DOS PECADOS
humanos, a ira é um dos mais destruidores. É pecado que qualquer um é capaz de
cometer. A criança mais inerme tem explosões de gênio e perde, com isso, o
jantar. O menino tem acessos de cólera e arranha, assim, o decoro da família. A
esposa perde a cabeça, "sobe a serra", e passa o tempo todo com dor
de cabeça. O marido se impacienta, ralha e perde deste modo o apetite. Todos os
membros da família estão sujeitos a esta praga. E ninguém por natureza está
imune desta enfermidade da natureza humana.
A ira gera o
remorso no coração, a discórdia no lar, as amarguras na comunidade e a confusão no país.
Muitos lares são de contínuo destruídos pelos redemoinhos e tornados da
escaldante ira doméstica. Relações e negócios não poucas vezes são sacudidos
pelas explosões de gênio violentas, quando a razão dá asas à venenosa ira.
Quantas amizades se acabam, vitimadas pelo punhal da indignação, que é afiado
na pedra da ira!
A ira é sempre
denunciada pela igreja e condenada pelas Escrituras Sagradas. Ela assassina,
assalta e ataca, espalhando prejuízos físicos e mentais a seu redor. Ela recua
como qualquer poderoso fuzil, todas as vezes em que atira, machucando tanto o
ofendido como o ofensor.
Deus abomina a
ira justamente por haver ela causado tanta infelicidade e confusão neste mundo.
No Salmo 37:8 lemos isto: "Deixa a ira, abandona o furor; não te
impacientes; certamente, isso acabará mal." Jesus a condenou frontalmente
em termos mui claros e a colocou no mesmo plano do hediondo pecado do assassínio.
Eis o que Ele
disse em Mateus 5:22: "Eu, porém, vos digo que todo aquele que sem motivo
se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento; e quem proferir um
insulto a seu irmão estará sujeito a julgamento do tribunal; e quem lhe chamar:
Tolo, estará sujeito ao inferno de fogo." O sábio rei Salomão disse em
Provérbios 16:32: "Melhor é o longânimo do que o valente, e o que governa
o seu espírito do que o que toma uma cidade. " E a Bíblia diz ainda em
Tiago1:19: "Sabei isto, meus amados irmãos, todo homem seja pronto para
ouvir, tardio para falar e tardio para se irar."
A ira é pecado
odioso porque revela a natureza animal do homem. Muita gente é agradável,
louvável e atraente até o momento em que fica possuída pela indignação, e então
se transforma em criatura repulsiva, irracional, parecendo mais besta fera que
pessoa civilizada.
Os médicos
afirmam que quando se estimula demasiado qualquer emoção humana, quantidades
excessivas de adrenalina são supridas pela natureza para reabastecer o escoamento
ou desperdício emocional de nosso sistema. A pessoa de gênio violento usa esse
suprimento extra de energia para alimentar a chama de sua paixão, ao invés de
pôr fora esse fogo.
A ira não só
revela a natureza animal do homem como também prejudica o testemunho cristão. O
apóstolo Pedro, irado contra os soldados romanos, puxou da espada e decepou a
orelha do servo do sumo sacerdote. Jesus, todavia, repreendeu a Pedro por seu
espírito irado e disse em Mateus 26:52: "... todos os que lançam mão da espada
à espada perecerão." Muitos testemunhos cristãos hão sido arruinados pela
ira carnal.
Certa cristã
professa queria ansiosamente que o marido se convertesse a Cristo. Um dia o seu
pastor conversou com o marido dela a respeito do seu estado espiritual e o marido
lhe respondeu, dizendo: "Eu
não sou contra a religião, mas, se o cristianismo fizer de mim uma pessoa tão
irada como é a minha esposa, não quero ter para mim tal religião."
Então, o pastor tornou a conversar com aquela esposa crente e lhe contou precisamente
o que o marido dela lhe havia respondido. Não havia ela notado ainda quanto se
descontrolava nos seus acessos de ira, e se mostrou arrependida. Juntos, pastor
e ovelha, se ajoelharam para orar e ela derramou o seu coração diante do trono
de Deus.
