Do site http://ew-willianlira.blogspot.com.br
Leiam esse texto com atenção. É fantástico. A princípio eu fiquei desconfiado com o título, pensei que fosse algum texto de algum ex-membro revoltado com a igreja, mas constatei que é uma reflexão madura, inteligente, adequada a qualquer igreja séria e compromissada com a salvação de almas
Leiam, vale a pena.
Hippies, porcos e a Igreja institucional
Por Maurício Zagari
O escritor George Orwell é muito conhecido por seu livro 1984.
Nele, apresenta a famosa figura do Big Brother: a personificação de um
Estado totalitário que, graças a um recurso tecnológico, consegue
investigar a vida privada de cada cidadão. Mas, o melhor e mais
fascinante livro de Orwell não é esse; chama-se A revolução dos bichos. É
um texto extremamente interessante e que nos nossos dias tornou-se
altamente aplicável a uma parcela da Igreja de Nosso Senhor Jesus
Cristo, como abordarei mais à frente.
Numa
fazenda dominada por homens, os animais se revoltam, expulsam os
humanos e tomam conta dos negócios, numa tentativa de romper com o
modelo institucional que havia até então. Cada animal passa a, em
teoria, ter um papel igualitário ao dos outros, embora com funções
diferentes. Numa parede escrevem o estatuto da nova comunidade:
“Qualquer coisa que ande sobre duas pernas é inimigo.
O que ande sobre quatro pernas, ou tenha asas, é amigo.
Nenhum animal usará roupa.
Nenhum animal dormirá em cama.
Nenhum animal beberá álcool.
Nenhum animal matará outro animal.
Todos os animais são iguais.”
O que ande sobre quatro pernas, ou tenha asas, é amigo.
Nenhum animal usará roupa.
Nenhum animal dormirá em cama.
Nenhum animal beberá álcool.
Nenhum animal matará outro animal.
Todos os animais são iguais.”
Me
perdoem, mas vou contar o final da história. O tempo vai passando. Aos
poucos, o inevitável acontece: um segmento da comunidade de animais, no
caso, os porcos, começa a dominar a fazenda, impondo fardos pesados aos
companheiros (patos, cavalos e outros). Dia após dia, eles se aproximam
mais do que os humanos opressores eram tempos antes. Os
porcos passam a se portar exatamente como os antigos proprietários da
instituição: vestem-se com roupas de gente, fumam charutos, bebem álcool
e ao fim acabam andando sobre duas pernas (patas). O desfecho do livro
reserva a grande lição: na parede onde se leem os mandamentos dessa
instituição que era para ser anti-institucionalizada, alguém faz um
remendo na última norma: “Todos os animais são iguais – mas alguns são
mais iguais do que os outros”.
A fábula, escrita com brilhantismo por Orwell, simplesmente reflete um fenômeno natural ao gênero humano: por
mais que as pessoas busquem romper com as hierarquias e viver fora de
instituições, as hierarquias sempre encontrarão um caminho para se
reestabelecer e qualquer agrupamento social virará uma instituição. Isso
é um fato da vida e um fenômeno tão natural como gelo derreter ao sol. Por
isso, quando vejo a enxurrada de irmãos em Cristo que se lançam numa
cruzada contra a Igreja institucional, inevitavelmente me lembro de A revolução dos bichos. Pois o que acontece nessas comunidades é exatamente o que ocorre na história do livro.
Na igreja
Para que esta reflexão faça sentido, temos que abrir um parêntese aqui e esclarecer o básico: o
que é uma instituição? Vamos ao dicionário: “instituição” é
“organização, estrutura”. Opa, isso já nos dá uma pista. Por essa
definição, a Igreja institucional seria um agrupamento de cristãos em
que a manifestação de seu relacionamento e culto a Deus se dá numa
estrutura organizada. Eis o que caracterizaria uma igreja institucional:
uma comunidade de pessoas que compartilham da mesma fé e que montam uma
estrutura (com hierarquias, estatutos, liturgias etc) para que possam
manifestar sua fé em Jesus Cristo de modo organizado.
A
caminhada do indivíduo para fora de um modelo tradicional de igreja
geralmente começa quando cristãos sinceros se chateiam com algo que está
presente na congregação. São razões as mais variadas (umas legítimas,
outras não), como discordâncias do pastor, ofensas ou frieza da parte de
outros membros, cultos que não agradam ou coisa que o valha. Então
esses irmãos abandonam sua antiga igreja e decidem que vão viver a fé
cristã de modo supostamente desinstitucionalizado, seja em casa ou, como
é mais comum, em comunidades alternativas – uma igreja doméstica, um
pequeno grupo ou uma comunidade mais “livre”.
Em
princípio é só alegria: uau, um modo de viver a fé sem a opressão ou os
grilhões da instituição! Acreditam até alguns que estão vivendo de modo
mais parecido com a Igreja primitiva. Mas aquele que tem uma visão mais
sagaz já percebe que os porcos não tardarão a andar sobre duas patas.
