentimentos hoje expressos!
Os defensores do papado afirmaram que a igreja foi
caluniada; e o mundo protestante inclina-se a aceitar esta declaração.
Muitos insistem em que é injusto julgar a igreja de hoje pelas abominações e absurdos que assinalaram
seu domínio durante os séculos de ignorância e trevas. Desculpam sua horrível
crueldade como sendo o resultado da barbárie dos tempos, e alegam que a
influência da civilização moderna lhe mudou os sentimentos.
Olvidaram Estas pessoas a pretensão de infalibilidade sustentada há oitocentos anos por
esse altivo poder? Longe de ser abandonada, firmou-se esta pretensão no século
XIX de modo mais positivo que nunca dantes. Visto como Roma afirma que a igreja
"nunca errou nem, segundo as Escrituras, errará jamais" (História
Eclesiástica de Mosheim), como poderá ela renunciar aos princípios que lhe
nortearam a conduta nas eras passadas?
A igreja papal nunca
abandonará a sua pretensão à
infalibilidade. Tudo que tem feito
em perseguição dos que lhe rejeitam os dogmas, considera ela estar direito; e não repetiria os mesmos atos se a
oportunidade se lhe apresentasse? Removam-se as restrições ora impostas pelos
governos seculares, reintegre-se Roma ao poderio anterior, e de pronto
ressurgirá a tirania e perseguição.
Bem conhecido escritor refere-se nos seguintes termos
à atitude da hierarquia papal no que respeita à liberdade de consciência, e aos
perigos que ameaçam especialmente os Estados Unidos pelo êxito de sua política:
"Há muitos que se dispõem a atribuir ao fanatismo
ou à infantilidade todo receio quanto ao catolicismo romano nos Estados Unidos.
Tais pessoas nada vêem no caráter e atitude do catolicismo que seja hostil às
nossas instituições livres, ou nada encontram de mau sinal no incremento que vai
tomando. Comparemos, pois, em primeiro lugar, alguns dos princípios
fundamentais de nosso governo com os da Igreja Católica.
"A Constituição dos Estados Unidos garante
liberdade de consciência. Nada se preza mais ou é de maior transcendência. O
Papa Pio IX, na encíclica de 15 de agosto de 1854, disse: 'As doutrinas ou
extravagâncias absurdas e errôneas em defesa da liberdade de consciência, são
erro dos mais perniciosos - uma peste que, dentre todas as outras, mais deve
ser temida no Estado.'
O mesmo papa, na encíclica de 8 de dezembro de 1864, anatematizou 'os que defendem a
liberdade de consciência e de culto' e também 'todos os que afirmam que a
igreja não pode empregar a força.'
"Todo cardeal, arcebispo e bispo da Igreja
Católica, presta para com o papa um juramento de fidelidade em que ocorrem as
seguintes palavras: 'Combaterei os hereges, cismáticos e rebeldes ao dito
senhor nosso (o papa), ou seus sucessores, e persegui-los-ei com todo o meu
poder'." - Our Country, do Dr. Josias Strong.
É certo que
há verdadeiros cristãos na comunhão católico-romana. Milhares na dita igreja estão servindo a Deus
segundo a melhor luz que possuem. Não se lhes permite acesso à Sua Palavra, e, portanto,
não distinguem a verdade. Nunca viram o contraste entre um verdadeiro culto
prestado de coração e um conjunto de meras formas e cerimônias. Deus olha para
essas almas com compadecida ternura, educadas como são em uma fé que é ilusória
e não satisfaz. Fará com que raios de luz penetrem as densas trevas que as
cercam. Revelar-lhes-á a verdade como é em Jesus, e muitos ainda se unirão ao
Seu povo.
Mas o catolicismo, como sistema não se acha hoje em harmonia com o evangelho de Cristo mais
do que em qualquer época passada de sua história. As igrejas protestantes estão
em grandes trevas, pois do contrário discerniriam os sinais dos tempos. São de
grande alcance os planos e modos de operar da Igreja de Roma. Emprega todo
expediente para estender a influência e aumentar o poderio, preparando-se para
um conflito feroz e decidido a fim de readquirir o domínio do mundo,
restabelecer a perseguição e desfazer tudo que o protestantismo fez.