Poucos dias
depois disso, o marido dela voltava duma pescaria, e, ao passar pela sala de
visitas com suas varas ao ombro, sem querer derrubou ao chão um lampião muito
caro, o qual se espatifou todo. Ali ficou ele, a tapar os ouvidos, à espera
duma verdadeira explosão de ira da esposa, justamente agastada com aquilo,
Mas... nada disso aconteceu! Levantando os olhos do chão, o marido ouviu a
esposa dizer com um sorriso nos lábios: "Oh!, querido, não te apoquentes
por isso. Coisas assim acontecem nos melhores lares deste mundo."
E o marido,
boquiaberto, perguntou: "Quer dizer que você não se zangará por isso, como
fazia sempre?" E a mulher: "Não, querido. Não falemos mais nisso,
pois é coisa passada. Entristeço-me de me ter portado antes com tanta
impaciência, mas Deus me está ajudando a controlar o meu gênio."
Poucos dias
depois disso, o marido daquela crente professa se filiou à igreja dela. O
testemunho dela se fortaleceu dia a dia, pois que a sua ira era agora
controlada pelo Espírito de Deus.
A ira leva a
gente a perder a alegria de viver. Em Gênesis 4:6, Deus disse a Caim, cuja
alegria fora escorraçada pela ira: "... Por que andas irado, e por que
descaiu o teu semblante?"
O que há de mau
em se perder as estribeiras é que, com isso, se perdem geralmente outras
coisas. Quando a ira ferve, as boas expressões desaparecem, e também a nossa
reputação. E se vão também os amigos, as oportunidades, e – o que é ainda pior
– descai o nosso testemunho.
A ira é parente
próxima do assassínio, do homicídio. Caim estava bastante irado antes de matar
Abel. A ira levanta a pistola assassina, fornece o veneno mortífero e afia a
adaga do homicida. Devasta, mutila e destrói. Ateia o fogo da paixão, abana a
chama da inveja e deixa a alma inteiramente estéril e deserta. Naturalmente,
estamos falando aqui da ira irracional e injustificável dessa ira que escraviza
a consciência, dá coices no inocente e introduz a malícia e a discórdia no lar,
na sociedade. Deus detesta essa espécie de ira.
Muitos de nós
somos culpados desse pecado que é uma praga. Muito embora nos desculpemos,
dizendo que essa ira descontrolada provém de nossa disposição natural, sentimos
que no íntimo de nossa consciência estamos errados, redondamente errados. Há
sempre a forte convicção de estarmos entristecendo o Espírito de Deus, todas as
vezes em que nos deixamos dominar pelo mau gênio.
Como agir em
face desse pecado de nossa disposição? Tem a Fé Cristã uma resposta para isso?
Pode Cristo acalmar o tempestuoso mar da ira, assim como fez ao turbulento Mar
da Galiléia? Se não houvesse um meio de se vencer a ira, um modo de
controlá-la, Deus nunca teria dito no Salmo 37:8: "'Deixa a ira, e
abandona o furor. " Sim, Deus nunca exige do homem uma coisa que ele não
possa conseguir. Há vitória – em Cristo – vitória sobre a ira pecaminosa. O
próprio Plutarco disse: "Aprendi que a ira não é mal incurável, caso
alguém queira se ver livre dela."
O primeiro
passo, então, para se alcançar vitória sobre a ira injustificada, está em se
querer descartar dela. A vontade surge à tona e diz – "Vou fazer algo no
sentido de dominar o meu mau gênio." Isso significa que você vai parar de
se justificar, vai parar de dizer: "Toda a minha família é deste
temperamento; herdei de minha mãe o temperamento que tenho. " Que vai
parar de dizer: "Todo o mundo de vez em quando explode em ira. Que mal há
nisso?" Você precisa reconhecer que a ira é coisa feia, e pecado venenoso
tanto aos olhos de Deus como a seus próprios olhos.
Em segundo
lugar, precisamos confessar a Deus o pecado da ira e pedir dEle o perdão pelas
nossas explosões de raiva e mau gênio. Se a ira é pecado, e, se o irar-se
contra o seu irmão, sem causa, clama pelo juízo de Deus, devemos fugir da ira,
desprezá-la e buscar vencê-la com a ajuda dos recursos divinos. Em I João 1:9,
lemos isto: "Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para
nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça."