Inevitavelmente,
toda comunidade supostamente não-institucional acaba tendo líderes, o
que é um traço de uma igreja institucional. Também acaba estabelecendo
datas e horários de reuniões, o que é um traço de uma igreja
institucional. Há ainda a especificação de formas de ação, o que é um
traço de uma igreja institucional. Sem falar que as reuniões seguem
sequências de eventos (lamento informar, mas isso é uma liturgia), o que
é um traço de uma igreja institucional. E não podemos esquecer que
muitas dessas igrejas que não se dizem igrejas têm CNPJ e, se você
quiser abrir uma filial dessa “comunidade”, terá de pedir autorização
formal e legal ao seu dono (não, Jesus não detém os direitos legais do
CNPJ). Ou seja: qualquer tentativa de se fazer uma igreja
não-institucional mais cedo ou mais tarde descambará para a
institucionalização desse organismo. Fato: a desinstitucionalização da
Igreja é uma utopia.
Esses
irmãos – sinceros em suas intenções, faço questão de ressaltar –
acabam, então, vivendo sua fé numa nova forma de instituição. Um
pouco diferente da antiga igreja de onde vieram. Mas igualmente
litúrgica, hierárquica, organizada e, desculpem ofender,
institucionalizada. O fato de não pertencer formalmente a uma
denominação, não ter um templo próprio ou ter uma liturgia em suas
práticas diferentes do modelo mais comum não quer dizer em absoluto que
aquilo não é uma instituição. Um bife pode virar estrogonofe no dia
seguinte, mas não deixará de ser carne. É o que acontece.
Começa
então um trabalho de autoconvencimento por meio da semântica. Para se
sentirem melhor, dizem que não congregam mais em “igrejas”, mas sim em
“comunidades”. Que não vão mais a “cultos”, mas a “encontros” ou
“reuniões”. Que não têm mais “pastores” ou “líderes”, mas “irmãos mais
experientes na fé”… Mas na essência é
absolutamente igual! Assim, esses irmãos, felizes, passam a se convencer
de que agora vivem numa comunidade mais apostólica, mais próxima da
Igreja primitiva, esquecendo-se de que a Igreja primitiva era tão
problemática como a de hoje. Basta ler as epístolas do NT. Basta ler as
sete cartas às igrejas de Apocalipse. Quem ignora todos os descalabros e
problemas que havia na Igreja primitiva deveria ler com mais atenção o
NT e estudar as razões que levaram Paulo, Pedro, João e os outros
autores canônicos a escrever suas cartas. E o que havia lá há cá:
pe-ca-do!
Lembro-me
de um movimento que tinha uma proposta muito similar à dos cristãos que
querem acabar com a Igreja institucional: os hippies. Eles queriam
soltar-se das amarras da sociedade institucionalizada, viver em
liberdade, paz e amor e tal. Mas o movimento hippie acabou, os
ex-hippies amadureceram, viraram homens de negócios e pais de famílias
bem caretas e deixaram como legado uma sociedade mais depravada,
libertina e pecaminosa. Ou seja: o legado
do movimento hippie para os nossos dias (nem mesmo acabar com a guerra
do Vietnã eles conseguiram) é ruim, uma má influência. E,
lamentavelmente, a igreja anti-igreja corre um enorme risco de ir pelo
mesmo caminho. E não percebe isso.
Muitos
líderes mais visíveis das igrejas anti-igreja têm websites, possuem
“comunidades” com CNPJ, vendem seus livros, pedem doações, têm horário
para suas pregações, estabelecem liturgias sim (repare que suas
transmissões via web ou coisa parecida sempre seguem o mesmo modelo) e
fazem tudo de forma institucionalizada. Mas seu
discurso é anti-Igreja institucional. Com isso, o grande problema é que
não contribuem com absolutamente nada para a causa de Cristo – apenas
satisfazem seus seguidores ao dizer o que eles gostariam de ouvir. São
como os “porcos” (no sentido orwelliano, ressalto. Não tenho nenhuma
intenção aqui de ofender ninguém, por favor, que isso fique claro) que
já andam sobre duas patas, fumam charutos e vestem roupa de gente.
Conclusão
A
cruzada anti-igreja institucionalizada é o caminho? Não, não é.
Simplesmente porque todas essas comunidades são também instituições,
apenas com formas de agir novas. Com dialetos e sotaques diferentes, mas
apenas mais do mesmo. E em todas elas habita o verdadeiro problema, o grande vilão da história: pecado. Esse
sim é o bicho-papão. Onde há pecado, os porcos vão sempre andar sobre
duas patas e pessoas continuarão a ser magoadas, feridas e ficar
chateadas com outros irmãos. Isso é inevitável. E
acreditar que mudar os nomes das coisas e começar a se reunir em
quintais e salas de estar em vez de santuários “institucionais” vai
mudar isso é de uma ingenuidade atroz.
É
óbvio que uma igreja institucional que se preocupa mais com a estrutura
do que com as pessoas é uma instituição falida. Uma igreja
institucional que funciona como uma empresa para sustentar a família do
pastor ou que em vez de conduzir as ovelhas ao aprisco as conduz ao
abatedouro tem sérios problemas de saúde. Uma
igreja institucional que perdeu a espiritualidade, a simplicidade e o
senso de discipulado é uma casca oca. Mas, por favor, entenda, isso não tem nada a ver com o fato de ela ser institucional.
