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O povo de Deus é peculiar, especialmente
quanto às suas crenças e práticas. O que foi dito por Hamã ao rei
Assuero sobre o cativo povo de Deus na Pérsia aplica-se, com muita
propriedade, à igreja remanescente dos últimos dias: “Existe [...] um
povo cujas leis são diferentes das leis de todos os povos” (Et 3:8).
De fato, o povo do advento tem práticas e
crenças muito peculiares. Como demonstração disso, consideremos
os seguintes exemplos: cremos em toda a Bíblia; harmonizamos a lei com a
graça; fazemos distinção de leis; guardamos o sábado; sustentamos a
imortalidade condicional da alma; consideramos o inferno uma realidade
futura e de duração passageira; somos pré-milenaristas; sustentamos os
princípios de saúde revelados por Deus; temos uma origem profética;
reinvidicamos a posse do dom profético; cumprimos uma missão profética;
temos uma escatologia pertinente; e ensinamos a verdade do santuário.
Ataques às colunas da fé – Algumas dessas
crenças distintivas têm sido atacadas em várias partes do mundo
por pessoas e movimentos, tanto de dentro como de fora da igreja. Faz
poucas décadas, o teólogo Desmond Ford agitou nossos arraiais ao se
desviar da interpretação histórica adventista sobre o santuário. Por um
lado, isso causou muito sofrimento à igreja; por outro, esses movimentos
contestatórios de verdades fundamentais trouxeram relevante benefício
espiritual a muitas pessoas, especialmente os pastores de nossa igreja,
que sentiram a necessidade de fazer um exame crítico da doutrina,
resultando disso uma fé provada. No entanto, o reconhecimento desse
fato não deve ser encarado como insinuação de que se deve desejar o
surgimento de novos focos de contestação doutrinária.
O aparecimento de movimentos
contestatórios, heréticos e dissidentes é previsto nos escritos bíblicos
e nos de Ellen G. White, como veremos a seguir. Eis algumas predições
bíblicas:
1. Nos últimos dias,
alguns se desviariam da fé verdadeira, dando ouvidos a “espíritos
enganadores e a doutrina de demônios” (1Tm 4:1).
2. Até os escolhidos
seriam colocados à prova pelos terríveis sinais e prodígios de engano,
operados por “falsos cristos e falsos profetas” (Mt 24:24).
3. Heresias
destruidoras, introduzidas dissimuladamente por falsos mestres e
profetas, infamariam “o caminho da verdade” (2Pe 2:1, 2).
4. Paulo, em suas
epístolas, fala da “sabedoria carnal” (2Co 1:12, RC) dos sábios deste
século; “da operação do erro” (2Ts 2:11) nos que “não acolheram o amor
da verdade” (2Ts 2:10, RC); fala daqueles que “não suportarão a sã
doutrina” (2Tm 4:3); dos “lobos devoradores” do rebanho; das oposições
da falsa ciência, e das “filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição
dos homens e segundo os rudimentos deste mundo, e não segundo Cristo”
(Cl 2:8, RC).
Assim, mediante as citações e expressões
bíblicas neotestamentárias mencionadas, Deus predisse a obra e
influência daqueles que, nos últimos dias, iriam negar, combater e
tentar remover os pilares da verdade.
O Espírito de Profecia, por sua
vez, preconizou que uma “obra de apostasia” terá lugar; haverá “uma
confusão de fé” (Ellen G. White, O Cuidado de Deus [MM 1995], p. 332);
“será deturpada uma verdade após outra” (ibid.); “serão removidos [...]
os marcos (da verdade)” (ibid.); e “far-se-á uma tentativa para demolir
as colunas de nossa fé” (ibid.). Após uma visão, Ellen G. White afirmou:
“Os fundamentos de nossa fé [...] estavam sendo retirados, pilar por
pilar. Nossa fé nada teria sobre o que se apoiar – o santuário estava
eliminado, a expiação descartada. [...] Teorias sedutoras estão sendo
ensinadas de tal modo que não as reconheceremos a menos que tenhamos um
claro discernimento espiritual” (Olhando Para o Alto [MM 1983], p. 146).
