Já houve um tempo em que a dieta vegetariana era questionada com relação
à sua adequação de proteínas, assim como era sobre o ferro. Atualmente,
já é bem conhecido o fato de que os erros nesses aspectos da dieta
vegetariana são muitíssimos raros, dando espaço para questionamentos
mais legítimos.
Mais recentemente, com o advento do veganismo, o cálcio ainda goza do seu momento de atenção e, ao mesmo tempo em que sabemos que uma dieta vegana é perfeitamente viável, sabemos que é necessário algum planejamento para garantir a ingestão adequada deste mineral. Por último, a questão acerca da nutrição vegetariana que tem recebido com legitimidade a maior atenção nos últimos cinco anos é a da vitamina B-12. Mas pouco se fala sobre o papel que os ácidos graxos essenciais desempenham na dieta vegetariana.
Mais recentemente, com o advento do veganismo, o cálcio ainda goza do seu momento de atenção e, ao mesmo tempo em que sabemos que uma dieta vegana é perfeitamente viável, sabemos que é necessário algum planejamento para garantir a ingestão adequada deste mineral. Por último, a questão acerca da nutrição vegetariana que tem recebido com legitimidade a maior atenção nos últimos cinco anos é a da vitamina B-12. Mas pouco se fala sobre o papel que os ácidos graxos essenciais desempenham na dieta vegetariana.
Existem dois ácidos graxos em especial que merecem a nossa atenção: os
ácidos graxos ômega-3 (w-3) e ômega-6 (w-6). Estes são ácidos graxos
essenciais, o que significa que eles não podem ser sintetizados pelo
organismo humano, devendo assim ser obtidos através da dieta. Sua função
é importante para todos os tecidos do nosso organismo, inclusive o
cérebro, e sua deficiência pode causar alterações nos rins, fígado,
retina e sangue, reduzir as taxas de desenvolvimento infantil e afetar
negativamente a função imunológica. Uma ingestão adequada, por outro
lado, previne contra doenças circulatórias, artrite, depressão e retardo
no desenvolvimento, entre outros.
Na dieta vegetariana, os ácidos graxos essenciais têm como principal
fonte os óleos extraídos de alimentos vegetais (o termo graxo significa
gordura). Mais precisamente, o w-3 e o w-6 são gorduras poliinsaturadas.
Portanto, os óleos ricos em gordura saturada (coco, dendê, palma) não
são boas fontes e nem tampouco são os óleos ricos em gordura
monoinsaturada (azeite de oliva). Em se tratando dos óleos ricos em
gorduras poliinsaturadas, devemos diferenciar quais óleos são mais
concentrados em w-6 e quais são melhores fontes de w-3. Para o primeiro,
o destaque fica para os óleos de girassol, milho e gergelim. Já para o
w-3, encontramos boas fontes nos óleos de linhaça, nozes e canola.
O nutriente em risco de deficiência é o w-3 e é ele que merece a nossa
atenção no planejamento da dieta vegetariana. No entanto, para um bom
aproveitamento do w-3, é necessário observar também a ingestão do w-6.
Acontece que a dieta vegetariana tende a ser deficiente em w-3 ao mesmo
tempo em que excede em w-6. Apesar do w-6 também ser um nutriente
essencial, se a relação de w-6 para w-3 (w-6:w-3) estiver muito alta,
isto prejudica a utilização do w-3, pois ambos competem pelas mesmas
enzimas no metabolismo. Em outras palavras, se houver w-6 demais, o w-3
sai prejudicado. Temos então que, para cuidar da ingestão do w-3, faz-se
necessária não apenas a inclusão de boas fontes de w-3, mas também uma
redução nas fontes de w-6. Idealmente, a ingestão de w-6 deve ser 4
vezes superior à ingestão de w-3 (4:1), mas é comum observarmos na dieta
vegetariana uma relação extremamente elevada de 16:1, chegando até
32:1.
Na dieta onívora, o w-3 é geralmente fornecido por peixes oriundos de
águas frias e o w-6 é fornecido pelos alimentos vegetais e seus óleos.
Com a presença de uma boa fonte animal de w-3, uma dieta onívora típica
permite um bom equilíbrio entre estes dois ácidos graxos essenciais. Já
na dieta vegetariana, a ingestão de w-6 tende a ser muito superior à
ingestão de w-3 e é por esse motivo que as fontes de w-3 devem ser
enfatizadas. Uma boa estratégia a ser adotada por vegetarianos é incluir
na dieta uma boa fonte daquilo que desejamos ao mesmo tempo em que
reduzimos as fontes daquilo que é excedente. Isto pode ser realizado com
a adição de uma colher (de chá) do óleo de linhaça (prensado a frio e
adicionado ao alimento depois de pronto) à dieta diária. Soma-se a esta
estratégia a substituição dos óleos ricos em w-6 pelos óleos ricos em
w-3 (escolha o óleo de canola no lugar do óleo de girassol ou milho). A
adoção destas duas estratégias bastante simples proporciona uma melhora
(redução) significativa na relação w-6:w3, trazendo-a mais próxima da
relação ideal de 4:1.
Alguns céticos insistem que o w-3 presente nos alimentos vegetais não é
tão bem aproveitado quanto o w-3 oriundo dos alimentos de origem animal.
Este argumento parte do fato de que os w-3 presentes nos alimentos de
origem animal apresentam-se na forma de cadeias mais longas, que são uma
forma mais refinada do ácido graxo. Estes resultam da ação de enzimas
peculiares ao metabolismo animal e o organismo humano é tão capaz de
transformar as formas mais brutas do w-3 nas formas de ácidos graxos de
cadeia mais longa quanto os outros animais. Com isso, é correto dizer
que os alimentos vegetais não fornecem (com raras exceções) EPA e DHA,
que são estas formas do w-3 de cadeia mais longa, mas uma vez que o
organismo humano converte o ácido alfa-linolênico (w-3 vegetal) em EPA e
DHA (w-3 animal), o fato de a dieta vegetariana ser deficiente em EPA e
DHA se torna irrelevante. A questão da ineficiência na conversão do w-3
torna-se uma questão legítima apenas quando a relação w-6:w-3 está
muito elevada, pois neste caso as enzimas envolvidas no seu
processamento não serão capazes de desempenhar a sua função
apropriadamente. Mas como vimos no parágrafo anterior, as estratégias
para sanar esse problema são conhecidas e são tão simples de serem
aplicadas quanto são eficientes.
O cuidado para garantir a ingestão de quantidades suficientes de w-3 e
reduzir a ingestão de w-6 deve ser redobrado durante a gestação,
lactação e infância, pois um desequilíbrio na ingestão destes ácidos
graxos pode afetar severamente o desenvolvimento da criança e do feto.
Fonte: Nutriveg - Dr. George Guimarães é nutricionista especializado em dietas vegetarianas
Fonte: Nutriveg - Dr. George Guimarães é nutricionista especializado em dietas vegetarianas
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