Veja matéria de Arnaldo B. Cristianini um dos grandes redatores da Revista Adventista do passado
A mulher de Caim
A crítica barata tornou generalizada a objeção contra a plausibilidade do casamento de Caim. O raciocínio simplista assim argumenta: segundo a Bíblia, o primeiro casal foi Adão e Eva, deles resultando os três primeiros filhos Caim, Abel e Sete. Quando surge em cena a esposa do primeiro filho, topa-se um absurdo. Então galhofam: donde brotou tal mulher, se na época só havia esta família sobre a Terra? E o fato é averbado como uma “incongruência bíblica”. A crítica acha impossível existir uma mulher para Caim, mas no final deste artigo o leitor verá que havia dezenas de mulheres dentre as quais poderia o fratricida escolher uma esposa.
Infelizmente boa parte dos meios cultos evangélicos, gangrenados pelo modernismo, e admitindo a teoria evolucionista, não se interessam em defender a verdade que contém o livro de Gênesis, e isto dá azo para concessões comprometedoras à crítica negativista.
Os adventistas, porém, como fundamentalistas absolutos, crêem sem reservas em toda a revelação bíblica, a despeito das diruptivas arremetidas da alta crítica e do modernismo religioso, este último já bem em voga no Brasil.
O “velho e repisado tema” da mulher de Caim — como o denomina um nosso escritor — tem, no entanto, uma explicação facílima e satisfatória para os investigadores sinceros.
Notemos que a Bíblia não é um romance — como pensam pretensos sabichões — mas um registro de fatos e de ensinos. E só escoimado de toda a paixão e preconceito poderá o homem entendê-la, pois — ela mesma o diz — as coisas de ordem espiritual são perfeitamente entendidas por homens espirituais. (1 Cor. 2:11, 14 e 15.) E um investigador sincero, sedento de verdade, jamais se embaraçará nos liames do criticismo bíblico.
A primeira menção da mulher de Caim se encontra em Gên. 4:17 noticiando também o nascimento de seu primeiro filho Enoque (não confundir com o outro Enoque, o que “andou com Deus”) e a edificação de uma pequena cidade, na terra de Nod.
Mas quem disse aos críticos que, a esta altura dos acontecimentos, só havia cinco pessoas sobre a Terra e nenhuma mulher além de Eva?
É certo que a Escritura não menciona o nome e a procedência da mulher do primeiro criminoso, mas notemos que a Terra já começara a povoar-se quando ele se casou. Mas como? Analisemos os seguintes fatos, comparemo-los e tiremos as necessárias conclusões:
1. Em Gên. 1:28 se diz que Deus, após ter abençoado o casal, deu-lhes, de forma imperativa, uma comissão: “Frutificai e multiplicaivos, e enchei a
Terra...” Sendo Adão e Eva criados já adultos, tal ordem — a reprodução da espécie humana — logo foi iniciada.
2. As Escrituras mencionam, pelos nomes, os filhos Caim, Abel e depois Sete (que seria o patriarca da segunda geração), este último nascido quando Adão tinha cento e trinta anos. (Gên. 5:3.) Mas o Livro Santo nos informa ainda que Adão, além de Sete, “gerou filhos e FILHAS”. Gen. 5:4. Não havendo interesse em detalhes, não se mencionam a quantidade e os nomes desses filhos e filhas. Mas os havia em grande número, como decorrência do cumprimento do imperativo “frutificai e multiplicai-vos”. Num tempo em que a vida humana se media por séculos, a sua prole seria numerosíssima. Portanto, uma dessas filhas de Adão – irmã de Caim – poderia ter sido sua esposa. Não se choque o leitor com este fato, pois a questão da consangüinidade será esclarecida mais adiante.
3. Mais ainda. Caim cometera o brutal homicídio contra Abel, já em idade madura. Diz Gên. 4:3 que “ao cabo de dias Caim...” etc. e isto significa um longo período. Matos Soares e Figueiredo traduzem: “Passado muito tempo ...“ E o nosso Comentário (Seventh Day Adventist Commentary) também admite este fato, afirmando: “Gên. 4:3 — ‘ao fim de dias’ denota o transcorrer de um período indefinido e considerável de tempo ...” Ora, a esta altura, a prole já seria bem grande.
