Por Manoel Barbosa da
Silva
e Heloísa de A.
Barbosa Kayser
A nação através do
altar
Como
cristãos, temos o costume de comparar nossa jornada espiritual com a jornada
feita pelo povo de Israel em busca da liberdade, seu estabelecimento como nação
e suas inúmeras restaurações.
Israel
não tinha o conceito de nação laica. Seu governo estava tão intimamente ligado
à religião, que o próprio Deus era o Rei. Suas festas culturais eram as festas
religiosas, que contavam a historia da libertação do povo do Egito. Seus dias
de descanso eram sábados literais e simbólicos. Todas as suas cerimônias
começavam e terminavam ao redor de um altar.
Quando
o povo estava no cativeiro Egípcio, o primeiro pedido de Moisés ao Faraó foi
para levar o povo ao deserto para adorar ao Senhor. Quando o povo finalmente
passou pelas provas, foi erguido um altar. Ao redor do altar, o povo
restabelecia seu conceito de nação.
Quando
Israel insistiu para ser como as nações vizinhas, querendo um Rei como todos os
outros, foi escolhido Saul. Enquanto Saul permaneceu junto ao altar, a nação
prosperou, mas a partir do momento que ele afastou-se de Deus, a nação entrou
em declínio e ele perdeu o poder. O Rei não era um mero líder político ou
econômico. O Rei, assim como o sacerdote, era um pai espiritual.
Tragicamente,
reis irresponsáveis destruíram a fé do povo. A nação por mais de uma vez foi
dispersa ao se desviar do altar do seu Deus para se curvar a deuses pagãos.
Perdendo de vista seus costumes, era perdida sua razão de ser um povo. E talvez
mais como consequência que castigo, Israel era atacado, dizimado, destruído.
Os Reis ao pé do
altar
Entre
os últimos reis de Israel, três deles se destacaram por promover reforma espiritual no país, e todas elas foram
realizadas restaurando o altar de adoração.
O
primeiro foi Ezequias.
“Ezequias começou a
reinar quando tinha vinte e cinco anos; e reinou vinte e nove anos em
Jerusalém. E o nome de sua mãe era Abia, filha de Zacarias.
Ele fez o que era reto
aos olhos do Senhor, conforme tudo quanto fizera Davi, seu pai.
Pois ele, no primeiro
ano do seu reinado, no primeiro mês, abriu as portas da casa do Senhor, e as reparou.
Fez vir os sacerdotes e
os levitas e, ajuntando-os na praça oriental,
disse-lhes: Ouvi-me, ó
levitas; santificai-vos agora, e santificai a casa do Senhor, Deus de vossos
pais, e tirai do santo lugar a imundícia.
Porque nossos pais se
houveram traiçoeiramente, e fizeram o que era mau aos olhos do Senhor nosso
Deus; deixaram-no e, desviando os seus rostos da habitação do Senhor,
voltaram-lhe as costas.
Também fecharam as
portas do alpendre, apagaram as lâmpadas, e não queimaram incenso nem
ofereceram holocaustos no santo lugar ao Deus de Israel.
Pelo que veio a ira do
Senhor sobre Judá e Jerusalém, e ele os entregou para serem motivo de espanto,
de admiração e de escárnio, como vós o estais vendo com os vossos olhos.
Porque eis que nossos
pais caíram à espada, e nossos filhos, nossas filhas e nossas mulheres estão
por isso em cativeiro.
Agora tenho no coração o
propósito de fazer um pacto com o Senhor, Deus de Israel, para que se desvie de
nós o ardor da sua ira.
Filhos meus, não sejais
negligentes, pois o Senhor vos escolheu para estardes diante dele a fim de o
servir, e para serdes seus ministros e queimardes incenso”.
(2
Crônicas 29:1-11)
Pelo
que se vê no relato bíblico, Ezequias teve a consciência de que a nação ia de
mal a pior por ter perdido sua essência, que era a adoração ao Deus do céu. E
teve a sensibilidade de levar o povo a reconstruir os altares do Senhor e
retomar a adoração que os caracterizava.
O
segundo Rei, Manassés, precisou reparar os próprios erros. A princípio tornou-se
um grande apóstata, que ergueu imagens de deuses pagãos na Casa do Senhor, e
queimou seus filhos em homenagem aos ídolos. Ele próprio pagou um preço muito
alto, sendo preso com ganchos,que era uma espécie de anzol preso ao nariz, e
foi arrastado pelo mesmo por cerca de 700 kilómetros até a capital da Assíria.
“Ele
angustiado, suplicou deveras ao Senhor, seu Deus, e muito se humilhou perante o
Deus de seus pais; fez-lhe oração, e Deus se tornou favorável para com ele,
atendeu-lhe a suplica e o fez voltar para Jerusalém, ao seu reino; então reconheceu
Manassés que o Senhor era Deus” (2
Crônicas 33:12 e 13).