Todos sabem que
a ira escaldante e violenta é injustiça e que nada tem ela de cristã. Deus,
cheio de amor e misericórdia, prometeu nos perdoar o pecado da ira e nos
purificar dele. Isto não quer dizer que a gente se torne sem espinha, como
criaturas molengas sem brio ou ardor, mas significa que nosso temperamento
outrora raivoso agora se tornou fonte de bênção.
A língua,
outrora usada para dizer coisas profanas, agora se torna instrumento de louvor.
As mãos que feriam agora só sabem curar. Os pés que outrora palmilhavam as
estradas da violência agora trilham os caminhos do amor e do serviço cristão.
Os bravios cavalos da paixão foram domados pelo Espírito, e se fizeram nossos
servos ao invés de senhores. É isso justamente o que Jesus queria significar
quando disse: "Bem-aventurados os mansos."
Lembremo-nos do
apóstolo Pedro de antes da ressurreição e de antes da descida do Espírito
Santo. Ele passara para o campo do inimigo, ao negar o seu Mestre e Senhor, e
se encolerizara contra os soldados que vieram prender Jesus. Seu espírito raivoso testemunhava
mui pobremente ser ele discípulo do humilde Galileu. Mas, depois de o
Espírito Santo dominar o coração dele no dia do Pentecostes, ele começou a
dominar o seu gênio. Nunca mais ele usou sua língua para coisas profanas, e
nunca mais usou suas mãos para a violência. Nunca mais ergueu a voz para negar
o Mestre. Nunca mais seus pés o levaram para o campo inimigo. É verdade que o
temperamento dele não morreu – fora apenas desviado para finalidades
construtivas. Fora subjugado pelo Espírito de Deus. A conversão a Cristo não o
fizera mais fraco; pelo contrário, fizera-o mais forte. O pecado da ira fora
dominado.
Você, leitor
amigo, pode tornar-se uma pessoa mansa. O vocábulo manso significa que você
está controlado pelo Espírito de Deus. Assim como se doma e se utiliza a enorme
força dum animal selvagem, assim o Espírito de Deus pode domar a sua língua, as
paixões de sua alma, uma vez que você entregue sem reservas o seu coração e a
sua vida a Jesus Cristo.
Todavia, a
Bíblia nos diz que há uma indignação justa, legítima e justificada. De fato, se
não nos enchermos em certas ocasiões duma indignação justificável, estaremos
pecando. Há, portanto, um certo tipo de ira que é justificável e mesmo
recomendável à vista de Deus.
Eis o tipo de
ira que nos é permissível: devemos nos irar contra o pecado, a corrução e a
imoralidade que campeiam ao nosso redor. É preciso que nos indignemos contra a
literatura pornográfica oferecida em nossas bancas. Urge que nos indignemos
contra a deslavada corrução das elites e da pobreza, que de quando em quando
surge a nossos olhos. Precisamos nos encher de justa ira contra a imoralidade
de muitas cidades nossas e contra os desalmados que passeiam por nossas ruas.
Precisamos combater esses males a tempo e fora de tempo.
Há ainda –
convém que lembremos – a ira de Deus. O apóstolo Paulo em Romanos 1:18,
declara: "A ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão
dos homens que detêm a verdade pela injustiça." E também lemos em
Colossenses 3:6 – "Pelas quais coisas vem a ira de Deus." Deus é Deus
santo e justo e Seus olhos são assaz puros para suportar o mal. Quando Ele tem
o pecado diante de Si, Sua santidade se manifesta em ira e cólera contra ele.
Os homens e
mulheres que ainda não se achegaram à cruz de Cristo, que ainda não
reconheceram seu pecado e não receberam ainda a Cristo como o seu Salvador, estão
vivendo sob a ira de Deus, Virá o dia do julgamento, quando a santa ira e
cólera de Deus se manifestará contra o pecador que rejeitou o Seu Filho Jesus
como Salvador. Se você ainda não recebeu a Cristo, no dia do juízo, quando você
comparecer diante dEle, Ele lhe dirá – "Apartai-vos de mim, malditos, para
o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos" (Mateus 25:41).
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