Apocalipse: auxílio
divino
na hora certa - Parte 01
Dr. José Carlos Ramos
Janeiro, 2014
O
maior livro profético da Bíblia, o Apocalipse, foi escrito para orientar, estimular
e fortalecer a Igreja em todos os tempos. De fato, desde que fundada por Jesus,
ela se viu em meio às tormentas e enganos de um mundo hostil e ameaçador,
inimigo do bem e de quantos se colocam do lado de Deus e de Sua vontade. Cristo
advertiu Seus seguidores a que não se iludissem com a ideia de que não
enfrentariam dificuldades no trajeto para o céu. O evangelho da prosperidade, pregado por algumas
igrejas atuais, não condiz com as claras afirmações bíblicas, de que todos
aqueles “que querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos” (2Tm
3:12), e de que “através de muitas tribulações, nos importa entrar no reino de
Deus” (At 14:22).
Satanás,
o rebelde inimigo de Deus e de Seu povo, tem empregado dois recursos básicos na
tentativa de destruir a Igreja: a perseguição, motivada pelo preconceito e
intolerância do mundo, e a disseminação do engano, para o quê ele forçaria a
entrada nos domínios do cristianismo. E foi exatamente nesse contexto duplo de
artifício satânico que o Apocalipse emergiu. O ano era 95AD, quando a Igreja
enfrentava dois tipos de ameaça, uma interna,
a adoção de conceitos pervertidos, e
outra externa, a perseguição por
parte do mundo. Naturalmente entendemos que a primeira, sutil e por isso
perigosa, sempre resultou em maior dano espiritual. Consideremo-la
inicialmente.
Ameaça interna
No
fim do I século, uma filosofia religiosa, grega de origem, conhecida como gnosticismo era difundida em todo o império
romano. Sustentando múltipla expressão de pensamento e prática, o gnosticismo estava
sendo, já por algum tempo, uma séria ameaça para a pureza doutrinária da fé
cristã, com respeito principalmente à pessoa do Salvador, à natureza da criação
divina, à natureza do ser humano, e à forma como este poderia ser redimido.
Muitos
na Igreja se sentiam atraídos por conjeturas que ofereciam uma lisonjeira perspectiva
de superação dos obstáculos à posse plena da vida autêntica, disponível, segundo a filosofia, apenas àqueles
que obtivessem o conhecimento dos mistérios divinos. Tal conhecimento,
identificado como gnosis, era supostamente
outorgado, é claro, àqueles que adotavam o gnosticismo. O cumprimento de certos
rituais de iniciação conferia ao candidato o título de mystes, o que outorgava a obtenção progressiva de um conhecimento
que, era crido, libertá-lo-ia e lhe daria uma condição superior de vida.
Naturalmente as verdades do Evangelho eram distorcidas, e o pecador era
acalentado num ilusório e fatal sentimento de segurança.
Por
esse tempo, alguns mestres cristãos deixavam transparecer suas tendências
gnósticas. O gnosticismo tornara-se agora uma ameaça interna real. Entre esses
mestres, destacava-se certo judeu cristão do Egito, formado em Alexandria, e
que habilmente conseguiu revestir os ideais gnósticos com uma roupagem cristã.
Chamava-se Cerinto e seus ensinos conspiravam contra a estabilidade da Igreja
na Ásia Menor, particularmente Éfeso, o domicílio do apóstolo João em seus
derradeiros anos.
O
que Cerinto ensinava? Como gnóstico, ele considerava a matéria essencialmente
má. Deus não poderia ter criado diretamente o mundo, pois este é matéria, e
Deus não Se relaciona com algo essencialmente mau. Deus, portanto, usara intermediários
para criar. Um desses era Cristo, o qual não deveria ser confundido com Jesus,
o vulto histórico que vivera na Palestina, e que, embora extraordinário, era um
homem comum, filho natural de José e Maria. Cristo, entretanto, era espiritual,
celestial e divino. Jesus e Cristo, portanto, eram distintos um do outro. Cristo
se juntara a Jesus por ocasião do batismo, mas O abandonara pouco antes da
cruz. Assim, a morte de Jesus não reunia qualquer valor salvífico. Ele fora
apenas mais um mártir entre outros.