Tirou da casa do Senhor os deuses
estranhos e o ídolo, como também todos os altares que tinha edificado no monte
da casa do Senhor, e em Jerusalém, e os lançou fora da cidade.
Também reparou o altar do Senhor, e ofereceu sobre ele sacrifícios de
ofertas pacíficas e de ações de graças; e ordenou a Judá que servisse ao Senhor
Deus de Israel. (Versos 15,16)
Como
se pode ver, O rei Manassés reparou o altar do Senhor e ordenou que Judá
servisse ao Senhor. Uma lição prática para quem deseja uma reforma espiritual
na família, é que esta tem que passar pela restauração do altar, ou seja,
precisa restaurar o culto doméstico.
O
terceiro a promover a restauração espiritual da nação, foi o rei Josias, que
fez a purificação do Templo e do culto, e na reforma do templo, encontrou a
Bíblia que estava perdida.
“Quando se tirava o dinheiro que se
havia trazido à Casa do Senhor, Hilquias, o sacerdote, achou o livro da lei do
Senhor, dada por intermédio de Moisés.”
(2 Crônicas 34:14)
O
encontro do Rei, e logo após do povo, com a Bíblia, promoveu a última reforma
espiritual antes do cativeiro babilônico. E se eles tivessem continuado a
seguir os ensinos da Bíblia e mantido o altar, nem cativeiro teria havido.
É
no altar da família e na leitura da Bíblia que a família permanece unida com
Deus.
Restaurando o altar
da família
Em
nossos dias, não é preciso olhar longe para enxergar o que tem acontecido com o
núcleo familiar no mundo. Com o divórcio, as relações familiares estão cada vez
mais complexas, crianças crescem divididas entre as regras da casa do pai e/ou
da casa da mãe, não existem tradições familiares. No lar, é cada vez mais
difícil reunir todos às refeições, ou mesmo para outras atividades.
Em
1995 uma senhora me abordou em Goiânia. Estava triste, pois nenhum de seus
filhos havia permanecido na Igreja, após a adolescência. Como ainda moravam com
a mãe, perguntei que horas acontecia o culto doméstico em sua casa. Ela afirmou
que era impossível realizar o culto, já que todos tinham horários diferentes
para sair e voltar para casa. Em sua casa não havia culto doméstico, em
consequência, todos os filhos estavam fora da igreja.
Na
semana passada a que escrevo, fazendo uma visita de rotina a uma família do meu
distrito, na hora do pôr do sol a filha mais velha fala para mãe: “Mãe é hora
do culto”, mas nem era preciso lembrar, pois a mãe já estava vindo com sua
Bíblia e seu hinário. Em seguida toda a família foi chegando e o culto vespertino
foi realizado. Não era sexta feira, é que o culto vespertino, que na grande maioria
das famílias já morreu, naquela casa é realizado a semana inteira.
Perguntei
ao pai: “Quantos filhos vocês tem?”, “Três”, ele respondeu. “Quantos estão na
igreja?”, “graças a Deus, todos”, foi a resposta. Aí está a diferença entre quem
mantém e não mantém o altar da família.
É
preciso restaurar. E a fórmula, é a mesma que foi utilizada para reerguer
tantas vezes Israel e Judá: A restauração do altar, ou seja, a restauração do
culto familiar.
Durante
o culto doméstico, a família tem a oportunidade de conversar, de compartilhar
bênçãos, de falar dos desafios que cada um enfrenta; de ser fortalecido no
animo e na fé. Cada membro da família lembra ao amanhecer e anoitecer que sua
vida na Terra tem um objetivo.
O
altar da família eleva os olhos de todos a Deus, ajuda a dissipar mágoas e
brigas, une pais e filhos, tornando-os mais conhecidos uns dos outros, e todos
de Deus. A fórmula de Deus para a vida do seu povo é simples. Mas ser simples
no mundo atormentado de hoje, exige decisão, persistência e principalmente, da
liderança do chefe da família.
“O
pai deve fazer sua parte para tornar o lar feliz. Sejam quais forem seus
cuidados e perplexidades nos negócios, não permita que estes ensombrem a
família; deve penetrar em casa com sorrisos e palavras aprazíveis.
Em
certo sentido, o pai é o sacerdote da família, depondo sobre seu altar o
sacrifício matutino e vespertino. Mas a mulher e os filhos devem unir-se à
oração e aos cânticos de louvor. Pela manhã, antes que saia de casa para o
trabalho do dia, reúna ele os filhos em redor de si, e, curvando-se perante
Deus, entregue-os ao Seu paternal cuidado. Passados os cuidados do dia,
reúna-se a família para fazer uma prece de gratidão, e erguer hinos de louvor,
em reconhecimento do divino cuidado no decorrer do mesmo.
