Seita evangélica diz que vive como nos tempos de Cristo, mas é investigada por tráfico internacional
Na comunidade, isolada na selva amazônica, as pessoas juram que Jesus Cristo já voltou e é peruano
O Fantástico (Globo)
fala de uma seita religiosa que vive como nos tempos de Jesus e se
espalha pela Floresta Amazônica, na fronteira com o Peru. A seita virou
motivo de preocupação para a Polícia Federal. A acusação: membros dessa
seita estariam plantando folhas de coca para abastecer traficantes
internacionais, e isso a poucos metros do território brasileiro.
O dia ainda nem
raiou, e elas já circulam pela cidade. São mulheres com véus e roupas
longas. Os homens são proibidos de cortar os cabelos e a barba. Usam
túnicas de cetim até os pés e mantos coloridos sobre os ombros. No meio
da floresta, se vestem como há dois mil anos, na época de Cristo.
São conhecidos
como "israelitas". E fazem parte da AEMINPU - Associação Evangélica da
Missão Israelita do Novo Pacto Universal - que foi criada na década de
60 por Ezequiel Gamonal. Ele teria recebido de Deus os dez mandamentos,
assim como o profeta Moisés.
Gamonal também
ficou com a "missão" de enviar homens e mulheres para ocuparem a região
que fica na fronteira do Brasil com Peru e Colômbia, ao longo do rio
Javari.
Nos últimos 15 anos, mais de seis mil pessoas migraram dos Andes peruanos para a selva amazônica.
"Estamos
navegando pelo Rio Javari, um marco natural da fronteira. Desse lado é
Brasil, onde fica a terra indígena Vale do Javari, desse outro, Peru.
Nos 1.800 quilômetros que separam os dois países existem 17 comunidades
do lado peruano. Quinze delas exclusivamente de israelitas do Novo
Pacto, segundo a Polícia Federal", diz a repórter Daniela Assayag.
Em Tabatinga,
no estado do Amazonas, há duas igrejas. A brasileira Ana Maria Adão,
casada com um peruano, frequenta os cultos. Ela explica como as mulheres
israelitas devem se comportar.
“Tem que
obedecer o marido, primeiramente a Deus, segundo o marido, porque o
marido é a cabeça da mulher”, diz Ana Maria Adão, manicure.
Ainda é
madrugada quando partimos de Tabatinga para a Islândia. Numa pequena
cidade peruana erguida sobre palafitas, os seguidores da seita israelita
vivem de pequenos comércios. José Córdoba é um deles: nasceu nos Andes e
chegou à região em meados dos anos 90. Antes de nos convidar para um
culto, ele conta que o Peru é "a terra prometida e, por isso, o lugar
escolhido para a segunda vinda de Jesus à Terra.
“Que país do mundo, que povo do mundo venera o sol? O império INCA, o país do Sol”, declara o israelita José Córdoba.
Com a roupa de gala usada aos sábados, nosso anfitrião nos recebe na porta do templo enquanto famílias chegam para a cerimônia.
Incensos são queimados e há muita cantoria, incluindo até o hino do Peru.
Os rituais de
adoração duram o dia todo. No templo, os homens ficam de um lado e as
mulheres de outro. Ajoelhados, reverenciam os dez mandamentos
representados no altar através de cartazes. Para os israelitas do Novo
Pacto, todas as bíblias são iguais. O que muda é a interpretação dada
pelo homem. E, para eles, Jesus já está entre nós, e é peruano.
Um dos chefes da seita explica que a autoridade máxima atual, Ezequiel Jonas Molina, é Jesus Cristo que hoje está na Terra.
O Fantástico
argumenta então que Ezequiel Gamonal, o fundador da seita, morreu no ano
de 2000. Gustavo responde que o espírito, o espírito de Deus, agora
está no filho dele: Ezequiel Jonas Molina.
O filho teria
herdado a divindade do pai - conhecido com "El Barón" ou "El Maestro". E
vive nesta casa em Lima, na capital peruana, ao lado da sede mundial da
seita.
A seita que
nasceu no Peru, se espalhou em outros oito países da América do Sul,
quatro da América Central, Estados Unidos e Espanha. No Brasil, a sede
principal fica em São Paulo. Nela, 60 peruanos e bolivianos frequentam
os cultos aos sábados. Apesar de se apresentar como israelita, a seita
não tem relação com o judaísmo.
Um dos
missionários diz que no Peru a Associação Evangélica dos Israelitas do
Novo Pacto é uma religião oficial, mas a embaixada peruana em Brasíla
não confirma. Lideranças evangélicas dizem que os israelitas do Novo
Pacto também não são reconhecidos pelo Conselho Nacional de Pastores.