“Os homens tentarão introduzir novas
teorias e tentarão provar que essas teorias são escriturísticas,
conquanto sejam errôneas, as quais, se forem aceitas, comprometerão a fé
na verdade. Não, não; não devemos desviar-nos da plataforma da verdade
em que fomos estabelecidos” (ibid., p. 193).
“O inimigo introduzirá doutrinas falsas,
tais como a de que não existe um santuário. Este é um dos pontos em que
alguns se apartarão da fé” (Ellen G. White, Evangelismo, p. 224).
Pilar essencial do adventismo – As
declarações acima deixam subentendido o fato de que não se pode
encarecer demasiadamente o caráter vital da doutrina do santuário para
nossa fé. Embora seja um ensinamento exclusivo da Igreja Adventista e
praticamente a única doutrina que não temos em comum com nenhum outro
grupo religioso (exceto os reformistas), a verdade sobre o santuário não
pode ser vista como um ensinamento estranho, desvirtuado e
indefensável; tampouco um simples expediente para justificar o episódio
do desapontamento de 1844, como pretendem alguns.
Em vez de ser um desvio da fé
cristã histórica, o ensino do santuário é a conclusão lógica e a
inevitável consumação dessa fé. É uma verdade presente, uma verdade para
os últimos dias; mensagem oportuna, confiada ao povo do advento.
Nem a igreja cristã primitiva nem
a Reforma ensinaram essa verdade. Pouco mais de quatrocentos anos depois
é que o juízo teve início no Céu, na fase final da mediação de Cristo, e
Deus então suscitou um movimento para proclamar aos habitantes da Terra
a vital e solene mensagem do santuário. Como igreja remanescente da
profecia, cabe-nos o privilégio e a responsabilidade de ensinar essa
verdade presente, no contexto das três mensagens de Apocalipse 14.
Essência do adventismo – O que a doutrina
do santuário significa para a Igreja Adventista do Sétimo Dia?
Responde o grande estudioso e erudito denominacional Leroy Edwin Froom:
“A verdade do santuário é a essência do adventismo e tudo abrange;
qualquer enfraquecimento, negação ou supressão da verdade do santuário é
questão séria, mesmo crucial. Qualquer desvio ou abandono dela fere o
coração do adventismo, sendo um desafio à sua própria integridade”
(Ministério Adventista, julho/agosto de 1971, p. 13).
A verdade do santuário é indubitavelmente
o ponto cardial do sistema doutrinário adventista. Ellen G. White
diz: “A luz proveniente do santuário iluminou o passado, o presente e o
futuro” (O Grande Conflito, p. 423).
Passado. A compreensão da
doutrina do santuário propiciou aos pioneiros a possibilidade de ver o
evangelho e sua glória nos ritos e serviços do santuário mosaico –
prefiguração do sacrifício e obra de Cristo – e os levou a compreender
que o terrível e probante desapontamento que haviam experimentado (22 de
outubro de 1884) havia sido predito e previsto por Deus mais de
1.700 anos antes, na visão do livrinho aberto comido simbolicamente por
João (ver Ap 10:1-11). Mas, depois de esclarecido e solucionado o
mistério da decepção, eles deviam, com novo ânimo, retomar e cumprir a
inconfundível e peculiar missão profética que lhes estava reservada (“é
necessário que ainda profetizes a respeito de muitos povos, nações,
línguas e reis” – Ap 10:11), ou seja, a missão de proclamar ao mundo
inteiro a tríplice mensagem angélica de Apocalipse 14:6-12, verdade
presente de Deus para as últimas gerações da Terra.
Presente. O entendimento da
doutrina do santuário foi a chave que esclareceu o mistério do
desapontamento de 1844 e lançou luz sobre pontos básicos de nossa fé e
verdades essenciais da Bíblia. Em outras palavras, o santuário
“revelou um conjunto completo de verdades ligadas harmoniosamente entre
si” (Ellen G. White, O Grande Conflito, p. 423), como: distinção de
leis, lei de Deus, sábado, expiação, mediação,
justificação, santificação, segunda vinda de Cristo, recompensa dos
justos e dos ímpios e completa destruição do mal.
