Muito bom esse artigo. Leia
Fonte - http://arseniomota.blogspot.com.br/
Já “pleonasmou” hoje?
Todos os
portugueses (ou quase todos) sofrem de pleonasmite, uma doença congénita
para a qual não se conhecem nem vacinas nem antibióticos. Não tem cura,
mas também não mata. Mas, quando não é controlada, chateia (e bastante)
quem convive com o paciente.
O sintoma
desta doença é a verbalização de pleonasmos (ou redundâncias) que, com o
objectivo de reforçar uma ideia, acabam por lhe conferir um sentido
quase sempre patético.
Definição
confusa? Aqui vão quatro exemplos óbvios: “Subir para cima”, “descer
para baixo”, “entrar para dentro” e “sair para fora”.
Já se
reconhece como paciente de pleonasmite? Ou ainda está em fase de
negação? Olhe que há muita gente que leva uma vida a pleonasmar sem se
aperceber que pleonasma a toda a hora.
Vai dizer-me
que nunca “recordou o passado”? Ou que nunca está atento aos “pequenos
detalhes”? E que nunca partiu uma laranja em “metades iguais”? Ou que
nunca deu os “sentidos pêsames” à “viúva do falecido”?
Atenção que o
que estou a dizer não é apenas a minha “opinião pessoal”. Baseio-me em
“factos reais” para lhe dar este “aviso prévio” de que esta “doença má”
atinge “todos sem excepção”.
O contágio
da pleonasmite ocorre em qualquer lado. Na rua, há lojas que o aliciam
com “ofertas gratuitas”. E agências de viagens que anunciam férias em
“cidades do mundo”. No local de trabalho, o seu chefe pede-lhe um
“acabamento final” naquele projecto. Tudo para evitar “surpresas
inesperadas” por parte do cliente. E quando tem uma discussão mais acesa
com a sua cara-metade, diga lá que às vezes não tem vontade de “gritar
alto”: “Cala a boca!”?
O que vale é que depois fazem as pazes e vão ao cinema ver aquele filme que “estreia pela primeira vez” em Portugal.
E se pensa
que por estar fechado em casa ficará a salvo da pleonasmite, tenho más
notícias para si. Porque a televisão é, de “certeza absoluta”, a
“principal protagonista” da propagação deste vírus. Logo à noite,
experimente ligar o telejornal e “verá com os seus próprios olhos” a
pleonasmite em directo no pequeno ecrã. Um jornalista vai dizer que a
floresta “arde em chamas”. Um treinador de futebol queixar-se-á dos
“elos de ligação” entre a defesa e o ataque. Um “governante” dirá que
gere bem o “erário público”. Um ministro anunciará o reforço das
“relações bilaterais entre dois países”. E um qualquer “político da
nação” vai pedir um “consenso geral” para sairmos juntos desta crise.
E por falar em crise! Quer apostar que a próxima manifestação vai juntar uma “multidão de pessoas”?
Nota - O autor omite um pleonasmo corrente e normalizado: “há
uns anos atrás”. [Imagem: de Susana Rocha.]
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