Muitos protestantes supõem que a religião católica não é atrativa, e que seu
culto é um conjunto de cerimônias, fastidioso e sem sentido. Enganam-se, porém.
Embora o catolicismo se baseie no engano, não é impostura grosseira e
desprovida de arte. O culto da Igreja
Romana é um cerimonial assaz impressionante. O brilho de sua ostentação e a
solenidade dos ritos fascinam os sentidos do povo, fazendo silenciar a voz da
razão e da consciência. Os olhos ficam encantados. Igrejas magnificentes,
imponentes procissões, altares de ouro, relicários com pedras preciosas,
quadros finos e artísticas esculturas apelam para o amor do belo. O ouvido
também é cativado. A música é excelente. As belas e graves notas do órgão,
misturando-se à melodia de muitas vozes a ressoarem pelas elevadas abóbadas e
naves ornamentadas de colunas, das grandiosas catedrais, não podem deixar de
impressionar a mente com profundo respeito e reverência.
Este esplendor, pompa e cerimônias exteriores, que
apenas zombam dos anelos da alma ferida pelo pecado, são evidência da corrupção
interna.
A religião de
Cristo não necessita de semelhantes
atrativos para se fazer recomendável. À luz que procede da cruz, o
verdadeiro cristianismo apresenta-se tão puro e adorável que nenhuma decoração
externa poderá encarecer-lhe o verdadeiro valor. É a beleza da santidade, o
espírito manso e quieto, que é precioso diante de Deus.
O fulgor do estilo não é necessariamente índice de
pensamento puro, elevado. Altas concepções de arte, delicado apuro de gosto,
existem amiúde em espíritos que são terrenos e sensuais. São freqüentemente empregados
por Satanás a fim de levar homens a esquecer-se das necessidades da alma, a
perder de vista o futuro e a vida imortal, a desviar-se do infinito Auxiliador
e a viver para este mundo unicamente.
Uma religião
de exibições externas é atraente ao
coração não renovado. A pompa e cerimonial do culto católico têm um sedutor,
fascinante poder, pelos quais são enganados muitos, que chegam a considerar a
Igreja Romana como a própria porta do Céu.
Ninguém, a não ser os que têm os pés firmados nos
fundamentos da verdade, e o coração renovado pelo Espírito de Deus, se acha ao
abrigo de sua influência. Milhares que não têm um conhecimento experimental de
Cristo serão levados a aceitar as formas da piedade sem a sua eficácia. Esta é
a religião que precisamente desejam as multidões.
Erros da igreja
1.
A pretensão da
igreja ao direito de perdoar, leva o
católico a sentir-se com liberdade de pecar; e a ordenança da confissão, sem a
qual o perdão não é conferido, tende igualmente a dar livre curso ao mal. O que
se ajoelha diante de um mortal e revela em confissão os pensamentos e
imaginações secretos do coração, está aviltando a sua varonilidade, degradando
todo nobre instinto da alma. Desvendando os pecados de sua vida a um sacerdote
- mortal falível, pecador, e mui freqüentemente corrompido pelo vinho e
licenciosidade - sua norma de caráter é rebaixada, e, como conseqüência, fica
contaminado. Seu conceito acerca de Deus é degradado à semelhança da humanidade
decaída; pois o padre se acha como representante de Deus. Esta degradante
confissão de homem para homem é a fonte secreta donde têm fluído muitos dos
males que aviltam o mundo e o preparam para a destruição final. Todavia, para o que ama a satisfação própria, é mais
agradável confessar a um semelhante mortal do que abrir a alma a Deus.
2.
Fica mais a gosto
da natureza humana fazer penitência
do que renunciar ao pecado; é mais fácil mortificar a carne com cilício,
urtigas e aflitivas cadeias, do que crucificar os desejos carnais. Pesado é o
fardo que o coração carnal deseja levar de preferência a curvar-se ao jugo de
Cristo.
3.
Os romanistas
colocam cruzes sobre as igrejas,
sobre os altares e sobre as vestes. Por toda parte se vê a insígnia da cruz.
