EUA: orgão diz que Coca e Pepsi têm potencial cancerígeno
Testes feitos a pedido de instituto de defesa do consumidor mostraram que refrigerantes das duas marcas possuem níveis de 4-MEI acima do recomendado
Refrigerante em lata: análises químicas encontram altos níveis de uma substância potencialmente cancerígena em amostras de Coca-Cola e Pepsi, nos Estados Unidos (Thinkstock)
Um grupo americano de defesa do consumidor afirmou que os refrigerantes normais e diet da Coca-Cola e Pepsi contêm uma substância que pode causar câncer em quantidade acima do normal. Em um comunicado público, o Center for Science in the Public Interest (CSPI – Centro para a Ciência a Favor do Interesse Público, em tradução livre) afirmou que análises químicas detectaram a presença de altos níveis de 4-metilimidazol (4-MEI), um produto usado para dar a cor 'caramelo' aos refrigerantes.O CSPI coletou amostras de Coca-Cola, Pepsi, e outras marcas populares nos Estados Unidos em lojas na capital do país, Washington, e arredores. Foram encontradas de 145 a 153 microgramas (1 micrograma é a milionésima parte do grama) de 4-MEI em duas latas de 350 mililitros de Pepsi; 142 e 146 microgramas em duas latas de Coca-Cola; e 103 e 113 em duas latas de Diet Coke.
Saiba mais
4-METILIMIDAZOLTambém conhecido como 4-MEI ou apenas 4-MI, é um subproduto de uma reação química conhecida como processo amônia e serve para dar a cor marrom aos refrigerantes sabor cola. Não possui valor nutritivo, apenas função estética. Pesquisas demonstraram, em modelos animais, que a substância pode causar câncer.
"Quando a maioria das pessoas lê 'corante caramelo' nos rótulos dos alimentos, acha que se trata de um ingrediente similar ao obtido ao derreter açúcar em uma panela", afirmou Michael Jacobson, diretor executivo da CSPI. "Mas a realidade é bem diferente. Corantes feitos com amônia ou pelo processo de sulfito de amônia contém substâncias que podem causar câncer e não fazem parte da cadeia alimentar. Sob nenhuma circunstância poderiam ter um nome inocente como 'corante caramelo'."
Em uma petição enviada à FDA (agência americana que controla os remédios e alimentos), a CSPI requereu a mudança do nome do ingrediente para "corante caramelo quimicamente modificado" ou "corante caramelo por processo de sulfito de amônia." Também pediu que nenhum produto seja chamado de "natural" se contiver qualquer tipo de corante caramelo.
Jacobson vai além e defende o fim do uso do corante, já que outros produtos obtém a mesma cor marrom sem usar o 4-MEI, inclusive refrigerantes. "A Coca-Cola e a Pepsi, com a anuência da FDA, estão expondo desnecessariamente milhões de americanos a uma substância que causa câncer."
Opinião do especialista
Auro del Giglioprofessor titular de oncologia e hematologia da Faculdade da Fundação ABC
Existem várias substâncias capazes de causar câncer, o que não significa necessariamente que vão de fato provocar a doença. Até falar no celular, segundo uma agência de saúde da ONU, pode causar câncer. Mas as chances são extremamente pequenas.
É o caso dessa substância. Precisaria ingerir muito refrigerante para que o 4-MEI causasse câncer. O que não significa que beber refrigerante demasiadamente é seguro, pois ele causa uma série de outros problemas, como obesidade.
Ninguém deve ficar preocupado e nem é necessário parar de beber refrigerante. Mas é recomendável não consumir em excesso.
Reação — A American Beverage Association, que representa a indústria de bebidas americana, publicou em sua página na internet um comunicado afirmando que "a ciência simplesmente não mostra que o 4-MEI em bebidas ou alimentos representa uma ameaça à saúde humana."
A FDA, por meio de seu porta-voz, Douglas Karas, afirmou que a agência está analisando os pedidos da CSPI, mas que "é importante entender que uma pessoa precisaria consumir milhares de latas de refrigerante diariamente para atingir o número de doses equivalentes às administradas em estudos que mostraram relação com o câncer em ratos de laboratório."
Por via das dúvidas, a Pepsi disse à CSPI que vai alterar a quantidade de corante caramelo nos refrigerantes vendidos na Califórnia e que pretende estender a medida para o resto dos EUA. Em entrevista a um blog da Rádio Pública Nacional, a porta-voz da Coca-Cola disse que as mudanças para se adequar à lei da Califórnia já foram iniciadas, mas que os produtos da empresa sempre foram seguros.
Matéria publicada na Revista Veja dia 07 /03/2012
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