“Existem mais
de mil ramificações com nomes evangélicos, então é muito difícil, até
para nós que estamos em uma entidade associativa, saber direitinho quem é
quem. A não ser quando aparece, apontam um escândalo, uma denúncia, aí
nós tomamos uma providência”, diz o vice-presidente do Conselho de
Pastores do Brasil, Silas Malafaia.
O missionário
Antônio Marin, que participa dos cultos em São Paulo, discorda dos
seguidores da fronteira. Para ele, Ezequiel Jonas Molina não é o próprio
Deus, mas um enviado do Espírito Santo para preparar o mundo para o fim
dos tempos.
“Para nós, ele é o verdadeiro profeta de Deus na Terra”, diz Antônio Marin, missionário israelita em São Paulo.
O avanço na seita na Amazônia peruana preocupa as autoridades brasileiras.
Nós últimos
cinco anos, plantações peruanas de folha de coca passaram a ser
cultivadas próximo à fronteira com o Brasil. Junto com elas,
laboratórios rústicos de refino de droga. De acordo com a Polícia
Federal, desses laboratórios saem por ano de 50 a 100 toneladas de pasta
base de cocaína que se destinam exclusivamente para o mercado
brasileiro de consumo de entorpecentes.
Imagens aéreas
feitas pela Polícia Federal e pela Polícia Nacional Peruana mostram
plantações de coca próximas a comunidades Israelitas do Novo Pacto. Só
na região, já seriam dez mil hectares plantados.
Investigações da Polícia Federal para o elo de alguns seguidores com o plantio.
“Não há como
dissociar essa seita e seus integrantes, que moram naquela região, da
produção, do plantio e da colheita das folhas de coca. Então realmente a
gente, deduz, e deduz com muita segurança, que aquelas famílias hoje
vivem do plantio de coca. Infelizmente”, declara Sérgio Fontes,
superintendente da Polícia Federal/AM.
No meio da
mata, descobriram um laboratório feito de madeira e lona. Os traficantes
fugiram. No local, havia tanques forrados com plásticos, cheios de
gasolina, para produzir a pasta base.
Os policiais ainda encontraram nove quilos de cocaína prontos para o consumo. O laboratório foi destruído.
“Não tenho a
menor dúvida que a produção é destinada exclusivamente ao mercado
brasileiro. A gente tinha como certo que a coca era plantada nos
contrafortes dos Andes, bem distantes da nossa fronteira. Agora, nós
temos plantações a dez metros do território nacional”, diz Sérgio Fontes
- superintendente da Polícia Federal/AM.
Nossa equipe
foi até outra comunidade israelita no Peru. A Polícia Federal brasileira
alertou que a área é perigosa por causa dos traficantes que circulam
por ali.
O repórter
cinematográfico Luiz Quilião e o produtor Vianey Bentes enfrentaram dez
horas de viagem de lancha subindo o rio Javari para chegar à Nova
Jerusalém.
O chefe da
comunidade e ex-prefeito de Islândia, Demóstenes Alarcón Zamora, que
está na região há 15 anos, nos leva até a casa onde vive. Orgulhoso,
aponta fotos da cerimônia do casamento dele, vestido com a santa
túnica.
“Igual do tempo de Jesus”, diz.
Ele faz questão
de mostrar a vila. Passamos por casas simples. O chefe explica que
enquanto os maridos estão trabalhando na lavoura, as mulheres só
aparecem quando são chamadas.
A comunidade
vive da agricultura. Plantam hortaliças, vários tipos de frutas,
principalmente abacaxi, para vender também na fronteira com o Brasil.
Em uma área com
entrada proibida são feitos sacrifícios de búfalos e cordeiros. O
ritual ocorre em datas especiais, como a Páscoa e Pentecostes.
Questionado
sobre o envolvimento de israelitas na plantação de coca, Demóstenes não
nega e reconhece que existem "ovelhas desgarradas". E, neste caso,
segundo ele, a polícia é acionada.
“Gostaria de
esclarecer para a Globo Brasil: israelita não participa da plantação de
coca. Alguns podem ter cabelo grande e barba, mas só na aparência, pois
não são israelitas de coração”, declara o israelita Demóstenes Alarcón
Zamora.
Nos últimos
sete anos, o cultivo da coca na fronteira peruana com cidades
brasileiras teve um aumento de 300%. Esse ano, a Polícia Federal no
Amazonas apreendeu, até agora, uma tonelada e oitocentos quilos de
cocaína. O volume de produção tão perto do Brasil causa preocupação.
“O risco dos
plantios se transferirem para o território nacional é grande. Como está
hoje a situação: estamos como um goleiro que espera um pênalti. É óbvio
que vai entrar mais do que a gente vai conseguir defender”, diz Sérgio
Fontes, superintendente da Polícia Federal/AM.
Veja o vídeo da matéria do Fantástico AQUI.
Com informações Surgiu/Globo.com
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