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sexta-feira, 29 de março de 2013

Restaurando o Altar da Família



Por Manoel Barbosa da Silva

e Heloísa de A. Barbosa Kayser

A nação através do altar

Como cristãos, temos o costume de comparar nossa jornada espiritual com a jornada feita pelo povo de Israel em busca da liberdade, seu estabelecimento como nação e suas inúmeras restaurações.

Israel não tinha o conceito de nação laica. Seu governo estava tão intimamente ligado à religião, que o próprio Deus era o Rei. Suas festas culturais eram as festas religiosas, que contavam a historia da libertação do povo do Egito. Seus dias de descanso eram sábados literais e simbólicos. Todas as suas cerimônias começavam e terminavam ao redor de um altar.

Quando o povo estava no cativeiro Egípcio, o primeiro pedido de Moisés ao Faraó foi para levar o povo ao deserto para adorar ao Senhor. Quando o povo finalmente passou pelas provas, foi erguido um altar. Ao redor do altar, o povo restabelecia seu conceito de nação.

Quando Israel insistiu para ser como as nações vizinhas, querendo um Rei como todos os outros, foi escolhido Saul. Enquanto Saul permaneceu junto ao altar, a nação prosperou, mas a partir do momento que ele afastou-se de Deus, a nação entrou em declínio e ele perdeu o poder. O Rei não era um mero líder político ou econômico. O Rei, assim como o sacerdote, era um pai espiritual.

Tragicamente, reis irresponsáveis destruíram a fé do povo. A nação por mais de uma vez foi dispersa ao se desviar do altar do seu Deus para se curvar a deuses pagãos. Perdendo de vista seus costumes, era perdida sua razão de ser um povo. E talvez mais como consequência que castigo, Israel era atacado, dizimado, destruído.

Os Reis ao pé do altar

Entre os últimos reis de Israel, três deles se destacaram por promover  reforma espiritual no país, e todas elas foram realizadas restaurando o altar de adoração.

O primeiro foi Ezequias.

“Ezequias começou a reinar quando tinha vinte e cinco anos; e reinou vinte e nove anos em Jerusalém. E o nome de sua mãe era Abia, filha de Zacarias.
Ele fez o que era reto aos olhos do Senhor, conforme tudo quanto fizera Davi, seu pai.
Pois ele, no primeiro ano do seu reinado, no primeiro mês, abriu as portas da casa  do Senhor, e as reparou.
Fez vir os sacerdotes e os levitas e, ajuntando-os na praça oriental,
disse-lhes: Ouvi-me, ó levitas; santificai-vos agora, e santificai a casa do Senhor, Deus de vossos pais, e tirai do santo lugar a imundícia.
Porque nossos pais se houveram traiçoeiramente, e fizeram o que era mau aos olhos do Senhor nosso Deus; deixaram-no e, desviando os seus rostos da habitação do Senhor, voltaram-lhe as costas.
Também fecharam as portas do alpendre, apagaram as lâmpadas, e não queimaram incenso nem ofereceram holocaustos no santo lugar ao Deus de Israel.
Pelo que veio a ira do Senhor sobre Judá e Jerusalém, e ele os entregou para serem motivo de espanto, de admiração e de escárnio, como vós o estais vendo com os vossos olhos.
Porque eis que nossos pais caíram à espada, e nossos filhos, nossas filhas e nossas mulheres estão por isso em cativeiro.
Agora tenho no coração o propósito de fazer um pacto com o Senhor, Deus de Israel, para que se desvie de nós o ardor da sua ira.
Filhos meus, não sejais negligentes, pois o Senhor vos escolheu para estardes diante dele a fim de o servir, e para serdes seus ministros e queimardes incenso”.
(2 Crônicas 29:1-11)

Pelo que se vê no relato bíblico, Ezequias teve a consciência de que a nação ia de mal a pior por ter perdido sua essência, que era a adoração ao Deus do céu. E teve a sensibilidade de levar o povo a reconstruir os altares do Senhor e retomar a adoração que os caracterizava.

O segundo Rei, Manassés, precisou reparar os próprios erros. A princípio tornou-se um grande apóstata, que ergueu imagens de deuses pagãos na Casa do Senhor, e queimou seus filhos em homenagem aos ídolos. Ele próprio pagou um preço muito alto, sendo preso com ganchos,que era uma espécie de anzol preso ao nariz, e foi arrastado pelo mesmo por cerca de 700 kilómetros até a capital da Assíria.