Por toda parte é ela exteriormente honrada e exaltada. Mas os ensinos de Cristo
estão sepultados sob um montão de tradições destituídas de sentido, falsas
interpretações e rigorosas exigências. As palavras do Salvador relativas aos
fanáticos judeus, aplicam-se com maior força ainda aos chefes da Igreja
Católica Romana: "Atam fardos pesados e difíceis de suportar, e os põem
aos ombros dos homens; eles, porém, nem com o dedo os querem mover." Mat.
23:4. Almas conscienciosas são conservadas em constante terror, temendo a ira
de um Deus que foi ofendido, enquanto muitos dos dignitários da igreja estão a
viver no luxo e em prazeres sensuais.
4.
O culto das imagens e relíquias, a invocação dos
santos e a exaltação do papa são
ardis de Satanás para desviar de Deus e de Seu Filho a mente do povo. Para
efetuar sua ruína, esforça-se por afastar sua atenção dAquele por meio de quem
unicamente podem encontrar salvação. Dirigirá as almas para qualquer objeto
pelo qual possa ser substituído Aquele que disse:"Vinde a Mim, todos os
que estais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei." Mat. 11:28.
5.
É o constante
esforço de Satanás representar falsamente
o caráter de Deus, a natureza do pecado e os resultados finais em jogo no
grande conflito. Seus sofismas diminuem a obrigação da lei divina dando ao
homem licença para pecar. Ao mesmo tempo fá-lo Satanás acariciar falsas concepções acerca de Deus, de maneira que O
considera com temor e ódio, em vez de amor. A crueldade inerente ao seu
próprio caráter é atribuída ao Criador; aparece incorporada aos vários sistemas
de religião e expressa nas diversas formas de culto. Sucede assim que a mente
dos homens é cegada e Satanás deles se aproveita como agentes para guerrear contra
Deus. Por meio de concepções pervertidas acerca dos atributos divinos, foram as
nações gentílicas levadas a crer serem os sacrifícios humanos necessários para
alcançar o favor da Divindade; e horríveis crueldades têm sido perpetradas sob
as várias formas de idolatria.
6.
A Igreja de Roma
apresenta hoje ao mundo uma fronte serena, cobrindo de justificações o registro
de suas horríveis crueldades. Vestiu-se com roupagens de aspecto cristão; não
mudou, porém. Todos os princípios
formulados pelo papado em épocas passadas, existem ainda hoje. As doutrinas
inventadas nas tenebrosas eras ainda são mantidas. Ninguém se deve iludir. O
papado que os protestantes hoje se acham tão prontos para honrar é o mesmo que
governou o mundo nos dias da Reforma, quando homens de Deus se levantavam, com
perigo de vida, a fim de denunciar sua iniqüidade. Possui o mesmo orgulho e
arrogante presunção que dele fizeram senhor sobre reis e príncipes, e
reclamaram as prerrogativas de Deus. Seu espírito não é menos cruel e despótico
hoje do que quando arruinou a liberdade humana e matou os santos do Altíssimo.
7.
Se quiser saber
como romanistas e protestantes, unidos, tratarão os que rejeitarem seus dogmas,
veja o espírito que Roma manifestou em relação ao sábado e seus defensores.
Como começou os erros e crendices da igreja
1.
Editos reais, concílios gerais e ordenanças eclesiásticas, apoiadas pelo poder
secular, foram os passos por que a festividade pagã alcançou posição de honra
no mundo cristão. A primeira medida de ordem pública impondo a observância do
domingo foi a lei feita por Constantino. (No ano 321.) Este edito exigia que o
povo da cidade repousasse no venerável dia do Sol", mas permitia aos
homens do campo continuarem com suas fainas agrícolas. Posto que virtualmente um
estatuto pagão, foi imposto pelo imperador depois de ser nominalmente aceito
pelo cristianismo
2.
Como a ordem real
não parecia substituir de modo suficiente a autoridade divina, Eusébio, bispo que procurava o favor dos
príncipes e era amigo íntimo e adulador de Constantino, propôs a alegação
de que Cristo transferira o sábado para o domingo. Nenhum testemunho das
Escrituras, sequer, foi aduzido em prova da nova doutrina. O próprio Eusébio
inadvertidamente reconhece sua falsidade, e indica os verdadeiros autores da
mudança "Todas as coisas", diz
ele, "que se deveriam fazer no sábado nós as transferimos para o dia do
Senhor." - Leis e Deveres Sabáticos, de R. Cox. Mas o argumento do
domingo, infundado como era, serviu para incentivar os homens a desprezarem o
sábado do Senhor. Todos os que desejavam ser honrados pelo mundo, aceitaram a
festividade popular.
