Fonte - http://questaodeconfianca.blogspot.com.br
Douglas Reis
Converse
com dez adventistas. Pergunte-lhes se veem coisas erradas na igreja – dirão que
sim, os dez, sem dúvida! Pergunte-lhes o que está errado. O problema começa aí.
As respostas não seriam concordes. Muitas, seriam quase banais, relacionadas a
questões locais, congregacionais. Temas como relacionamentos, incoerência,
críticas a líderes, etc. Outras assumiriam uma dimensão mais ampla, afetando
erros administrativos, estratégicos ou deficiências espirituais. O que há por
trás de tudo isso?
Duas
igrejas. Uma jovem, com pouco entendimento da história da igreja, querendo
mudanças e imbuída do espírito deste tempo. Esta parcela de adventistas é
formada por indivíduos cansados de crítica, sequiosos por mais ação. Acham que
falta amor, justiça social e cultos mais dinâmicos. Querem uma igreja com a cara
deles: jovem e descolada. Se pudessem, rapariam a barba de James White e fariam
John Andrews usar penteado moicano.
A
outra igreja, que está morrendo, abomina as mudanças. Refere-se aos “bons e
velhos tempos”, quando a igreja “era outra”. Detestam as músicas barulhentas e
a falta de sermões doutrinários. Reclamam dos rumos que o movimento adventista
está tomando e chegam, em alguns casos, a falar de apostasia. Tenho a impressão
que essa segunda parcela de adventistas se vê sem rumo, com pouco apoio e
confusa diante de tudo que vê acontecer.
Quem
está certo nessa discussão? Todos. Ninguém.
As
mudanças devem acontecer. Os adventistas surgiram com uma proposta de mudança
radical. Uma mudança que se inicia com a interpretação da Bíblia (hermenêutica),
atinge as doutrinas comuns à cristandade e chega a uma abordagem diferenciada
sobre estilo de vida. Contudo, engana-se quem creia que a ênfase esteja na mudança
pela mudança. A mudança visa a um objetivo – desconstruir a tradição evangélica.
Não se trata de uma desconstrução derridiana, porque me parece que Derrida
propunha uma desconstrução visceral e nunca finalizada, uma mutação que se
perde em um jogo de interpretação, sem a possibilidade de alcançar uma verdade
palpável. A desconstrução adventista é do tipo de retira o entulho para
reconstruir sobre o alicerce correto, os inscritos inspirados.
Alguns
querem mudar para acompanhar as tendências da cultura. Péssimo motivo. A
cultura não é parâmetro para o cristão. A Verdade que recebemos na Bíblia tem
aspectos tremendamente contra-culturais! Nesse caso, vale o dito segundo o qual
“não se pode servir a dois senhores” – ou Deus, ou a cultura. As mudanças são
mecanismos para nos aproximar da Palavra de Deus, cujo estudo deve ser renovado
pela atuação do Espírito Santo.
Muitas
das explicações doutrinárias que dávamos há trinta anos devem ser abandonadas,
não porque a cultura mudou, mas porque estavam equivocadas e há explicações
melhores do ponto de vista exegético. O avanço na pesquisa bíblica proporciona
uma melhor fundamentação doutrinária – mas é impossível notar isso ouvindo
(pela milésima vez) o mesmo sermão sobre o cego Bartimeu!
E
para quê mudar a liturgia? Se for possível elencar boas razões bíblicas, eu
apoio! Se for apenas para copiar o modelo de outras denominações ou
congregações, isso é mera distração, quando não, algo nocivo, vindo da cultura
secular. Já notou como se gasta tempo discutindo música, quando o Novo
Testamento dá pouco espaço ao tema e Ellen G. White enfatiza o canto
congregacional em sua simplicidade? Estudar a Bíblia, o ponto essencial do
culto cristão, parece um caso perdido; deixe que o pregador leia alguns versos,
conte trezentas histórias interessantes e voltemos para casa, porque é hora do
almoço…
Em
suma: nem como antes, nem com o tipo de mudança que se pede. Nem pela tradição
dos anciões, nem pelo modismo do “viva sem criticar”. Os problemas existem
porque a Bíblia está empoeirada e nós queremos diversão ou resgatar “a igreja
da infância”. A solução? Como disse o profeta, no contexto da infidelidade do
reino do norte, “Conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor.” (Os 6:3).
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