Pais
e mães, por mais prementes que sejam vossos afazeres, não deixeis de reunir
vossa família em torno do altar de Deus. Pedi a guarda dos santos anjos em
vosso lar. Lembrai-vos de que vossos queridos estão sujeitos a tentações.
Aborrecimentos diários juncam a estrada tanto dos jovens como dos mais idosos.
Os que querem viver vida paciente, amorável e satisfeita, devem orar. Somente
obtendo constante auxílio de Deus podemos alcançar a vitória sobre o eu”.
(Ellen White em A Ciência do Bom Viver pag. 392)
O
altar da família mantém o povo de Deus firme em todas as situações, locais e
condições. Era a década de 1960. Brasília estava em expansão, e muita gente
corria para a nova capital em busca de oportunidades. E as favelas surgiram,
com todos os problemas que são peculiares.
Na
antiga Vila do IAPI, morava o seu José
Nicolau, já aposentado, e também todos os filhos e netos. Cada manhã ele
visitava a casa de todos os seis filhos, para saber se haviam feito o culto.
Caso alguém não o tivesse feito, ele mesmo reunia a família e dirigia o culto
doméstico.
Essa
família hoje tem quase 300 pessoas. Todos são evangélicos, a grande maioria,
Adventista do Sétimo Dia. Apesar de terem sido criados na favela, nenhum dos
descendentes tem vícios, ninguém se envolveu com prostituição nem tem passagem
pela polícia. Evidência que problemas sociais não são culpa de pobreza ou da
falta educação formal. E sim da falta de Deus.
Esta
é a família da minha esposa. Minhas filhas são a quarta geração do José
Nicolau, e estão começando a formar suas famílias - onde também há o hábito do
culto doméstico.
Restaurando o altar
na sua casa
Nunca
é demais lembrar dicas simples para a
realização do culto familiar. Lembre-se que cada família deve desenvolver
tradições que supram as necessidades da casa, mas é importante lembrar:
1.
Torne
o culto interessante.
“Pais
e mães, tornai a hora do culto intensamente interessante. Não há razão para que
essa hora não deva ser a mais agradável e jubilosa do dia. Algum preparo para
ela, habilitar-vos-á para torná-la cheia de interesse e proveito. De tempos a
tempos introduzi variação. Podem-se formular perguntas sobre a porção lida e
fazer algumas sérias e oportunas observações. Pode-se cantar um hino de louvor.
A oração feita deve ser breve e concisa. Com palavras simples e fervorosas, a
pessoa que faz a oração louve a Deus por Sua bondade e peça-Lhe auxílio. Tomem
parte as crianças na leitura e na oração, quando o permitirem as
circunstâncias. A eternidade, somente, revelará o bem de que estão revestidos
esses períodos de oração.”
(Testemunhos
Seletos, vol. 3, pág. 92.)
2
Tenha
um tempo determinado e um ritual para o culto da manhã e outro para o da noite.
Um exemplo seria ler a meditação de manhã, e o da noite ser mais focado no
louvor. Outro exemplo: pela manhã estude a lição dos menores e a meditação. À
noite, a lição dos adultos.
Em
cada família deve haver um tempo determinado para os cultos matutino e
vespertino. Que apropriado é os pais reunirem os filhos em redor de si, antes
de quebrar o jejum, agradecer ao Pai celeste Sua proteção durante a noite e
pedir-Lhe auxílio, guia e proteção para o dia! Que adequado, também, em
chegando a noite, é reunirem-se uma vez mais em Sua presença, pais e filhos,
para agradecer as bênçãos do dia findo?
(Testemunhos
Seletos, vol. 3, pág. 92.)
3.
Façam
pedidos de oração pela manhã, e lembrem-se de falar deles no culto à noite e
agradecer as bênçãos recebidas durante o dia.
4.
O
culto da manhã começa pelo menos 20 minutos antes do primeiro membro da família
sair de casa. O culto da noite deve ter um horário fixo.
5.
Cante
hinos que sejam do gosto das crianças menores. O culto deve ser um momento de
prazer para elas. Para não dar briga, crie uma ordem entre os menores para a
escolha das canções ou realização de outras atividades.
6.
Crie
uma atividade especial para o pôr-do-sol de sexta-feira. Na minha casa, era o
dia de recitar os 10 mandamentos e versículos sobre o sábado.
7.
Use
os momentos após a oração para abraçar e beijar seus parêntes desejar-lhes um
feliz sábado. Reformar o amor e o afeto, é uma benção.
Nenhum comentário:
Postar um comentário