4. Crêem alguns que a mulher de Caim também poderia ter sido uma sobrinha — filha de Sete. Baseiam-se no fato de entre Gên. 4:16 — Caim exilado na terra de Nod — e o verso 17, que se refere à sua esposa, ter decorrido longo lapso de tempo. E o verso 25 refere que, pelo motivo da morte de Abel, o primeiro casal teve outro filho para substituir o justo assassinado. Este filho foi Sete. E Sete também gerou “filhos e FILHAS” (Gen. 5:7).
E há comentadores que admitem que, no espaço de trezentos anos, os filhos e filhas de Adão fossem superiores a cinqüenta e uns vinte os filhos de Sete. A título de informação devemos notar que o relato da vida de Adão, de Caim e das genealogias que estamos considerando foi feito por Moisés, segundo se admite, aproximadamente dois mil anos depois destes acontecimentos. Este o motivo de dizer que Caim fundara uma cidade — que talvez se tenha povoado com o alastramento de sua própria prole e posteriormente de outros parentes.
Mas o que não padece dúvida é que, neste ponto dos fatos, já havia muitas mulheres disponíveis ...
5. Há estudiosos da Bíblia que sustentam que Adão e Eva tiveram filhos e filhas ANTES mesmo do nascimento de Caim. Dizem que Abel e Sete são mencionados pelos nomes e com destaque pela necessidade do enredo que tiveram suas vidas. Os outros filhos permaneceram na obscuridade, porque nada de notável ocorrera com eles. Baseiam-se na afirmativa de Gên. 3:20, que diz que Eva era “a mãe de todos os viventes”. E isto — como se vê — depois da queda, e depois de reafirmada a ordem de reprodução da espécie, embora com dores para a mulher (Gén. 4:16). Estudemos bem Gên. 3:20. Eva “era” a mãe dos viventes. Embora o verbo “ser” esteja no pretérito imperfeito, contudo neste
texto ocupa lugar equivalente ao indicativo presente. Nessa ocasião, sem dúvida, Eva já era mãe de todos os viventes. Não diz o texto que seria mãe dos viventes, e sim que já era mãe de uma boa prole. Agora, quanto aos “viventes” é muito racional e lógico que fossem os “filhos e filhas” cujos nomes e quantidade a Bíblia não revela. Referindo-se a estes viventes, em um trabalho intitulado O Casamento de Caim, A. Jorge afirma: “É inconcebível a idéia de que esses viventes seriam todos os animais num sentido geral, porque não podemos aceitar à luz da lógica, que uma criatura humana feita à imagem de Deus ... pudesse ser considerada a ginetriz dos animais irracionais, corno sejam o gato, o cão, o porco, etc.”
Então esses viventes seriam a prole adâmica anterior a Caim. E isto também favorece a plausibilidade do casamento do estigmatizado.
6. Finalmente consideremos a questão de se casarem parentes tão próximos em grau de consangüinidade. Naquele tempo, no início, da geração humana, isto não constituía pecado. Era mesmo o único caminho — lógico e natural — para a procriação inicial que era imperativamente ordenada pelo próprio Criador. A esse respeito diz o nosso Comentário: “Os mais antigos habitantes da Terra não tinham outra alternativa a não ser fazerem-se casar irmãos e irmãs a fim de cumprirem a ordem divina:
‘Frutificai e multiplicai-vos’ (Vide Atos 17:26). E que este costume esteve em uso por muito tempo se depreende do fato de Abraão ter desposado parenta bem chegada, quase irmã. Mesmo no caso das filhas de Ló (Gên. 19:33-38), parece ter havido tolerância, embora uniões incestuosas não mais fossem necessárias.”
Somente tempos depois veio a proibição formal de consórcios entre parentes consangüíneos. De maneira taxativa em Lev. 18:6-18 se proíbem tais relações entre parentes chegados. E ainda comina castigos severos e até pena capital para tais casos. Leia-se ainda Lev. 20:12, 14, 17, 19-21. Porém, no alvorecer da raça humana, tal prática foi permitida por ser o único meio para a propagação da espécie. Deus é soberano e seria blasfemo criticar Seus atos e Suas determinações.
Como se vê, esta história da mulher de Caim é hoje uma objeção totalmente desmoralizada, própria de quem não conhece ou não estuda a Bíblia.