“Ele angustiado, suplicou deveras ao Senhor, seu Deus, e muito se humilhou perante o Deus de seus pais; fez-lhe oração, e Deus se tornou favorável para com ele, atendeu-lhe a suplica e o fez voltar para Jerusalém, ao seu reino; então reconheceu Manassés que o Senhor era Deus” (2 Crônicas 33:12 e 13).
Tirou da casa do Senhor os deuses estranhos e o ídolo, como também todos os altares que tinha edificado no monte da casa do Senhor, e em Jerusalém, e os lançou fora da cidade.
Também reparou o altar do Senhor, e ofereceu sobre ele sacrifícios de ofertas pacíficas e de ações de graças; e ordenou a Judá que servisse ao Senhor Deus de Israel. (Versos 15,16)

Como se pode ver, O rei Manassés reparou o altar do Senhor e ordenou que Judá servisse ao Senhor. Uma lição prática para quem deseja uma reforma espiritual na família, é que esta tem que passar pela restauração do altar, ou seja, precisa restaurar o culto doméstico.

O terceiro a promover a restauração espiritual da nação, foi o rei Josias, que fez a purificação do Templo e do culto, e na reforma do templo, encontrou a Bíblia que estava perdida.

“Quando se tirava o dinheiro que se havia trazido à Casa do Senhor, Hilquias, o sacerdote, achou o livro da lei do Senhor, dada por intermédio de Moisés.”
(2 Crônicas 34:14)

O encontro do Rei, e logo após do povo, com a Bíblia, promoveu a última reforma espiritual antes do cativeiro babilônico. E se eles tivessem continuado a seguir os ensinos da Bíblia e mantido o altar, nem cativeiro teria havido.

É no altar da família e na leitura da Bíblia que a família permanece unida com Deus.

Restaurando o altar da família

Em nossos dias, não é preciso olhar longe para enxergar o que tem acontecido com o núcleo familiar no mundo. Com o divórcio, as relações familiares estão cada vez mais complexas, crianças crescem divididas entre as regras da casa do pai e/ou da casa da mãe, não existem tradições familiares. No lar, é cada vez mais difícil reunir todos às refeições, ou mesmo para outras atividades.

Em 1995 uma senhora me abordou em Goiânia. Estava triste, pois nenhum de seus filhos havia permanecido na Igreja, após a adolescência. Como ainda moravam com a mãe, perguntei que horas acontecia o culto doméstico em sua casa. Ela afirmou que era impossível realizar o culto, já que todos tinham horários diferentes para sair e voltar para casa. Em sua casa não havia culto doméstico, em consequência, todos os filhos estavam fora da igreja.

Na semana passada a que escrevo, fazendo uma visita de rotina a uma família do meu distrito, na hora do pôr do sol a filha mais velha fala para mãe: “Mãe é hora do culto”, mas nem era preciso lembrar, pois a mãe já estava vindo com sua Bíblia e seu hinário. Em seguida toda a família foi chegando e o culto vespertino foi realizado. Não era sexta feira, é que o culto vespertino, que na grande maioria das famílias já morreu, naquela casa é realizado a semana inteira.

Perguntei ao pai: “Quantos filhos vocês tem?”, “Três”, ele respondeu. “Quantos estão na igreja?”, “graças a Deus, todos”, foi a resposta. Aí está a diferença entre quem mantém e não mantém o altar da família.

É preciso restaurar. E a fórmula, é a mesma que foi utilizada para reerguer tantas vezes Israel e Judá: A restauração do altar, ou seja, a restauração do culto familiar.

Durante o culto doméstico, a família tem a oportunidade de conversar, de compartilhar bênçãos, de falar dos desafios que cada um enfrenta; de ser fortalecido no animo e na fé. Cada membro da família lembra ao amanhecer e anoitecer que sua vida na Terra tem um objetivo.

O altar da família eleva os olhos de todos a Deus, ajuda a dissipar mágoas e brigas, une pais e filhos, tornando-os mais conhecidos uns dos outros, e todos de Deus. A fórmula de Deus para a vida do seu povo é simples. Mas ser simples no mundo atormentado de hoje, exige decisão, persistência e principalmente, da liderança do chefe da família.

