douglas reis
Fonte - http://questaodeconfianca.blogspot.com.br
Antigamente, os evangélicos nos acusavam
de tornar a escritora E. G. White uma espécie de papisa do movimento.
Seus escritos eram denunciados pelos demais cristãos como substitutos da
Bíblia. De fato,desenvolvendo-se o movimento adventista em contexto de
fortes polêmicas, tornava-se mais natural evidenciar o que era o seu
aspecto distintivo. Temas como a guarda do sábado, aniquilacionismo
(imortalidade condicional da alma), doutrina do santuário e o dom de
profecia nos últimos dias perfaziam a pauta dos adventistas de então.
Nas acirradas disputas travados no
período, os pioneiros argumentavam sobre as bases bíblicas para a
permanência no dom de profecia. Demonstravam sua utilidade e
exemplificavam como as exigências fenomenológicas (se as pudermos chamar
assim) se cumpriam plenamente em Ellen G. White. Assim, sua crença na
Bíblia os levava a confiar na direção divina por meio de sua
contemporânea.
Depender da pessoa de Ellen G. White é essencialmente diferente de confiar em seus escritos. Sendo o modus operandi da
Inspiração o mesmo, seria ilógico acusar qualquer cristão de depender
de Mateus, Marcos, Lucas, Pedro, João ou Paulo, apenas porque reconhecem
como inspirados os escritos desses autores bíblicos. Não que eles como
pessoas fossem infalíveis. Nem seus escritos, nem o de seus pares (como o
livro de Atos) escondem os erros dos apóstolos. O fato de eles serem
humanos e meros pecadores escreveram livros canônicos não depõem contra o
que escreveram. Deus falou por meio deles (Hb 1:1).
O mesmo no que diz respeito aos
testemunhos de Ellen G. White: ao reconhecer sua inspiração, não
sancionamos todo comportamento da pessoa de sua autora, como se ela
fosse perfeita - coisa que jamais pretendeu ser. Se Deus falou por
intermédio dela, como fez com Isaías, Elias, João Batista, as filhas de
Felipe ou Tiago, temos de estudar Sua mensagem e aplicá-la em nossa
vida. Trata-se de questão de obediência a Deus, autor da Revelação.
Obviamente, separamos a vida do profeta e
de sua mensagem por questões didáticas. É verdade que Deus pode usar
até pessoas que não completamente fiéis para transmitir algo específico
(Nm 21-24). Entrementes, ele procura pessoas que tenham um
relacionamento com Ele. Assim, os profetas do passado foram reconhecidos
como homens santos, servos de Deus. Não eram perfeitos, mas íntegros em
sua devoção e serviço.
Com o singrar dos anos, os próprios
adventistas absorvem muitas das críticas a eles dirigidas. Se vivemos em
período de cegueira histórica no ocidente, de forma específica, não
fugimos à regra. Em parte, o questionamento sobre a relação de Ellen G.
White com a doutrina da igreja ou mesmo com a Bíblia em geral esbarra na
resistência de muitos adventistas contemporâneos. A razão? Eles pensam
mais como evangélicos, do que como os pioneiros.
É
bem verdade que existe outro extremo, ou qual se vale de uma leitura
fanática e unilateral de Ellen G. White, torcendo o sentido de seus
escritos. Nada de novo: afinal, leituras distorcidas da própria Bíblia
são encontradas até no período apostólico (2 Pe 3:15-16)! Mas até isso
parece cada vez mais raro: tornou-se mais frequente quem rejeite ou
limite os escritos da autora. O equilíbrio na compreensão do material
revelado (tanto das Escrituras, quanto dos testemunhos) ainda é um
desafio para o adventismo no século XXI.
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