Revista Adventista, junho 1957
A mulher de Caim
A crítica barata tornou generalizada a objeção contra a plausibilidade do casamento de Caim. O raciocínio simplista assim argumenta: segundo a Bíblia, o primeiro casal foi Adão e Eva, deles resultando os três primeiros filhos Caim, Abel e Sete. Quando surge em cena a esposa do primeiro filho, topa-se um absurdo. Então galhofam: donde brotou tal mulher, se na época só havia esta família sobre a Terra? E o fato é averbado como uma “incongruência bíblica”. A crítica acha impossível existir uma mulher para Caim, mas no final deste artigo o leitor verá que havia dezenas de mulheres dentre as quais poderia o fratricida escolher uma esposa.
Infelizmente boa parte dos meios cultos evangélicos, gangrenados pelo modernismo, e admitindo a teoria evolucionista, não se interessam em defender a verdade que contém o livro de Gênesis, e isto dá azo para concessões comprometedoras à crítica negativista.
Os adventistas, porém, como fundamentalistas absolutos, crêem sem reservas em toda a revelação bíblica, a despeito das diruptivas arremetidas da alta crítica e do modernismo religioso, este último já bem em voga no Brasil.
O “velho e repisado tema” da mulher de Caim — como o denomina um nosso escritor — tem, no entanto, uma explicação facílima e satisfatória para os investigadores sinceros.
Notemos que a Bíblia não é um romance — como pensam pretensos sabichões — mas um registro de fatos e de ensinos. E só escoimado de toda a paixão e preconceito poderá o homem entendê-la, pois — ela mesma o diz — as coisas de ordem espiritual são perfeitamente entendidas por homens espirituais. (1 Cor. 2:11, 14 e 15.) E um investigador sincero, sedento de verdade, jamais se embaraçará nos liames do criticismo bíblico.
A primeira menção da mulher de Caim se encontra em Gên. 4:17 noticiando também o nascimento de seu primeiro filho Enoque (não confundir com o outro Enoque, o que “andou com Deus”) e a edificação de uma pequena cidade, na terra de Nod.
Mas quem disse aos críticos que, a esta altura dos acontecimentos, só havia cinco pessoas sobre a Terra e nenhuma mulher além de Eva?
É certo que a Escritura não menciona o nome e a procedência da mulher do primeiro criminoso, mas notemos que a Terra já começara a povoar-se quando ele se casou. Mas como? Analisemos os seguintes fatos, comparemo-los e tiremos as necessárias conclusões:
1. Em Gên. 1:28 se diz que Deus, após ter abençoado o casal, deu-lhes, de forma imperativa, uma comissão: “Frutificai e multiplicaivos, e enchei a
Terra...” Sendo Adão e Eva criados já adultos, tal ordem — a reprodução da espécie humana — logo foi iniciada.
2. As Escrituras mencionam, pelos nomes, os filhos Caim, Abel e depois Sete (que seria o patriarca da segunda geração), este último nascido quando Adão tinha cento e trinta anos. (Gên. 5:3.) Mas o Livro Santo nos informa ainda que Adão, além de Sete, “gerou filhos e FILHAS”. Gen. 5:4. Não havendo interesse em detalhes, não se mencionam a quantidade e os nomes desses filhos e filhas. Mas os havia em grande número, como decorrência do cumprimento do imperativo “frutificai e multiplicai-vos”. Num tempo em que a vida humana se media por séculos, a sua prole seria numerosíssima. Portanto, uma dessas filhas de Adão – irmã de Caim – poderia ter sido sua esposa. Não se choque o leitor com este fato, pois a questão da consangüinidade será esclarecida mais adiante.
3. Mais ainda. Caim cometera o brutal homicídio contra Abel, já em idade madura. Diz Gên. 4:3 que “ao cabo de dias Caim...” etc. e isto significa um longo período. Matos Soares e Figueiredo traduzem: “Passado muito tempo ...“ E o nosso Comentário (Seventh Day Adventist Commentary) também admite este fato, afirmando: “Gên. 4:3 — ‘ao fim de dias’ denota o transcorrer de um período indefinido e considerável de tempo ...” Ora, a esta altura, a prole já seria bem grande.