No dia 3 de abril de 1847, Ellen G.White teve uma visão do Santíssimo,
no templo do Céu. Contemplou a arca aberta e, dentro dela, as tábuas da lei. Um halo especial de luz incidia sobre o quarto mandamento. A partir desse momento, ficou claro para os pioneiros que a aceitação da verdade do santuário envolvia o reconhecimento dos requisitos da lei de Deus e a obrigatoriedade da guarda do sábado do quarto mandamento.
no templo do Céu. Contemplou a arca aberta e, dentro dela, as tábuas da lei. Um halo especial de luz incidia sobre o quarto mandamento. A partir desse momento, ficou claro para os pioneiros que a aceitação da verdade do santuário envolvia o reconhecimento dos requisitos da lei de Deus e a obrigatoriedade da guarda do sábado do quarto mandamento.
Após a descoberta do santuário, visões de
Ellen G. White mostraram a dimensão escatológica do conflito que se
desenvolveria em torno da questão do verdadeiro sábado, trazendo o
entendimento da mensagem do terceiro anjo de Apocalipse 14:9-13. Até
esse momento, o sábado não tinha sido visto sob esse ângulo.
Pelo que acabamos de ver,
percebe-se facilmente que, sem a doutrina do santuário, perderíamos
nossa identidade como povo peculiar. Além disso, careceríamos de base
como movimento profético, ficaríamos destituídos do sentido de missão e,
consequentemente, sem razão de existir, como bem observou Froom: “Se
não existe santuário no Céu, e nele não há operado um grande Sumo
Sacerdote, e se já não existe mensagem da hora do juízo a ser, por ordem
divina, pregada atualmente, então não há lugar para nós no mundo
religioso, nem missão e mensagem denominacionais distintas,
nem desculpas para ficarmos como entidade eclesiástica separada”
(Ministério Adventista, julho/agosto de 1971, p. 13).
Futuro. Quando o livro da
profecia de Daniel foi aberto no início do tempo do fim (Dn 12:4, 9; Ap
10:1, 2; 22:10), houve um despertamento mundial de pessoas em torno de
solenes eventos a ocorrer brevemente – o juízo, a vinda de Cristo e o
estabelecimento do reino de Deus. Sincera, mas equivocadamente, Miller e
seus companheiros nos Estados Unidos entenderam que “a purificação do
santuário” (Dn 8:14), que se daria em 22 de outubro de 1844, segundo a
explanação de Daniel 9:23-27, seria a volta de Cristo à Terra, trazendo
juízo de fogo e com ele os tão ansiados novos Céus e nova Terra (2Pe
3:7, 10, 12, 13).
Porém, a data passou. As expectativas da
segunda vinda de Jesus não se cumpriram; aquilo que na boca tinha sido
doce como mel (a crença na iminente vinda de Cristo) se tornou amargo no
estômago (Ap 10:8-10), e o movimento do advento se esfacelou. Uma parte
dele, sentindo-se enganada, desiludida e revoltada, deixou
completamente suas crenças religiosas, retornando à sua anterior maneira
de viver, sem fé e sem esperança no mundo. Outra parte, deixando de
lado o interesse pelas profecias, as inquietudes escatológicas e as
verdades e pontos de fé diferenciais que haviam aprendido no movimento
adventista, pediu readmissão e retornou às suas igrejas de origem.
Um terceiro segmento dos decepcionados, não se conformando com o
desapontamento, nem admitindo haver cometido qualquer erro de
interpretação profética, continuou marcando novas datas para a vinda de
Cristo e sofrendo novos e sucessivos reveses.
Por fim, um quarto grupo, o menor deles,
composto por apenas 50 a 60 pessoas (entre eles José Bates, Tiago
White, Hiram Edson e Ellen G. Harmon), assumiu uma atitude diferente,
mais sábia e equilibrada que a dos demais: eles não voltaram para o
mundo nem retornaram às suas igrejas de origem porque, desde que se
associaram ao movimento milerita (que não visava a formar uma
nova denominação, mas despertar e preparar as pessoas, em suas igrejas,
para o encontro com o Senhor), experimentaram um crescimento na fé, na
espiritualidade e
no conhecimento das verdades bíblicas e proféticas que não possuíam antes. Esse remanescente não cogitou também marcar novas datas para a vinda de Cristo. Crendo fervorosamente que sua experiência provinha de Deus e que as Escrituras não mentem nem falham, decidiram continuar investigando mais profundamente as doutrinas bíblicas, para obter consolação e descobrir onde haviam errado. Tinham fé e acreditavam que Deus estava com eles e que finalmente lhes esclareceria o mistério do desapontamento.
no conhecimento das verdades bíblicas e proféticas que não possuíam antes. Esse remanescente não cogitou também marcar novas datas para a vinda de Cristo. Crendo fervorosamente que sua experiência provinha de Deus e que as Escrituras não mentem nem falham, decidiram continuar investigando mais profundamente as doutrinas bíblicas, para obter consolação e descobrir onde haviam errado. Tinham fé e acreditavam que Deus estava com eles e que finalmente lhes esclareceria o mistério do desapontamento.