3.
Com o firme
estabelecimento do papado, a obra da exaltação do domingo continuou. Durante
algum tempo o povo se ocupou com trabalho agrícola fora das horas de culto, e o
sétimo dia, o sábado, continuou a ser considerado como dia de repouso. Lenta e
seguramente, porém, se foi efetuando a mudança. Aos que se achavam em cargos
sagrados era vedado proceder, no domingo, a julgamentos em qualquer questão
civil. Logo depois, ordenava-se a todas as pessoas; de qualquer classe,
abster-se do trabalho usual, sob pena de
multa aos livres, e açoites no caso de serem servos. Mais tarde foi
decretado que os ricos fossem punidos com a perda da metade dos bens; e,
finalmente, que, se obstinassem, fossem escravizados. As classes inferiores
deveriam sofrer banimento perpétuo.
4.
Recorreu-se também aos milagres. Entre outros prodígios foi referido que estando um
lavrador, em dia de domingo, a limpar o arado com um ferro para em seguida
lavrar o campo, o ferro cravou-se-lhe
firmemente na mão, e durante dois anos ele o carregou consigo, "para a
sua grande dor e vergonha". - Discurso Histórico e Prático Sobre o Dia do
Senhor, de Francis West.
5.
Chantagem - Mais
tarde o papa deu instruções para que o padre da paróquia admoestasse os
violadores do domingo, e fizesse com que fossem à igreja dizer suas orações, não acontecesse trouxessem eles alguma
grande calamidade sobre si mesmos e os vizinhos. Um concílio eclesiástico
apresentou o argumento, desde então mui largamente empregado, mesmo pelos
protestantes, de que, tendo pessoas sido
fulminadas por raios enquanto trabalhavam no domingo, deve este ser o dia
de repouso. "É evidente", diziam os prelados, "quão grande foi o
desprazer de Deus pela sua negligência quanto a este dia." Fez-se então o
apelo para que padres e ministros, reis e príncipes, e todo o povo fiel,
"empregassem os maiores esforços e cuidado a fim de que o dia fosse
restabelecido à sua honra e, para crédito do cristianismo, mais dedicadamente
observado no futuro. - Discurso em Seis Diálogos Sobre o Nome, Noção e
Observância do Dia do Senhor, de T. Morer.
6.
Mostrando-se
insuficientes os decretos dos concílios, foi rogado às autoridades seculares
que promulgassem um edito que inspirasse
terror ao povo, e o obrigasse a abster-se do trabalho no domingo. Num
sínodo realizado em Roma, todas as decisões anteriores foram reafirmadas, com
maior força e solenidade. Foram também incorporadas à lei eclesiástica, e
impostas pelas autoridades civis, através de quase toda a cristandade. -
História do Sábado, de Heylyn.
7.
A ausência de
autoridade escriturística para a guarda do domingo ainda ocasionava não
pequenas dificuldades. O povo punha em
dúvida o direito de seus instrutores de deixarem de lado a positiva declaração
de Jeová: "o sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus", para
honrar o dia do Sol. A fim de suprir a falta de testemunho bíblico, foram
necessários outros expedientes. Um zeloso defensor do domingo, que pelos
fins do século XII visitou as igrejas da Inglaterra, encontrou resistência por
parte de fiéis testemunhas da verdade; e tão infrutíferos foram os seus
esforços que se retirou do país por algum tempo, em busca de meios para fazer
valer os seus ensinos. Ao voltar, a falta foi suprida, e em seus trabalhos
posteriores obteve maior êxito. Trouxe
consigo um rolo que dizia provir do próprio Deus, e conter a necessária ordem
para a observância do domingo, com terríveis ameaças para amedrontar o
desobediente. Este precioso documento - fraude tão vil como a
instituição que apoiava, dizia-se haver caído do Céu, e sido achado
em Jerusalém, sobre o altar de Simeão, no Gólgota. Mas, em realidade, o
palácio pontifical em Roma foi a fonte donde procedeu. Fraudes e falsificações
para promover o poderio e prosperidade da igreja têm sido em todos os séculos
consideradas lícitas pela hierarquia papal.