4. Crêem alguns que a mulher de Caim também poderia ter sido uma sobrinha — filha de Sete. Baseiam-se no fato de entre Gên. 4:16 — Caim exilado na terra de Nod — e o verso 17, que se refere à sua esposa, ter decorrido longo lapso de tempo. E o verso 25 refere que, pelo motivo da morte de Abel, o primeiro casal teve outro filho para substituir o justo assassinado. Este filho foi Sete. E Sete também gerou “filhos e FILHAS” (Gen. 5:7).
E há comentadores que admitem que, no espaço de trezentos anos, os filhos e filhas de Adão fossem superiores a cinqüenta e uns vinte os filhos de Sete. A título de informação devemos notar que o relato da vida de Adão, de Caim e das genealogias que estamos considerando foi feito por Moisés, segundo se admite, aproximadamente dois mil anos depois destes acontecimentos. Este o motivo de dizer que Caim fundara uma cidade — que talvez se tenha povoado com o alastramento de sua própria prole e posteriormente de outros parentes.
Mas o que não padece dúvida é que, neste ponto dos fatos, já havia muitas mulheres disponíveis ...
5. Há estudiosos da Bíblia que sustentam que Adão e Eva tiveram filhos e filhas ANTES mesmo do nascimento de Caim. Dizem que Abel e Sete são mencionados pelos nomes e com destaque pela necessidade do enredo que tiveram suas vidas. Os outros filhos permaneceram na obscuridade, porque nada de notável ocorrera com eles. Baseiam-se na afirmativa de Gên. 3:20, que diz que Eva era “a mãe de todos os viventes”. E isto — como se vê — depois da queda, e depois de reafirmada a ordem de reprodução da espécie, embora com dores para a mulher (Gén. 4:16). Estudemos bem Gên. 3:20. Eva “era” a mãe dos viventes. Embora o verbo “ser” esteja no pretérito imperfeito, contudo neste
texto ocupa lugar equivalente ao indicativo presente. Nessa ocasião, sem dúvida, Eva já era mãe de todos os viventes. Não diz o texto que seria mãe dos viventes, e sim que já era mãe de uma boa prole. Agora, quanto aos “viventes” é muito racional e lógico que fossem os “filhos e filhas” cujos nomes e quantidade a Bíblia não revela. Referindo-se a estes viventes, em um trabalho intitulado O Casamento de Caim, A. Jorge afirma: “É inconcebível a idéia de que esses viventes seriam todos os animais num sentido geral, porque não podemos aceitar à luz da lógica, que uma criatura humana feita à imagem de Deus ... pudesse ser considerada a ginetriz dos animais irracionais, corno sejam o gato, o cão, o porco, etc.”
Então esses viventes seriam a prole adâmica anterior a Caim. E isto também favorece a plausibilidade do casamento do estigmatizado.
6. Finalmente consideremos a questão de se casarem parentes tão próximos em grau de consangüinidade. Naquele tempo, no início, da geração humana, isto não constituía pecado. Era mesmo o único caminho — lógico e natural — para a procriação inicial que era imperativamente ordenada pelo próprio Criador. A esse respeito diz o nosso Comentário: “Os mais antigos habitantes da Terra não tinham outra alternativa a não ser fazerem-se casar irmãos e irmãs a fim de cumprirem a ordem divina:
‘Frutificai e multiplicai-vos’ (Vide Atos 17:26). E que este costume esteve em uso por muito tempo se depreende do fato de Abraão ter desposado parenta bem chegada, quase irmã. Mesmo no caso das filhas de Ló (Gên. 19:33-38), parece ter havido tolerância, embora uniões incestuosas não mais fossem necessárias.”
Somente tempos depois veio a proibição formal de consórcios entre parentes consangüíneos. De maneira taxativa em Lev. 18:6-18 se proíbem tais relações entre parentes chegados. E ainda comina castigos severos e até pena capital para tais casos. Leia-se ainda Lev. 20:12, 14, 17, 19-21. Porém, no alvorecer da raça humana, tal prática foi permitida por ser o único meio para a propagação da espécie. Deus é soberano e seria blasfemo criticar Seus atos e Suas determinações.
Como se vê, esta história da mulher de Caim é hoje uma objeção totalmente desmoralizada, própria de quem não conhece ou não estuda a Bíblia.
Revista Adventista, junho 1957
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