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Depressão
é uma palavra no singular, mas que designa uma série de quadros. Há a
depressão leve, a moderada e a chamada grave, ou severa. Há também as
depressões que estão relacionadas ao jeito de ser da pessoa. Elas
existem, mas não são acontecimentos externos que as desencadeiam – são
processos que surgem de dentro para fora. E ainda há as depressões que
nem deveriam merecer o nome, já que são reações de tristeza e desencanto
por perdas naturais na vida; o desemprego, a saída de um filho de casa,
as mudanças de qualquer tipo, a chegada da velhice ou uma doença.
Melhor dizendo, tais tipos de quadros merecem mais o nome de "sintomas
depressivos", necessários para a elaboração do que se foi e a adaptação à
nova realidade.
Depressão
é um assunto praticamente inesgotável. Muito já foi dito escrito e
descrito sobre ela, e ainda há muito para ser descoberto. Mais dois
aspectos existentes em quase todos os tipos de depressão podem ser
considerados positivos. O primeiro é a possibilidade de uma reviravolta
na vida. Isto é, a depressão é um alerta de que a forma como a vida
acontece já não é mais possível. É como uma luz no painel da existência,
indicando que, se providências não forem tomadas, a vida do indivíduo
entrará em pane total. Vários fatores podem interferir e provocar um
estado de depressão grave, no qual a pessoa perde totalmente o ânimo. O
mundo vira todo colorido de cinza; os projetos futuros desaparecem; o
sono e o apetite se alteram, a realidade fica distorcida. A disposição e
a vontade para atividades sociais somem por completo. Se é que ainda
existe algum alivio nesse quadro, este se dá no isolamento e na solidão –
e o desejo de morrer é uma realidade constante. É por essa razão que
chamo a depressão de "morte viva": há na depressão um gosto de morte,
sim, ou porque alguma morte já ocorreu ou porque algum tipo de ruptura
precisa ocorrer, para que a pessoa possa viver melhor trilhando novos
caminhos.
Até Cristo Jesus experimentou tristeza profunda no Jardim do Getsêmani
O
segundo sinal positivo na depressão é que, junto com o inferno que,
muitas vezes, é experimentado, há também aspectos positivos a serem
adquiridos enquanto se mergulha na noite escura da vida, como se refere
São João da Cruz. Lembro-me de uma mulher de 35 anos que acompanhei num
período de depressão profunda, durante quase seis meses. Ela podia
contar com um marido e com amigos que lhe deram todo o suporte durante o
período em que não via razões para continuar viva; e também com um
médico, que tratou dela de forma que tivesse condições para rever sua
própria vida enquanto enfrentava as trevas da depressão. Quando,
finalmente, superou aquela crise, ela concluiu que a agonia profunda que
experimentou fez dela um ser humano mais acolhedor e compreensivo para
com as pessoas, principalmente diante daquelas que apresentam tristeza,
desânimo e vontade de desistir. "Hoje, sou mais amorosa e paciente. É
como se o meu espaço interior tivesse se alargado para acolher as
pessoas que sofrem", constatou ela.
As
depressões requerem cuidados e atenção; e, na maioria das vezes,
medicação adequada pode ajudar em muito. Mas não se pode esquecer que
tais situações também cooperam com o amadurecimento e o crescimento,
tanto emocional como espiritual. Elias, o profeta, é um bom exemplo
disso. Ele experimentou na própria pele um estado com todos os sintomas
de uma depressão grave. Deus não o condenou; pelo contrário, quando ele
fugia com medo de ser assassinado pela rainha Jezabel, milagres
aconteceram na sua vida. Enquanto ele só dormia, a Bíblia diz que um
anjo lhe trouxe comida, para que tivesse forças para caminhar até o
Horebe. Naquele monte, Deus se manifestou a ele através de uma brisa
suave. Elias, então, se apresenta e Deus lhe fala de forma acolhedora e
amorosa, esclarecendo que ele tinha tarefas importantes para executar e
que não estava sozinho: havia 7 sete mil pessoas que criam como ele e
com as quais poderia conviver.
Até
Cristo Jesus experimentou uma tristeza profunda no Jardim do Getsêmani,
sentimento tão intenso que o próprio Filho de Deus o definiu como
"tristeza de morte". Mas foi assumindo aquela tristeza que ele tomou a
decisão final de derramar vida a todos nós, através de sua morte na
cruz. Pois que tanto Elias como Cristo sejam nossos estímulos para que,
caso a depressão chegue a nós, não caiamos na desesperança!
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