O rolo proibia o trabalho
desde a hora nona, três horas da tarde, do sábado, até ao nascer do Sol na
segunda-feira; e declarava-se ser a sua autoridade confirmada por muitos
milagres. Referia-se que pessoas que
trabalharam além da hora indicada, foram atacadas de paralisia.
Certo moleiro que tentou moer o trigo, viu, em lugar da farinha,
sair uma torrente de sangue, e a mó ficar parada apesar do forte ímpeto da
água. Uma mulher que pusera massa de pão ao forno, achou-a crua quando foi
tirada, embora o forno estivesse muito quente. Outra que tinha massa preparada
para cozer à hora nona, mas resolvera deixá-la de lado até segunda-feira,
encontrou-a no dia seguinte transformada em pães e estava cozida pelo poder
divino. Um homem que cozeu o pão depois da hora nona no sábado, achou, ao
parti-lo na manhã seguinte, que do mesmo saía sangue. Por meio de tais
invencionices absurdas e supersticiosas, esforçaram-se os defensores do domingo
por estabelecer a santidade deste. - Anais, de Roger de Hoveden.
Exemplo notável da política de Roma para com os que
dela discordavam, foi dado na longa e sanguinolenta perseguição dos valdenses, alguns dos quais eram
observadores do sábado. Outros sofreram de modo semelhante pela sua
fidelidade para com o quarto mandamento. A história das igrejas da Etiópia é
especialmente significativa.
Em meio das trevas da Idade Média, os cristãos da
África Central foram perdidos de vista e esquecidos pelo mundo, e durante
muitos séculos gozaram liberdade no exercício de sua fé. Mas finalmente Roma
soube de sua existência, e o imperador da Etiópia foi logo induzido a
reconhecer o papa como vigário de Cristo. Seguiram-se outras concessões. Foi
promulgado um edito proibindo a observância do sábado, sob as mais severas
penas. - História Eclesiástica da Etiópia, de Michael Geddes. Mas a tirania
papal se tornou logo um jugo tão amargo, que os etíopes resolveram sacudi-lo de
seu pescoço. Depois de luta terrível, os romanistas foram banidos de seus
domínios, restabelecendo-se a antiga fé. As igrejas regozijaram-se com a
liberdade, e jamais olvidaram a lição que aprenderam concernente aos enganos,
fanatismo e poder despótico de Roma. Estavam contentes por permanecerem dentro
de seu reino solitário, desconhecidos para o resto da cristandade.
As igrejas
da África observavam o sábado como
este fora guardado pela igreja papal antes de sua completa apostasia. Enquanto
guardavam o sétimo dia em obediência ao mandamento de Deus, deixaram de
trabalhar no domingo, em conformidade com o costume da igreja. Obtendo poder
supremo, Roma pisou sobre o sábado do Senhor para exaltar o seu próprio; mas as
igrejas da África, ocultas quase durante mil anos, não participaram desta
apostasia. Quando postas sob o domínio de Roma, foram obrigadas a deixar de
lado o verdadeiro sábado e exaltar o falso; porém, mal readquiriram a
independência, voltaram a obedecer ao quarto mandamento.
Estes relatos do passado revelam claramente a
inimizade de Roma para com o sábado legítimo e seus defensores, e os meios que
emprega para honrar a instituição por ela criada. A Palavra de Deus ensina que
estas cenas devem repetir-se, quando os católicos romanos e protestantes se
unirem para a exaltação do domingo.
A profecia do capítulo 13 do Apocalipse declara que o
poder representado pela besta de chifres
semelhantes aos do cordeiro fará com que a "Terra e os que nela
habitam" adorem o papado, ali simbolizado pela besta "semelhante ao leopardo". A besta de dois
chifres dirá também "aos que habitam na Terra que façam uma imagem à
besta; e, ainda mais, mandará a todos, "pequenos e grandes, ricos e
pobres, livres e servos", que recebam o "sinal da besta". Apoc.
13:11-16.
