Fonte Julio Severo
Fé cristã e política: entre o falatório e a realidade
Edson
Camargo
Não é muito difícil para um
falastrão qualquer apresentar uma tese verdadeira em si mesma justamente para
abrir o caminho para a aceitação de uma série de bobagens. Até crianças do
ensino fundamental deveriam saber disso num ambiente cultural como o nosso, no
qual tornou-se um vício usar a linguagem da forma mais irresponsável e malandra
possível para fins políticos ou por pura egolatria.
Um exemplo sempre presente em
conversas entre cristãos, quando o assunto é política é a frase: “o Evangelho
não é de direita, nem de esquerda.” Eis uma obviedade, pelo simples fato do que
o Evangelho, a Revelação, a Palavra de Deus, “permanece para sempre”. Já a
clivagem esquerda/direita é só um meio de mapear linhas de pensamento e ação
repleto de limitações, fruto de um período histórico determinado, além de ser
facilmente manipulável.
Muito bem. Uma coisa é o Evangelho
não ser nem de direita nem de esquerda. Outra é a safadeza em tentar fugir da
questão central: todo assunto sério a respeito da condição humana sempre é, em
última análise, filosófico e teológico. E aqui articulam-se temas seríssimos:
nada menos que a própria Revelação e a possibilidade de entendê-la, a
possibilidade de se obter, ou não, conhecimento objetivo da realidade social, e
as implicações da doutrina cristã sobre a ação dos cristãos na esfera pública.
Só para início de conversa.
Uma coisa é o Evangelho não ser nem
de direita, nem de esquerda. Outra é compactuar com quem mente dizendo não
haver como analisar questões políticas à luz dos princípios da fé cristã.
Uma coisa é o Evangelho não ser nem
de direita, nem de esquerda. Outra é se omitir na crítica a cristãos defensores
de agendas políticas anticristãs como as da esquerda, e até a algumas da
direita, evocando um bom-mocismo eclesial que disfarça muito mal a covardia, a
hesitação em confessar despreparo para tratar do tema ou outros interesses.
É verdade que "o Evangelho não
é de direita nem de esquerda". Mas não há como ouvir com séria
desconfiança esta sentença. É fácil demais usá-la para negar o mandamento
"seja o seu sim, sim, e seu não, não, o que passar disso vem do maligno”
(Mt. 5:36) em assuntos públicos. Também é muito fácil afirmar que “o Evangelho
não é nem de direita nem de esquerda” com o intuito de fugir de um
posicionamento realmente fundamentado no Evangelho em certas questões. Como
quase não se ensina por aí a buscar tais posicionamentos, muita gente pensa que
é impossível realizar tal tarefa, que na verdade é um dever de todo cristão.
Outros sequer se preocupam com o assunto. A crise de discipulado que assola
nossas igrejas é algo muito grave.
Também é possível afirmar que “o
Evangelho não é nem de direita nem de esquerda” justamente para negar a
relevância da fé cristã no debate político, ainda mais numa época em que a
política quer invadir todas as áreas da vida, e, por conta desse processo, uma
perseguição cultural aos cristãos nos países ocidentais torna-se cada vez mais
notória. Mas diga a certos cristãos brasileiros que o evangelho diz respeito a
todas as áreas da vida humana que logo a preguiça e a raiva em ter de admitir
que ainda tem muito a aprender começa a apresentar seus sintomas, que vão do
farisaísmo irracionalista às filisteidades reducionistas vaidosas.
Em certos ambientes brada-se que “o
Evangelho não é nem de direita, nem de esquerda”, justamente para negar as
origens, teses, meios e fins descaradamente anticristãos do que se define
atualmente por esquerda. Que do lado da atual direita também haja gente
anticristã defendendo teses anticristãs é dado elementar. Mas negar a total
incompatibilidade entre a cosmovisão revolucionária das elites políticas
esquerdistas (e aqui se inclui toda a horda politicamente correta da ONU, ONG´s
do mega-esquema globalista, potentados da mídia de massa, obamistas e o alto
comissariado da União Européia) é atestado de insanidade, ainda mais na atual
conjuntura.
É fácil dizer que “o Evangelho não
é nem de direita nem de esquerda”. Difícil é fazê-lo com um mínimo de
maturidade intelectual, ou seja: levando em conta tudo o que a boa lógica, o
bom senso, as Sagradas Escrituras e uma teologia livre de coliformes ideológicos
deixam claro.
O fato é que falar sobre o
Evangelho não é a mesma coisa que falar com base numa visão profundamente
comprometida com o Evangelho. E isso pode ficar claro quando se observa
cuidadosamente quem fala, quando fala, para quem fala, por que fala, e os
frutos destas declarações.
Enfim, pode-se dizer uma verdade
sobre o Evangelho sem ter jamais tentado compreender a fundo o que ele
realmente é, sua veracidade intrínseca, sua abrangência, a real natureza do
poder e da disputa política, quem são de fato a direita e a esquerda, e com uma
visão muito tosca do que realmente está em jogo no atual debate cultural e
político.
Fonte:
Mídia
Sem Máscara
Divulgação:
www.juliosevero.com
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