Tem a ver com o distanciamento de seus integrantes de Deus, com a perda
de intimidade com o Senhor, com o esfriamento da fé. E isso pode
acontecer em qualquer modelo de igreja. Seja ela “organizada” ou
“desorganizada”.
Cristãos
que perdem seu tempo precioso combatendo a Igreja institucional em vez
de proclamar Cristo e pregar contra o pecado estão sendo tão úteis para o
Reino de Deus como os hippies que fazem miçangas para vender na beira
da praia são para a revolução social. E, enquanto esse tempo é perdido, almas estão indo para o inferno porque os que se chamam pelo nome do Senhor estão se perdendo em vãs discussões.
George
Orwell estava certo. Expulsamos os homens da fazenda. Mas em seu lugar
pomos apenas modelos novos da mesma coisa – só que com uma maquiagem
diferente.
Paz
a todos vocês que estão em Cristo (seja na Igreja institucional, na
igreja dos anti-igreja ou em qualquer outro modelo em que o Corpo de
Cristo se reúna para adorá-lO em espírito e em verdade).
***
Maurício Zágari edita o blog Apenas. O autor não tem preocupação em ser popular; contenta-se com ser verdadeiro.
Maurício Zágari edita o blog Apenas. O autor não tem preocupação em ser popular; contenta-se com ser verdadeiro.
Fonte: Púlpito Cristão
Comentários do Editor do www.iasdemfoco.net
Não
tenho dúvida em afirmar: Este é um dos melhores, entre os milhares de
textos postados aqui nestes três anos de IASD Em Foco! O autor é
analítico, equilibrado, simplesmente brilhante! Suas idéias e “teses”
sobre esses grupos “anti-igrejas” caem como luvas nesses movimentos
dissidentes rotulados de “reformistas”, “cristãos bereanos”,
“adventistas históricos”, “remanescente do remanescente”, etc. O que
acho engraçado é que esse pessoal critica a “instituição”, “organização”
ou “corporação” e sua hierarquia, líderes, mas, automaticamente, é o
que eles pretendem, fazem e “se tornam” quando abandonam a “igreja mãe”.
Particularmente, o que tenho visto há mais de duas décadas é que 9 em
cada dez (vou dar uma margem de misericórdia de 10%) que lideram esses
movimentos dissidentes o fazem movidos não por discordâncias
doutrinárias e/ou pontos de vista irreconciliáveis, mas, sim por
questões de mando e de poder! Explico: São geralmente pessoas que gostam
de mandar – sofrem do que chamo “Síndrome de Diótrefes” (III João,
verso 9) – e, portanto, desconsiderando a liderança natural daqueles que
foram chamados e ordenados por Deus (Romanos 13:1-3; Judas, verso 8),
querem exercer poder sobre o rebanho de Deus; como enfrentam
resistências aos seus métodos de liderança e propósitos escusos, abrem
dissidência – criam suas “igrejas”. O pior disso tudo é o quadro de
desunião, contendas e brigas fomentadas em meio ao povo de Deus: “E,
enquanto esse tempo é perdido, almas estão indo para o inferno porque
os que se chamam pelo nome do Senhor estão se perdendo em vãs discussões”, afirma Maurício Zágari. Quero concluir essas breves considerações com as seguintes citações:
“Os seguidores de Jesus Cristo não agirão independentemente uns dos outros. Nossa força deve estar em Deus, e ser economizada para empregar-se em ação concentrada e nobre. Não deve ser desperdiçada em movimentos destituídos de sentido. [...] Nenhuma contenda ou discórdia deve existir entre os obreiros. A obra é uma, dirigida por um único Líder. Os esforços ocasionais e intermitentes têm sido nocivos”. –Testemunhos Seletos, vol. II, págs. 206 e 207.
“A união é força; a divisão, fraqueza. Quando se acham unidos os que crêem na verdade presente,exercem poderosa influência. Satanás bem compreende isso. Nunca
se achou mais determinado do que agora, para tornar de nenhum efeito a
verdade de Deus, causando amargura e dissensão entre o povo do Senhor”.
– Testemunhos Seletos, vol. II, pág. 77.
“A desunião do corpo de Cristo é o escândalo dos séculos. O maior pecado da Igreja não é a mentira, o roubo, o alcoolismo, o adultério – nem mesmo o assassínio – mas a desunião. Visto
que a desunião do corpo é bem mais freqüente do que os demais pecados
e, à semelhança destes, verdadeiramente ata as mãos do Espírito Santo, ela faz que mais almas se percam do que estas ofensas flagrantes. O
Espírito Santo não pode tratar eficientemente da convicção e conversão
dos pecadores quando os ‘santos’ estão divididos”. – Paul E.
Bilheimer, O Amor Cobre Tudo, Pág. 30.
“Jamais vi o Espírito de Deus atuar onde o povo do Senhor está dividido”. – D. L. Moody.
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