Mostrou-se
que os Estados Unidos são o poder representado pela besta de chifres semelhantes
aos do cordeiro, e que esta profecia se cumprirá quando aquela nação
impuser a observância do domingo, que Roma alega ser um reconhecimento especial
de sua supremacia. Mas nesta homenagem ao papado os Estados Unidos não estarão
sós. A influência de Roma nos países que uma vez já lhe reconheceram o domínio,
está ainda longe de ser destruída. E a profecia prevê uma restauração de seu
poder. "Vi uma de suas cabeças como ferida de morte, e a sua chaga mortal
foi curada; e toda a Terra se maravilhou após a besta." Apoc. 13:3.
A aplicação da chaga mortal indica a queda do papado
em 1798. Depois disto, diz o profeta: "A sua chaga mortal foi curada; e
toda a Terra se maravilhou após a besta." Paulo declara expressamente que
o homem do pecado perdurará até ao segundo advento. (II Tess. 2:8.) Até mesmo
ao final do tempo prosseguirá com a sua obra de engano. E diz o escritor do
Apocalipse, referindo-se também ao papado: "Adoraram-na todos os que
habitam sobre a Terra, esses cujos nomes não estão escritos no livro da
vida." Apoc. 13:8. Tanto no Velho como no Novo Mundo o papado receberá
homenagem pela honra prestada à instituição do domingo, que repousa unicamente
na autoridade da Igreja de Roma.
Durante mais de meio século, investigadores das
profecias nos Estados Unidos têm apresentado ao mundo este testemunho. Nos
acontecimentos que ora estão a ocorrer, percebe-se rápido progresso no sentido
do cumprimento da profecia. Com os ensinadores protestantes há a mesma
pretensão de autoridade divina para a guarda do domingo, e a mesma falta de
provas bíblicas, que há com os chefes papais que forjaram os milagres para
suprir a falta do mandamento de Deus. A afirmação de que os juízos divinos caem
sobre os homens por motivo de
violarem o repouso dominical, será repetida. Já se
ouvem vozes neste sentido. E o movimento para impor a observãncia do domingo
está rapidamente ganhando terreno.
A sagacidade e astúcia da Igreja de Roma são
surpreendentes. Ela sabe ler o futuro.
Aguarda o seu tempo, vendo que as igrejas protestantes lhe estão prestando
homenagem com o aceitar do falso sábado, e se preparam para impô-lo pelos
mesmos meios que ela própria empregou em tempos passados. Os que rejeitam a luz
da verdade procurarão ainda o auxílio deste poder que a si mesmo se intitula
infalível, a fim de exaltarem uma instituição que com ele se originou. Quão
prontamente virá esse poder em auxílio dos protestantes nesta obra, não é
difícil imaginar. Quem compreende melhor do que os dirigentes papais como
tratar com os que são desobedientes à igreja?
A Igreja Católica Romana, com todas as suas
ramificações pelo mundo inteiro, forma vasta organização, dirigida da sé papal,
e destinada a servir aos interesses desta. Seus milhões de adeptos, em todos os
países do globo, são instruídos a se manterem sob obrigação de obedecer ao
papa. Qualquer que seja a sua nacionalidade ou governo, devem considerar a
autoridade da igreja acima de qualquer outra autoridade. Ainda que façam
juramento prometendo lealdade ao Estado, por trás disto, todavia, jaz o voto de
obediência a Roma, absolvendo-os de toda obrigação contrária aos interesses
dela.
A Palavra de Deus deu aviso do perigo iminente; se
este for desatendido, o mundo protestante saberá quais são realmente os
propósitos de Roma, apenas quando for demasiado tarde para escapar da cilada.
Ela está silenciosamente crescendo em poder. Suas
doutrinas estão a exercer influência nas assembléias legislativas, nas igrejas
e no coração dos homens. Está a erguer suas altaneiras e maciças estruturas, em
cujos secretos recessos se repetirão as anteriores perseguições.
Sorrateiramente, e sem despertar suspeitas, está aumentando suas forças para
realizar seus objetivos ao chegar o tempo de dar o golpe.
Tudo que deseja é a oportunidade, e esta já lhe está
sendo dada. Logo veremos e sentiremos
qual é o propósito do catolicismo. Quem quer que creia na Palavra de Deus e
a ela obedeça, incorrerá, por esse motivo em censura e perseguição.
Ellen White
do livro O Grande Conflito Pag. 580
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