Cerinto
também ensinava uma escatologia antibíblica. Escatologia é a doutrina dos
últimos acontecimentos, tanto para o ser humano individualmente, como para o
mundo. Para o gnosticismo, a salvação começava para quem se apoderasse da gnosis. Tal aquisição contribuía para a
libertação da alma, prisioneira que era de coisas ligadas à matéria. Todavia, a
libertação plena e definitiva ocorria na morte. Para o gnóstico, o corpo era um
cárcere, e quanto mais cedo a alma se livrasse dele, melhor. Portanto, a teoria
da imortalidade da alma é de origem
greco-pagã, e não é parte do cristianismo original.
Em
seu Evangelho e primeira Epístola, João combate frontalmente a dicotomia
herética de Cerinto (tanto relativo ao homem como a Jesus) e outros enganos do
gnosticismo. E no Apocalipse ele não deixa por menos. Já na abertura, João
afirma que a revelação divina, o único meio de se obter a verdadeira gnosis, ou conhecimento, é feita por Jesus Cristo (1:1). Os
dois termos indicam que apenas uma pessoa é pretendida. A designação completa,
Jesus Cristo, aparece mais duas vezes neste capítulo, nos versos 2 e 5, o
último contendo a declaração de que Ele é o “primogênito dos mortos” ou seja,
Cristo positivamente morreu e ressuscitou. João não poderia ser mais claro.
Ademais, é Este mesmo Jesus Cristo
que em seguida apareceu em visão e lhe disse: “Estive morto, mas eis que estou
vivo pelos séculos dos séculos” (v. 18)
Além
disso, observamos que, em termos de literalidade, é o Filho da mulher que é
arrebatado para o trono de Deus em 12:5, e que o sacrifício de Jesus é de fato salvifico,
pois garante ao homem o triunfo sobre Satanás (v. 11). Este sacrifício é também
condição sine qua non para que a
revelação, sem a qual, repetimos, não é possível nenhum correto conhecimento de
Deus, se torne efetiva (5:5, 9). Finalmente, é este sacrifício que nos coloca no
reino eterno (7:14-17; 22:14). A posse da vida autêntica, portanto, não ocorre
nas condições do gnosticismo.
Que
a matéria não é essencialmente má, ao contrário de como entendia Cerinto, e que
Deus é o direto criador dela, se depreende das palavras de 4:11. Além disso,
Deus recriará o mundo após colocar um ponto final na história do pecado (caps.
20 a 22). E com isto, João contradiz a escatologia
gnóstica com uma grandiosa descrição
dos verdadeiros eventos finais: Deus extirpará o pecado e trará de volta, agora
mais plenamente, o mundo perfeito e imaculado de antes. E João contesta o
engano gnóstico da imortalidade da alma reafirmando que os crentes mortos
tomarão posse da vida eterna exclusivamente através da ressurreição quando
Jesus voltar (20:6).
E
assim, justamente quando conceitos falsos ameaçavam, na Igreja, a unidade da fé e da
esperança, Deus fez o Apocalipse emergir. O fim do primeiro século
estava chegando. Por algum tempo a Igreja esperara o retorno de seu Senhor, e
Ele não viera. O gnosticismo acenava com as glórias da salvação já e agora com
a posse da gnosis, e com a
perspectiva da ida para o céu logo após a morte. Cristo então retornaria para quê?
A
Igreja, portanto, estava carecendo uma vez mais do amparo da verdade para o fortalecimento
da esperança adventista, isto é, a esperança na segunda vinda de Jesus, como
algo plenamente genuíno e necessário. A isto o Apocalipse se prestou de forma
singular.
Hoje
vivemos no século 21. Cristo ainda não retornou e igualmente somos
bombardeados com todo tipo de ideias, todas tentando se impor como verdadeiras.
Que fazer? Nossa única alternativa segura é volver a atenção ao que a Bíblia
diz. Particularmente o Apocalipse revela o que está para acontecer. Simplesmente
não precisamos ser enganados. Continuaremos na próxima postagem.
Fonte - Clarim Profetico
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