Luz no santuário – Um dia depois do
desapontamento, Hiram Edson teve a famosa visão do campo de milho,
na qual lhe foi dada uma espécie de intuição acerca do que realmente
ocorrera no dia amargo. A partir daquele princípio, o médico F. B. Hann e
o professor Owen Crosier começaram a realizar estudos com vistas ao
desvendamento do mistério da desilusão experimentada. Ao estudar os
livros de Levítico, Êxodo, Apocalipse e especialmente Hebreus, os
pioneiros notaram a existência inequívoca de um santuário no Céu.
Perceberam que esse santuário não é o próprio Céu, mas está no Céu, e
foi o modelo dado por Deus a Moisés para a edificação do santuário
terrestre (Êx 25:8, 9, 40; Hb 8:5).
Descoberta a relação entre os
dois santuários – o celestial e o mosaico – estava estabelecido o
princípio de correlação tipo/antítipo, sombra/objeto, figura/realidade. O
santuário terrestre – realidade visível – apontava para o
celestial, realidade invisível (Hb 8:9-5; 9:9, 23, 24).
O santuário do novo concerto era o grande
original; o do antigo concerto, a cópia. O primeiro estava no Céu, e o
segundo, na Terra. Esse foi construído pelo homem; aquele, por Deus. No
terrestre, oficiavam sacerdotes da ordem levítica; no celestial, Jesus,
ministro segundo a ordem de Melquisedeque, isto é, com base na
excelência de Seu caráter, méritos e atribuições (Hb 7:11, 15-19).
Atentando para Hebreus 9:11, onde é dito
que o santuário celestial é “maior e mais perfeito” do que o terrestre,
os pioneiros compreenderam que “o esplendor sem-par do tabernáculo
terrestre refletia à vista humana as glórias do templo celestial em que
Cristo, nosso Precursor, ministra por nós perante o trono de Deus. A
morada do Rei dos reis, em que milhares de milhares O servem, e milhões
de milhões estão em pé diante dEle (Dn 7:10), sim, aquele templo,
repleto da glória do eterno trono, onde serafins, seus resplandecentes
guardas, velam a face em adoração – não poderia encontrar na estrutura
mais magnificente que hajam erigido mãos humanas, senão pálido reflexo
de sua imensidade e glória. Contudo, importantes verdades relativas ao
santuário celestial e à grande obra ali levada a efeito pela redenção
do homem, foram ensinadas pelo santuário terrestre e seu culto” (Ellen
G. White, O Grande Conflito, p. 414).
Mais evidências – Os primeiros
adventistas do sétimo dia encontraram abundantes e concretas evidências
da realidade do santuário do Céu nas visões dadas a João a respeito do
templo celestial. Ele viu que “diante do trono ardiam sete lâmpadas de
fogo, as quais são os sete Espíritos de Deus” (Ap 4:5, RC); viu que
“veio outro anjo e ficou de pé junto ao altar, com um incensário
de ouro, e foi-lhe dado muito incenso para oferecê-lo com as orações de
todos os santos sobre o altar de ouro que se acha diante do trono” (Ap
8:3); e, quando se “abriu no Céu o templo de Deus” (Ap 11:19) e João
olhou para dentro do véu interior, ou lugar santíssimo, viu ali “a arca
da Aliança”, representada pelo receptáculo onde se guardava a lei no
santuário terrestre. Dessa forma, ficou estabelecido esse fundamental
pilar do sistema da verdade de Deus, que é a gloriosa, multifacetada e
bendita doutrina do santuário.
Texto de Deilson Storch de Almeida teólogo, historiador e escritor; publicado na RA de Set/2011.
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