“O pai deve fazer sua parte para tornar o lar feliz. Sejam quais forem seus cuidados e perplexidades nos negócios, não permita que estes ensombrem a família; deve penetrar em casa com sorrisos e palavras aprazíveis.
Em certo sentido, o pai é o sacerdote da família, depondo sobre seu altar o sacrifício matutino e vespertino. Mas a mulher e os filhos devem unir-se à oração e aos cânticos de louvor. Pela manhã, antes que saia de casa para o trabalho do dia, reúna ele os filhos em redor de si, e, curvando-se perante Deus, entregue-os ao Seu paternal cuidado. Passados os cuidados do dia, reúna-se a família para fazer uma prece de gratidão, e erguer hinos de louvor, em reconhecimento do divino cuidado no decorrer do mesmo.
Pais e mães, por mais prementes que sejam vossos afazeres, não deixeis de reunir vossa família em torno do altar de Deus. Pedi a guarda dos santos anjos em vosso lar. Lembrai-vos de que vossos queridos estão sujeitos a tentações. Aborrecimentos diários juncam a estrada tanto dos jovens como dos mais idosos. Os que querem viver vida paciente, amorável e satisfeita, devem orar. Somente obtendo constante auxílio de Deus podemos alcançar a vitória sobre o eu”.
(Ellen White em A Ciência do Bom Viver pag. 392)


O altar da família mantém o povo de Deus firme em todas as situações, locais e condições. Era a década de 1960. Brasília estava em expansão, e muita gente corria para a nova capital em busca de oportunidades. E as favelas surgiram, com todos os problemas que são peculiares.

Na  antiga Vila do IAPI, morava o seu José Nicolau, já aposentado, e também todos os filhos e netos. Cada manhã ele visitava a casa de todos os seis filhos, para saber se haviam feito o culto. Caso alguém não o tivesse feito, ele mesmo reunia a família e dirigia o culto doméstico.

Essa família hoje tem quase 300 pessoas. Todos são evangélicos, a grande maioria, Adventista do Sétimo Dia. Apesar de terem sido criados na favela, nenhum dos descendentes tem vícios, ninguém se envolveu com prostituição nem tem passagem pela polícia. Evidência que problemas sociais não são culpa de pobreza ou da falta educação formal. E sim da falta de Deus.

Esta é a família da minha esposa. Minhas filhas são a quarta geração do José Nicolau, e estão começando a formar suas famílias - onde também há o hábito do culto doméstico.

Restaurando o altar na sua casa

Nunca é demais lembrar dicas simples para a realização do culto familiar. Lembre-se que cada família deve desenvolver tradições que supram as necessidades da casa, mas é importante lembrar:

1.    Torne o culto interessante.

“Pais e mães, tornai a hora do culto intensamente interessante. Não há razão para que essa hora não deva ser a mais agradável e jubilosa do dia. Algum preparo para ela, habilitar-vos-á para torná-la cheia de interesse e proveito. De tempos a tempos introduzi variação. Podem-se formular perguntas sobre a porção lida e fazer algumas sérias e oportunas observações. Pode-se cantar um hino de louvor. A oração feita deve ser breve e concisa. Com palavras simples e fervorosas, a pessoa que faz a oração louve a Deus por Sua bondade e peça-Lhe auxílio. Tomem parte as crianças na leitura e na oração, quando o permitirem as circunstâncias. A eternidade, somente, revelará o bem de que estão revestidos esses períodos de oração.”
(Testemunhos Seletos, vol. 3, pág. 92.)

2     Tenha um tempo determinado e um ritual para o culto da manhã e outro para o da noite. Um exemplo seria ler a meditação de manhã, e o da noite ser mais focado no louvor. Outro exemplo: pela manhã estude a lição dos menores e a meditação. À noite, a lição dos adultos.

Em cada família deve haver um tempo determinado para os cultos matutino e vespertino. Que apropriado é os pais reunirem os filhos em redor de si, antes de quebrar o jejum, agradecer ao Pai celeste Sua proteção durante a noite e pedir-Lhe auxílio, guia e proteção para o dia! Que adequado, também, em chegando a noite, é reunirem-se uma vez mais em Sua presença, pais e filhos, para agradecer as bênçãos do dia findo?
(Testemunhos Seletos, vol. 3, pág. 92.)

3.    Façam pedidos de oração pela manhã, e lembrem-se de falar deles no culto à noite e agradecer as bênçãos recebidas durante o dia.

4.    O culto da manhã começa pelo menos 20 minutos antes do primeiro membro da família sair de casa. O culto da noite deve ter um horário fixo.

5.    Cante hinos que sejam do gosto das crianças menores. O culto deve ser um momento de prazer para elas. Para não dar briga, crie uma ordem entre os menores para a escolha das canções ou realização de outras atividades.

6.    Crie uma atividade especial para o pôr-do-sol de sexta-feira. Na minha casa, era o dia de recitar os 10 mandamentos e versículos sobre o sábado.

7.    Use os momentos após a oração para abraçar e beijar seus parêntes desejar-lhes um feliz sábado. Reformar o amor e o afeto,  é uma benção.




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